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CAPÍTULO 2: EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS

2.2. Unidades Fraseológicas – tipologia

Apesar de os estudos de Saussurre terem sido publicados após sua morte, ele já havia chamado a atenção para as combinações não livres. Em 1916, em seu Curso de Linguística

Geral (CLG), sinalizou a existência de combinações fixas e as definiu:

Há primeiro, um grande número de expressões que pertencem à língua, são as frases feitas, em as que o uso nada muda, ainda, inclusive quando seja possível distinguir pela reflexão diferentes partes significativas [...] estes giros não podem ser improvisados, a tradição os subministra (Tradução nossa) (SAUSSURE, 1973, p. 209-210 apud TRISTÁ PÉREZ, 1988, p. 7)10.

O mestre genebrino atenta-se ao fato de que as expressões pertencem à comunidade linguística de cada região e não ao individual dos membros de cada comunidade. O autor ainda se refere a esse tipo de unidade como agrupamentos e explica que estes constituem sintagmas e que devem ser analisados tanto do ponto de vista sintagmático como do ponto de vista pragmático.

Bally é outro teórico que merece total atenção, pois é um dos primeiros estudiosos da Fraseologia que levou a cabo um estudo mais detalhado sobre a Fraseologia, ele é considerado “o grande precursor dos estudos fraseológicos” (WELKER, 2004, p. 162). Segundo Tristá Perez (1988, p.8), Bally instituiu esse tema como uma disciplina dentro da Lexicologia e sentou suas bases teóricas dando condições para o aprofundamento dos estudos. O francês também corrobora com as ideias de Saussure e afirma que a assimilação dos fatos da língua ocorre por associações e agrupamentos. Entretanto, os estudos de Bally não foram fecundados por outros linguistas ocidentais, e seu estudo sobre as UFs não teve apoio para prosseguir.

Conforme Tristá Perez (1988, p. 8), as combinações fraseológicas de palavras, como unidades linguísticas especiais começaram a ser estudadas na década de 30, com Polivánov (1931). Este linguista soviético manifestou a necessidade de transformar a Fraseologia em

10 Hay, primero, un gran número de expresiones que pertenecen a la lengua, son las frases hechas, en las que el uso nada cambia, aun cuando sea posible distinguir por la reflexión diferentes partes significativas (…) estos giros no se pueden improvisar, la tradición los suministra. (SAUSSURE, 1973, p. 209-210 apud TRISTÁ PÉREZ, 1988, p. 7).

uma disciplina linguística, tendo como finalidade ocupar-se das expressões fixas e a definiu como:

(...) uma disciplina especial (de igual modo que a fonética, a morfologia, a sintaxe, o vocabulário ou o léxico) que ocupa, com respeito ao léxico, a mesma posição que a sintaxe com respeito à morfologia (POLIVÁNOV, 1931, p. 119 apud TRISTA PEREZ, 1988).

Entretanto, foi somente na década de 40, com Vinográdov que se iniciou seriamente os estudos específicos e o desenvolvimento de uma disciplina linguística relativamente nova: a Fraseologia, com o seguinte objetivo:

O estudo das leis que condicionam a falta de liberdade das palavras e dos significados das palavras para combinar-se, e a descrição sobre esta base das combinações fixas de palavras segundo seus tipos, tanto em seu estado atual como em seu desenvolvimento histórico (TELIA, 1963, p. 460 apud TRISTÁ PEREZ, 1988, p. 8).

Deve-se também a Vinográdov a primeira classificação sincrônica das UFs russas, que se tornou uma tipologia universal.

Na década seguinte, um pesquisador espanhol traz novas contribuições aos estudos fraseológicos: Casares. Todas as propostas de descrição e classificação das UFs posteriores estão de alguma maneira baseadas nos estudos de Casares. Segundo Martínez Montoro (2002, p. 6), as ideias do espanhol seguem vigentes atualmente pelo fato de que sua concepção seja contemplada por recentes desenvolvimentos no âmbito fraseológico. Em relação à taxonomia das UFs, o espanhol as divide em quatro tipos: 1) locuções, 2) frases feitas, 3) refrães e 4) modismos. No entanto, o tipo que despertou maior interesse entre os investigadores foi o das

locuções. E Casares (1950) foi o primeiro a defini-la, como:

[...] combinação estável de dois ou mais termos, que funciona como elemento oracional cujo sentido unitário conhecido não se justifica, mas sim como uma soma do significado normal dos componentes (Tradução nossa) (CASARES, 1950, p. 170 apud MARTÍNEZ MONTORO, 2002, p. 12)11.

