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Com três ou mais sintomas vocais Total p

Não Sim N % N % N % Sexo Masculino 79 50,3 25 15,9 10 4 66,2 0,0425 Feminino 32 20,4 21 13,4 53 33,8 Faixa etária 21 – 30 3 1,91 1 0,63 4 2,6 0,7062 31 – 40 27 17,2 13 8,28 40 25,5 41 – 50 40 25,47 13 8,28 53 33,7 51 – 60 32 20,38 17 10,8 2 49 31,2 61 – 70 61 – 70 Estado civil 9 5,73 2 1,27 11 7,00 Ruído Não 5 3,18 2 1,27 7 4,5 0,7937 Tolerável 87 55,41 34 21,6 5 12 1 77 Desagradável 19 12,10 10 6,36 29 18,5 Uso do giz Não 10 8 68,78 45 28,6 6 15 3 97,4 0,5370 Às vezes 2 1,27 0 0,00 2 1,3 Com frequência 1 0,63 1 0,63 2 1,3 Temperatura Boa 47 29,93 22 14,0 1 69 43,9 0,7570 Razoável 48 30,57 19 12,1 0 67 42,7 Desagradável 16 10,19 5 3,18 21 13,4

Fonte: Dados da Pesquisa

Verificou-se a predominância do sexo masculino, que representa 66,2% da amostra. A literatura demonstra a alta prevalência das mulheres na docência, 79,2% na rede básica de ensino (BEHLAU et al., 2012), e de 91,95% de docentes na Educação Infantil e Fundamental (LEMOS; RUMEL, 2005). Conforme o Censo Escolar (MEC/INEP, 2009) o perfil dos docentes é feminino nos anos iniciais e vai se invertendo à medida que se transita da Educação Infantil para o Ensino Médio e

para a Educação Profissional. A participação dos homens representa 35,6% no Ensino Médio e 53,3% na Educação Profissional.

Já a faixa etária dos docentes variou de 29 a 70 anos (média 47,2 ± 9,12). A maioria entre 41 a 50 anos, composta por 33,7% (53) dos docentes, seguida pela faixa dos 51 a 60 anos, com 31,2% (49). Carvalho e Souza (2014), em estudo com docentes desta mesma modalidade de ensino, encontrou predominância entre 30 e 39 anos (39%), seguida da faixa de 40 a 49 anos (29%). Roy et al. (2004) apontam que, à medida que a idade aumenta, a eficiência vocal diminui e uma série de alterações estruturais na laringe podem ocorrer, com maior ou menor impacto na voz.

Behlau, Azevedo e Pontes (2001) destacam que o período de máxima eficiência vocal acontece entre 25 e 45 anos, e que a partir desta idade acontecem uma série de alterações na laringe, principalmente, em relação à idade nas mulheres no período da menopausa, momento em que as mudanças hormonais podem também interferir na voz. Caporossi e Ferreira (2011) encontraram associação estatisticamente significante entre a autorreferência de cansaço ao falar e também garganta seca, com grupo de professores representado pelos mais velhos (respectivamente p=0,012 e p=0,033).

Quanto ao ruído, foi apontado por 77% dos professores como tolerável, e 18,5% julgaram o ruído como desagradável. Alves, Araújo e Xavier Neto (2010), em pesquisa com professores do Ensino Fundamental, 54,8% referiram que a acústica da sala de aula é boa, enquanto que 45,2% consideraram ruim. Segundo Silva et al. (2016), 33,9% dos docentes referiram exposição ao barulho, com associação significante em relação à voz fraca. Pesquisa realizada com docentes do ensino superior autorreferiram presença de ruído em sala de aula, porém 48,1% deles mencionou alteração vocal, não encontrando associação significativa (SERVILHA; JUSTO, 2014). No estudo de Medeiros, Assunção e Barreto (2012), 52,9% referiram trabalhar com ruído de conversação e destacaram que as condições ambientais desfavoráveis geram hipersolicitação da voz, e podem acentuar o agravamento da doença em si. Jardim, Barreto e Assunção (2007a) ressaltaram que o ruído elevado/insuportável na sala de aula aumenta a prevalência de pior qualidade de vida relacionada à voz dos docentes.

