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Uso e ocupação do solo

No documento Comunidades urbanas energeticamente eficientes (páginas 121-124)

Não existem dois terrenos iguais. Assim como as pessoas, também os terrenos tem sua identidade e características específicas, que devem ser pro- fundamente investigadas e criteriosamente rela- cionadas ao entorno [...] (CASTELLO, 2008). As características inerentes ao lugar são os fato- res que mais refletem na qualidade da ocupação do solo. As condições físicas tornam cada lugar único e condicionam os impactos da sua ocu- pação. Analisar para o relevo, linhas naturais de drenagem das águas, cursos naturais de água, ve- getação, trajetória aparente do sol, direção predo- minante dos ventos e clima é fundamental para

direcionar de forma positiva a ocupação que está acontecendo ou por acontecer.

Estratégias quanto a localização de zonas especí- ficas, alturas de edificações, gabaritos viários, bem como arborização urbana podem ser pensadas afim de contribuir para a qualidade do crescimen- to das cidades. Porém, os mapas de zoneamen- to, muito utilizados até então, já não conseguem agrupar todo o entendimento que devemos ter para proposição de ocupação do solo. Preferen- cialmente, novas unidades de planejamento de- vem ser definidas para permitir melhorar a leitura do espaço e também conquistar o equilíbrio com todas as questões ambientais. A bacia hidrográfi- ca como unidade de planejamento poderia cum- prir com estes requisitos e contribuir com a efici- ência da infraestrutura urbana necessária. Os espaços urbanos de moradia, trabalho e lazer devem ter a premissa de intervenção consciente e de qualidade, onde a interação social seja alcan- çada em todas as esferas, proporcionado ampla acessibilidade, segurança e conforto além de lo- cais que favoreçam a permanência espontânea e não somente por necessidade. Fala-se das novas centralidades urbanas, onde a população local possa dispor desta variedade de possibilidades. É preciso sobrepor a unidade básica de planejamen- to às centralidades espontâneas que se firmaram e potencializar os pontos positivos destas relações. Assim, as estruturas passam a ser eficientes e proporcionam qualidade de vida quando se pre- ocupam com sustentabilidade urbana, bem-estar das pessoas e preservação ambiental.

O Plano Verde da Cidade do México é destaque em uso e ocupação do solo conscientes e será expla- nado a seguir.

Plano Verde, estratégias de revitalização urbana

O México é o país que se destaca dentro do as- sunto abordado, principalmente sua capital, Ci- dade do México, a qual já foi considerada a mais poluída, chegando a níveis críticos de poluição, devido à sua localização geográfica e seu cresci- mento desordenado e rápido. Durante décadas, a prefeitura buscou melhorias e tornou-a uma ci- dade resiliente lançando em 2008 o Plano Verde, constituído por 26 estratégias e 113 áreas de foco,

Figura 3 Paseo mirador centro comercial Larcomar - Lima, Peru - Máximo aproveitamento das condições físicas no equilibro com a paisagem urbana

divididas nas temáticas de conservação do solo, habitabilidade e espaço público, água, mobilidade, qualidade do ar, resíduos sólidos, e mudanças cli- máticas e energia.

Algumas das estratégias consideradas neste pla- no consideram ações de controle de crescimento dos assentamentos humanos existentes, o res- gate de espaços públicos existentes focando seu uso e desenvolvimento com vocações recreativas e ambientais, o controle do consumo e perda de água na rede pública, o incentivo da mobilidade não motorizada, a criação e promoção das opor- tunidades de mercado para incrementar o apro- veitamento dos materiais reciclados, entre outros.

Saneamento

A obtenção de benefícios oriundos dos serviços de saneamento está intimamente vinculada às características socioculturais da população que se pretende beneficiar. É necessária uma análise de diversos aspectos para verificar a forma como a comunidade se relacionará com a intervenção pretendida, buscando identificar a percepção

dos cidadãos em relação aos aspectos de sane- amento. À obtenção de subsídios para a elabo- ração de políticas públicas que proporcionem a oferta de serviços de forma apropriada à realida- de onde vivem e da maneira como necessitam (RUBINGER, 2008).

