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Os destinatários do BPC, as pessoas idosas acima de 65 anos e as portadoras de deficiência, constituem segmentos que vivem em situação de vulnerabilidade social; seja pela situação da deficiência, seja pela idade que estão. Em ambos os casos, a situação se agrava pelas precárias condições de sobrevivência decorrente da renda per capita que alinha-se à situação crítica de extrema pobreza.

Somente a partir da década de 1970 é que a sociedade começa a acordar para a problemática da pessoa portadora de deficiência, dando início aos movimentos em defesa dos direitos desse segmento. Tais movimentos se consolidaram e ganharam espaço na década de 1980 apoiados pelos organismos internacionais. A caracterização do que se entende por deficiência tem sido alvo discussões e controvérsias, em virtude da dificuldade de obter uma definição que contenha todos os aspectos relevantes a esta complexa questão. Alguns países e entidades passaram a preocupar-se com uma definição ou termo que abarcasse a realidade concreta das pessoas deficientes. Com esse objetivo, a Organização das Nações Unidas (ONU), bem como outras organizações internacionais lançaram mundialmente o termo “pessoas deficientes”, com o intuito de amenizar a imagem esteriotipada dessas pessoas, taxadas de “cega”, “surda”, inválida”, “louco”, “aleijada”, “anormal” etc. A Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, aprovada pela Assembléia Geral da ONU, em 9 de dezembro de 1975, proclama em seu artigo I, que o termo “pessoas deficientes” refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): “Considera-se pessoa portadora de deficiência aquela que apresenta, em caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividades dentro do padrão social considerado normal para o ser humano”.

Algumas instituições e profissionais que trabalham com o tema em questão passaram a utilizar o termo “portador de necessidades especiais” objetivando a não discriminação, tendo em vista que a palavra “deficiente” se contrapõe a palavra eficiente. O ser “capaz” contra o “não capaz”. Assim, atribui-se ao termo “deficiente” uma terminologia muito marcante, taxativa e discriminatória. Em contrapartida, o termo “portador de necessidades especiais”, engloba, além das pessoas portadoras de deficiência, as pessoas portadoras de outras necessidades tais como: as obesas, as super-dotadas e as portadoras de determinadas doenças que requerem alguns cuidados específicos. Daí, a não utilização do termo acima referido no corpo deste trabalho. Este requer a terminologia específica, legal, levando-se em conta que o tema trabalhado trata-se da Assistência Social expressa na Constituição Federal e sua implicação na vida das pessoas impossibilitadas, por uma deficiência congênita ou não, de exercer uma vida “normal” dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade.

Em 1989, foi instituída a Lei da Pessoa Portadora de Deficiência6, onde ficam estabelecidas as normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência assim como sua efetiva integração social. As normas desta lei visam garantir a este segmento as ações governamentais necessárias ao seu cumprimento nas mais variadas áreas, dentre elas: Educação, Saúde, Formação Profissional e do Trabalho, Recursos Humanos, Edificações.

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A Lei nº7.853, de 24 de outubro de 1989 dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes e dá outras providências.

A luta para garantir os direitos dos portadores de deficiência tem sensibilizado todos aqueles que lidam com esse segmento. A partir da Nova Constituição, intensificou-se o movimento no sentido da inserção da pessoa portadora de deficiência à sociedade, principalmente no que se refere às questões ligadas ao acesso à educação ao trabalho, à saúde a previdência e a assistência social. Isto fez da nossa Constituição Federal uma das mais avançadas do mundo em relação aos direitos do portador de deficiência.

Deficiência exprime a idéia de limitação, portar uma deficiência e estar sujeito a limites que vão desde os corporais, ligados a incapacidade física de andar, executar determinados movimentos, à imperfeição corporal e estética, que reduz possibilidades afetivas e sexuais, até as barreiras arquitetônicas que dificultam e muitas vezes, impossibilitam a locomoção dessas pessoas, limitando seu acesso a estabelecimentos públicos, pois embora hajam leis a nível Federal (lei n 7.405) e Municipal (lei 4.090/92) referentes a esta causa, bem como normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que abrigam a adaptação dos edifícios e logradouros de uso público para o acesso, circulação e utilização das pessoas portadoras de deficiências, as mudanças vem se processando de forma tímida.

