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Utilizações-tipo: Utilização-tipo iv – Edifícios ou Recintos Escolares

PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

7. Regime Jurídico da Segurança Contra Incêndios em Edifícios – RJ-SCIE

7.1. Utilizações-tipo: Utilização-tipo iv – Edifícios ou Recintos Escolares

Este regime distribui todos os edifícios e recintos por doze utilizações-tipo, sendo que, antes de mais, define edifício enquanto

“[…] toda e qualquer edificação destinada à utilização humana que disponha, na totalidade ou em parte, de um espaço interior utilizável, abrangendo as realidades referidas no n.º 1 do artigo 8.º […].” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. I, art. 2.º, alínea h))

Já recinto corresponde aos

“[…] espaços delimitados ao ar livre destinados a diversos usos, desde os estacionamentos, aos estabelecimentos que recebem público, aos industriais, oficinas e armazéns, podendo dispor de construções de carácter permanente, temporário ou itinerante […].” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. I, art. 2.º, alínea q))

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“[…] classificação do uso dominante de qualquer edifício ou recinto, incluindo os estacionamentos, os diversos tipos de estabelecimentos que recebem público, os industriais, oficinas e armazéns […].” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. I, art. 2.º, alínea r))

As doze utilizações-tipo compreendem os seguintes edifícios e recintos: os habitacionais, os estacionamentos, os administrativos, os escolares, os hospitalares e lares de idosos, os destinados a espetáculos e reuniões públicas, os hoteleiros e de restauração, os comerciais e gares de transportes, os desportivos e de lazer, os museus e galerias de arte, as bibliotecas e arquivos e os industriais, oficinas e armazéns (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. II, art. 8.º, n.º 1).

Os edifícios ou recintos escolares correspondem à quarta (iv) utilização-tipo e designam-se enquanto

“[…] edifícios ou partes de edifícios recebendo público, onde se ministrem acções de educação, ensino e formação ou exerçam actividades lúdicas ou educativas para crianças e jovens, podendo ou não incluir espaços de repouso ou de dormida afectos aos participantes nessas acções e actividades, nomeadamente escolas de todos os níveis de ensino, creches, jardins-de-infância, centros de formação, centros de ocupação de tempos livres destinados a crianças e jovens e centros de juventude […].” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. II, art. 8.º, n.º 1, alínea d))

De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo56, a organização do sistema

educativo encerra a educação pré-escolar, a educação escolar e a educação extraescolar (Portugal, Lei n.º 46/86, cap. II, art. 4.º, n.º 1). Salienta-se, por sua vez, e para o propósito deste trabalho, que a educação escolar abrange não só os ensinos básico e secundário, como o ensino superior, integrando, também, modalidades especiais e incluindo atividades de ocupação de tempos livres (Portugal, Lei n.º 46/86, cap. II, art. 4.º, n.º 3). Acrescenta-se, igualmente, que a educação extraescolar abarca atividades de alfabetização e de educação de base, bem assim de aperfeiçoamento e atualização cultural e científica e a iniciação, reconversão e aperfeiçoamento profissional, tomando lugar num quadro aberto de iniciativas múltiplas, de natureza formal (dentro da escola) e não formal (fora dela) (Portugal, Lei n.º 46/86, cap. II, art. 4.º, n.º 4).

Enquanto escola de formação de Comandantes e instituição de ensino superior público universitário militar, a Academia Militar, neste particular, o Aquartelamento da Academia Militar na Amadora encaixa-se na quarta utilização-tipo – designada

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utilização-tipo iv –, estabelecida no RJ-SCIE, correspondente aos edifícios ou recintos escolares.

Mas não só de salas de aula se compõe uma escola, principalmente no que à Academia Militar diz respeito, pela variedade de atividades que na pluralidade dos seus espaços decorre. O mesmo acontece com outros edifícios que, similarmente, apresentam, nas suas instalações, mais do que uma utilização-tipo, ao disporem, por exemplo, de estacionamentos, entre outros. Assim, salvaguardou a lei que, quer os edifícios, quer os recintos, podem ser de utilização exclusiva, sempre que integrarem uma única utilização-tipo, ou de utilização mista, quando acomodam diversas utilizações-tipo, devendo, por isso, respeitar as condições técnicas gerais e específicas definidas para cada uma das utilizações-tipo que integram (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. II, art. 8.º, n.º 2). Todavia, isto não se aplica a todos os casos de edifícios em que haja, por exemplo, estacionamentos ou serviços administrativos, como ocorre normalmente numa escola. Aqui, o RJ-SCIE pode induzir em erro. Senão, vejamos: No caso do Aquartelamento da Academia Militar na Amadora, este classifica-se como de utilização exclusiva, pois, embora reúna, no seu espaço, além de instalações escolares, outras utilizações-tipo, determina a lei o seguinte:

“3 – Aos espaços integrados numa dada utilização-tipo, nas condições a seguir indicadas, aplicam-se as disposições gerais e as específicas da utilização-tipo onde se inserem, não sendo aplicáveis quaisquer outras:

a) Espaços onde se desenvolvam actividades administrativas, de arquivo documental e de armazenamento necessários ao funcionamento das entidades que exploram as utilizações-tipo iv a xii, desde que sejam geridos sob a sua responsabilidade, não estejam normalmente acessíveis ao público e cada um desses espaços não possua uma área bruta superior a:

i) 10 % da área bruta afecta às utilizações-tipo iv a vii, ix e xi; ii) 20 % da área bruta afecta às utilizações-tipo viii, x e xii;

b) Espaços de reunião, culto religioso, conferências e palestras, ou onde se possam ministrar acções de formação, desenvolver actividades desportivas ou de lazer e, ainda, os estabelecimentos de restauração e bebidas, desde que esses espaços sejam geridos sob a responsabilidade das entidades exploradoras de utilizações-tipo iii a xii e o seu efectivo não seja superior a 200 pessoas, em edifícios, ou a 1000 pessoas, ao ar livre;

c) Espaços comerciais, oficinas, de bibliotecas e de exposição, bem como os postos médicos, de socorros e de enfermagem, desde que sejam geridos sob a responsabilidade das entidades exploradoras de utilizações-tipo iii a xii e possuam uma área útil não superior a 200 m2.” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. II, art. 8.º, n.º 3, alíneas a) a c))

O Aquartelamento da Academia Militar na Amadora inclui várias áreas, como a área de direção de ensino, o edifício de comando, os alojamentos, o refeitório, a companhia

83 de serviços, a equitação, os ginásios e pavilhões, a zona desportiva (pistas de obstáculos e picadeiro descoberto) e o Borel (zona florestal) (Figura 2).

Figura 2: Planta de enquadramento do Aquartelamento da Academia Militar na Amadora. Fonte: Google Maps

A direção de ensino situa-se em dois edifícios de três pisos, compostos por salas de aula, gabinetes de docentes, serviço de informática, biblioteca e bar geral. Num dos edifícios, encontram-se os serviços de apoio escolar e, no outro, dois auditórios, o maior com uma capacidade de quatrocentos lugares e o mais pequeno, de duzentos.

O edifício de comando divide-se em duas edificações, uma com dois pisos, outra térrea. O edifício de dois pisos acolhe os gabinetes do Comandante e do 2.º Comandante do Aquartelamento da Academia Militar na Amadora, salas de aula, arrecadação de tiro, secções do corpo de alunos e serviços administrativos. No edifício térreo, situam-se os alojamentos e o bar de oficiais.

Os alojamentos estão repartidos por quatro edifícios de três pisos cada. Ali se encontram as companhias de alunos, com os quartos e arrecadações respetivos. Existe, na 1.ª companhia de alunos, uma arrecadação de material de guerra. Um edifício com três pisos serve de apoio aos alunos. Este alberga o bar dos alunos.

Legenda:

AMAA – Aquartelamento da

Academia Militar na Amadora EDF CMD – Edifício de Comando EQ GIN PAV e ARR – Equitação, Ginásios, Pavilhões e Arrecadações DE – Direção Ensino

ALOJ – Alojamentos REF – Refeitório

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O refeitório corresponde a um edifício térreo dividido em três alas: corpo de alunos, messes de oficiais e sargentos e copa (assim como um antigo bar de alunos, hoje desativado).

A companhia de serviços está acomodada num edifício de dois pisos, em que se encontram serviços administrativos e alojamentos de oficiais e praças.

A equitação, os ginásios e os pavilhões correspondem a pavilhões térreos que albergam as cavalariças, um picadeiro coberto, um ginásio de apoio à prática desportiva e arrecadações.

A zona desportiva constitui-se por um picadeiro descoberto, pela área do futuro campo de jogos, pela carreira de tiro e por pistas de obstáculos.

Por fim, o Borel equivale a uma zona de floresta, na qual existe um pequeno pinhal. Convém, desde já, chamar a atenção para o facto de, quanto ao âmbito da aplicação do RJ-SCIE,

“1 – Estão sujeitos ao regime de segurança contra incêndios:

a) Os edifícios, ou suas fracções autónomas, qualquer que seja a utilização e respectiva envolvente;

b) Os edifícios de apoio a postos de abastecimento de combustíveis, tais como estabelecimentos de restauração, comerciais e oficinas […];

c) Os recintos.” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. I, art. 3.º, n.º 1, alíneas a) a c))

Existem, contudo, algumas exceções. No contexto deste estudo de caso, importa ter em consideração que se excluem das disposições do número anteriormente citado

“a) Os estabelecimentos prisionais e os espaços classificados de acesso restrito das instalações de forças armadas ou de segurança;

b) Os paióis de munições ou de explosivos e as carreiras de tiro.” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. I, art. 3.º, n.º 2, alíneas a) e b))

Mais do que um simples estabelecimento de ensino, a Academia Militar inscreve-se também na categoria das instalações das Forças Armadas, ao encontro do disposto na alínea a) do artigo 3.º do RJ-SCIE. Assim, a obrigatoriedade da sujeição a este regime, nos termos descritos no documento do Decreto-Lei n.º 220/2008, é questionável. Por outro lado, há inclusivamente, como já se teve a oportunidade de verificar, no Aquartelamento da Academia Militar na Amadora, além de armazenamento de material de guerra, uma carreira de tiro.

85 Para estes casos, avança o Decreto-Lei n.º 220/2008 que incumbe às entidades responsáveis pelos mencionados edifícios e recintos (art. 3.º, n.º 2), em concerto com a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), a promoção da

“[…] adopção das medidas de segurança mais adequadas a cada caso, ouvida a ANPC, sempre que entendido conveniente.” (Portugal, Decreto-Lei n.º 220/2008, cap. I, art. 3.º, n.º 6)

Em suma, da análise efetuada, o Plano de Segurança Interno do AAMA faz referência às Utilizações-tipo, caraterizando-as. Contudo, não está explicita a classificação de utilização-tipo para o aquartelamento.