Casares também faz, pela primeira vez uma proposta de classificação das locuções espanholas, as quais foram retomadas por muitos pesquisadores. Conforme Martínez Montoro (2002, p. 13-14), a tipologia que o autor realiza em relação às locuções é de caráter morfológico e funcional. A primeira divisão é entre “locuções significantes” – apresenta um ou mais elementos significantes – e “locuções conexivas” – partículas vazias de conteúdo

11

(...) combinación estable de dos o más términos, que funciona como elemento oracional y cuyo sentido unitario consabido no se justifica, sin más como una suma del significado normal de los componentes (CASARES, 1950, p. 170 apud MARTÍNEZ MONTORO, 2002, p. 12).

semântico. Estas locuções foram subdivididas por Casares da seguinte forma: a) Locuções Significantes: nominal (denominativas, singulares e infinitivas), adjetival, verbal, adverbial, participial, pronominal e exclamativa; b) Locuções Conexivas: conjuntiva e preposicional. Dessa forma, a síntese da tipologia proposta por Casares, seria da seguinte forma:

Figura 2 - Tipologia das locuções de Casares

Denominativa Nominal Singular Infinitiva Adjetival Verbal Significante Participial Adverbial Pronominal Locução Exclamativa Conjuntiva Conexiva Preposicional

Fonte: Adaptada pela autora com base em Martínez Montoro (2002, p. 24).

Depois que Casares, na década de 50, diferenciou as locuções e as fórmulas pluriverbais (frases pluriverbais e refrães), têm sido inúmeras as tentativas de classificação e delimitação das UFs. No entanto, a influência do autor permaneceu nas propostas de tipologias seguintes e também marcou uma nova era para os estudos lexicográficos, além dos fraseológicos.

Dez anos depois, Coseriu (1977) institui a diferença entre a técnica livre do discurso e o discurso repetido. A técnica livre do discurso se refere às unidades léxicas e gramaticais (lexemas, categoremas e morfemas) e as regras para sua modificação e combinação na oração. O discurso repetido engloba tudo o que está fixado (como expressão, gíria, modismo, frase ou locução) e cujos elementos constitutivos não são substituíveis ou recombináveis segundo as regras atuais da língua. Neste grupo, Coseriu (1977, p. 116 apud MONTERO DEL ARCO, 2006, p. 72) abarca sequências equivalentes a orações (os refrães, os wellerismos, ditos, sentenças, frases metafóricas, citações de autores conhecidos, os fragmentos literários, poemas e orações religiosas), sintagmas (sintagmas estereotipados), palavras ou morfemas (perífrases lexicais).

Na visão de Corpas Pastor (1996), essa classificação é rudimentar e pouco rigorosa. Em síntese, a classificação de Coseriu seria:

Figura 3 - Classificação de Coseriu (1977)

(morfema)

Unidades do Perífrases léxicas

Discurso repetido Sintagmas estereotipados (sintagma)

Locucões (oração, texto)

Fonte: Adaptada pela autora com base em Montero Del Arco (2006, p. 73).

Embora esta terminologia não tenha vigorado, foi o autor romeno quem mais influenciou desde meados do século XVIII nos postulados sintáticos da gramática espanhola. Montero del Arco (2006, p. 71) salienta que a opinião de Coseriu sobre Fraseologia é considerada na hora de avaliar os conceitos que os gramáticos têm a respeito dessa disciplina linguística.

Outro pesquisador dos estudos fraseológico é Zuluaga, cuja obra, depois de Casares, “constitui o segundo marco na história da Fraseologia na Espanha” (GARCÍA-PAGE, 2011, p. 213). Zuluaga (1980) considera como UFs ou expressões fixas, as combinações de pelo menos duas palavras até as combinações formadas por frases completas. São caracterizadas pela fixação interna e pelo seu valor semântico e funcional. De acordo com a estrutura interna as UFs são classificadas por Zuluaga (1980) em:

- fixas e não idiomáticas: dito e feito;

- fixas e semi-idiomáticas: morde e assopra; - fixas e idiomáticas: a olhos vistos

e segundo o seu valor semântico e funcional, o autor dividiu em:

- enunciados fraseológicos, que constituem por si mesmos enunciados completos: olho

por olho, dente por dente;

- locuções, que necessitam de outros elementos para constituir sentido, e englobam dois subgrupos, o primeiro aqueles que têm equivalência funcional a um lexema (substantivo, adjetivo, verbo e advérbio): cabeza de turco, de escasas luces, tomar el pelo; e o segundo, a um signo gramatical (preposição, conjunção e elativos): de lo lindo (ZULUAGA, 1980 apud GARCÍA-PAGE, 2011, p. 214).