A perda de uma determinada capacidade seja ela de ordem física ou mental acarreta muitas conseqüências negativas, dando origem a problemas sociais, psicológicos, econômicos que certamente incide na qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência, que pode implicar na perda da auto-estima, do status, restringindo suas capacidades ocupacionais que certamente repercute no seu cotidiano aumentando, assim, as dificuldades de sobrevivência.

Estima-se que 10% da população brasileira são portadoras de algum tipo de deficiência. Aproximadamente 26,6 milhões de brasileiros (levando-se em conta que a população brasileira é de aproximadamente 183 milhões de habitantes) com o seguinte perfil: 5% da população apresentam deficiência mental; 2% deficiência física; 1,5% deficiência auditiva; 1% deficiência múltipla; 0,5% deficiência visual (dados da OMS).

Apresentamos a tabela com índices referentes à distribuição dos beneficiários do BPC por tipo de deficiência, de acordo com os dados da terceira etapa de revisão do Benefício de Prestação Continuada.

TABELA II

DISTRIBUIÇÃO POR TIPO DE DEFICIÊNCIA, DE ACORDO COM O RESULTADO DA AVALIAÇÃO –BRASIL –2003.

TIPOS DE DEFICIÊNCIA %

Deficiência mental 31

Deficiência múltipla (+ de uma deficiência) 20 Deficiência física (paralisia ou amputação dos membros) 17

Doença mental (quadros psiquiátricos) 12

Doenças crônicas e incapacidades (AIDS, câncer, AVC e

outros) 10

Deficiência auditiva 5

Deficiência visual 5

TOTAL 100

Fonte: Ministério da Previdência e Assistência Social – 2002. Avaliação.

Nota: Este resultado refere-se a 40 mil pessoas com deficiência.

Esta população, além da situação de limitação física ou mental e de miserabilidade em que se encontram, deparam-se ainda, constantemente com a discriminação e o preconceito; a começar dentro do próprio lar. A família, com seus costumes e valores é a reprodução viva dos valores, que norteiam a nossa sociedade. Neste sentido, pode incidir sobre o portador de deficiência as

mais variadas manifestações, como: rejeição, segregação, superproteção, paternalismo, piedade, etc. Culturalmente não se está preparado para receber um filho portador de deficiência, “(...) não estão preparadas, principalmente porque receberam toda carga ideológica que reina no interior da nossa cultura” (RIBAS, 52:94).

A sociedade é permeada de valores que ressaltam o “belo”, o “perfeito”, o “normal”, o “certinho” e as pessoas que não se enquadram nesses padrões ficam, de certa forma, estigmatizadas e conseqüentemente marginalizadas.

Uma criança que nasceu cega, nunca enxergou e por isso não tem por que sofrer. Uma criança paraplégica, que sempre andou com aparelho ortopédico, dificilmente sofrerá por não andar sem ele. Somente a partir de uma certa idade, quando o mundo descobrir que ela é deficiente e começar a mostrar-lhe que ela é “diferente”, então sim esta criança se verá mal com a sua deficiência, e provavelmente sofrerá. Ninguém sofre com a deficiência, todos sofrem com o estigma. (idem, ibidem. p. 55)

Piorando a situação dessas pessoas, associa-se o preconceito ao fato de a maioria dos portadores de deficiência encontrar-se na população de baixa renda. Pois, as pessoas mais pobres estão mais sujeitas à falta de alimentos, à falta de saneamento básico, aos acidentes de trabalho, e, conseqüentemente, mais expostas a doenças, contaminações e acidentes que podem trazer como conseqüência a aquisição da deficiência ou o nascimento de crianças portadoras de deficiência.

