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Ventos, movimentos, mudanças no território da formação

6 “CENAS DO MOVIMENTO DO CARTÓGRAFO NO TERRITÓRIO”

6.2 SEQUÊNCIA 02 – NO TERRITÓRIO, O CARTÓGRAFO VAI INAUGURANDO OUTROS MUNDOS

6.2.9 Ventos, movimentos, mudanças no território da formação

Estes movimentos que anunciavam outras conformações falavam de um momento em que a organização de ensino convivia com fortes críticas vindas dos estudantes, especificamente do Curso de Medicina, que se iniciaram a partir de uma Assembleia avaliativa do Curso de Medicina sobre os últimos resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), e tomariam a partir daí outros contornos.

Na tentativa de tentar entender os resultados do curso no último Exame, a proposta da gestão do curso e central era traçar estratégias de superação das dificuldades, além de sensibilizar os próprios discentes para a importância de sua participação. A preocupação residia nos resultados anteriores a esse que, por terem sido insatisfatórios no processo de avaliação do MEC, falavam de um boicote de estudantes ao Exame, colocando em risco a sobrevivência do curso, assim como da Fundação.

O questionamento ao desempenho do Exame, de caráter avaliativo dos resultados, foi feito em uma Assembleia inicialmente com todo o coletivo de estudantes e docentes da Medicina e que depois, divididos em pequenos grupos, numa inspiração ao modelo dos grupos tutorias, abririam possibilidades para que dali saíssem um conjunto de propostas e análises sobre o tema.

Contudo, os efeitos criados a partir desses questionamentos e das reflexões sobre o papel do curso enquanto formador na área da saúde e de sua importância para a Fundação, tomaram proporções de um encontro avaliativo não apenas do resultado do ENADE e foram ampliadas as discussões no sentido de indagar sobre as políticas adotadas para o ensino na área da saúde, as opção por mudanças curriculares – sempre levantadas sob suspeita quando se falava em resultados do ENADE tanto por estudantes e docentes, a política de mensalidade para os cursos, as práticas de gestão e os investimentos realizados a partir das receitas da Fundação nos últimos anos.

Este movimento iniciado pelos estudantes, ao contagiar também o coletivo de docentes do curso, eclodiria em uma pauta de reivindicações estudantis que pediam transparência nos orçamentos e investimentos realizados no Curso de Medicina, mudanças estruturais no curso e no hospital de ensino, melhorias salariais dos docentes,; queda das mensalidades, a efetiva solução da ausência de docentes em alguns períodos do curso - principalmente docentes-médicos, além da troca na gestão central da Fundação, com o fim da acumulação de cargos nas entidades mantida e mantenedora.

A voz dos estudantes de Medicina somada à dos docentes do curso e do hospital de ensino, principalmente médicos, contrastavam com a mudez dos estudantes e docentes dos outros cursos da área da saúde. Na Enfermagem, os estudantes, pouco organizados em torno de seu Diretório Acadêmico, pareciam alheios ao que acontecia. Da parte dos docentes da Enfermagem, apesar de muitos também participarem do quadro do curso da Medicina, as discussões, quando existiam, giravam em torno do processo de mudança de gestão no curso que, mesmo ainda não expresso, vinha sendo gestado e pouco depois, ao final de 2011, viria a acontecer.

Assim, a partir dessa Assembleia, se os ventos da potência instituinte insistiam em balançar a lógica instituída, tendendo a transformá-la, já que ao questionar e contestar as práticas, imprimem uma característica dinâmica, de

inovação ou de ruptura (BAREMBLITT, 2002), seus efeitos talvez possam ser indagados no sentido de que num processo de transformação permanente, da dialética de instituído e instituinte. Nesse sentido, quais contornos, quais lógicas, se institucionalizaram a partir desse movimento? Se os instituintes estavam em ação, será que estes tinham potência para imprimir uma outra conformação no processo de institucionalização? O quanto têm de instituinte num processo de institucionalização? Ou o quanto os instituídos se cristalizam nesse processo?

Antes de procurar detalhes da natureza da institucionalização, talvez caiba pensar que, enquanto processo, há nele sempre espaços de misturas, que passam de um para o outro, que não finalizam, já que não geram “produto”. Como espaços de mistura, de alternância, de superposições que deslizam de um para o outro, tais processos comportam espaços lisos e estriados (DELEUZE; GUATTARI, 1997). Se a dialética aqui não nos serve para pensar esse processo, é no sentido de que com ela, de certa maneira, há resultados, formações, que dizem de um processo de institucionalização:

cada instituição contém ao mesmo tempo, e em constante processo dialético, dimensões formais e estruturadas e acontecimentos negadores dessa formalização, sendo que, na verdade, o modo de cada instituição apresentar-se à análise é exatamente o resultado da relação entre esses dois momentos – instituído x instituinte –, que é a institucionalização (MOURÃO, et al. 2007, 185).

Se algo tem a ser dito a partir dessa Assembleia é que a partir dela uma outra conformação de forças se estabeleceu. De relações de poder.

Por não comportar aqui tal objetivo, os efeitos produzidos a partir da Assembleia não serão rastreados neste trabalho. Contudo, algumas alterações se operaram a partir desse movimento, que ao ser tomado como como analisador, indica a tensão existente nas relações que compunham o Curso de Medicina e a própria organização de ensino.

Como analisador, rompe com a anestesia do habitual, tornando visíveis os instituídos, fazendo-os falar. Tomando o sentido de analisador-dispositivo, ele é também catalizador de forças que disparam outras realidades, outras produções (MERHY, 2009). Assim, depois da Assembleia algumas alterações foram produzidas na gestão do Curso de Medicina e da própria organização, com mudanças na gestão do Pró-Saúde, da comissão local de acompanhamento do Programa, além de alterações produzidas à frente do Centro de Ciências da Saúde e da própria Reitoria

do UNIFESO. Essas mudanças marcaram momentos de tensão na organização, tendo em vista a preocupação que tais alterações trazem para docentes e estudantes.