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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3 CONTROLE DA COCCIDIOSE AVIÁRIA

2.3.2 Vacinação

As espécies de Eimeria aviária são altamente imunogênicas e, com uma ou mais passagens pelo hospedeiro promovem o desenvolvimento de uma sólida imunidade contra desafios subsequentes (ALLEN; FETTERER, 2002).

Lillehoj (1999) e Kawazoe, (2000) citaram que frangos infectados com Eimeria produzem anticorpos parasito-específicos, por meio de linfócitos B ativados (células T dependentes). Essas imunoglobulinas estão presentes na circulação e nas secreções mucosas, e atuam somente na fase extracelular do parasito. Lillehoj (2005) e, McDonald e Shirley (2009) citaram que foi constatado o carater secundário da imunidade humoral em aves imunes, que após bursectomizadas, permaneceram resistentes as infecções.

Segundo Lillehoj (1999) o controle da coccidiose é desempenhado, principalmente, pela imunidade celular, tanto por mecanismos de citotoxidade, desencadeados pelos linfócitos T nas células parasitadas, como pela produção de citoquinas como o interferon gama (IFNγ). A importância da imunidade celular foi comprovada em experimentos com o fornecimento, para aves imunes contra Eimeria spp., de drogas que causam imunodepressão, como ciclosporina, betametasona e dexametasona e, por meio de timectomia. Ambos os tratamentos tornaram essas aves susceptíveis as infecções com Eimeria spp.

As vacinas contendo oocistos vivos permanecem sendo a única alternativa prática para a substituição dos anticoccidianos no controle da coccidiose em criações industriais de frangos de corte, conforme relataram Chapman et al. (2002) e Williams (1998). Existem dois grupos de vacinas, contendo parasitos vivos do tipo selvagem ou atenuados, ambas com formulações variadas, contendo uma ou mais espécies de Eimeria que parasitam galinhas (SHIRLEY; BEDRNIK, 1997).

A vacinação com oocistos vivos requer um eficiente e prático sistema de distribuição das doses de oocistos aos frangos, para uma exposição sincronizada de todas as aves de um lote a um pequeno e uniforme número de parasitos (DANFORTH, 1998). As vacinas são aplicadas via spray em incubatório ou via água de bebida, ração ou gel comestível na granja. Atualmente tem sido introduzida a vacinação “in ovo”, executada no 18° dia de incubação.

Segundo Chapman et al. (2002) espécies menos patogênicas presentes no ambiente, mas que não estejam inclusas na vacina, podem afetar o desempenho do lote, e terem sua incidência aumentada, resultado da seleção imunológica.

Outro problema observado é a variação imunogênica entre cepas de uma mesma espécie de Eimeria, relatado com frequência em E. maxima. Segundo Danforth (1998) o uso de uma vacina contendo uma cepa de E. maxima canadense que conferiu 100% de proteção contra

desafios homólogos, protegeu apenas 3% e 47% contra isolados de Maryland e Flórida (Estados Unidos), respectivamente. A vacina foi reformulada, com a adição das duas cepas de E. maxima e, dessa forma foi capaz de conferir proteção aos desafios de campo.

McDonald e Shirley (2009) citaram que com o propósito de ampliar o espectro de proteção algumas vacinas, têm incluído em sua formulação duas cepas de E. maxima com propriedades imunogênicas distintas e, para o controle mais eficiente de variantes regionais, têm surgido alternativas de vacinas formuladas com cepas autóctones como, por exemplo, na Austrália e China (MCDONALD; SHIRLEY, 2009).

Segundo Danforth (1998) antes da utilização de uma vacina o ideal e que se faça um estudo de proteção contra as cepas locais (DANFORTH, 1998). Chapman et al. (2002) relataram que uma vantagem é que as vacinas podem ser moldadas às necessidades regionais, apenas com a inclusão de cepas autóctones e, isso a um baixo custo, diferente do processo de desenvolvimento de uma nova droga.

Chapman et al. (2002) e Williams (1998) citaram que a rotação de programas utilizando vacinas e anticoccidianos podem trazer benefícios como: repovoação do campo com cepas sensíveis a anticoccidianos, transferência dessa característica para as cepas locais, sendo que essa medida pode auxiliar a estender a vida útil dos anticoccidianos. Também, a precocidade das cepas vacinais que as tornam menos patogênicas é uma característica herdável.