Outro ponto importante é que, embora na atualidade a sociedade esteja mais alerta para a problemática do portador de deficiência, embora haja muitas palestras, conferências, seminários e todo um aparato legal que buscam derrubar o preconceito e inserir a pessoa portadora de deficiência na

sociedade, o que constitui um grande avanço em relação ao passado, a verdadeira inserção caminha a passos lentos dada a conjuntura que nos cerca. Tem-se, como exemplo, o projeto de inserção do portador de deficiência no mercado do trabalho através do sistema de cotas estabelecidas por lei para concursos públicos, que reservam um percentual de 3% (três por cento) das vagas para a pessoa portadora de deficiência (Art 10 Lei Municipal n0 6.257/92) e de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos, proporcionalmente, para empresas com mais de 100 (cem) empregados (Art.93 Lei Municipal n0 8.213/91).

O mercado de trabalho se encontra saturado e, cada vez mais, exigente diante da estrutura econômica e social excludente que requer alto grau de competitividade, tornando-se aí segregativo para todos. A desvantagem do portador de deficiência, nesse sentido, torna-se ainda mais acentuada. Embora haja uma aparato legal, nem sempre a lei é cumprida. “Os empresários, em sua maioria, garantem de antemão que as pessoas deficientes são, enfim, trabalhadores que não correspondem as exigências do ritmo imposto pela produtividade” (RIBAS p.85, 1998). Seguindo essa lógica preconceituosa, consistem em acreditar que os portadores de deficiência são lentos e ineficazes para o trabalho.

É preciso acabar com esse tipo de discriminação e pensar uma sociedade melhor para todos, mas integrada, menos excludente, mais humana. Para isso, é necessário que o Estado e todo o conjunto da sociedade se empenhe nesse processo. O portador de deficiência é um ser humano que tem necessidades básicas inerentes à condição humana que precisam ser supridas tais como: saúde, alimentação, educação, trabalho, moradia digna, lazer, entre

outras. É preciso que as políticas sociais saiam do assistencialismo e transitem para o assistencial para que essas necessidades sejam cobertas de forma universal. Consideramos de fundamental importância que o BPC amplie cada vez mais o contingente de beneficiários, desvinculando o seu acesso ao critério de renda per capita, estendendo-se de forma universal a todos aqueles que possuam uma determinada deficiência que o incapacite para a vida laboral. É necessário que a luta venha fazer parte do cotidiano de todos, contra a discriminação dessas pessoas.

O outro segmento coberto pelo Benefício de Prestação Continuada são as pessoas idosas. A Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, considera idosa a pessoa maior de sessenta anos de idade. Todavia para fins de acesso ao BPC, a idade mínima exigida inicialmente foi de setenta anos, a qual, a partir de janeiro de 1998, passou a ser de 67.

Pelos dados do INSS, os cinco estados que apresentam os menores índices de concessão do benefício destinados ao idoso, comparando a sua respectiva população idosa, em ordem crescente são: Santa Catarina, Acre, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná.

Como podemos perceber, os Estados que se encontram entre aqueles que possuem os melhores níveis de desenvolvimento humano do PNUD – Santa Catarina, Rio grande do Sul e Paraná – é aqueles que se colocam entre os que possuem os mais baixos níveis – Acre e Rio Grande do Norte.

Isto demonstra que a população dos Estados cujos níveis de desenvolvimento humano e patamares de longevidade são melhores, não conseguem ter acesso ao benefício pela restrição da per capita familiar. Enquanto a população dos estados que possuem os piores níveis de

desenvolvimento humano atende ao per capita familiar, e não alcançam a idade mínima exigida.

Vale registrar que segundo o IPEA, usando como fonte originária o IBGE, as estimativas de esperança de vida ao nascer, no Brasil são diversificadas de uma região para outra, localização domiciliar e sexo; oscilando entre a mínima 58,4 anos para os homens rurais do Nordeste e a máxima de 81 anos para as mulheres urbanas do Sul (IPEA, 1997:25).

Um acelerado crescimento demográfico tem mostrado uma inversão na faixa etária da população. O Brasil já não tem mais sua população tão jovem. Neste caso vem-se focalizando, através de ações governamentais e filantrópicas, mais atenção ao idoso.

