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2.1.1. Conceito

A expressão valor é originada da palavra latina valore cujo significado é preço, importância, mérito.

É importante destacar que o conceito de valor não pode ser confundido com o conceito de atitude.

O Quadro 3 apresenta algumas diferenças entre valores e atitudes estabelecidas por Rokeach (1973, citado por Porto, 2004).

Quadro 3: Diferenças entre valores e atitudes, segundo Rokeach (1973, citado por Porto, 2004).

Valores Atitudes

Crença Organização de várias crenças que tem

como foco um objeto ou situação

Padrão Não possui padrão

Menor quantidade Quantidade definida de acordo com as situações ou objetos

Posição central na personalidade e no sistema cognitivo

São determinadas a partir dos valores Ligados à motivação Menos dinâmicas que os valores

Recentemente, Rohan (2000) propôs que o termo atitude fosse utilizado somente para avaliação de entidades específicas e que o termo valor fosse utilizado para se referir a uma direção trans-situacional abstrata.

Rokeach (1981) apresentou três significados distintos de valor: (1) como conceito sociológico, um objeto natural que adquire um significado social; (2) como objeto que ativa o valor, tem valência; ou (3) como uma disposição da pessoa, diferenciando-se da atitude, por estar freqüentemente subjacente a ela.

ou inconscientemente, um padrão ou critério para guiar a ação, para desenvolver e manter as atitudes em relação a objetos e situações relevantes, para julgar o indivíduo, os outros e para se comportar com outros (Rokeach, 1981).

O que distingue um valor de outro no sistema de prioridades axiológicas é a motivação que o valor expressa. Todo indivíduo é motivado a partir de necessidades básicas à existência humana: como organismos biológicos, de ação social coordenada e de sobrevivência e bem-estar dos grupos.

Os valores dos indivíduos foram abordados no presente estudo como representações cognitivas ligadas à emoção e às crenças, importantes no intuito de motivar o indivíduo a uma ação adequada e servindo como critérios na avaliação de ações, de pessoas e de eventos, ordenados em um sistema de prioridades axiológicas, as quais caracterizam o indivíduo.

2.1.2. Estrutura

A tipologia dos valores proposta por Rokeach (1973, citado por Pereira, Goiás, Camino & Costa, 2005) serviu de base para a maioria das pesquisas sobre valores nos anos 80. Essa tipologia possuía duas características importantes: (1) o conhecimento sobre as formas de comportamento e as finalidades das ações e (2) a distinção entre valores instrumentais (meios utilizados para alcançar as preferências individuais) e terminais (as próprias preferências).

Schwartz e Bilsky (1987) definiram valores como crenças sobre os comportamentos, ou estados de existência, que transcendem situações específicas, guiando a seleção ou avaliação de eventos, ordenados por sua importância. Essa definição apresenta a idéia de Rokeach (1981) sobre a classificação dos valores como: instrumental (modos de conduta) e terminal (estados de existência), de acordo

Em 1992, Schwartz unindo a desejabilidade social dos valores com as características da teoria de Rokeach (1973, citado por Pereira et al., 2005) formulou a teoria dos tipos motivacionais, também conhecida como teoria universal dos valores. Para Schwartz (1992), todos os valores que as pessoas possuem estão a serviço de 10 tipos motivacionais poder, realização, hedonismo, estimulação, autodeterminação, universalismo, benevolência, tradição, conformidade e segurança.

Figura 1: continuum motivacional dos 10 tipos motivacionais de valores de Schwartz (1992).

A Figura 1 demonstra a tipologia proposta por Schwartz (1992), bem como a estrutura dinâmica de relações entre os tipos motivacionais. Quanto mais próximos dois tipos motivacionais estão, em qualquer uma das direções ao redor do círculo, mais semelhantes são suas motivações subjacentes; quanto mais distantes, mais antagônicos são suas motivações subjacentes.

Para avaliar empiricamente a teoria dos tipos motivacionais de valores, Schwartz (1992) desenvolveu um instrumento de mensuração de valores conhecido

A primeira versão do IVS apresentava uma lista de 56 valores. Posteriormente, essa escala foi revisada, sendo excluído o item “desprendimento”, que era freqüentemente mal interpretado e adicionados os itens “auto-indulgência” e “privacidade”. Os itens de valores dessa escala foram divididos em duas listas uma contendo itens que descrevem objetivos potencialmente desejáveis em forma de substantivos e outra contendo itens que descrevem maneiras potencialmente desejáveis de agir em forma de adjetivos. Desta forma o IVS seguiu a idéia de Rokeach (1973, citado por Pereira et al., 2005), porém sem fazer uma distinção significativa entre valores terminais e valores instrumentais.