Entretanto, a utilização de vacinas compostas de oocistos vivos não tem sido muito aceita para o uso em frangos de corte, sob a alegação de que poderiam piorar o desempenho zootécnico (DANFORTH, 1998), portanto, novas alternativas têm sido pesquisadas, como por exemplo, vacinas de subunidades, tecnologias baseadas em DNA e vacinas vivas recombinantes vetoriadas.

Wallach et al. (1995) utilizaram um antígeno purificado de gametócito (APGA) de E. maxima para elaborar uma vacina inativada e estimular células B a produzirem altos títulos de imunoglobulinas para a proteção da progênie contra desafios homólogos com E. maxima e heterólogos com E. acervulina e E. tenella. Os autores acreditavam que a proteção cruzada se deva a presença de epítopos conservados nas diferentes espécies, conforme demonstrado por meio de provas de Western Blot para E. maxima e E. tenella. Todavia, segundo Shirley et al. (2007) a proteção cruzada entre as espécies não tem sido coprovada em infecções naturais, tornando curioso o fato de que isso ocorra com a utilização do APGA.

Xu et al. (2008) utilizaram um método para imunização de frangos contra E. tenella a partir de um DNA quimérico, clonado para codificar os genes que expressam o antígeno TA4 de E. tenella e a citoquina interleucina - 2 (IL-2) de frangos. A partir de testes controlados foram encontrado os seguintes resultados: o grupo controle desafiado exibiu uma redução no ganho de peso (68,1%) quando comparado com o grupo controle não desafiado e, essa diferença foi estatisticamente significativa. Já, imunização com o DNA-TA4, DNA- TA4-IL-2 e DNA-IL-2, obtiveram 90,4%; 97,3% e 93,7% de ganho de peso relativo (em comparação com o grupo controle não desafiado), respectivamente. Frangos imunizados com DNA-TA4-IL-2 obtiveram um ganho de peso maior e, houve diferença estatisticamente significativa com os tratamentos DNA-TA4 e DNA-IL-2. A imunização com o DNA-TA4-IL-2 resultou em uma maior queda na taxa de excreção de oocistos (75,1%) quando comparado com o grupo controle desafiado e, com os outros dois grupos (DNA-TA4 = 68,7% e DNA-IL- 2 = 66%). Também, foi observada uma diminuição no escore de lesão em aves imunizadas (DNA-TA4 = 0,6; DNA-TA4-IL-2 = 0,4 e DNA- IL-2 = 1,6), quando comparado com o controle não imunizado e desafiado (3,5) e, essa diferença foi estatisticamente significativa. Em frangos imunizados com DNA-TA4-IL-2, também houve uma diferença estatisticamente significativa no escore de lesões, quando comparado com os outros grupos vacinados. O Índice Anticoccidial encontrado para cada grupo foi: DNA-TA4 = 183, DNA-TA4-IL-2 = 192, DNA-IL-2 = 176, grupo controle não imunizado e não desafiado = 200 e grupo controle não imunizado e desafiado = 123.

Konjufca et al. (2006) utilizaram a Salmonella enterica Sorovar Typhimurium para expressar e entregar antígenos específicos de merozoítos (EAMZ250) e esporozoítos (EASZ240) de E. acervulina, no citoplasma da célula hospedeira pelo type 3 secretion system – T3SS (sistema bacteriano de secreção tipo 3). Para o experimento de desafio, grupos de aves foram imunizados com o Vetor Recombinante de Salmonella Atenuada (VRSA) expressando cada um dos antígenos e ambos, após, foram desafiados com E. acervulina e, comparados com grupos controles não imunizados, desafiado e não desafiado. O menor ganho de peso (129g) e maior escore de lesão (2,1) foram observados para o controle não imunizado e desafiado com E. acervulina. O ganho de peso para o grupo controle desafiado foi próximo a 80% do obtido pelo grupo controle não desafiado (157g). Frangos imunizados com o VRSA expressando o antígeno de esporozoíto EASZ240 exibiram um baixo escore de lesão (1,4), contudo, o ganho de peso (135g) foi

