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3 AVALIAÇÃO NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DO ENSINO

3.3 VÍDEO FEEDBACK E A METACOGNIÇÃO

São inegáveis os benefícios e o papel relevante que a tecnologia educacional desempenha na atualidade. Por conta do crescente avanço do conhecimento científico, essa se transformou em um importante aliado quando se trata da formação de profissionais no mundo globalizado em que se vive.

No contexto educacional, a tecnologia é também um potente recurso de aprendizagem cabendo aos educadores reconhecê-la como tal, bem como suas possibilidades de aplicação na educação. Contudo, salientamos que ela é um coadjuvante no processo de formação e não um substituto do professor.

A tecnologia educacional

não se limita apenas à utilização de meios, mas é também um instrumento facilitador, situado entre o homem e o mundo, o homem e a educação, proporcionando ao educando um saber que favorece a construção e reconstrução do conhecimento (NISKIER, 1993; NIETSCHE, 2000 apud NIETSCHE et al., 2005).

Essa afirmação referente à reconstrução do conhecimento é singular por tratar-se de um mecanismo individual e pessoal, em que o conhecimento adquirido cognitivamente e gerador da aprendizagem, se estabelece e permanece num contínuo crescimento ao longo da vida.

Ao tecermos alguns apontamentos sobre os recursos tecnológicos, em especial o vídeo, mencionamos que ele remonta de longa data e permanece atraindo muitos pesquisadores, por conta de seus benefícios e de suas múltiplas utilizações, confirmando seu potencial pedagógico como recurso tecnológico educacional (SACERDOTE, 2010).

Quanto à etimologia da palavra; ‘vídeo’ provém do latim do verbo videre, que significa ‘eu vejo’. Verbo esse da primeira pessoa do singular do presente do indicativo (FERRÉS, 1996).

Moran (1995, p. 28) afirma que “pelo vídeo sentimos, experienciamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos”. Parte do visível, do concreto, do imediato e atinge o humano de forma indelével permitindo ver o mundo ao seu redor, o outro e, também, a si mesmo.

O vídeo é sensorial, visual, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não- separadas. Daí a sua força. Somos atingidos por todos os sentidos e de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras realidades (no imaginário), em outros tempos e espaços (MORAN, 1995, p. 28).

Assume diferentes funções como de sensibilização, ilustração, simulação, conteúdo de ensino, produção e avaliação do professor, do aluno e do processo. O vídeo educacional tem sido amplamente usado na formação de maneira geral, principalmente, com o uso de filmes. Contudo, esse recurso não deve simplesmente reproduzir conteúdo, mas sim, favorecer a produção de novas formas de interação entre o conteúdo os alunos e o ambiente natural (MORAN, 1995).

O uso do vídeo na área da saúde, mais precisamente na saúde mental, em especial a psicoterapia, remonta desde 1950, cuja gravação tem sido considerada um “veículo único para a discussão dos problemas por fornecer um efeito de distanciamento, permitindo detalhar a observação, e ‘ver coisas que não se vê’ numa observação ao vivo” (MOURA, 2007, p. 6) Os pioneiros em empregar o feedback pelo vídeo na terapia foram Reivich e Geertsma (1968).

Profissionais enfermeiras consideraram o recurso do vídeo feedback como um método potencialmente eficaz para melhorar as habilidades genéricas de

comunicação desse grupo de profissionais (NOORDMAN; VAN DER WEIJDEN; VAN DULMEN, 2014).

Na Educação Física, o uso da tecnologia de gravação de vídeo do desempenho do atleta já ultrapassa 20 anos e vem sendo continuamente melhorado. De acordo com Boyer (2008), dados de pesquisa revelaram que, tanto a visualização de vídeo feedback quanto a observação de fitas de vídeo por especialista, podem resultar na melhoria do desempenho da habilidade atlética.

Nessa perspectiva caminha esta pesquisa, procurando valorizar a tecnologia educacional com a participação efetiva do aluno, ao traçar caminhos e favorer a aprendizagem, baseando-se na reflexão em observar seu próprio desempenho no processo avaliativo, tendo em vista as mudanças, pois no dizer de Vasconcellos (2006a, p. 21) “toda ação humana consciente, toda prática é pautada por algum nível de reflexão”.

Na presente compilação, entendemos que ao acontecer o processo de revisitação das atividades elaboradas pelo aluno, por meio do vídeo feedback e fazendo uso da autoscopia, esse formula em seu cognitivo a atividade executada e, quando visualizada, procura reelaborar em seu intelecto o que necessita para que possa executar com melhorias em outra oportunidade. Está se referindo à metacognição e à regulação da aprendizagem.

Esse termo foi criado por John Flavell, no final dos anos 70, baseado em seus estudos realizados na Universidade de Stanford, Califórnia, nos Estados Unidos. Metacognição é uma teoria de base cognitiva conceituada como conhecimento, consciência e controle que o indivíduo tem de seu próprio processo cognitivo, ou seja, ‘cognição das cognições’.

