• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DE RESULTADOS

1.1 Valores médios de Bem-Estar Psicológico

A Autonomia está relacionada com o processo de individualização e de afastamento progressivo das normas sociais vigentes, em que o indivíduo constrói a sua autodeterminação, independência e autorregulação do comportamento, tendo o locus de controlo interno como indicador de avaliação (Novo, 2003). Este é um constructo psicológico, embora o contexto possa influenciar positiva ou negativamente oportunidades para a Autonomia, é a perceção acerca dela mesma que assume grande importância para o bem-estar (Bridges, 2003). É a Autonomia que posiciona o indivíduo face à sua autodeterminação e autoridade pessoal (Ryff, 1989a). Esta pode ser promovida por contextos positivos (Bridges, 2003). De acordo com os valores médios obtidos nesta dimensão (M=61,33; DP=10,18), considerado um resultado elevado, e de acordo com a delimitação das dimensões de Bem-Estar Psicológico (Ryff, 1989a; Ryff, 2014; Ryff & Keyes, 1997; Ryff & Singer, 2006), podemos concluir que os jovens universitários são autodeterminados e independentes, conseguem resistir a pressões sociais para pensar e agir, regulam o seu comportamento a partir do interior e avaliam-se através de padrões pessoais.

O Domínio do Meio diz respeito à uma capacidade de criação de ambientes positivos e favoráveis a uma manutenção de saúde física e mental, bem como controlo de exigências internas ao próprio indivíduo e é esse envolvimento que permite ao indivíduo moldar o meio face às suas vontades, tendo, por isso, um papel ativo na manutenção e no controlo de ambientes complexos (Keyes & Waterman, 2003; Siqueira & Padovam, 2008). Relaciona-se com a capacidade de saber envolver-se e saber gerir o meio envolvente de modo a criar contextos adequados às suas próprias necessidades. Refere-se à competência do indivíduo para fazer o que quer fazer (Novo,

2003). De acordo com os valores médios obtidos nesta dimensão (M=55,75;

DP=10,71) e considerando a delimitação das dimensões de Bem-Estar Psicológico

(Ryff, 1989a; Ryff, 2014; Ryff & Keyes, 1997; Ryff & Singer, 2006), este é um resultado elevado, pelo que podemos concluir que os participantes sentem que dominam e gerem o ambiente, controlam o complexo conjunto de atividades externas, usam eficazmente as oportunidades que os rodeiam e são capazes de escolher ou criar contextos adequados às suas necessidades e valores.

O Crescimento Pessoal é a capacidade do indivíduo se desenvolver, crescer e realizar-se, maximizando o seu potencial e aptidão para desenvolver talentos e aptidões e aproveitar as oportunidades para um desenvolvimento pessoal positivo, mostrando- se disponível para novos desafios e ter capacidade para fazer face aos obstáculos, (Keyes & Waterman, 2003; Siqueira & Padovam, 2008) numa perceção de um desenvolvimento contínuo, a abertura a novas experiências e o interesse pelo enriquecimento pessoal (Novo, 2003). Atendendo aos valores médios obtidos nesta dimensão (M=69,27; DP=8,12), assumindo-os como um resultado elevado, a delimitação das dimensões de Bem-Estar Psicológico (Ryff, 1989a; Ryff, 2014; Ryff & Keyes, 1997; Ryff & Singer, 2006) permitem-nos verificar que os jovens universitários possuem um sentimento de desenvolvimento contínuo, vendo-se a crescer, estão disponíveis para novas experiências e têm sentido de realização do seu potencial, veem melhorias em si e no seu comportamento ao longo do tempo, cuja mudança reflete mais o autoconhecimento e a eficácia.

Quanto à dimensão Relações Positivas com os Outros, esta está ligada à capacidade para estabelecer relações sociais íntimas com os outros (Keyes & Waterman, 2003), experimentando sentimentos como o amor, a empatia, os afetos. Jahoda considera a capacidade de amar como uma componente central para a saúde mental (Ryff, 2013). A componente social é crucial, nomeadamente porque nos vemos a nós próprios a partir de figuras de referência e quanto mais complexas se tornam essas relações, mais informação adicionamos à autoimagem. A adolescência, bem como a juventude, são períodos do desenvolvimento humano em que se dão grandes transformações quer do ponto de vista social, quer físico (Eccles et al., 2003). O valor médio obtido nesta dimensão (M=61,06; DP=11,91) permite perceber, à luz da delimitação das dimensões de Bem-Estar Psicológico (Ryff, 1989a; Ryff, 2014; Ryff & Keyes, 1997; Ryff & Singer, 2006), que este é um resultado elevado e que os jovens universitários mantêm relações calorosas, satisfatórias e de confiança com os outros,

são preocupados com o bem-estar dos outros e capazes de sentir forte empatia, afeto e intimidade e compreendem o sentido de dar e receber inerente às relações humanas.