Em relação ao uso do giz, quase a totalidade dos professores, 97,4% (153), docentes não faz uso dele. Dado semelhante encontrado por Palheta et al. (2008) em que a grande maioria dos docentes não utilizava o giz, todavia para os que o utilizavam, exclusivamente, 50% referiram sintomas vocais. Afirmam que os professores que fazem o uso do giz estão mais propensos a alterações vocais, pois o hábito de falar voltado para a lousa irrita, excessivamente, a laringe por facilitar a inspiração de pó de giz, provocando secura e rouquidão na garganta.

Na Tabela 2 (p. 49), observam-se as características profissionais e da organização do trabalho dos docentes. A carga horária média semanal foi de 14,53 ± 4,727, com mínimo de 4 e máximo de 40 horas, porém 74% dos docentes lecionam entre 11 e 20 horas. Estudo de Servilha e Pereira (2008) apresentaram intervalo de jornada de trabalho semanal entre 6 a 38 horas, com média de 24, e 42,8% dos docentes com jornada de 11 a 20 horas aula. Jardim, Barreto e Assunção (2007a) encontraram que 69,1% dos professores mantinham acima de 21 horas/aula por semana.

Apesar de não ter obtido associação significante entre carga horária e presença de três ou mais sintomas (p= 0,2809), esse aspecto é apontado em várias pesquisas como facilitador potencial para o surgimento das disfonias. Os trabalhos mostram divergência quanto à influência ou não da carga horária docente sobre o desenvolvimento de distúrbios vocais no professor. Ortiz, Lima e Costa (2004) observaram que 66% dos docentes trabalhavam de 20 a 30 horas semanais e que a ocorrência de disfonia não sofreu influência direta da carga horária. Medeiros et al. (2016), não encontraram significância entre trabalhar como docente em dois turnos ou mais, o que denota alta demanda vocal, e prevalência de sintomas vocais. Contudo, Araújo et al (2008) constataram associação significativa entre a rouquidão nos últimos seis meses e trabalhar 24 horas semanais ou mais em sala de aula. Para Fuess e Lorenz (2003) houve relação direta entre a frequência de disfonia e a carga horária semanal.

Tabela 2. Descrição das características profissionais e do trabalho dos docentes

Continua

Variável Com três ou mais sintomas vocais Total P

Não Sim N % N % N % Carga Hor. horária semanal Até 10h 19 12,1 12 7,6 31 19,7 0,2809 11 a 20h 86 54,8 30 19,2 116 74 Acima de 20h 6 3,8 4 2,5 10 6,3 Tempo de docência ≤ 5 anos 4 2,5 5 3,2 9 5,7 0,6186 6 a 10 anos 21 13,4 8 5,1 29 18,5 11 a 15 anos 14 8,9 6 3,8 20 12,7 16 a 20 anos 20 12,7 9 5,8 29 18,5 21 a 25 anos 61 – 70 Estado civil 24 15,3 8 5,1 32 20,4 >25 anos 28 17,9 10 6,3 38 24,2 Tempo na Instituição ≤ 5 anos 21 13,4 11 7,0 32 20,4 0,7022 6 a 10 anos 29 18,5 12 7,6 41 26,1 11 a 15 anos 5 3,2 3 1,9 8 5,1 6 a 20 anos 18 11,5 8 5,1 26 16,6 21 a 25 anos 61 – 70 Estado civil 21 13,3 9 5,8 30 19,1 >25 anos 17 10,8 3 1,9 20 12,7 Trabalha como professor fora da Instituição 0,4201 Sim 4 2,5 3 1,9 7 4,4 Não 107 68,2 43 27,4 150 95,6 Quantidade de alunos Até 20 31 19,7 15 9,6 46 29,3 0,5045 21 a 40 66 42,0 28 17,9 94 59,9 > 41 14 8,9 3 1,9 17 10,8 Intervalo entre as aulas Nunca 17 10,8 4 2,5 21 13,3 0,4052 Às vezes 61 38,8 30 19,1 91 57,9 Sempre 33 21,1 12 7,6 45 28,7 Método de ensino mais usado