deprimido como ocorreu no grupo controle desafiado. Já, os frangos imunizados com o VRSA expressando o antígeno de merozoíto EAMZ250 obtiveram um aumento no ganho de peso (147g) e menor escore de lesão (1,5) quando comparado com o controle não imunizado e desafiado, sendo que, houve diferença estatisticamente significativa entre esses grupos, porém, para o ganho de peso entre o grupo imunizado com o EAMZ250 e desafiado e, o não imunizado não desafiado, não houve diferença estatisticamente significativa. A coadministração dos VRSA expressando ambos os antígenos, não promoveu nenhum efeito aditivo em relação ao VRSA expressando somente o EAMZ250. Konjufca et al. (2008) em outro estudo utilizaram o T3SS e o T2SS da S. enterica Sorovar Typhimurium para expressar e entregar os antígenos SO7 de E. tenella e EAMZ250 de E. acervulina. O menor ganho de peso foi observado em um grupo controle imunizado com o VRSA não expressando antígenos, e desafiados com E. acervulina (127g) ou E. tenella (92g). Os frangos imunizados com o VRSA expressando os antígenos EAMZ250 e SO7 via T3SS e, desafiados com E. acervulina, obtiveram um maior ganho de peso (140g) que o controle imunizado com o VRSA não expressando antígenos e desafiado com E. acervulina, sendo que, houve uma diferença estatisticamente significativa entre estes grupos. Também, o ganho de peso para o VRSA expressando ambos os antígenos foi maior que nos outros grupos imunizados com VRSA expressando apenas um dos antígenos e, similar ao ganho de peso (141g) do controle não desafiado, indicando que houve uma proteção significativa contra desafios. Segundo os autores esses resultados sugerem que a indução de resposta imune mediada por células a múltiplos antígenos (EAMZ250 e SO7) conduziu a uma proteção superior contra E. acervulina. Em um segundo estudo de desafio para verificar a proteção contra E. tenella, todos os grupos foram imunizados com o VRSA expressando o antígeno SO7. Os animais imunizados e desafiados com E. tenella obtiveram um maior ganho de peso que o controle imunizado com o VRSA não expressando antígenos e desafiado e, verificou-se uma diferença estatisticamente significativa. Segundo os autores a imunização com o VRSA que entregou o antígeno SO7 via o T2SS pareceu conferir uma maior proteção, pois esse grupo obteve o maior ganho de peso (124g) e, não houve diferença estatisticamente significativa com a taxa de conversão alimentar desse grupo com o grupo controle e não desafiado.

Yang et al. (2008) utilizaram um Pox Vírus Aviário recombinante para expressão do gene rombóide (rPVA-rombóide). As proteases rombóides têm papel na clivagem do micronema durante a

invasão da célula hospedeira. A organela conhecida como micronema é responsável pela adesão e reconhecimento da célula hospedeira (KAWAZOE, 2000). Aplicado por via subcutânea, o Pox vírus recombinante, induziu uma resposta imune humoral e estimulou a proliferação de linfócitos no sangue periférico. Foi elaborado um experimento para testar diferentes diluições do rPVA-rombóide, conforme segue: G1 (102 PFU), G2 (104 PFU) e G3 (106 PFU). Duas semanas depois, as aves foram desafiadas com E. tenella e, foi observada uma diminuição do número de oocistos excretados pelos frangos imunizados com o rPVA-rombóide, G1 (6,12x107), G2 (5,94x107) e G3 (5,91x107), quando comparada com o grupo controle não imunizado e desafiado (10,13x107), essa diferença foi estatisticamente significativa. No grupo controle foi observado um escore médio de lesão de 3,9, enquanto que nos grupos G1, G2 e G3 os escores médios de lesão foram de 1,73, 1,49 e 1,40, respectivamente, sendo que, entre os dois últimos não houve diferença estatisticamente significativa. O ganho de peso dos grupos vacinados (G1 = 65g, 2 = 68,3g e 3 = 68,9g) foi significativamente maior que o controle (50g). Os autores concluíram que as eficácias para as diferente diluições do rPVA- rombóide foram: G1 = 39,6%, G2 = 41,1% e 3 = 41,7%.

McDonald e Shirley (2009) citaram que uma das dificuldades para o desenvolvimento dessas vacinas está em identificar antígenos protetores e diferenciá-los de moléculas apenas imunogênicas e, que estudos têm demonstrado que somente a inclusão de antígenos referentes a cada uma das sete espécies de Eimeria talvez não seja suficiente, pois, verificou-se a existência de uma variação na composição antigênica do primeiro e segundo estágios de merogonias em E. tenella. Lillehoj (2005) citou que outro desafio reside em como veicular esses antígenos de forma a mimetizar os estímulos causados pelo parasito, durante o seu ciclo no hospedeiro. Shirley et al. (2007) citaram que a elaboração de uma vacina que não necessite da passagem do parasito vivo pelo hospedeiro, ainda está longe de se tornar uma realidade.

2.4 IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES

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