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Vantagens e desvantagens dos sistemas centralizados e dos

2 SISTEMA PREDIAL DE ÁGUA NÃO POTÁVEL

2.5 SISTEMAS CENTRALIZADOS E DESCENTRALIZADOS

2.5.2 Vantagens e desvantagens dos sistemas centralizados e dos

Os sistemas tradicionais de abastecimento de água e de coleta de esgoto sanitário adotam por princípio a centralização. Assim, os sistemas são projetados para captar água dos mananciais, tratá-la em uma estação de tratamento (ETA) e distribuí-la aos consumidores através da rede pública, após passar por estações elevatórias responsáveis pelo recalque e bombeamento da água. Enquanto que o esgoto sanitário gerado é coletado pela rede que o transporta até a estação de tratamento (ETE), onde é tratado e, posteriormente, lançado em um corpo hídrico receptor. Por apresentar tecnologias de tratamento consolidadas para solucionar a problemática dos esgotos sanitários, os sistemas centralizados, também denominados distritais, são utilizados na maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento (SANTOS, 2013). A autora acrescenta que são sistemas caros no que se refere à implantação, operação e manutenção das redes distribuidoras e estações de tratamento, não sendo recomendados para comunidades pequenas. Shehabi et al. (2012) adicionam que o investimento para a construção de toda a infraestrutura necessária ao sistema centralizado torna os sistemas descentralizados mais atrativos aos países em desenvolvimento.

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Hoffmann, H.; Tränckner, J.; Eckstädt, H. Einfache Abwasserbehandlungs-verfahren in ländlichen Gebieten. Rostocker Agrar- und Umweltwissenschaftlichen Beiträge Heft 5/1996, Universiteat

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Como se localiza próximo da fonte produtora de esgoto sanitário, mesmo o sistema descentralizado em grupo permite reduzir a infraestrutura de implantação e distâncias de transporte, bem como há menor complexidade em sua operação e manutenção por ter um tamanho inferior aos sistemas centralizados. Apesar de menores, as estações de tratamento descentralizadas podem utilizar tecnologias que variam desde processos físico-químicos ou biológicos simplificados até sistemas de filtração em membranas de última geração que permitem o reúso do efluente após o tratamento (SHEHABI et al., 2012).

Segundo Dimitriadis (2005), Afferden et al. (2010), Shehabi et al. (2012) e Santos (2013), dentre as outras vantagens dos sistemas descentralizados estão:

 maior controle do risco de contaminação da água potável devido à sua escala reduzida;

 menores vazões de efluentes permitem a utilização de tubulações com diâmetros inferiores e estações de tratamento com profundidades mais rasas;

 vários sistemas descentralizados ocasionam menor impacto urbano do que um único sistema centralizado por não necessitarem de extensas adutoras;

 ciclo de depreciação do esgoto mais curto, pois o consumo do efluente tratado ocorre rapidamente;

 facilidade de expansão, maior adaptabilidade às mudanças de demanda;

 a falha em um componente não ocasiona a paralização do conjunto de sistemas.

Hendrickson et al. (2015) salientam que em áreas urbanas densamente povoadas, existem entraves geográficos e socioeconômicos desafiadores para os sistemas centralizados. Segundo os autores, esse tipo de sistema se depara com dificuldades relacionadas às restrições espaciais, o que impede a expansão das instalações com o crescimento da demanda, além de exigir redes de distribuição diferenciadas para a água potável e não potável.

No entanto, os sistemas descentralizados são mais trabalhosos de serem controlados, mantidos e monitorados, pois segundo Lima (2008), exigem uma operação muito estável, sem grandes variações de perda de carga, e devem ter a mesma eficiência que os sistemas centralizados. Isso, consequentemente, pode

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acarretar em maior consumo energético e em gastos com a gestão da qualidade para tratar o mesmo volume de águas residuárias, se comparado aos centralizados. Ademais, quando instalados em edificações ocupam considerável espaço da área térrea ou de garagem, as quais são naturalmente limitadas.

Chung et al. (2008) ao proporem um modelo de avaliação das vantagens da descentralização, concluíram que esta se adequa principalmente a territórios com relevos diversificados e centros urbanos dispersos. Comparando a estação de tratamento de águas residuárias centralizada a uma série de estações descentralizadas, para uma comunidade de 1,2 milhões de habitantes, os autores observaram que a economia de escala obtida favorece a centralização, exceto quando a região apresenta grandes variações nas altitudes do relevo, o que faria do sistema descentralizado a melhor escolha.

De acordo com a Environment Agency (2011) do Reino Unido, em comparação com os descentralizados, os sistemas centralizados oferecem melhor equilíbrio entre a oferta e a demanda de insumos; são capazes de produzir água não potável com padrão de qualidade confiável, uma vez que seu processo de tratamento é bastante conhecido, o que facilita a manutenção do sistema em caso de eventuais problemas. Permitem, ainda, maior escala de redução do consumo de energia com a instalação de bombas mais eficientes e a utilização de processos de tratamento conforme as características da água não potável a ser consumida.

Gonçalves e Pinto (2000)8 apud Cohim et al. (2009) destacam também o fato dos sistemas descentralizados se ligarem estritamente à evolução tecnológica de estações de tratamento mais compactas e eficientes, que possuem capacidade para se adequar a vazões de efluentes variáveis, tanto do ponto de vista das vazões tratadas como da qualidade da água não potável produzida. Logo, a constante inovação tecnológica dos equipamentos, componentes e softwares para controlar a qualidade da água e melhorar a gestão do sistema também tem papel relevante na obtenção de avanços na área de reúso de águas cinzas em residências.

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GONÇALVES, R. F; PINTO, M. T. Opções tecnológicas do início do século XXI para tratamento de esgotos sanitários das grandes regiões metropolitanas brasileiras. In: SIMPÓSIO LUSO-BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. 9., Porto Seguro. Anais... Porto Seguro: 2000.

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Outra questão para a eficácia e consolidação do sistema descentralizado envolve a realização de um programa de gerenciamento durante todo o ciclo de operação, que assegure a qualidade da água produzida, a inspeção regular e a manutenção apropriada (SANTOS, 2013). Afferden et al. (2010) concluem que, para alcançarem sucesso, os sistemas descentralizados devem ser fiscalizados por uma administração superior. Neste aspecto, Cohim et al. (2009) acrescentam que tanto o sistema centralizado quanto o descentralizado devem ser operados por uma autoridade central capacitada, a fim de minimizar os riscos que podem causar à saúde dos usuários e aumentar a credibilidade do uso de água não potável.

Com base no que foi exposto anteriormente, percebe-se que não existe no meio acadêmico um consenso acerca de qual sistema, a saber, centralizado ou descentralizado, é mais interessante. Cada um apresenta vantagens particulares que devem ser avaliadas considerando tanto consequências diretas, por exemplo, infraestrutura e gastos envolvidos, quanto indiretas nos sistemas, como características regionais e impactos ambientais.

Guest et al. (2009) e Libralato et al. (2012) defendem inclusive a coexistência entre sistemas centralizados e descentralizados, com vários níveis de aplicabilidade em diferentes regiões, sendo que a tomada de decisão a princípio por um tipo de sistema não pode excluir a implantação do outro. Para os autores, essa abordagem seria a mais realista nas condições atuais das cidades, especialmente no caso de grandes conjuntos de edificações, tais como centros comerciais, hospitais, aeroportos ou em novas áreas de desenvolvimento, onde o uso de água não potável pode ser efetivamente planejado.

2.6 VARIÁVEIS PARA A TOMADA DE DECISÃO QUANTO AO TIPO DE SISTEMA