Aulas expositivas 74 47,1 29 18,5 103 65,6 0,5181 Aulas expos.+ trabalhos de grupos 14 8,9 4 2,5 18 11,5 Aulas expos.+ trab.grupos + outros 7 4,4 5 3,2 12 7,6 Aulas expos.+ outros 8 5,1 3 1,9 11 7,0 Trabalhos de grupos + outros 0 0 1 0,6 1 0,6 Trabalhos de grupos 2 1,3 0 0 2 1,3 Outros 6 3,8 4 2,5 10 6,3

Fonte: Dados da Pesquisa

Quanto ao tempo de docência, observou-se que 44,6% dos docentes têm mais de 20 anos de profissão, com 19,4 anos ± 9,246 (Média ± DP), mínimo de 1 e máximo de 39 anos. Entretanto, em termos proporcionais os docentes com menor tempo de exercício na profissão, com até 5 anos, apresentaram mais queixas, pois dos 9 docentes, 5 deles (55,5%) referiram três ou mais sintomas vocais.

A literatura mostra resultados divergentes com relação à associação entre alteração vocal e tempo de docência (ARAÚJO et al, 2008). Algumas pesquisas comprovam que quanto maior o tempo de carreira, maior a chance de o professor apresentar distúrbio de voz (ARAÚJO et al, 2008). Outros estudos apresentam dados contrários. Servilha e Pereira (2008) verificaram que os professores com mais anos de docência não apresentaram mais queixas de alterações vocais que aqueles com menos tempo de trabalho. Palheta et al. (2008) ressaltam que estes resultados possivelmente são explicados pelo fato de que quanto mais novo é o docente, menos experiência e conhecimento possui em relação às medidas de prevenção aos distúrbios vocais. Também possuem menor capacidade de adaptação frente às inúmeras adversidades encontradas dentro de uma sala de aula, como por exemplo, a competição sonora.

Com relação ao tempo de exercício dos docentes na Instituição pesquisada, constatou-se que 46,5% deles têm até 10 anos de exercício, em contrapartida,

outros 31,8% têm mais de 20 anos de trabalho no órgão. O tempo médio de exercício foi de 15,3 anos (± 10,06). Estes dados estão de acordo com o estudo realizado por Carvalho e Souza (2014) com docentes da educação profissional e tecnológica. Eles verificaram que 48% dos profissionais possuíam menos de 10 anos de atuação, e 8% lecionavam há mais de 25 anos.

A maioria (44,6%) dos docentes deste estudo é composta por professores antigos na profissão, com mais de 20 anos de formados. Em contrapartida, 46,5% têm até 10 anos de trabalho na instituição estudada, ou seja, são servidores ainda com pouco tempo de exercício. Isso se explica pelas mudanças ocorridas no contexto social e econômico do país, com a consequente transformação do antigo Centro Federal de Educação Técnica e Tecnológica de Alagoas - CEFET – AL, em Instituto Federal de Educação de Alagoas - IFAL, através da criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, regulamentado pela Lei nº 11.892, de 29.12.200, e, com isso, sua expansão, e aumento expressivo de posse de novos servidores nos últimos anos (BRASIL, 2014).

Constatou-se que 95,6% dos docentes não trabalham como professor além da instituição pesquisada, lecionando apenas na escola estudada. Este percentual está de acordo com o estudo realizado por Carvalho e Souza (2014), com os docentes da educação profissional e tecnológica, onde constatou que 88% dos professores trabalhavam apenas na escola estudada. Mesma informação encontrada por Ortiz, Lima e Costa (2004), constataram que 74,8% dos docentes laboravam em uma única escola e 16,8% em duas escolas. Araújo et al. (2008) observaram significância entre rouquidão e o trabalho em duas ou mais escolas.

