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Vantagens e desvantagens da adoção da governança corporativa

5.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

5.2.2 Vantagens e desvantagens da adoção da governança corporativa

As vantagens em implementar a governança corporativa, em um período de formação da estratégia, foram a boa visibilidade perante o mercado de capitais - fato este de concordância principalmente entre analistas de mercado -; a boa imagem corporativa diante dos investidores e compradores internacionais e como um fator comportamental, uma boa reflexão sobre os conflitos de agência existentes da própria família controladora entre si, e a mesma em relação aos acionistas minoritários. O maior valor deste fato, visto pelo executivo de RI da Charlie, foi que cada sócio conseguiu, após a implementação, saber exatamente o seu valor societário da empresa, eliminando grande parte das divergências em relação patrimônio, divisão dos lucros e participação de uma segunda geração de familiares no controle da empresa. Esta opinião também é corroborada pelo Werner Bornholdt, que vê na implantação da governança corporativa uma maneira clara de todos os stakeholders envolvidos enxergarem com clareza o valor e a situação da empresa perante o mercado, de forma mais física e menos emocional. O fator de a questão sucessória ter ficado mais clara foi citado como de significativa importância na melhora de alinhamento entre todos os stakeholders da empresa, desde os controladores até a gerência intermediária. A divisão implícita de controle por membros da família era de extrema preocupação entre os níveis gerencias da empresa

Alpha, sendo que as constantes dissenções em reuniões do Conselho eram de conhecimento geral dos colaboradores da empresa. Perante o mercado, estas conflitos também originavam um grande desconforto, principalmente em se tratando de questões de investimentos a médio e longo prazos na empresa. Havia, antes do processo de implementação da governança corporativa na empresa sérias dúvidas se a mesma sobreviveria a um processo sucessório para a segunda geração de controladores familiares, conforme os analistas de mercado entrevistados. O questionário corrobora tal fato, sendo que 100% dos entrevistados analisaram como fator 5 (grau de máxima importância) que um dos atributos da governança corporativa é reduzir a incerteza tanto do mercado quanto da sociedade perante o processo de sucessão. No que tange às desvantagens levadas em conta no processo de adoção da governança corporativa encontram-se a fragilidade adquirida no processo de formação da estratégia, haja vista que a mesma tem a necessidade de se tornar transparente frente à sociedade, investidores, compradores e concorrentes. Porém, apenas com a transparência das informações é que os investidores serão informados corretamente sobre a situação da empresa em que investirá e, posteriormente, poderá defender seus direitos e terá uma maior garantia de que as decisões serão tomadas no seu melhor interesse. Por outro lado ocasionará um viés de vantagem, sendo que isso proporcionará uma redução no custo de capital da empresa e uma automática valorização de seus papéis, segundo o Werner Bornholdt. Do mesmo ângulo da formação da estratégia, a governança corporativa tem tornando mais lento o processo, dificultando em muitos casos ações mais imediatas ou de caráter-“surpresa”, como um lançamento mais arrojado (que temha um grau de investimento e fabricação mais dispendiosos, principalmente), segundo os dois analistas do BACEN.

O custo implícito como o destacado pelos analistas do BACEN, da demora na tomada de decisões, é citado também pelos analistas de mercado de uma forma geral. Segundo Ricardo Russowski, apesar de esse ser considerado um custo alto, o mesmo é compensado pelas vantagens advindas da governança para a empresa:

No fundo o que eu poderia citar como desvantagem é o custo da governança, porque custa ser transparente, mas é um custo que vale a pena. Na minha opinião, tem um custo alto, mas seria um custo que vale a pena ser pago. Eu acho que a vantagem da governança vale todo esse custo. A questão da concorrência me fez pensar, mas nem sempre a governança tem esse enfoque. Às vezes, a empresa até consegue preservar a estratégia competitiva ou a estratégia de negócio, mesmo tendo governança. Eu penso que a governança é isso, é uma transparência, que é importante para todos mostrar transparência, se quer que alguma estratégia de negócio não seja tornada pública não quer dizer que vai deixar de ser transparente por causa disso.

Os custos de demora na tomada de decisão unem-se aos custos provindos de uma maior estrutura de gestão da empresa. A publicação dos dados rotineiramente na imprensa, a estruturação de um departamento de RI e a alocação de novos funcionários, principalmente para o setor financeiro estão entre os citados pelos três executivos de RI entrevistados. O executivo da empresa Bravo diz que, ainda que a mesma anteriormente não possuísse um conselho fiscal, o que é obrigatório, acarretou ainda mais esses custos à empresa. Pode corroborar com isso a observação feita pelo Werner Bornholdt:

O que a maioria das empresas comenta é que cumprir as normativas da governança corporativa ditadas envolve despesas. E, sim, implementar práticas internas de auditoria custa dinheiro para uma empresa que nunca as adotou. Colocar isso em prática pode exigir mais pessoal, mais trabalho - às vezes, terceirização – para definir a melhor metodologia que se adapte às novas diretrizes.

A empresa Charlie encontrou na governança corporativa vantagens e desvantagens de forma inversa. A descentralização do poder foi considerada muito boa por todos os níveis de

stakeholders gerenciais, principalmente pela diretoria executiva, que teve maior liberdade de

ação frente ao controle familiar, apesar da rigidez das políticas de transparência em vigor. Para os acionistas principais, essa nova visão gerou, em um primeiro momento, uma sensação de perda de comando e autoridade, que, em um plano estratégico, poderia ser prejudicial à empresa. De tal forma, encontrou vantagens na segurança dada perante o fator sucessão, como analisa seu executivo de RI “[...] a empresa ganhou ainda mais tranqüilidade para viver além de seus fundadores.” De uma forma geral, tal fato é confirmado pelos membros do setor público entrevistados e pelos analistas de mercado.