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VIGILÂNCIA EM SAÚDE: CONCEPÇÕES RELACIONADAS À PROMOÇÃO

Passados mais de 20 anos de implantação do SUS, o Brasil ainda se confronta com problemas para efetivação das ações de promoção da saúde e prevenção de diversas doenças e agravos. No decorrer dos anos, o perfil demográfico da população mudou, aumentou o número de idosos e nasceram menos crianças. O perfil epidemiológico também sofreu modificações, aumentando o número de doenças não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, doença mental, obesidade e osteoporose (RIBEIRO, 2013).

A alteração no perfil demográfico e epidemiológico, somada ao fato de que ao longo dos anos não se alcançou êxito na erradicação de algumas doenças não transmissíveis, como a hanseníase, tuberculose, dengue, febre amarela e nos sérios agravos ocasionados por causas externas, sinaliza a necessidade de transformações nos processos de trabalho em saúde, ou seja, fazem-se necessárias alterações no atual modelo de atenção à saúde (BRASIL, 2005).

É nesse panorama que surge a discussão acerca da Vigilância em Saúde, motivada pela necessidade de ampliação das ações de vigilância epidemiológica, que pela proposta deverá contemplar os problemas de saúde e condições de vida da população (HINO, 2007).

Segundo o Ministério da Saúde, o conceito de Vigilância em Saúde inclui (BRASIL, 2008, p.10):

[...] a vigilância e controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e agravos não transmissíveis; a vigilância da situação de saúde, a vigilância ambiental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e a vigilância sanitária.

A Vigilância em Saúde, entendida como uma forma de pensar e agir, tem como objetivo a análise permanente da situação de saúde da população e a organização e execução de práticas de saúde adequadas ao enfrentamento dos problemas existentes. É composta pelas ações de vigilância, promoção, prevenção e controle de doenças e agravos à saúde, devendo constituir-se em um espaço de articulação de conhecimentos e técnicas vindos da epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais, é, pois, referencial para mudanças do modelo de atenção. Deve estar inserida cotidianamente na prática das equipes de saúde da ABS (BRASIL, 2008).

Destaca-se que a Vigilância em Saúde tem por objetivo a observação e a análise permanentes da situação de saúde da população, articulando-se em um conjunto de ações destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações que vivem em determinados territórios, garantindo-se a integralidade da atenção, o que inclui tanto a abordagem individual como coletiva dos problemas de saúde (BRASIL, 2010c).

Além disso, o agrupamento das ações de vigilância em saúde na rede de atenção em saúde tem causado alterações relevantes como o próprio resgate do conceito ampliado de saúde, no qual a saúde não pode ser percebida como apenas a ausência de doenças, mas, sim, a garantia do bem-estar biopsicossocial. A população precisa ter acesso a melhores condições de saúde, moradia, emprego, educação, lazer, entre outros. Essa mudança de paradigma não traz apenas uma visão menos fragmentada sobre os riscos e danos à saúde, insere a população como produtora de saúde e não apenas como objeto de atuação dos profissionais e gestores de saúde (RIBEIRO, 2013).

Estrategicamente, a Vigilância em Saúde é um dos pilares de sustentação do princípio da integralidade, do cuidado, devendo, nesse contexto, inserir-se na construção das redes de atenção à saúde (TEIXEIRA, VILASBÔAS, 2013).

A proposta de Vigilância em Saúde transcende os espaços institucionalizados do sistema de serviços de saúde, se expande a outros setores e órgãos de ação governamental e não governamental, e envolve uma complexa interação de entidades representativas dos interesses de diversos grupos sociais (TEIXEIRA; VILASBÔAS, 2013).

Em síntese, a Vigilância em Saúde apresenta as seguintes características básicas: intervenção sobre problemas de saúde como danos, riscos e/ou determinantes; ênfase em problemas que requerem atenção e acompanhamento contínuos; a articulação de ações promocionais, de proteção e de prevenção; a atuação intersetorial; as ações sobre o território, e intervenção sob a forma de operações (RIBEIRO, 2013).

O planejamento e execução das ações básicas de vigilância em saúde passam a ser efetivados pelos municípios, sendo as demais pactuadas com os estados considerando o desenho de regionalização, da rede de atenção à saúde e as tecnologias disponíveis e o desenvolvimento racionalizado de ações mais complexas (BRASIL, 2013).

No nível municipal compete às Secretarias de Saúde realizar as seguintes ações: coordenar e executar as ações de vigilância; participar no financiamento das ações de vigilância; normalizar técnica complementar em âmbito nacional e estadual; coordenar e alimentar os sistemas de informação de interesse da vigilância; coordenar a preparação e resposta das ações de vigilância nas emergências de saúde pública; coordenar, monitorar e avaliar a estratégia sentinela de vigilância em âmbito hospitalar; desenvolver estratégias e implementação de ações de educação, comunicação e mobilização social; monitorar e avaliar as ações de vigilância em seu território; realizar campanhas publicitárias de interesse da vigilância; promover e executar a educação permanente em seu âmbito de atuação; promover e fomentar a participação social nas ações de vigilância; promover a cooperação e o intercâmbio técnico científico (BRASIL, 2013).

Além disso, os municípios devem prever insumos estratégicos, como medicamentos específicos, meios de diagnóstico laboratorial e equipamento de proteção individual; coordenar, acompanhar e avaliar a rede de laboratórios públicos e privados; coletar, armazenar e transportar amostras laboratoriais de referência, de forma adequada; coordenar e executar ações de vacinação integrantes do Programa Nacional de Imunizações (PNI); descartes e destinação final dos frascos, seringas e agulhas utilizadas; colaborar com a União na execução das ações sobre a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras; e estabelecer incentivos que contribuam para o aperfeiçoamento e a melhoria da qualidade das ações de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2013).

Ressalta-se que a análise da situação de saúde realizada pelos municípios permite a identificação, a descrição, a priorização e a explicação dos problemas de saúde da população, por intermédio da caracterização da população através das variáveis demográficas, variáveis socioeconômicas e variáveis culturais; caracterização das condições de vida relacionadas ao ambiente, à habitação, ao acesso a transporte, à segurança, ao lazer, ao nível educacional, à inserção no mercado de trabalho, ao tipo de ocupação, ao nível de renda, às formas de organização social, religiosa e política; e caracterização do perfil epidemiológico, através dos indicadores de morbidade; indicadores de mortalidade e descrição dos problemas (BRASIL, 2009).

Adverte-se que a integração entre a Vigilância em Saúde e a ABS é essencial para constituir a integralidade na atenção e apresenta as seguintes diretrizes: a

compatibilização dos territórios das equipes de saúde, com a gradativa inserção das ações de vigilância em saúde nas práticas da ESF; o planejamento e a programação integrados das ações individuais e coletivas; o monitoramento e a avaliação integrada; a reestruturação dos processos de trabalho com a utilização de dispositivos e metodologias que favoreçam a integração da vigilância, prevenção, proteção, promoção e atenção à saúde; a educação permanente dos profissionais de saúde, com a abordagem integrada nos eixos da clínica, vigilância, promoção e gestão (CAMPOS, 2013).

Desse modo, essas novas reflexões permitem a implementação da Vigilância em, Saúde, com vistas a proporcionar mudanças nas formas de trabalho em saúde, como um espaço para a articulação intersetorial e para o controle social, possibilitando, assim uma reorganização dos serviços e das práticas de saúde em todos os níveis de atenção e de gestão do SUS (RIBEIRO, 2013).