A fala de Souza (2012) vai exatamente ao encontro da proposta deste estudo. Ele afirma que a metacognição diz respeito à capacidade do aluno em planejar intelectualmente seu aprendizado, identificando anteriormente suas fortalezas e suas fraquezas com o objetivo de traçar um roteiro para atingir o objetivo desejado. Ela se efetua quando o aluno torna consciente o seu processo de conhecer (ROMANOWSKI; WACHOWICZ, 2004). O aluno tem consciência de suas práticas e, também, noção do que ainda necessita para torná-las efetivas e é capaz de lançar mão de uma estratégia para suprir essas necessidades. E é por meio da autoscopia, permeada pelo vídeo feedback, na revisitação do cenário em que houve o erro, a falha, a deficiência, que a metacognição acontece e o aluno pode então melhorar a sua prática.

Segundo Romanowski; Wachowicz, (2004, p. 126) a metacognição

consiste nos mecanismos de controle e ajuste do aluno sobre seus próprios processos de aprendizagem, combinando e articulando as tarefas e os processos de cognição que utiliza na conquista do conhecimento e que resultam numa aprendizagem singular.

As mesmas autoras afirmam, ainda, que mesmo que seja breve o tempo de reflexão para o aluno, é ele que toma a decisão no processo de aprender recorrendo ao uso de estratégias, de procedimentos e de técnicas para que a aprendizagem aconteça. É um processo regulado pelo aluno cujas decisões tomadas são espontâneas e não planejadas (ROMANOWSKI; WACHOWICZ, 2004).

Ao revisitar-se, é oportunizado ao aluno efetuar uma avaliação global sobre o seu próprio desempenho podendo observar

a qualidade da argumentação, a percepção aguçada e crítica no exame de dados, a capacidade de articulação de teoria e prática, as habilidades de organização das respostas com logicidade, clareza e coerência, os estilos de fala e escrita, o emprego adequado de princípios e normas seus aspectos relacionais, suas habilidades técnicas, atitudinais e cognitivas (ROMANOWSKI; WACHOWICZ, 2004, p. 127).

Todo o conjunto da aprendizagem ocorrida no aluno devido ao processo da revisão avaliativa torna-se fator preponderante para avanços que compõe a complexidade do conhecimento. E “quanto mais o processo avançar na complexidade do conhecimento, maior será a conquista” (ROMANOWSKI; WACHOWICZ, 2004 p. 127).

No quesito de avaliação de habilidades clínicas (OSCE) a visualização de gravações das atividades práticas realizadas nos ambientes protegidos pode ser utilizada como importante instrumento para fornecer feedback. “O recurso do vídeo gravação com feedback como estratégia para o ensino sistematizado, além do uso de pacientes simulados, ajuda muito no aprendizado da comunicação médico-paciente” (DOHMS; TESSER; GROSSEMANN (2013, p. 316).

Segundo Reisslein, Seeling e Reisslein (2005), a gravação de vídeo fornece auxílio em relação ao uso de recursos humanos e de tempo; erros de desempenho no OSCE podem ser corrigidos, é possível usar o mesmo vídeo gravações com vários

grupos de estudantes, e estas podem ser disponibilizadas em internet como um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) ou publicamente disponível em sites de compartilhamento de vídeo, como 'You Tube', possibilitando que os alunos acessem as gravações, a qualquer momento.

A pesquisa de Dohms, Tesser e Grossemann (2013) aponta que estas gravações podem ser de simulações periódicas, que são posteriormente revistas junto com outros profissionais (psicólogo ou médico), bem como de estudantes em um grupo pequeno, para discutir o que foi bom ou ruim e como lidar melhor com as situações no cotidiano profissional.

Sobre os benefícios do vídeo, Backstein et al., (2005) comentam que este possibilita feedback imediato, oportunidade para que realmente sejam vistos os erros no lugar de somente comentar sobre a necessidade de correção. O fato da realimentação por meio do vídeo pode ajudar a melhorar uma habilidade. Esse instrumento pode ajudar a fortalecer a estima e a autoconfiança dos alunos em relação aos seus conhecimentos teóricos e práticos aprendidos (NILSEN; BAERHEIM, 2005). Em concordância com o estudo acima, Endacott et al., (2012) afirmam que gravações de vídeos de cada cenário atuaram como memória para estimular cada participante em fornecer autoavaliação de seus processos decisórios, em resposta aos eventos simulados. Nesse estudo, os participantes foram primeiramente filmados nas estações do OSCE, em relação ao gerenciamento de um paciente grave. Na sequência, viram os vídeos seguidos de entrevista reflexiva pelo docente. As revisões dos vídeos revelaram compreensão adicional para enfermeiros na tomada de decisões que não foram evidenciadas se fizessem somente o OSCE. O feedback da revisão do vídeo foi um componente altamente importante nos exercícios de simulação.

Com relação a utilização dos vídeos como feedback na avaliação da aprendizagem, nos achados de pesquisa de Paul (2010), a gravação de vídeo simulado de Parada Cardiorrespiratória (PCR) no OSCE, ajudou a esclarecer aspectos específicos sobre a sequência de ações durante o procedimento e gerou oportunidade para que os estudantes autoavaliassem suas habilidades, usando lista de verificação (checklist) estruturada, e para receber feedback formativo de um examinador.

Lançar mão do vídeo feedback parece ser um instrumento interessante com contribuições ao processo de ensino e de aprendizagem do aluno por meio da

reelaboração do percurso, a metacognição. Esta se pode efetuar por meio da visualização do desempenho pelo aluno constituindo-se em uma autoscopia, uma visualização de si próprio com objetivos de aprendizagem. O docente também pode usufruir do recurso como uma oportunidade de analisar o seu próprio desempenho com vistas a melhorias do processo de avaliação e de ensino.