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Utilização do computador e melhoria da autoimagem do idoso

No documento 2009CristianeCarla (páginas 96-99)

3. METODOLOGIA

4.5 Utilização do computador e melhoria da autoimagem do idoso

Acredita-se que a autoimagem do idoso está associada às relações estabelecidas por ele em sociedade e à noção que este tem de si mesmo. E essa socialização ou participação social depende, primeiramente, da tomada de consciência da sociedade atual e das possibilidades próprias do idoso perante essa sociedade, para então desenvolver suas capacidades de modo a ocupar um espaço social, melhorando assim a sua autoimagem.

1HVVHVHQWLGR%RWKFRPHQWDTXH³DPRGLILFDomRGRPRGHORGHHQYHOKHFLPHQWRRQGH os mais velhos são percebidos como incapazes, impotentes física e mentalmente, socialmente OLPLWDGRV VHP SDSpLV D FXPSULU QmR p WDUHID VLPSOHV´  S 48). Os idosos estão procurando superar essa ideologia através da participação em espaços voltados para o seu atendimento e, também, através do uso da tecnologia. Desse modo eles enfrentam a ideologia da velhice e as dificuldades quanto à adaptação tecnológica num mesmo momento. Kachar evidencia a dificuldade dos idosos em utilizar as tecnologias:

[...] na sociedade contemporânea a socialização incorpora as relações produzidas pela rede de interconexões de pessoas entre si mediadas pelas TI. A geração nascida no universo de ícones, imagens, botões e teclas transitam na operacionalização com desenvoltura na cena visionário de quase ficção científica, mas outra, nascida em tempos de relativa estabilidade, convive de forma conflituosa com as rápidas e complexas mudanças tecnológicas, cuja progressão é geométrica (apud PASSERINO; BEZ; PASQUALOTTI, 2006, p. 3).

Os elementos citados dificultam o desenvolvimento do idoso contemporâneo. Porém, vê-se o processo de atualização tecnológica como uma necessidade para a adaptação do idoso à sociedade atual e como uma saída para essa situação de descarte.

Acredita-se que a busca pela superação desses obstáculos propicia ao idoso a garantia de um espaço social, e a sua manutenção depende do desenvolvimento da sua capacidade e habilidade quanto à utilização das tecnologias. Constata-se que aqueles que enfrentam essa situação através da participação na Oficina de Informática, durante os dois anos de vinculação, terminam revigorados e muito orgulhosos diante da percepção das capacidades desenvolvidas e dos resultados pessoais e sociais atingidos.

Presume-se que essa adequação seja, também, fundamental para aqueles que estão entrando no processo de envelhecimento, ou seja, para os que estão com idade próxima aos 60 anos. Considera-se que somente desse modo eles entenderão a necessidade de educação permanente, principalmente no que se refere à atualização tecnológica. Observa-se que o idoso está, aos poucos, tomando consciência das suas capacidades e do contexto social vigente, de modo a procurar locais onde ele possa ter acesso ao aprendizado sobre o uso do computador e da internet, como indica o estudo:

Segundo Ibope/NetRanking (2007), o crescimento de usuários do computador e da internet entre idosos dobrou nos últimos quatro anos. Em junho de 2003, havia 122 mil usuários e em agosto de 2007 já passaram de 260 mil idosos internautas. O mesmo instituto realizou uma pesquisa com o intuito de descobrir quais são os equipamentos eletrônicos mais utilizados no dia-a-dia dos idosos. O computador foi identificado como um dos equipamentos mais procurados por pessoas dessa faixa etária (FRAQUELLI et al., 2008, p. 50).

Acredita-se que a adaptação tecnológica é um fator importante para a adequação social, pois o conhecimento tecnológico desenvolvido possibilita e facilita o processo comunicacional, que, consequentemente, melhora a interação social, de modo a repercutir positivamente em aspectos relativos à imagem pessoal e à autoestima do idoso, desenvolvendo elementos do processo educativo, como cognição, autonomia e habilidade motora.