Schwartz (2005b) verificou empiricamente em 67 países com amostras de professores e estudantes, a estrutura dos valores humanos. Para a verificação, foi utilizado o Inventário de Valores de Schwartz – IVS, composto por 57 itens.

Ao responderem o IVS, os sujeitos indicavam a importância de cada item de valor como um princípio orientador da minha vida em uma escala tipo Likert com 7 pontos, onde 6 – muito importante, 5 e 4 – não rotulados, 3 – importante, 2 e 1 – não rotulados, 0 – não importante. Era solicitado aos respondentes que, antes de iniciar as avaliações de cada valor, lessem todos os valores e escolhessem aqueles que fossem de suprema importância (7) e aqueles que fossem opostos aos seus valores (-1).

As amostras de cada país foram analisadas individualmente para verificar se a convergência dos resultados individuais mostrava a presença de uma estrutura universal de valores. A verificação foi feita utilizando-se o SSA – Smalest Space Analysis (análise de distâncias mínimas).

Os resultados das análises apontaram uma estrutura com dez tipos motivacionais de valores, formando um continuum, conforme mostra a Figura 1.

Nessa estrutura circular, percebe-se que os tipos motivacionais de valores: tradição e conformidade, situam-se em uma mesma fatia; isso ocorre porque ambos os tipos motivacionais compartilham meta motivacional semelhante: a subordinação do indivíduo em favor das expectativas socialmente impostas. Sendo a subordinação em tradição à religião, à cultura, aos objetos abstratos e em conformidade às pessoas com as quais o indivíduo se relaciona freqüentemente, ao seu grupo primário.

Essa teoria propõe ainda, que os dez tipos motivacionais de valores podem ser agrupados em dimensões bipolares de ordem superior, são elas: autotranscendência (universalismo e benevolência) X autopromoção (poder e realização) e conservação (conformidade, tradição e segurança) X abertura à mudança (autodeterminação, estimulação e hedonismo).

Schwartz (1992) estabeleceu que qualquer valor do ser humano pode ser classificado de acordo com o objeto motivacional que ele expressa; e verificou, empiricamente, que a sua teoria se aplica a quaisquer culturas.

Essa estrutura é considerada universal, (1) foi encontrada uma mesma dinâmica circular em diferentes culturas pesquisadas e as análises SSA de quase todas as amostras demonstraram que cada tipo motivacional, adjacente a outro tipo motivacional, compartilha conteúdo motivacional congruente e se opõe aos tipos com conteúdo motivacional conflitante e (2) mesmo quando uma cultura apresenta valor(es) não contemplado(s) no IVS, este(s) será(serão) localizado(s) na estrutura, após análise de dados.

A teoria de valores de Schwartz (1992), demonstrou que a distinção entre instrumental e terminal, proposta por Rokeach (1981), não afeta a forma como as pessoas organizam seus valores e, portanto, não são relevantes para sua definição.

O Quadro 4 apresenta os dez tipos motivacionais de valores propostos por Schwartz (1992) com suas metas, e a relação dos tipos motivacionais de valores com as necessidades básicas à existência humana.

Quadro 4: Relação entre os tipos motivacionais de valor, suas metas e as necessidades básicas à existência humana.

Tipo Motivacional de Valor

Metas Necessidades básicas à existência humana Poder Status social e prestígio,

controle ou domínio sobre as pessoas e recursos

Ação social e Grupos

Realização Sucesso pessoal por meio de demonstração de competência de acordo com padrão social

Ação social e Grupos

Hedonismo Prazer e gratificação sensual para si mesmo

Biológica Estimulação Excitação, novidade e

desafio na vida

Biológica e Ação social Autodeterminação Pensamento e ação

independentes: escolhendo, criando, explorando

Biológica e Ação social

Universalismo Compreensão, apreciação, tolerância e proteção para o bem estar de todas as pessoas e da natureza

Ação social e Biológica

Benevolência Preservação e promoção do bem estar das pessoas com quem se tem freqüente contato pessoal

Biológica, Ação social e Grupos

Tradição Respeito, compromisso e aceitação dos costumes e idéias que a cultura tradicional ou religião fornecem

Grupos

Conformidade Restrição de ações, inclinações e impulsos propensos a transtornar ou prejudicar outros e violar as expectativas ou normas sociais

Ação social e Grupos

Segurança Segurança, harmonia e

estabilidade da sociedade, dos relacionamentos e do self

Biológica, Ação social e Grupos

Ao estudar os valores dos indivíduos, analisam-se suas motivações, ou melhor, as metas por eles perseguidas. Nas pesquisas que utilizaram a estrutura universal de valores de Schwartz (1992) foi verificado que os indivíduos são altamente influenciados pelos tipos motivacionais de valores julgados mais importantes, reforçando a relação entre os valores e os comportamentos (Pato, 2004; Tamayo, Lima, Marques & Martins, 2001b; Tamayo, 2005).

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