Além de entender as pessoas e seu modo de vida é indispensável conhecer o meio em que estamos inseridos, para atingir suas potenciali- dades, limitações, fraquezas e assim atender as suas necessidades básicas e preservar os recur- sos disponíveis.

A água no ambiente urbano é um sistema que envolve diversos usos como abastecimento (cap- tação, tratamento e distribuição), o esgotamento sanitário (coleta e tratamento das águas servidas) e a drenagem (água da chuva e corpos hídricos urbanos). Estes sistemas são vulneráveis às alte- rações climáticas e intempéries, tais como secas e/ou inundações, e a falta de uma gestão integra- da do território pode agravar estas consequências (ULIAN, 2015).

A preservação e monitoramento dos sistemas hí- dricos, a manutenção das faixas marginais com ve- getação nativa além do conhecimento sobre as mi- crobacias urbanas é o passo inicial para fomentar a gestão voltada à proteção das águas. Como recurso

Figura 4 Margens do Rio de Aveiro - Cidade de Aveiro, Portugal - Água como meio de transporte e receptora dos efluente gerados na cidade

natural essencial e indispensável à vida, minimizar a ocupação humana nesses locais mais sensíveis deve ser um objetivo recorrente, a fim de proteger as águas superficiais e subterrâneos tornando-se uma ferramenta de gestão básica das cidades.

Figura 5 Dársena de Puerto Madero - Buenos Aires, Argentina - Edifícios inteligentes na cidade contemporânea as vezes carecem de planejamento energético eficiente

As necessidades vão muito além da preocupação com água e as demais problemáticas que devem ser tratadas com a mesma intensidade. A realidade dos resíduos sólidos é um exemplo disso, conhecer as características do que é gerado e quanto é gera- do é a base para pensar na sua gestão integrada. Problemas com permeabilidade de solo, contami- nação dos recursos hídricos e esgotamento de áre- as disponíveis são recorrentes em locais que não conseguem atuar efetivamente nessa gestão. A gestão do saneamento precisa relacionar-se com os aspectos de uso e ocupação do solo. A uni- dade básica de planejamento, que pode ser a bacia hidrográfica, deve receber proposições integradas de forma a não onerar demasiadamente os custos com a infraestrutura de saneamento.

Além disso, o saneamento básico tem reflexo no bem estar da cidade e saúde das pessoas, tanto que a situação da saúde pública é uma consequ- ência direta do estado de desenvolvimento e ges- tão eficiente dos recursos necessários para aten- der estas necessidades.

É ilustrado a seguir a Espanha, que demonstrou ser um bom exemplo no eixo saneamento, princi- palmente no que diz respeito à gestão das águas.

A solução através da gestão participativa da água

A Espanha é um país que historicamente atraves- sa graves problemas de escassez hídrica, especial- mente nas bacias hidrográficas mediterrâneas. Diante disso, preocupou-se em regulamentar a ges- tão ambiental através de políticas públicas atuais. Para gerenciar seus recursos hídricos, o governo espanhol criou administrações especializadas organizadas por territórios compreendidos pelas bacias hidrográficas. As ações tiveram início na construção de infraestrutura hídrica e após, o seu foco passou a ser a proteção e o uso sustentável da água, uma tendência que vem sendo reforçada ao longo dos anos.

As comissões dessas bacias possuem vários ór- gãos consultivos para aumentar a participação do cidadão no processo de tomada de decisão, sob supervisão do Ministério do Meio Ambiente. A “Ley de Aguas” da Espanha tem por objetivo a regularização do domínio público hidráulico, o

uso das águas e o exercício das competências atribuídas ao estado delimitadas no artigo 149 da Constituição espanhola.

No documento Comunidades urbanas energeticamente eficientes (páginas 121-124)