Figura 4 - Classificação das UFs proposto por Zuluaga (1980)

prepositivas instrumentos conjuntivas

gramaticais elativas

nominais

Locuções unidades léxicas adnominais cláusulas adverbiais circunstâncias advérbios sintagmas verbais clichês frases fórmulas ditos Enunciados textos refrães

Fonte: Adaptada pela autora com base em Montero Del Arco (2002, p. 78).

O estudo da Fraseologia conta ainda com a classificação de Tristá Perez (1988), por suas contribuições nesse âmbito de investigação linguística. A autora cubana parte de uma visão ampla da Fraseologia e engloba todas as unidades léxicas complexas que se caracterizam pela fixação e pela pluriverbalidade. Explica, também, que as combinações de palavras fixas têm um caráter universal e que são múltiplas as definições dadas a estes tipos de combinações, mesmo quando coincidem quase sempre nas características fundamentais (TRISTÁ PÉREZ, 1988, p. 10-40).

Tristá Pérez (1988, p. 12) declara que as teorias sobre os diferentes aspectos que caracterizam as UFs foram modificadas, algumas foram eliminadas, tais como a

intraducibilidad e a equivalencia a una palabra por não cumprir-se em todos os casos. No

processo de modificações, três características importantes para a Fraseologia foram conservadas: a pluriverbalidade – por ser constituído de duas ou mais palavras; o sentido

figurado - a soma dos significados não equivale ao sentido global da combinação e; a

estabilidade fraseológica – capacidade de ser reproduzido integralmente.

Assim, mantém a tipologia de Casares, que diferencia locuções, frases verbais e refrães, mas amplia a parte das locuções ao estabelecer dois tipos de classificação de acordo

com sua estrutura interna, em: 1) fraseologismos que apresentam na estrutura interna o elemento identificador e 2) fraseologismos que não apresentam na estrutura interna o elemento identificador.

O grupo 1 está constituído por fraseologismos heterogêneos, englobando desde os fraseologismos com elementos que não têm sentido próprio fora da combinação fixa até os que apresentam sentido. A estrutura destes fraseologismos é bastante rígida, raramente aceita inserção ou substituição de algum elemento na combinação. Tristá Pérez (1988, p. 32) cita o exemplo de o fraseologismo dar tijera (abreviar), que ao acrescentarmos o artigo la, perde a condição de fraseologismo, dar la tijera (entregar a tesoura). Dentro deste grupo são múltiplos os tipos, porém Tristá Perez destaca somente os fraseolgismos com anomalias léxicas e fraseologismos com anomalias semânticas. Os fraseologismos com anomalias léxicas incluem a constituição de combinações fixas com elementos onomatopeicos, com

palavras que não pertencem à língua geral e com elementos arcaicos e historicismos. Os

fraseologismos com anomalias semânticas, constituídas por combinações carentes de lógica no sentido literal e têm uma ampla utilização nas combinações variáveis.

O grupo 2, formado pelos fraseologismos que não apresentam na estrutura interna o elemento identificador, contrariando o grupo 1, este somente pode ser identificado com o contexto o qual estão inseridos. Por exemplo, echar tierra combinação livre jogar terra ou

sujar algo e como UF cobrir algum assunto. Do ponto de vista formal são idênticas, mas a

estabilidade fraseológica e a metaforicidade as diferenciam.

A estabilidade fraseológica se manifesta no campo gramatical e lexical, manifestando-se de diferentes formas. Entre elas, destaca-manifestando-se a impossibilidade de substituir uma palavra por outra e de mudar a ordem dos componentes fraseológicos, o não acréscimo de elementos à composição e a não substituição de determinadas categorias gramaticais (TRISTÁ PÉREZ, 1988, p. 27). Porém, não são todas as UFs que seguem estas regras. Entre as unidades complexas há diferentes graus de fixação, e dessas, há aquelas que podem sofrer diferentes modificações, como por exemplo, as UFs meter-se numa fria e meter-se numa (tremenda)

fria. O elemento acrescentado tem por objetivo aumentar a expressividade da expressão.

O sentido figurado é outra característica que diferencia a UF da combinação livre. A metáfora serve de base por excelência para o processo fraseológico, a mudança de sentido originado pela semelhança entre os elementos constitui uma das maiores forças para o enriquecimento da Fraseologia.

