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2 OBJETIVOS

4.1 O novo ambiente regulatório do setor rural e seus reflexos para a cadeia de

4.1.1 Uma síntese do papel dos bancos públicos no financiamento ao setor rural

O setor rural é atendido por um segmento específico do setor creditício que opera majoritariamente com recursos direcionados oriundos de fundos fiscais e das exigibilidades sobre os depósitos à vista, com taxas controladas pelo governo e tem que como característica principal uma maior participação das instituições financeiras públicas (CARNEIRO et al., 2009).

Segundo os mesmos autores, o predomínio das instituições públicas é consequência direta da especificidade (risco agregado) deste segmento do mercado de crédito, que ajuda a explicar a razão dos mesmos operarem com recursos públicos de origem fiscal ou parafiscal. Os repasses de Fundos Constitucionais só podem ser feitos por bancos oficiais, que para isso contam com a equalização de juros. Além disso, os elevados riscos da atividade rural fazem com que as instituições privadas fiquem mais cautelosas na concessão de financiamentos, seja com recursos livres, seja com os recursos das exigibilidades sobre os depósitos à vista.

Os bancos de desenvolvimento são instituições públicas que tem relevante papel no desenvolvimento socioeconômico dos países e regiões onde atuam, conforme os diferentes estágios em que se encontram, em cenários tanto de estabilidade quanto de crise (BNDES, 2014). Mediante ao aporte de recursos ao setor rural também contribuem para execução de políticas públicas governamentais, como, por exemplo, os Fundos Constitucionais (FNO, FNE, FCO), Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura; e o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).

O PPCDAm2 representa a ação integrada de mais de uma dezena de Ministérios e que estão articuladas ações em torno de três eixos temáticos: Ordenamento fundiário e territorial, o monitoramento e controle ambiental e o fomento às atividades produtivas sustentáveis (MMA, 2016). Estas ações contribuíram significativamente para a redução na taxa de desmatamento da Amazônia, medida pelo Projeto Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), de responsabilidade do Instituto Nacional de

2O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) foi criado em 2004 e tem

como objetivos reduzir de forma contínua e consistente o desmatamento e criar as condições para se estabelecer um modelo de desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal. Um dos principais desafios iniciais foi integrar o combate ao desmatamento nas políticas do Estado brasileiro, partindo-se do princípio de que o combate às causas do desmatamento não poderia mais ser conduzido de forma isolada pelos órgãos ambientais.

Pesquisas Espaciais (INPE). A taxa anual passou de 27.772 km², em 2004, para 5.831 km² em 2015 (dado preliminar), uma redução de 80% em 10 anos, embora um dos seus grandes desafios atuais seja a segregação dos desmatamentos legais dos ilegais.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2016), o Plano Agricultura de Baixo Carbono é de abrangência nacional e tem por finalidade a organização e o planejamento das ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas com o objetivo de responder aos compromissos assumidos pelo país na redução de emissão de Gases do Efeito Estufa (GEEs) no setor agropecuário. É composto por sete programas3, seis deles referentes às tecnologias de mitigação, e ainda um último programa com ações de adaptação às mudanças climáticas.

Na execução das políticas públicas sustentáveis do setor rural através dos Planos Safras e Planos Plurianuais, atuam través de suas linhas de crédito os bancos públicos federais. No âmbito nacional, tem representatividade no fomento às atividades produtivas sustentáveis, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil. Regionalmente, tem-se o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia, onde, neste último, o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) se destaca como principal fonte de financiamento na Região atendendo produtores rurais de diversas classificação de porte.

Tendo como exemplo a atuação do Banco da Amazônia, segundo o seu Relatório de Aplicação de Recursos/Exercício 2015, os financiamentos concedidos aos empreendimentos do setor rural de menor porte (Agricultor familiar, Mini/Micro, Pequeno e Pequeno-médio), considerando todas as fontes de fomento aplicadas na Região Norte, totalizaram 28.718 operações de crédito contratadas, correspondendo a 99% do total das contratações (Tabela 1) (BANCO DA AMAZÔNIA, 2016).

3Programa 1: Recuperação de Pastagens Degradadas; Programa 2: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); Programa 3: Sistema Plantio Direto (SPD); Programa 4: Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN); Programa 5: Florestas Plantadas; Programa 6: Tratamento de Dejetos Animais; Programa 7: Adaptação às Mudanças Climáticas.

Tabela 1- Contratações por Porte do Beneficiário na Região Norte – Todas as Fontes (exercício 2015).

R$ R$ R$

Op. Milhões Milhões Op. Milhões

Agric. Familiar 9.124 31 89,3 2 - - - - 9.124 31 89,3 2 Mini/Micro 14.723 51 774,8 20 43 98 1,6 54 14.766 51 776,4 20 Pequeno 4.375 15 1.283,00 32 - - - - 4.375 15 1.283,00 32 Pequeno-Médio 453 2 566,3 14 - - - - 453 1,6 566,3 14 Médio 228 1 750,4 19 1 2 1,3 46 229 0,8 751,7 19 Grande 65 - 501,2 13 - - - - 65 0,2 501,2 13 TOTAL 28.968 100 3.964,90 100 44 100 2,9 100 29.012 100 3.967,80 100 PORTE

FNO OUTRAS FONTES TOTAL

% % Op. % % % %

Fonte: (BANCO DA AMAZÔNIA, 2016).

Em termos de operações contratadas e recursos alocados para o período de 2015, houve concentração nas categorias de menor poderio econômico, ocorrendo a predominância do Mini/Micro (51% dos contratos), seguido pelo Agricultor Familiar (31%) e pequenos (15%), totalizando R$ 2,1 bilhões, o que corresponde a aproximadamente 54% do total financiado (Tabela 1 e Figura 2).

Figura 2- Valores contratados no setor rural por porte do beneficiário na Região Norte (Ano 2015).

Fonte: (BANCO DA AMAZÔNIA, 2016).

De acordo com o relatório já mencionado, se realizado um recorte de oito setores produtivos, com base no Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), constata-se que a Agropecuária absorveu o maior volume de recursos, representando 51,01% do total. Efetuada a desagregação dos dados para 20 setores produtivos (Figura 3), constata-se que, por esse critério, a maior parcela de recursos foi alocada na Pecuária com o valor de R$ 1.472 milhões, seguido pela Agricultura (R$ 685 milhões), Comércio (R$ 571 milhões), Indústrias Diversas (R$ 393 milhões) e Serviços (R$ 316 milhões). Em conjunto, esses cinco setores absorveram 76,4% dos recursos contratados em 2015.

Figura 3- Distribuição dos Recursos de Fomento em 20 Setores Produtivos (Ano 2015).

Fonte: (BANCO DA AMAZÔNIA, 2016).

Já em termos de impactos macroeconômicos, estimou-se que as operações de crédito de fomento de todas as fontes de recursos operacionalizadas por este Banco, contratadas durante o exercício de 2015 para o financiamento de empreendimentos situados nos estados amazônidas, tenham proporcionado um incremento de R$ 20,9 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, sendo a maior contribuição para o resultado final a do setor Agropecuária, o qual agregou R$ 5,1 bilhões à economia do País.

De fato, cada instituição tem sua forma de operar, mas, em comum, todas aplicam capital intelectual, humano, social e financeiro – este, em geral, de fontes públicas – para auxiliar a implementação de políticas e contribuir para que os setores privado e público assumam riscos e desafios em investimentos estratégicos de longo prazo, destacando-se, nas últimas décadas, a crescente atenção para a integração das dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento (BNDES, 2014).