Assemelhando-se a outros países em desenvolvimento, o contexto da realidade brasileira vem mostrando que o processo de envelhecimento na nossa sociedade vem se intensificando. Tal fenômeno emerge num contexto de profunda crise sócio-econômica em que os problemas sociais crescem aceleradamente. Os países desenvolvidos possibilitaram avanços consideráveis, no que diz respeito aos direitos de proteção social dirigidos à população, incluindo, obviamente, a população idosa.

O Brasil tem apresentado um crescimento no número de idosos. A sociedade tem mobilizado e demonstrado determinados avanços em relação a este segmento. São exemplos a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso que representa o “reconhecimento” da importância de proporcionar uma melhor qualidade vida a essa população.

Grande parcela da população brasileira sobrevive em precárias condições, em um contexto de aprofundamento da política neoliberal que

fragiliza o Estado no que se refere à efetivação de políticas públicas. É nesse quadro que encontramos pessoas envelhecendo precocemente, ao mesmo passo em que vão sendo excluídas.

O crescimento do número de idosos é um fenômeno mundial: uma em cada dez pessoas está acima de 60 anos. Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, no ano 2000 o número de pessoas idosas no mundo chegou a 590 milhões, tendo uma estimativa para o ano de 2025 de um 1 bilhão e 100 milhões de idosos. Haverá, na metade deste século, mais de dois bilhões de pessoas com mais de100 anos.

Segundo estimativas do IBGE, o país tem envelhecido a passos largos: na década de 90 atingiu o percentual de 8,3% de pessoas idosas e no ano de 2025, segundo projeções, haverá 34 milhões de idosos. Assim, assumirá a posição do sexto país do mundo em números de idosos.

No Brasil, os programas sociais para idosos começaram a ser implantados, mais precisamente, na década de 1960. No entanto, somente no ano de 1990 são criados conselhos e comissões para orientar a administração pública com propostas de ações, visando a melhoria da qualidade de vida relacionada à pessoa idosa.

A Legião Brasileira de Assistência – LBA, o Serviço Social do Comércio – SESC e as Universidades para a Terceira Idade foram pioneiras no trabalho com a pessoa idosa. Estes programas atendiam idosos com perfis sócio- econômicos diferenciados. A LBA atendia os setores das classes populares com massiva participação de idosos do sexo feminino, uma vez que as atividades desenvolvidas nesses programas envolviam trabalhos manuais, bailes, passeios, ginástica, aulas e conferências.

Com a aprovação da Política Nacional do Idoso7, aponta-se as competências dos órgãos e entidades públicas, nas diferentes áreas que devem ser implantadas e/ou implementadas pelo Estado e pela sociedade civil, com o objetivo de garantir ao idoso o que lhe é de direito. A política propõe que a sociedade passe a conceber uma nova postura frente à velhice, exigindo, assim, mais competência nas pesquisas, estudos, recursos, planejamento e avaliação, como também a organização de uma infra-estrutura básica que venha a atender as demandas relativas ao idoso, que venha os oferecer proteção e inclusão.

A aprovação do Estatuto do Idoso8 em outubro de 2003 teve por objetivo regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta), reafirmando as políticas referentes aos direitos básicos da pessoa idosa, tais como: saúde, educação, trabalho, previdência social, assistência social, cultura, esporte, lazer, acesso à justiça, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Em seu Artigo 2º, o Estatuto estabelece que:

O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (Lei nº 10.741/2003).

A população idosa usuária do BPC tem crescido a cada ano, sobretudo após o advento do Estatuto do Idoso que reduziu a idade de 67 para 65 anos.

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Política Nacional do Idoso, Lei nº 8.842/94.

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A tendência é este número aumentar cada vez mais, conforme ilustra a tabela a seguir:

TABELA III

EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS DO BPC IDOSOS –BRASIL (1996 A

JULHO/2003).

Período Beneficiários Evolução %

Ano 1996 41.992 - 0 1997 88.806 46.814 52,71 1998 207.031 118.225 57,10 1999 312.299 105.268 33,71 2000 403.207 90.908 22,55 2001 469.047 65.840 14,04 2002 584.597 115.550 19,77 2003 633.564 48.967 7,73

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/DATAPREV. Preparado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Seguridade e Assistência Social da PUC-SP.