Em 1996, surge o trabalho de Corpas Pastor, Manual de fraseología española, que após analisar as definições e classificações anteriores, a autora conclui que:

[...] as unidades fraseológicas – objeto de estudo da fraseologia – são unidades léxicas formadas por mais de duas palavras gráficas em seu limite inferior, cujo limite superior se situa no nível da oração composta. Tais unidades se caracterizam por sua alta frequência de uso, e pela coocorrência de seus elementos integrantes; por sua convencionalização, entendida em termos de fixação e especialização semântica; por sua idiomaticidade e variação potencial; assim como pelo grau em que se dão todos esses aspectos nos distintos tipos (Tradução nossa) (CORPAS PASTOR, 1996, p. 20).12

Nota-se que Corpas Pastor aborda uma concepção ampla da Fraseologia e utiliza o termo unidade fraseológica para denominar as unidades em questão. Segundo Corpas Pastor (1996, p. 270), as características linguísticas que distinguem as UFs de outros tipos de unidades léxicas são:

Frequência - aparição conjunta dos elementos é maior que a aparição individual de

cada um deles. Quanto mais uma combinação for utilizada, mais será a chance de consolidar-se como expressão fixa.

Convencionalização - a força do uso repetido faz com que sejam aceitas pela norma.

Conforme nos ensina Corpas Pastor, a convencionalidade caracteriza as produções linguísticas dos indivíduos, visto que, de um modo geral, os falantes da língua não criam suas próprias combinações, porém usam aquelas já construídas e inseridas no discurso. Por isso, a inclusão dessas expressões em dicionários é indispensável, pois fazem parte do repertório lexical da comunidade linguística, assim, é preciso estar registrada.

Estabilidade - esta característica, de acordo com a autora ora citada, engloba

fenômenos de convencionalização e lexicalização. A convencionalização abarca uma característica essencial: a fixação formal – propriedade relativa, pois se dá em maior ou menor grau e pode ser interna ou externa. A lexicalização compreende duas vertentes, a primeira se estabelece o resultado com a soma do significado dos elementos e a segunda se estabelece com a supressão do significado.

Idiomaticidade – o sentido não pode estabelecer-se a partir do significado dos

elementos componentes de sua combinação. O significado é resultado de processos de metáfora e metonímia usadas pelos falantes da comunidade linguística.

Variação – mesmo sendo caracterizado pela fixação, um de seus elementos pode ser

mudado por uma variante sem afetar o sentido.

12

[...] las unidades fraseológicas – objeto de estudio de la fraseología – son unidades léxicas formadas por más de dos palabras gráficas en su límite inferior, cuyo límite superior se sitúa en el nivel de la oración compuesta. Tales unidades se caracterizan por su alta frecuencia de uso, y por la concurrencia de sus elementos integrantes; por su convencionalidad, entendida en términos de fijación especialización semántica; por su idiomaticidad y variación potencial; así como por el grado en que se dan todos esos aspectos nos distinguimos tipos (CORPAS PASTOR, 1996, p. 20).

Graduação – nem todas as UFs são estritamente fixas em sua estrutura, ou seja, existe

uma escala gradual, devido às características já apresentadas.

De acordo com as características apresentadas, Corpas Pastor em sua obra Manual de

Fraseologia, classifica as UFs em três grupos. Os critérios para a distinção dos diferentes

tipos das UFs são a fixação na norma, no sistema e na fala e o critério de enunciado (CORPAS PASTOR, 1996, p. 50-51). Assim, a autora divide as UFs em três esferas: Esfera I (colocações), Esfera II (locuções) y Esfera III (enunciados fraseológicos). Assumindo as classificações dos linguistas anteriores e acrescentando as colocações, apresenta a seguinte tipologia:

1) Colocações - combinações restritas que se caracterizam por possuir composicionalidade no significado e que estão fixadas na norma. São exemplos de estas expressões guardar

celosamente, fruncir el ceño, medida drástica, unidades em que um componente sempre atua

como base e o outro como elemento condicionado (MARTÍNEZ MONTORO, 2002, p, 79). 2) Locuções - não constituem orações, porém funcionam como elemento sintático do enunciado em que estão inseridas. Segundo Corpas Pastor (1996, p. 88), as locuções apresentam “[...] fixação interna, unidade de significado e fixação interna passemática13”. E, de acordo com sua função na oração, são subdivididas em: adjetivas, adverbiais, verbais e nominais.

