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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – BRASIL Márcia Bissoli-Dal

Carolina Castilho Vizeu

Cristina Engel de Alvarez

Introdução

Diante das atuais demandas a respeito da preser- vação dos recursos naturais com ênfase à produ- ção de edificações e comunidades sustentáveis, fundamenta-se esta pesquisa, afim de conscien- tizar os residentes das zonas costeiras, também denominadas balneários, a utilizar os recursos naturais disponíveis e, por conseguinte, potencia- lizar o turismo e a cultura locais.

Balneário é uma região ou área situada à beira- -mar destinada a fins de recreação, onde, além dos moradores, recebe turistas em um determina- do período do ano, normalmente durante o verão. Dependendo do porte do balneário, destaca-se o predomínio de segundas residências e o volume de população flutuante, com paisagens parcial- mente antropizadas, em processo de mudança cultural, podendo ocorrer atividades rurais rema- nescentes, e com médio potencial de poluição sa- nitária e estética (PROJETO..., 2006).

Em se tratando de regiões costeiras, o uso das águas para o fim específico do turismo começou a ser explorado a partir do século XX nas praias da Europa, sendo considerado sinônimo de saú- de, entretenimento, recreação e culto ao corpo. Já no Brasil, este tipo de turismo surgiu no Rio de Janeiro, expandindo-se para as Regiões Sudeste e Sul e, posteriormente para quase todo o litoral brasileiro. A partir da década de 1970, o Nordeste começou a se destacar como principal destino de turismo de sol e praia no país e a atividade passou a constituir uma das principais bases econômicas nas áreas litorâneas dessa região (BRASIL, 2010). A Organização Mundial de Turismo (OMT) defi- niu o turismo como um conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadias em lugares distintos a seu entorno habi- tual por um período de tempo inferior a um ano, com fins de lazer, negócios e outros motivos não relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado (RECOMENDACIO- NES..., 2010). Para o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o turismo é a atividade econômica que tem se destacado no cenário internacional por apresentar os mais altos índices de crescimento nas últimas décadas e o litoral tem sido um dos principais destinos procurados pelos turistas,

pois seus atrativos naturais (praias de águas lím- pidas, ambientes naturais preservados, recursos da pesca, beleza da paisagem, entre outros) pro- piciam uma grande diversidade de atividades de lazer e recreação, sendo decisivos para tal escolha (MINISTÉRIO..., 2006).

O turismo está passando por um processo de glo- balização (CORMANY; BALOGLU, 2011) e vários países em desenvolvimento já perceberam a im- portância dessa indústria como motor da econo- mia local (YANG; FIK, 2014), gerando competitivi- dade entre os destinos (DRAGHICI et al., 2015). Essa competitividade refere-se à capacidade que o des- tino tem de atrair e satisfazer os turistas (ENRI- GHT; NEWTON, 2004; TSAI et al., 2009), associada com a prosperidade econômica de longo prazo dos moradores (RITCHIE; CROUCH, 2003), onde tem-se como objetivo final manter e/ou aumentar a renda real dos habitantes (DWYER; KIM, 2003).

Do ponto de vista econômico, as atividades clas- sificadas como de turismo compõem um conjunto diversificado de bens e serviços que engloba des- de o agenciamento, o transporte, a hospedagem, a alimentação, o entretenimento, e outras ações mercadológicas que geram emprego e renda, além de impulsionar a integração entre povos, ci- dades e países (SECRETARIA..., 2010).

O turismo é um dos setores produtivos que mais cresce na zona costeira (MORAES, 2007), contu- do, para que este exista, se faz necessário a pre- sença de elementos como a disponibilidade de hospedagem e transporte, a oferta de empregos, a conservação das áreas naturais e das paisagens significativas para a região, a preservação da bio- diversidade existente, a criação de infraestrutura adequada ao lazer e turismo, entre outros fatores (MARIANI, 2003). Além desses elementos, para o Ministério do Meio Ambiente (MINISTÉRIO..., 2006), algumas atividades são relevantes na orla da praia, como a disponibilidade de comércio (quiosques, vendedores ambulantes, restaurantes, bares), prestação de serviços (aluguel de barcos e outros equipamentos, cursos de surf, mergulho, etc.), manifestações culturais (festas religiosas ou cívicas) além do lazer (banho de mar, pesca, esportes náuticos, esportes praticados na areia, etc.). No planejamento urbano das áreas com po- tencial atratividade para o turismo, também de-

vem ser consideradas as atividades praticadas em seu entorno, visto que algumas geram impac- tos, como é o caso das indústrias, construção civil, mineração, agricultura, pecuária, extrativismo, exploração offshore de óleo e gás, entre outras. Portanto, o critério de indicação das atividades reali- zadas fora da orla deve ser bem seletivo, exatamen- te para não incorrer em uma nova caracterização do perfil socioeconômico da zona costeira (MINISTÉ- RIO..., 2006). Deve-se considerar, por exemplo, o grau de impacto da atividade em relação às condições ambientais da orla, visto que o crescimento propor- cionado por tal atividade pode trazer impactos ne- gativos, como a degradação da vegetação, a polui- ção da água e a perda de biodiversidade em destinos onde o turismo não é controlado (KUO; CHEN, 2009). Esses impactos podem ser sentidos tanto por turis- tas como, principalmente, pelos moradores locais, sendo um fator que normalmente contribui para o declínio da atividade turística e impede o desenvol- vimento sustentável dos balneários.

O tipo de turismo que caracteriza os balneários pode ser definido com base no período em que são utilizados, somado ao tipo de uso, às construções existentes e ao ambiente em que estão inseridos. De acordo com o MMA (MINISTÉRIO..., 2006), a partir desses dados define-se um cenário e são traçadas estratégias que visam, por exemplo, contribuir para a preservação dos ecossistemas, estimular o uso adequado dos atrativos ambientais existentes e, dinamizar as potencialidades locais. Quanto mais atrativo for o balneário, maior é a necessidade de um planejamento adequado de seu crescimento, principalmente quando se busca a sustentabilidade. Para que um balneário seja sustentável, com ên- fase no turismo, são necessárias a preservação da infraestrutura local, evitar proposições inva- sivas ao ambiente, atender às necessidades dos turistas e dos residentes de maneira simultânea, contribuindo para a promoção da equidade eco- nômica e social, sem desprezar a cultura regional, a diversidade biológica e os sistemas ecológicos que coordenam a vida (CONFEDERAÇÃO..., 2014). Além dessas atitudes que contribuem para a ma- nutenção de um balneário, a utilização de recursos como materiais locais nas edificações e obras de infraestrutura urbana; o aproveitamento da ven-

tilação e iluminação naturais com a consequente redução do consumo energético; a valorização das peculiaridades locais, sejam materiais ou imate- riais, fortalecem os pressupostos da sustentabi- lidade e contribuem para o incentivo ao turismo. Assim, através da valorização do potencial local, é possível aproximar os traços da cultura e da ar- quitetura, melhorando a economia do lugar e, por conseguinte, a qualidade de vida da população. Cada balneário possui características particula- res, com diferenças ou semelhanças, podendo, por exemplo, apresentar problemas ambientais e socioeconômicos que são comumente relaciona- dos às manifestações dos conflitos de uso dos re- cursos e espaços da orla e de seu entorno. Para a classificação dos balneários, Moraes (2007) propõe uma divisão, de acordo com as regiões onde estão situados nas zonas costeiras e, também, conside- rando o tipo de uso, conforme a seguir detalhado.