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VERÍSSIMO FALA SOBRE A FUNDAÇÃO DO MUSEU CÂMARA CASCUDO

O nosso Museu – antigo Instituto de Antropolo- gia – surgiu efetivamente da estaca zero. Nada do que hoje podemos apresentar ao público e que constitui o nosso acervo nos chegou pronto e acabado de ou- tra instituição. O que colhemos para o nosso acervo foi resultado de pesquisas dos nossos colaboradores ao lado de algumas doações de amigos do Museu. O próprio terreno no qual construímos a nossa sede – pavilhão do Museu e seus laboratórios – foi conquista

da direção e da equipe de professores e estagiários dessa casa.

Ao receber a convocação do então reitor Onofre Lo- pes da Silva no dia 19 de dezembro de 1961, reuni- mo-nos numa das salas da reitoria, ao lado de Luís da Câmara Cascudo, José Nunes Cabral de Carvalho e Dom Nivaldo Monte, para acertar medidas visando ins- talar um Museu na universidade. Logo naquele dia fi- cou estabelecido que partiríamos para criar um museu que fosse, antes de tudo, projeção dos aspectos mais importantes do estado, seja do ponto de vista antropo- lógico, geológico, paleontológico ou folclórico. Seu pri- meiro diretor foi o escritor Luís da Câmara Cascudo, que renunciaria em poucos meses, sendo substituído pelo professor José Nunes Cabral de Carvalho. Guar- damos de Cascudo uma frase, que jamais esquecemos, ao justificar o seu afastamento. Dizia ele dirigindo-se a nós e a Cabral: “Eu não posso acompanhar o ritmo de trabalho de vocês. Enquanto eu caminho de carro de boi, vocês voam de avião a jato”. Cremos que a ob- servação diz bem do entusiasmo que nos contaminava nos primeiros tempos.

Outros companheiros foram depois convocados para a tarefa, como Protásio Melo e Antônio Gomes e Silva. Iniciamos um curso de preparação de 12 univer- sitários para colaborar conosco. Vários outros jovens, mais tarde, foram chegando de outras áreas para com- por o nosso quadro de servidores.

Devemos acentuar que a nossa preocupação foi sempre apresentar amostragem dos problemas funda-

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mentais, sobretudo aqueles ligados aos aspectos an- tropológicos e geológicos do Rio Grande do Norte. O ho- mem e a terra, cada um com seu potencial de riquezas, suas peculiaridades, a nossa herança paleontológica, a arte popular, o artesanato. Tudo isso – saliente-se – não apenas como curiosidades ou raridades para turistas, mas como parte de um organismo vivo e atuante na comunidade, através de pesquisas e do ensino. Após o curso que ministramos para os jovens e colaboradores do museu, trouxemos a Natal antropólogos, geólogos, paleontólogos, de projeção nacional e internacional, para novos cursos, destinados não somente ao pessoal da casa, mas aberto à comunidade natalense. Cursos periódicos, de acordo com a carga horária determinada pelos colegiados superiores da universidade, sobre os mais variados temas de interesse do estado.

Ressalte-se ainda que tudo isso só foi possível gra- ças ao apoio incondicional do reitor Onofre Lopes da Silva. Incontáveis foram igualmente às conferências pronunciadas aqui por especialistas renomados, a con- vite da direção do Museu, para discorrer sobre assuntos vinculados ao homem e à terra norte-rio-grandense.

Os resultados das nossas pesquisas, ensaios, estu- dos e livros foram editados pela Imprensa Universitá- ria, principalmente os Anais do Instituto de Antropolo- gia, em 3 volumes, além das separatas de trabalhos do pessoal do Museu.

De maneira que, na sua estrutura funcional, no seu acervo, na orientação dos seus professores, mes- tres e estagiários, o Museu Câmara Cascudo, desde o

início, não se constituiu numa improvisação criada ao sabor das circunstâncias. Ele nasceu e cresceu sob se- gura e rígida orientação científica voltada para os mes- mos ideais que animam as melhores instituições do gênero no país ou no estrangeiro.

O aspecto didático de suas exposições foi igualmen- te preocupação constante da direção, que sentia a ne- cessidade de motivar não apenas os estudantes da uni- versidade, mas igualmente a todos na comunidade que se interessavam pelos mesmos problemas.

Hoje, reformulado em vários dos seus aspectos nas salas de exposições, graças principalmente ao toque mágico de uma museóloga – Regina Mendonça de Matos – e sua equipe, cremos que o Museu Câmara Cascudo não desmerece dos seus congêneres nacionais. Por isso, entendemos que o Museu, de modo geral, deve e pode ser um prolongamento da escola – escola, dizemos, no sentido mais amplo desde a de primeiro grau até a uni- versidade. Professores de diferentes áreas aqui têm mi- nistrado aulas para os seus alunos.

O que a escola não pode oferecer de modo mais prá- tico, no Museu pode ser visto, examinado, comparado, analisado. E são incontáveis os estudantes que por aqui têm passado com seus professores nos últimos anos.

A essa atividade se somam os inúmeros projetos de pesquisas realizados ou em andamento pelo nosso pes- soal, com apoio de órgãos federais e até internacionais.

Um desses projetos, o de bolsas de arte aos uni- versitários, orientado pelo professor José Crispim, tem revelado vocações legítimas de pesquisadores em vários

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campos. É possível que vários desses moços e moças se- jam os continuadores do trabalho aqui realizado pelos pioneiros deste Museu.

DINARTE E ONOFRE – OS HOMENS QUE

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