O fato de ter sido instituído no Brasil políticas referentes à pessoa em condição de idade já avançada, por si só, já constitui um grande avanço no que se refere à proteção social deste segmento. No entanto, o fato da existência destas leis especificas não tem garantido de forma ampla e eficiente, o seu cumprimento. Já que os governos não assumiram, de fato, a velhice como um setor essencial a ser assistido e/ou atendido devidamente no que diz respeito aos investimentos e ações mais ampliadas, como forma de dar cobertura às reais necessidades.

O atendimento aos idosos, assim como ao portador de deficiência, pela Assistência Social, não tem sido capaz de alterar as condições de vida desses

usuários, que continuam marginalizados pela pobreza e a mercê de precários atendimentos na esfera da assistência e principalmente na esfera da saúde pública.

Para que a população brasileira que se encontra em situação de vulnerabilidade social, tais como os idosos e as pessoas portadoras de deficiência, sejam protegidas são necessários grandes investimentos que prezem pela qualidade dos serviços destinados à população, tanto nas esferas Municipais, Estaduais e Federais para que as leis sejam, de fato, efetivadas.

3 – A PERCEPÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS DO BPC, FACE ÀS SUAS CONDIÇÕES DE VIDA

3.1 A caracterização dos beneficiários em Macau

A pesquisa junto aos usuários foi realizada no Município de Macau. Fundada em 1847, a cidade de Macau tem uma extensão territorial de 835 km2, equivalente a 1,58% da superfície do Estado do Rio Grande do Norte e, conforme a divisão territorial do Brasil, pertence a mesoregião Central Potiguar, inserida na microrregião Macau. O município limita-se ao norte com o Oceano Atlântico; ao sul com os municípios de Pendências, Afonso Bezerra e Alto do Rodrigues; ao leste com os municípios de Guamaré e Pedro Avelino, ao oeste com o município de Carnaubais.

Trata-se de um município de médio porte, com 25.554 habitantes. Sua distância em relação à capital é de 178km. Rico em ocorrências minerais, o município ocupa um dos primeiros lugares da América Latina na produção de sal marinho. Sendo produtor também de petróleo e gás natural. A pesca artesanal também faz parte da economia do município em menor escala.

É de suma importância ressaltar que embora Macau ocupe o primeiro lugar na produção nacional de sal marinho e seja produtor de petróleo, recebendo da Petrobrás os royalties equivalente a R$ 1.719.124,96 mensais: só no ano de 2004 recebeu o montante de R$ 10.800.000,00 (Fonte: assessoria de imprensa da Petrobrás), isso não tem se revertido em melhorias para a população, havendo precariedade no atendimento dos serviços essenciais, como saúde, educação, assistência, entre outros. O Índice de

Desenvolvimento Humano – IDH é de 0,690, abaixo da média nacional que é de 0,792.

A periferia do Município, onde se concentra a maioria dos beneficiários do BPC, é composta pelos bairros do Valadão, Porto de São Pedro, Maruim e Porto de Pescaria. Nos dois últimos, aglomeram-se os bolsões de pobreza mais visíveis do município. Reside, nestes locais, uma população que vive nas situações mais abruptas da miséria humana; onde lhes faltam comida, saúde, educação de qualidade, um teto decente para morar, condições sanitárias condignas com a sobrevivência humana; onde reina o analfabetismo e com ele a esperança de uma vida melhor. Neste contexto, muitos chefes de família entregam-se ao álcool enquanto seus filhos adolescentes se entregam às drogas e à prostituição.

Diante dessa realidade, vale salientar que essa população vivencia o desespero do dia-a-dia de uma vida de carências, enquanto os representantes do poder público parecem desconhecer o quadro de miserabilidade que reina nos arredores da cidade. De acordo com o usuário “(...) quando um prefeito se elege nesta cidade, minha filha, a primeira providência que eles toma é comprar uma mansão bonita em Natal” (Severino Melo, 74 anos). O pai de

outro usuário nos informou que na saúde, em determinado período “(...) falta

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