3) Enunciados fraseológicos - constituem enunciados completos e são fixados na fala, dependentes ou não de uma situação determinada. Apresentam fixação interna e externa (CORPAS PASTOR, 1996, p. 132). Pertencem a este grupo:

a) parêmias: as expressões cristalizadas que fazem parte da cultura, religião e crença de um povo: a voz de um povo é a voz de Deus, quem avisa amigo é, quem cedo madruga

Deus ajuda;

b) enunciados de valor específicos: aqueles que não possuem valores de verdade independentes da situação: as paredes têm ouvidos;

c) citações: as expressões que procedem de textos conhecidos ou fragmentos falados por um personagem real ou fictício: a vida é um sonho (Calderón);

d) refrães: as UFs que possuem uma origem desconhecida tal pai, tal filho, filho de

peixe, peixinho é; e

e) fórmulas de rotina: aquelas expressões que apresentam um significado social, expressivo ou discursivo e carecem de uma autonomia textual: bom dia, como vai?, feliz

natal, muito obrigado, não me digas.

A tipologia proposta por Corpas Pastor (1996) pode ser representada da seguinte forma:

Figura 5 - Tipologia proposta por Corpas Pastor (1996)

UFs -

- enunciado + enunciado

[+ato de fala] [ - ato de fala]

Fix. norma Fix. sistema Fix. fala

ESFERA I ESFERA II ESFERA III

colocações locuções enunciados fraseológico

Fonte: Adaptada pela autora com base em Montero del Arco (2006, p. 79).

Ao unir o critério do enunciado com o da fixação no sistema, na norma ou na fala engloba todas as UFs. Acreditamos, assim, que a classificação de Corpas Pastor (1996) constitua uma das mais completas e rigorosas. Sabemos que distinguir esse tipo de unidade léxica de valores semânticos e pragmáticos em diferentes situações e ainda classificá-las constitui um trabalho árduo e necessita de muita dedicação e estudo.

Biderman (1999, p. 94), ao analisar as unidades do léxico, explica que para distinguir entre uma lexia complexa e uma sequência discursiva variável basta aplicar dois testes: o da substituição e o da inserção. No teste da substituição ela cita o exemplo de bom dia ou boa

noite e comenta que não podemos substituir o vocábulo bom ou boa por ótimo ou ótima e na

sequência bater as botas tampouco podemos substituir botas por sapatos. No teste da inserção, cita as sequências dor de cabeça, capa de chuva e mercado negro, explicando que não é possível inserir adjetivos e advérbios entre as sequências. O mesmo acontece com bater

as botas, não podemos dizer bateu rapidamente as botas. Os testes demonstram que essas

unidades léxicas complexas estão lexicalizadas na língua dessa forma e que não é compreensível se substituir ou inserir elementos. Contudo, muitas expressões não são

totalmente cristalizadas nem totalmente livres. Biderman em outro artigo sobre unidades complexas do léxico, diz que

Os testes evidenciam que se pode distinguir entre expressões totalmente cristalizadas e sequências frequentes que podem ser modificadas livremente. Na verdade as expressões totalmente cristalizadas não são muito frequentes, sendo comuns os casos intermediários, em que são permitidas algumas modificações morfossintáticas (BIDERMAN, 2005, p. 755).

Biderman (2005, p. 752), ainda citando Corazzari (1992, p. 5), salienta que as unidades fraseológicas “são sequências de palavras que têm uma coesão interna do ponto de vista semântico e que possuem propriedades morfossintáticas específicas”. Embora as UFs sejam estruturalmente complexas, tanto sintática como semanticamente, elas se comportam como verbos, substantivos, advérbios, adjetivos, preposições, etc. Por exemplo caixa preta, caracteriza-se como um substantivo, bater as botas, como um verbo. Um grande número de expressões que pertencem às categorias sintáticas menores, tais como, preposição, advérbio, etc. são, em geral, denominadas locuções nas gramáticas tradicionais e nos dicionários.

A autora também destaca que existem graus diferentes de cristalização de um ponto de vista sintático nas expressões lexicalizadas, resistindo a algumas manipulações morfossintáticas (transformações, inserção de modificadores, flexão) e comutações léxicas que são geralmente possíveis com construções equivalentes comuns (CORAZZARI,1992, p. 05 apud BIDERMAN, 2005, p. 751).

Podemos concluir dizendo que, a partir de diferentes critérios, há inúmeras classificações para o objeto de estudo da Fraseologia. Segundo Santamaría Pérez (2006, p. 88), de uma maneira global, a maioria das tentativas de classificação parte de uma concepção ampla da Fraseologia e dividem as UFs em dois grandes grupos. Por um lado, aquelas unidades que tem autonomia sintática e semântica, isto é, constituem enunciados completos por si só; e por outro lado, aquelas unidades que precisam de outros elementos para constituir sentido. Santamaría Pérez (2000, p. 88), ainda salienta que as classificações mais recentes se referem a essas expressões que cumprem importante papel na comunicação, tanto por sua função pragmática como por sua função como organizadores do discurso.

Apresentada a tipologia geral das UFs na visão de alguns autores consagrados na área