A percepção da capacidade de aprendizado por parte do idoso faz com que este volte a acreditar no seu potencial, promovendo a valorização e a autoafirmação, como demonstra o UHODWRGDLGRVD³0HXILOKRYHLRDWpDPLQKDFDVDQRILQDOGHVHPDQDHHXPRVWUHLSUDHOHR

que eu já aprendi a fazer no computadoU(OHPHGLVVHµ- &RPRYRFrDSUHQGHXPmH¶$TXLOR pra mim, foi o máximo´ (I.M., 67 anos). Ao perceber a surpresa do filho diante da demonstração da habilidade desenvolvida na área da informática, essa idosa reafirmou para si a sua capacidade quanto ao aprendizado e à adaptação. Percebe-se que ela promoveu a sua autoestima, o que certamente deve ter refletido no seu desenvolvimento pessoal, intelectual, cognitivo, social e psíquico. Desse modo, o uso do computador parece possibilitar a quebra do paradigma da incapacidade do idoso ditada pela ideologia da velhice.

Geralmente, o idoso faz uso do conhecimento desenvolvido para assumir um espaço em meio, e principalmente em relação, à instituição familiar. Percebe-se que o idoso é desacreditado no âmbito familiar e que esse novo conhecimento pode fazer com que ele volte a acreditar nas suas capacidades de modo a tornar-se mais ativo neste e em outros grupos sociais. Constata-se que, durante as aulas da oficina, os idosos desenvolvem e demonstram possuir essa capacidade de assimilar novos conhecimentos na área da informática.

Verifica-se, também, que o idoso tem necessidade de utilizar esse conhecimento assimilado de modo a favorecer a sua autonomia na realização de tarefas cotidianas que geralmente envolvem tecnologia. Assim, a oficina objetiva desenvolver a autonomia do idoso acerca do uso do computador em nível suficiente para que este resolva sozinho diferentes situações:

Percebe-se pelas falas dos alunos da terceira idade, que tão importante, ou mais, do que adquirir conhecimento e habilidade com o computador é ter a capacidade de XWLOL]DUDWHFQRORJLDGHIRUPDLQGHSHQGHQWHFRUUHWDHVHPRVUHFHLRVHP³HVWUDJDU´ ou perder os trabalhos de outros usuários (PASSERINO; BEZ; PASQUALOTTI, 2006, p. 3).

Porém, como enfatizado anteriormente, é necessário desmistificar o uso do computador para que o idoso possa desenvolver essa autonomia, até porque, muitas vezes, esse medo está relacionado com o receio de manipular erroneamente o computador a ponto de excluir dadoVGRVILOKRVHF{QMXJHV&RVWXPHLUDPHQWHVmRRXYLGRVFRPHQWiULRVFRPR³$FKHL TXHHXQXQFDFRQVHJXLULDDSUHQGHU´³DFKDYDPXLWRGLItFLO´³QmRIRLWmRGLItFLO´SURGX]LGRV por idosos ingressantes na oficina.

Ao avaliar o tempo em que as tecnologias vêm sendo utilizadas, percebe-se que muitas delas surgiram ao longo dos últimos 100 anos. Sendo assim, as pessoas que completaram 60 anos ou mais durante este século tiveram o seu mundo cotidiano invadido pelas tecnologias,

precisando adaptar-se, obrigatoriamente, a essas inovações. Entende-se que as gerações subsequentes, compostas pelos filhos e netos desses sujeitos, sofreram um impacto tecnológico menor, pois geralmente nasceram em ambientes que dispunham dessas tecnologias, facilitando muito a sua adaptação a esse contexto.

Assim como existe a perspectiva de continuidade quanto ao crescimento da faixa populacional idosa no mundo, há uma correspondente perspectiva de continuidade quanto ao surgimento de inovações tecnológicas, ou seja, sempre haverá a necessidade de adaptação tecnológica. Desse modo, acredita-se que sempre será necessária a manutenção de espaços direcionados à atualização tecnológica, principalmente do público idoso, que ainda não teve a oportunidade para atualizar-se tecnologicamente. No momento atual, existem mobilizações sociais voltadas ao atendimento dos idosos, visando ao desenvolvimento da autoimagem e da cognição desses sujeitos.

No documento 2009CristianeCarla (páginas 96-99)