Na dimensão Objetivos na Vida é importante referir que os projetos de vida estão ligados à concretização de objetivos, importantes na medida em que há um propósito de vida (Machado, 2008) e têm que ver com a perceção do indivíduo face ao seu próprio percurso, mesmo quando as adversidades estão presentes, ter um propósito de vida (Keyes & Waterman, 2003). Relaciona-se com o reconhecimento de ambições e metas definidas, e com a convicção de que essas metas direcionam o comportamento com o objetivo de dar um sentido à própria existência, enfatizando a importância da manutenção de uma perspetiva de vida capaz de consolidar objetivos pessoais. Os objetivos de vida estão em constante mudança, apesar da qual o funcionamento positivo requer sempre a existência de metas que dão um significado ao comportamento (Ryff, 1989a). O valor médio obtido pelos jovens universitários nesta dimensão (M=62,80; DP=11,81) mostra-se elevado. De acordo com as delimitações das dimensões de Bem-Estar Psicológico (Ryff, 1989a; Ryff, 2014; Ryff & Keyes, 1997; Ryff & Singer, 2006), estes jovens têm objetivos na vida e uma noção do caminho a seguir, sentem que há significado na sua vida no presente e no passado, têm crenças que dão propósito à vida e têm metas e objetivos para a vida.

Por sua vez, a dimensão Autoaceitação tem que ver com uma atitude positiva face a si próprio, ótimos níveis de funcionamento e de maturidade. É a capacidade de se aceitar como um todo e recordar-se de forma positiva do seu passado (Keyes & Waterman, 2003). Refere-se às atitudes positivas em relação a si próprio, ao reconhecimento e aceitação dos aspetos do self, bem como ao sentimento positivo relativo à vida que está para trás. As escalas de Ryff permitem identificar a atitude de aceitação dos vários aspetos do self, da vida passada e das qualidades pessoais (Novo, 2003). O valor médio obtido nesta dimensão (M=59,10; DP=11,61) permite identificar este resultado como elevado e, atendendo à delimitação das dimensões de Bem-Estar Psicológico (Ryff, 1989a; Ryff, 2014; Ryff & Keyes, 1997; Ryff & Singer, 2006), concluir que os jovens universitários parecem ter uma atitude positiva em relação a si próprio, reconhecer e aceitar a multiplicidade de aspetos do self, incluindo as qualidades boas e más e ter sentimentos positivos acerca do seu passado.

Verificou-se a Média de cada uma das dimensões do Bem-Estar Psicológico e obtiveram-se valores entre 55,75 e 69,27. A Média mais baixa verifica-se na dimensão Domínio do Meio (M=55,75; DP=10,71) e a Média mais baixa encontra-se na

dimensão Crescimento Pessoal (M=69,27; DP=8,12). Os resultados obtidos corroboram os de Novo (2003) no grupo etário 20-29 anos, uma vez que os valores médios em cada uma das dimensões são semelhantes nas dimensões Autonomia (61,33), Domínio do Meio (55,75) e também no Bem-Estar Total (M=61,55;

DP=8,70). Obtiveram-se valores médios inferiores nas dimensões Objetivos na Vida

(M= 62,80; DP=11,81) e Autoaceitação (M=59,10; DP=11,61) e valores médios mais elevados nas dimensões Crescimento Pessoal (M=69,27; DP=8,12) e Relações Positivas com os Outros (M=61,06; DP=11,91). Estes resultados podem ter a ver com o facto de os jovens serem estudantes universitários, o que, em certa medida, envolve um leque mais abrangente de contactos, uma maior rede de colegas e de amigos e, por outro lado, a sua condição de estudante universitário permitir perspetivar um melhor futuro e uma maior consciência de maior crescimento em termos pessoais, nomeadamente em termos académicos.

Verifica-se, ainda, o número de participantes que tinham obtido uma Média inferior a 42, por este número representar metade da pontuação máxima (84) nas escalas, constituindo, por isso, um resultado baixo, e foi possível concluir que nas dimensões Domínio do Meio e Autoaceitação foi onde houve maior número de valores médios <42: 147 e 116 jovens, respetivamente. Já no Bem-Estar Psicológico Total, 23 estudantes apresentaram um valor médio <42. Estes resultados merecem atenção em novos estudos, atendendo ao impacto no Bem-Estar Psicológico dos jovens.