Para 59,9% (94) dos professores, as turmas em que lecionam têm de 21 a 40 alunos, e 10,8% (17) declararam que suas classes possuem número maior que 41 alunos por turma. Não se observou correlação entre o quantitativo de alunos por sala e sintomas vocais (p=0,5045). Conforme estudo de Fuess e Lorenz (2003), há relação direta entre a frequência de desordens vocais e o número de alunos por classe. Araújo et al. (2008) encontraram significância entre nódulos vocais e classes com 25 alunos ou mais. Porém, há trabalhos como o de Ortiz, Lima e Costa (2004), com média de 32,8 alunos por sala, que não encontraram diferença estatisticamente significante.

Nota-se neste estudo que 65,6% (103) dos docentes referiram adotar preferencialmente as aulas expositivas, e 28,1% (29) deles referiram três ou mais queixas. As aulas expositivas são mais utilizadas em relação a outros métodos de ensino, entretanto por exigir o uso constante da voz, traz por consequência maior desgaste vocal, caso o docente não tenha o preparo necessário. É importante que o professor procure diversificar mais o método de ensino para não sobrecarregar o uso da voz, garantindo assim menos tempo de uso e evitando abusos vocais (BEHLAU; DRAGONE; NAGANO, 2004; SERVILHA; PEREIRA, 2008).

No Gráfico1, nota-se a distribuição dos níveis de ensino que os docentes lecionam. A maior parte, 29,3% (46) dos professores ensinam nas turmas do “integrado e do superior”, 20,4% (32) ensinam apenas no nível “superior”, enquanto que 19,7% (31) deles ensinam exclusivamente no “integrado”. Somando-se os percentuais, percebe-se que 49,7% dos docentes lecionam em turmas da modalidade de ensino integrado e superior, ou apenas no superior.

Gráfico 1.Quantitativo de docentes que lecionam nas variadas modalidades de ensino da instituição

estudada.

Fonte: Dados da Pesquisa

Na Tabela 3, estão descritos os comportamentos e hábitos relacionados à saúde dos docentes.

Tabela 3. Descrição dos comportamentos e hábitos relacionados à saúde dos docentes

Continua

Variável

Com três ou mais sintomas vocais

Total P Não Sim N % N % N % Quantidade de água por dia

Menos de 1 litro 16 10,2 9 5,8 25 16 0,6858 1 a 2 litros 72 45,8 27 17,2 99 63 Mais de 2 litros 23 14,6 10 6,3 33 21 Ingere água durante as aulas Nunca 27 17,2 9 5,8 36 22,9 0,8103 Às vezes 54 34,4 24 15,3 78 49,7 Sempre 30 19,1 13 8,3 43 27,4

Uso da voz no dia a dia Pouco 4 2,5 1 0,6 5 3,1 0,5039 Moderadamente 56 35,6 18 11,5 74 47,2 Muito 48 30,6 26 16,5 74 47,2 Demais 3 1,9 1 0,6 4 2,5 Uso da voz constante em outras atividades 0,8540 Sim 33 21.0 13 8,3 46 29,3 Não 78 49,7 33 21,0 111 70,7 Consulta médica fonoaudióloga Sim 13 8,3 14 8,9 27 17,2 0,0047 Não 98 62,4 32 20,4 13 82,8 Orientação sobre uso da voz Sim 12 7,7 5 3,1 17 10,8 0,9914 Não 99 63,0 41 26,2 140 89,2 Licença ou afastamento por problema vocal Sim 3 1,9 7 4,4 10 6,3 0,0035 Não 108 68,8 39 24,8 147 93,6 Consumo de bebida alcoólica

Não 43 27,4 17 10,8 60 38,3 0,9622 Parou 5 3,1 2 1,3 7 4,4 Ocasiões especiais 58 36,9 24 15,3 82 52,3 Sempre 5 3,1 3 1,9 8 5,0 Tabagismo Não 98 62,4 40 25,5 138 87,9 0,9231 Sim 3 1,9 1 0,6 4 2,5 Ex-fumante 10 6,3 5 3,1 15 9,6

