• Nenhum resultado encontrado

Variáveis que apresentaram significância estatística

7 CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DA ESCALA DE CONCEPÇÕES

8.2 Estudo das tendências segundo as variáveis dependentes

8.2.2 Variáveis que apresentaram significância estatística

1- Renda Familiar

Há uma tendência bastante considerável em acreditar que as dificuldades econômicas e sociais influenciam a educação dos filhos. Para essa pesquisa houve significância estatística (p= 0,000) em relação à renda familiar dos participantes e suas respostas aos construtos. A maior parte dos participantes tinha renda média familiar respectivamente: 32,2% têm renda familiar de até 2 salários mínimos e 28,8% têm renda familiar entre 2 a 5 salários mínimos.

Há ainda 18,5% dos participantes que afirmaram ter renda familiar entre 5 e 10 salários mínimos, 13,5% que afirmaram ter renda média entre 10 e 20 salários mínimos e 7%, afirmaram ter renda superior a 20 salários mínimos. Conforme os dados estatísticos, houve significância estatística (p= 0,000) para as respostas dadas por cada extrato da amostra em relação aos outros extratos, assim, como em relação aos quatro construtos. Portanto, a renda familiar é uma variável que influenciou a forma dos pais e mães do nosso país compreender a educação dos seus filhos.

A relação observada foi que, quanto menor a renda familiar, menor a média de respostas atribuídas para os construtos: respeito, justiça e autonomia e maior a média de respostas atribuídas ao construto da obediência. Por outro lado, os pais com rendas familiares mais altas, deram respostas com média mais baixa para a obediência e respostas com média mais alta para os construtos: justiça, respeito e autonomia.

Portanto, os dados revelaram que há uma maior tendência por parte dos pais brasileiros que possuem baixa renda familiar, de estabelecer com seus filhos relações mais coercitivas, pautadas no incentivo a obediência, através do respeito unilateral e das sanções expiatórias. Uma vez que essa é a condição de 61% dos participantes (situados nesse estrato de baixa renda familiar) é possível afirmar que esses dados são convergentes com os resultados discutidos anteriormente na segunda parte desse mesmo capítulo (que analisou as respostas dos participantes para cada construto).

Os dados dessa pesquisa foram consistentes com os dados da pesquisa de Lins-Dyer e Nucci (2007), realizada com participantes do nordeste do Brasil, sobre o impacto das classes sociais sobre as respostas de mães e filhas a respeito das suas concepções sobre controle parental. Os resultados da pesquisa demonstraram que filhas de classes sociais mais baixas perceberam que suas mães exerciam maior controle sobre elas que as filhas de classe média. Por outro lado, as mães de classe baixa requisitaram maior índice de controle sobre problemas convencionais e prudenciais que as mães de classe média.

2- Formação escolar dos pais

Coerentemente com os resultados da variável anterior, o que mais uma vez implica em uma validade convergente do instrumento, houve significância estatística (p= 0,000) em relação à formação dos participantes e suas respostas aos construtos. Os participantes apresentaram os seguintes percentuais para a variável formação escolar: 22,4% não têm formação, 12% têm ensino fundamental completo, 32,4% têm ensino médio completo, 24,1% têm ensino superior e 9,1% têm formação em pós-graduação.

A relação observada foi que, quanto menos formação escolar, menor a média de respostas atribuídas para os construtos: respeito, justiça e autonomia e maior a média de respostas atribuídas ao construto da obediência. Por outro lado, os pais com formação escolar mais completa deram respostas cuja média foi mai baixa para a obediência e respostas cuja média foi mais alta para os construtos: justiça, respeito e autonomia.

Essa variável está muito atrelada à questão da grande necessidade de que os pais tenham mais conhecimentos para educar seus filhos. Até pouco tempo atrás os pais e mães acreditavam na idéia de que a educação dos filhos poderia ser realizada mediante intuição, ou a própria vocação inerente a paternidade e maternidade. (Szymanzki, 2007).

Embora a grande maioria dos pais não confie mais nessa idéia, poucos são os pais bem orientados a respeito da melhor educação a oferecer aos seus filhos. Sem formação escolar, sem acesso a leitura e ao conhecimento, a maioria dos pais educa seus filhos: “conforme as lições da faculdade da vida”, segundo relatos deles mesmos.

3- Tipo de escola.

