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2 PROBLEMÁTICA, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS

2.3 USOS, VALOR E PREÇOS DA ÁGUA

2.3.3 A valoração monetária da água

Voltando à questão central tratada nesta parte do trabalho, a cobrança pela garantia de disponibilidade e pelo uso da água, passa-se às considerações sobre a problemática referente à necessidade de atribuição de um valor econômico para a água. “Como um bem econômico, a água tem um valor de uso que é variável por depender, fundamentalmente, da utilidade ou satisfação que os diversos usuários atribuem a esse recurso natural, pela capacidade de atendimento das suas necessidades” (CARRERA-FERNANDEZ, 1997, p. 250).

Como foi descrito, a característica mais marcante é que a água tem diferentes valores de uso e, por conseqüência, admite diferentes preços.

O estabelecimento do valor monetário da água tem caráter de variabilidade, função dos múltiplos usos e das diferentes estruturas de preferências por parte dos usuários.

Como já referido, a abordagem pode ser feita através de dois enfoques genéricos. O primeiro deles, baseado na curva de demanda pelo uso da água, tem como fundamento o uso do custo marginal e objetiva a eficiência econômica, com a maximização do bem-estar social, tendo como desvantagem a decorrência de distorções distributivas.

O segundo, baseado nos custo médio, busca de eficiência distributiva no universo dos usuários, sendo socialmente justa, mas não garante a eficiência econômica, devido às distorções na alocação da água. A Figura 2.4 contém uma representação sistemática dos métodos de valoração monetária dos recursos hídricos.

Nos métodos em que a curva de demanda de água é definida, há dois caminhos: o primeiro, com o estabelecimento da preferência de uso a priori, levanta-se a disposição (aceitação) a pagar pelo uso da água, através de questionamento direto com os usuários. O método do valor contingencial, que materializa essa situação, consiste na entrevista com os usuários da água e no estabelecimento de suas disposições a pagar pelo uso consuntivo ou não da água, por tipo de uso.

A derivada primeira da curva de demanda pelo uso da água agregada no universo dos usuários define o custo marginal, ou seja, o preço por metro cúbico adicional de água captada, ou de despejo tratado que os usuários estariam dispostos a pagar, por tipo de uso. Nesse caso, tem-se a maximização da utilidade (satisfação) que a água proporciona ao usuário, adicionado à sua restrição orçamentária. Por esse método, atinge-se a eficiência econômica e a maximização do bem-estar social. A dificuldade de ordem prática é a inexistência de dados estatísticos que possibilitem estimar a disposição a pagar por metro cúbico de água usada, ou de tratamento de despejos.

No segundo caso, através de informações indiretas, examina-se o preço de mercado de outros bens que possam substituir o bem em questão.

O método do custo de viagem pode ser utilizado para o levantamento da curva de demanda para fixar a disposição a pagar (e custo marginal) pelo uso da água para recreação e baseia-se nas informações sobre os gastos que os usuários despendem na visitação dos lugares de lazer (transporte, hospedagem, alimentação, ingressos).

O método do preço hedônico é considerado quando a qualidade ambiental influencia no processo de fixação do preço do uso da água. Por exemplo, imaginando um cotejo de mananciais alternativos (lagos, represas) para fins de exploração comercial recreacional, a disposição a pagar por parte dos usuários, extraídas as parcelas correspondentes aos aspectos comparáveis e mensuráveis (superfície líquida, ventos predominantes, regime pluviométrico, profundidade, qualidade da água), os valores remanescentes podem ser considerados como o preço hedônico do uso da água (paisagem, aspectos lúdicos, grau de deterioração e tipo de uso dos espaços ciliares, por exemplo).

Estes métodos de preferência constatada têm, como característica comum, a aplicação restrita em termos de uso da água, especialmente e quase exclusivamente para uso recreacional.

Nos métodos de valoração monetária em que não há a manifestação prévia, ou constatada a posteriori em termos de disposição a pagar pelo uso da água (sem o estabelecimento da curva de demanda), ocorre a eficiência distributiva dos encargos financeiros entre os usuários. O custo total de cada intervenção é rateado com eqüidade entre os usuários, mas há o consenso de que, nessa abordagem, não é obtida a eficiência econômica no uso da água.

O método do custo de disponibilidade e/ou suprimento consiste na quantificação dos dispêndios necessários, de forma parcial ou abrangente na bacia hidrográfica, para a garantia

da disponibilidade de água, ou para fins de fornecimento, quando há água disponível. Aqui se enquadram os estudos, projetos e obras de barramento e acumulação de água e os sistemas de captação, bombeamento e adução.

Os métodos de custo de recuperação e preservação referem-se aos custos de campanhas públicas e conscientização para os estudos, projetos e obras de recuperação de mananciais poluídos, na forma de coleta, transporte, tratamento e disposição final de águas residuárias, visando ao alcance dos padrões de qualidade, estabelecidos através do enquadramento do corpo d’água. Da mesma forma, essa abordagem possibilita a quantificação de quaisquer custos de ações e intervenções que visem à preservação de banhados, pântanos e estuários, independente dos usos a que sejam destinados esses bens naturais.

Nos métodos de dose-resposta, a finalidade é estabelecer o custo das doenças e males sobre as pessoas e animais e perdas na produção primária, ou industrial, causados por agentes patogênicos, físico-químicos ou biológicos por veiculação hídrica. Nessas situações há a necessidade da existência de informações e dados estatísticos para avaliar os custos, mas há sérias dificuldades de avaliação, por estarem implícitas questões complexas referentes ao valor da vida e saúde humanas.

Os métodos de custos de mitigação dizem respeito aos investimentos de prevenção, como por exemplo, a implantação de matas ciliares nas margens dos mananciais para prevenir a ocorrência de erosão, assoreamento e os efeitos danosos previsíveis.

O método do custo de oportunidade é um processo indireto de valoração monetária do uso da água. Esse custo de oportunidade pode ser definido como o preço de reserva da água, em cada uso, correspondente ao valor máximo que os usuários da água, em conjunto, estariam dispostos a pagar e ficar indiferentes entre continuarem a utilizar esse recurso ou buscarem uma solução alternativa menos onerosa. Esse custo de oportunidade pode ser estimado na prática, simulando-se uma interrupção na utilização da água pelos meios atuais para um

determinado uso, na forma do custo adicional que os usuários teriam para substituir esse recurso por uma alternativa menos custosa, com o mesmo efeito. Por exemplo, um orizicultor buscar, como alternativa, plantar arroz de sequeiro.

2.4 OS OBJETIVOS

Os objetivos do presente trabalho são de ordem geral e específica, para o contexto decisório da bacia hidrográfica e para a realidade brasileira, conforme o alcance pretendido.