Fonte: Dados da Pesquisa

Quanto à ingestão de água ao dia, 63% (99) dos professores bebem de 1 a 2 litros. Um percentual de 16% (25) dos docentes bebe menos de 1 litro, indicando fator desfavorável para a saúde vocal. Não houve diferença significativa entre o volume de água ingerida e a presença de sintomas (p=0,6858). Marçal e Peres (2011) encontraram que 63% dos professores consomem menos de 1 litro por dia, desses 47,7% com alteração vocal; 33% de 1 a 2 litros, desses 48,5% com alteração na voz; 4% consomem mais de 2 litros, 40% com distúrbio vocal (p=0,896). Zambon e Behlau (2006) afirmaram que a desidratação propiciava maior dificuldade para manter o controle da voz e geralmente necessita-se de maior esforço. Para Behlau et al. (2001) a sensação de garganta seca, pigarro e tosse são sinais de falta de hidratação das pregas vocais. Pinho (1998) alerta que a hidratação adequada favorece a flexibilidade e vibração das pregas vocais.

Quase a metade dos docentes (49,7%) relataram que só “às vezes” ingeriam água durante as aulas, e 22,9% “nunca” mantém esse hábito (p=0,8103). Estudo de Caporossi e Ferreira (2011) observou que 75,28% dos docentes referiram beber água durante o uso da voz. Do mesmo modo, no estudo realizado por Marçal e Peres (2011) notaram que a maioria (80%) dos professores relataram beber água durante às aulas, porém desses 50,5% apresentavam alteração vocal (p=0,057).

Quanto ao uso da voz no dia a dia, vale salientar que dos 47,2% (74) dos docentes que afirmaram “falar muito”, 35,1% desses referiram três ou mais queixas vocais. Não se observou diferença significante (p=0,5039). Estudo de Lemos e Rumel (2005) encontraram maior percentual, com 79,1% dos professores auto referiram falar muito. Caporossi e Ferreira (2011) encontraram 86,52% com a

mesma afirmação, com associação estatística significante (p=0,033). Ferreira et al. (2010) do mesmo modo, observou significância na correlação entre auto referência à alteração vocal e falar muito.

Com relação ao uso da voz em outras atividades, a grande maioria dos professores, ou seja, 70,7% (111) referiram que não tem outras práticas com uso constante da voz além da docência. Entretanto, dos 29,3% de docentes que referiram uso constante da voz em outras atividades, 28,3% destes referiram queixas vocais nos últimos 6 meses. As atividades referidas foram canto, participação em movimentos sociais, palestras, seminários, eventos religiosos, entre outras. Ortiz, Lima e Costa (2004) não observaram associação com atividade vocal extraocupacional (cultos religiosos, filhos pequenos, canto e outras profissões que demandem esforço vocal) em professores disfônicos. Contrariamente, no estudo de Giannini, Latorre e Ferreira (2013), a variável “provável disfonia” mostrou associação significante com ter outra atividade que necessite de uso intenso da voz. Os resultados demonstram que ocorre sobrecarga vocal, quando a atividade docente é associada com outra ocupação que exija uso vocal intenso. Do mesmo modo, Araújo et al. (2008) encontraram significância entre nódulos vocais e trabalhar em outras atividades, além da docência.

Quanto à procura por consulta médica ou fonoaudiológica, devido a problemas na voz, apenas 17,2% dos professores alegaram esta atitude, com significância entre a autorreferência de três ou mais sintomas vocais e esta variável (p=0,0047). Do mesmo modo, outros autores encontraram significância entre disfonia e procura por profissional especializado (LEMOS; RUMEL, 2005). Na pesquisa realizada por Simões e Latorre (2006) 25,7% das educadoras procuraram por tratamento médico e apenas 9,5% procuraram atendimento fonoaudiológico.