Existe uma tendência considerável, amparada pelos resultados obtidos pelas escolas nos instrumentos de avaliação institucional, em comparar o ensino da escola pública com o das escolas privadas, apontando, infelizmente para um déficit na qualidade do ensino público em relação ao ensino privado. Para essa pesquisa, houve significância estatística (p= 0,000) em relação à renda familiar dos participantes e suas respostas aos construtos. Os participantes dessa pesquisa estavam assim divididos: 54,8% deles tinham filhos estudando em escola pública ou eram profissionais da educação da escola pública e 45,2% deles tinham filhos matriculados na escola privada.

Apontando também para uma validade convergente, a variável tipo de escola apresentou significância estatística (p=0,000) em relação ao tipo de escola e os construtos: respeito, justiça e autonomia. Conforme já observado nas variáveis, renda familiar e formação escolar que também apresentaram diferenças significativas estatisticamente, o instrumento denotou a sua coerência, apontando a dificuldade das classes mais baixas da sociedade brasileira em educar para a autonomia.

No caso dessa variável, tipo de escola, o resultado apresentado mostrou que os pais das escolas públicas, dão respostas com média mais baixa para os construtos: respeito, justiça, autonomia, quando comparados a média das respostas dos pais de escolas privadas para os mesmos construtos. Com relação às diferenças entre as respostas dos pais de escola pública e privada para o construto obediência, não se encontrou significância estatística (p≥0,005).

4- Profissão dos participantes.

O resultado dessa variável é bastante importante para a temática da pesquisa. Esperava- se que os profissionais da educação oferecessem respostas mais evoluídas que os participantes das demais profissões, isto porque, esperava-se que, por possuírem formação na área da educação esses pais se mostrassem melhor qualificados para a educação dos seus filhos. Porém, coerentemente com os resultados da variável anterior, o que mais uma vez implica em uma validade convergente do instrumento, houve significância estatística (p= 0,000) apenas em relação aos profissionais de baixa qualificação que responderam diferentemente em relação as demais profissões.

Os participantes apresentaram os seguintes percentuais para a variável profissão: 9,3% eram profissionais liberais, 19,1% eram profissionais da educação (essa alta porcentagem da amostra se refere ao fato de que, como a pesquisa foi realizada nas escolas, todos os professores, coordenadores e diretores que possuíam filhos na faixa etária da pesquisa, 12 a 20 anos, eram convidados a participar), 17,4% eram profissionais técnicos, 17,9% eram profissionais de baixa qualificação (por exemplo, empregada doméstica, porteiro, caseiro), e 36,3% estavam categorizados em outras profissões36.

A relação observada foi que os profissionais de baixa qualificação tendem a dar respostas com médias inferiores para os construtos – respeito, justiça e autonomia – e respostas com médias mais altas para o construto da obediência, quando comparados às respostas dadas pelos outros profissionais.

5- Regiões

Esse é o resultado mais surpreendente com relação às variáveis dependentes. Em primeiro lugar porque não foram encontradas diferenças significativas (p ≥ 0,005) em relação às respostas dadas pelos pais das diferentes regiões brasileiras pesquisadas. A única diferença significativa estatisticamente (p= 0,000) observada foi com relação às respostas dadas pelos participantes da cidade de Salvador, no estado da Bahia, na região do Nordeste.

36 Entende-se que essa categoria outros não foi bem organizada por essa pesquisa, pois acabou assumindo

profissões bastante diversas como: comerciantes, empresários, autônomos, vendedores, e inclusive desempregados, foram computados por essa categoria.

Em relação às demais respostas, os pais de Salvador apresentaram respostas com média bastante alta para os construtos da justiça, autonomia e respeito, e respostas com média baixíssima para o construto da obediência.

A questão é que a pesquisa em Salvador foi realizada em um colégio particular conceituadíssimo e centenário na cidade: portanto a maioria dos participantes tinha formação escolar com nível de pós-graduação e renda familiar alta (convergindo com as variáveis anteriores). A reunião de pais nesse colégio teve uma dinâmica extremamente diferenciada das demais observadas pela pesquisadora. Primeiramente os pais participaram da pesquisa, depois da reunião de pais, que foi conduzida pelo coordenador dos segundos anos do ensino médio. O tema da reunião foram os desafios do vestibular.

A reunião teve o esquema de uma assembléia com a participação ativa dos genitores que expuseram suas opiniões e puderam trocar pontos de vistas com os professores e outros participantes. Esses pais também demonstraram grande interesse pela pesquisa.

Obviamente esses estudos sobre as análises das tendências segundo as variáveis dependentes poderiam se desdobrar no interior das amostras com análises mais específicas sobre o comportamento de cada variável. Entretanto, discussões mais profundas não serão efetuadas nesse texto, o qual priorizou a elaboração e validação da Escala de Concepções Educativas.