Apenas 10,8% (17) dos docentes que participaram deste estudo buscaram orientação quanto ao uso da voz profissionalmente. E mesmo entre os 46 docentes que referiram três ou mais queixas vocais, apenas 5 deles procuraram informações sobre o uso da voz para o desempenho das suas atividades ocupacionais. Não houve associação estatisticamente significante entre a presença de queixas vocais e orientação sobre o uso da voz. Entretanto, este é um fator importante para prevenção de futuros casos, que podem ser evitados com cuidados básicos. Estudo

de Silva et al. (2016) encontrou que a minoria (36,4%) dos professores receberam algum tipo de orientação vocal quanto aos cuidados com a voz. Isso demonstra que mesmo longe do ideal, ainda teve melhor percentual do que se comparado a esta pesquisa. Lemos e Rumel (2005) observaram que 68,65% dos docentes não receberam orientação sobre o uso da voz, com presença de associação significante com disfonia (p=0,0026).

Para Grillo e Penteado (2005), ainda há uma falta de qualquer tipo de preparo ou orientação, quanto ao uso da voz, no sentido de sensibilizar e conscientizar o professor. Apontam que atitudes para diminuir essas alterações vocais dos docentes devem começar no período da formação do professor e continuar ocorrendo por toda sua carreira. Behlau, Dragone e Nagano (2004) confirmam que é comum os professores não receberem, durante a sua formação acadêmica e profissional, nenhuma orientação ou preparo quanto ao uso da voz. Araújo (2014) corrobora e acrescenta que os docentes não recebem o mínimo de orientação sobre higiene vocal, inclusive alerta para o abuso vocal, não apenas no ambiente de trabalho, mas também fora dele.

Constatou-se neste estudo que 6,4% (10) dos docentes declararam ter precisado de licença médica ou de afastamento do trabalho por motivo de problemas vocais, entre esses, 7 assinalaram que tinham três ou mais sinais/sintomas, apresentando associação significante (p=0,0035). Pesquisa realizada por Lemos e Rumel (2005), com 236 docentes da escola pública municipal de Criciúma/SC, mostra que 15,25% referiram faltas ao trabalho devido a problemas de voz. Um estudo caso-controle realizado com professoras revelou que as docentes que apresentam distúrbio de voz têm 8 vezes mais chance (p=0,001) de apresentar perda de capacidade para o trabalho, independente da idade, sendo obrigadas a se afastarem precocemente da docência (Giannini, 2010). No Estado de Alagoas, os distúrbios de voz constituem um dos principais motivos de afastamento do docente do ambiente de trabalho. Desde 2003, o número de professores com alterações vocais vem aumentando. No ano de 2009, havia um total de 1.611 professores licenciados da sala de aula, dos quais aproximadamente 110 foram afastados por problemas vocais. De acordo com a Superintendência de Perícia Médica e Saúde

Ocupacional (SPMSO), as alterações vocais têm estado entre as três principais causas de afastamento dos professores da sala de aula (FERRACIU, 2013).

Fatores relacionados ao estilo de vida também podem ser prejudiciais à voz, dentre eles está o tabagismo e o uso excessivo de álcool (FORTES et al., 2007).

Segundo Pinho (1998), a ingestão do álcool causa irritação em todo o trato vocal, anestesia a região da faringe e reduz a sensibilidade permitindo abusos vocais. Destaca que o fumo também é altamente prejudicial à produção da voz, e explica que a fumaça quente afeta todo o sistema respiratório, trato vocal e, principalmente, as pregas vocais, além de poder levar ao edema e ao aparecimento de pigarro e tosse em decorrência do aumento da secreção. E ainda faz o alerta de que o fumo é considerado um dos maiores causadores de câncer de laringe e de pulmão.

O consumo de bebida alcoólica foi referido por 52,3% (82) docentes, com padrão de consumo de apenas em “ocasiões especiais”, e 5% (8) dos professores revelaram que “sempre” fazem uso de álcool (Tabela 3 - p. 58).

Somando-se os 82 docentes, que referiram consumir álcool “apenas em ocasiões especiais”, aos 8 que “sempre” ingerem bebidas alcoólicas, temos 90 professores que são consumidores de álcool, e desses 30% (27) referiram três ou mais sintomas, demonstrando um fator de alerta. Apesar de o etilismo ser um fator relacionado a alterações vocais, o estudo de Araújo et al. (2008) não encontrou associação significante, corroborando com esta pesquisa (0,9622).

O hábito de fumar foi mencionado por apenas 4 docentes (2,5%). Araújo et al. (2008) encontraram 7,1% de docentes fumantes em seu estudo. O uso de tabaco está fortemente associado à presença de distúrbios na voz, porém não é um problema para esta população (p=0,9231), visto que esta não associação pode ser explicada pelos poucos casos de fumantes neste estudo. Estes achados estão de acordo com outros estudos, onde não encontraram relação entre queixas vocais e o tabagismo (FUESS; LORENZ, 2003; LEMOS; RUMEL, 2005; ARAÚJO, et al., 2008). Segundo Ortiz, Lima e Costa (2004), que encontraram apenas 6,82% de docentes fumantes, e do mesmo modo não encontraram associação entre tabagismo e disfonia, por isso ressaltam que este hábito não está presente entre os professores como um fato que possa interferir na da produção vocal.

Pesquisa realizada em 2014, do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que o índice de pessoas que consomem cigarros e outros produtos derivados do tabaco é 20,5% menor que o registrado cinco anos atrás. Portanto, o hábito de fumar tem cada vez menos adeptos no Brasil. Do total de adultos entrevistados, 14,7% disseram que fumam atualmente. Esse índice era 18,5% em 2008, conforme a Pesquisa Especial de Tabagismo do IBGE (PETab).

Pela Tabela 4 (p. 59), observam-se os dados colhidos das respostas apresentadas pelos docentes com relação às doenças autorreferidas. Além dos fatores organizacionais e ambientais, os fatores predisponentes individuais não podem ser esquecidos, pois podem prejudicar a saúde vocal. É interessante destacar o que diz Pinho (1998), ao alertar que a voz deve ser sempre pensada e associada à saúde geral do indivíduo, de forma que todo o corpo participe da produção vocal influenciando-a diretamente em sua qualidade.

Dos 157 sujeitos estudados nesta amostra, verificou-se que as doenças autorreferidas mais citadas foram: 37,6% (59) rinite/sinusite, 29,3% (46) alergia respiratória”, 28,7% (45) gastrite/refluxo gastroesofágico/azia”, 28% (44) faringite/amigdalite/laringite. Problemas de vias aéreas superiores constituem importante preocupação ao trabalho do professor, pois aproximadamente 40% referiram problemas como sinusite, rinite, amidalite, faringite (GIANNINI; LATORRE; FERREIRA, 2013). Um estudo descritivo em professores encontrou prevalência de doenças respiratórias de 27,1% (VEDOVATO; MONTEIRO, 2008).

Segundo Behlau e Pontes (1995), os distúrbios alérgicos das vias aéreas superiores estão presentes em 25% dos pacientes disfônicos, e as crises alérgicas têm, ainda, estreita relação com fatores emocionais. Pacientes alérgicos têm tendência a edema ao nível da laringe, que reduz o movimento livre da mucosa e torna a fonte glótica menos eficiente na produção do som. Nenhum dos docentes desta pesquisa referiu depressão relacionada à distúrbios vocais. Outro estudo recente, reforça que 37,2% dos docentes referem alergia demonstrando a alta prevalência de sintomas (SILVA et al, 2016).

Na Tabela 4, observa-se que alergia respiratória, rinite/sinusite, faringite/ amigdalite/laringite e gastrite/azia/refluxogastroesofágico apresentaram associação

estatisticamente significante. Pesquisa realizada na rede básica de ensino no interior de São Paulo destacou que as infecções de vias aéreas superiores foram as que apresentaram maior significância como fator predisponente para quadros disfônicos em 32% dos docentes avaliados (ORTIZ; LIMA; COSTA, 2004). Em outro estudo

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