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A VISÃO DIANTE DA BIOLOGIA

“Estou convencido de que a interpretação leal das últimas conquistas da ciência e do pensamento conduz legitimamente não a um evolucionismo materialista, mas a um Evolucionismo espiritualista. O mundo que conhecemos não se desenvolve ao acaso, mas é estruturalmente dominado por um Centro Pessoal de convergência universal”.

Pierre Teilhard de Chardin

Coloquemos agora, a visão diante da biologia, veremos que também ela nos oferece provas da teoria da queda. Partamos da verificação do fato positivo de que a vida, chegada a certo grau de evolução, sentiu a necessidade da cerebralização do sistema nervoso. Em dado momento de sua ascensão, a vida achou útil e necessário construir para si um órgão específico do pensamento, demonstrando dessa forma ter percebido a importância da presença de um centro específico inteligente, capaz de dirigir o seu funcionamento. Com isto a vida enveredou por um caminho novo, para o psiquismo, o primeiro grau da espiritualização. Esta afirmação está demonstrada pelo fato positivo (cujo móvel e as íntimas razões só assim podem ser compreendidas) de que, na evolução, o sistema nervoso sofreu um verdadeiro processo de cefalização, e isto por etapas sucessivas, partindo dos primeiros rudimentos nervosos até ao desenvolvimento dos hemisférios cerebrais. Foi com esses meios que se pôde manifestar e funcionar, de forma concreta específica no plano biológico, a inteligência, para afinal revelar-se como primeira potência da vida, potência que permitiu ao homem vencer todos os outros animais.

Trata-se não de uma transformação em bloco, não de uma progressão casual, mas de um complicar-se sistemático, ocorrido seletivamente, segundo algumas linhas determinadas, que revelam a presença de um princípio preexistente, dirigido para um telefinalismo preciso, representado justamente pelo espírito. A cerebralização no seio da evolução representa, verdadeiramente, o que se poderia chamar o traço biológico de todo o processo de espiritualização constituindo a meta final dessa evolução. Podemos considerar isso demonstrado pelo fato de a evolução, no plano humano, tender a desenvolver as funções psíquicas, o que significa espiritualizar a vida. Assim, pois, dentro do telefinalismo da vida, avançar para a espiritualização é um fato fundamental, porque representa uma força maior, uma conquista adequada a assegurar maiores poderes defensivos. De modo que, já agora, a este nível, a inteligência representa para a vida a qualidade e a função mais importante, porque melhor garante o futuro.

De fato, a cerebralização fez aparecer o tipo homem, permitindo-lhe vencer todos os demais seres na Terra. Com ela, de agora em diante, o pensamento se tornará a função biológica mais importante, porque o saber pensar e compreender representará a atividade biológica mais útil.

Este fato, demonstrando-nos estar a evolução orientada para a espiritualização, revela-nos ser este o terreno das futuras conquistas do homem. Eis então a biologia a nos oferecer uma nova confirmação de nossa teoria, que sustenta o regresso de tudo a Deus, ou seja, ao estado de puro pensamento. Não se pode negar estar, com o homem, a evolução caminhando nessa direção. Com efeito, o que é a civilização? Vista em seu significado biológico, ou seja, compreendida como certo grau de desenvolvimento da vida, a civilização em última análise é apenas uma especialização

zoológica atingida pela evolução no plano humano, sob a direção de uma atividade biológica nova e especial: o psiquismo. Esta qualidade aparece apenas nesta fase de amadurecimento evolutivo, ao passo que antes era imperceptível, quase invisível no processo ascensional da vida. Estava apenas latente, embrionária e de fato não aparecia como valor importante. Eis que, com o homem, o psiquismo assume um poder preponderante na evolução, um poder tão decisivo que tornou o homem consciente do fenômeno da evolução, ao ponto não só de compreendê-lo, como de assumir a sua direção. Aqui assistimos a uma emersão decisiva do psiquismo no consciente, psiquismo que até agora dirigira a fisiologia e a morfologia, mas escondido no inconsciente, fora do domínio direto do homem, só agora aparecendo em plena evidência.

No animal, o psiquismo – nele ainda inconsciente – para enfrentar o ambiente, produz, plasmando a matéria celular do organismo físico, alguns órgãos determinados, que funcionam como instrumentos. Eles permanecem ligados ao corpo, só dispondo de determinada quantidade de espaço útil. Não é fácil modificar e renovar esses instrumentos, que representam órgãos especializados, e além disso não podem ser multiplicados além das possibilidades do organismo físico. Uma vez tenha um órgão se desenvolvido para executar determinada função, terminado o longuíssimo processo de formação pelos caminhos de adaptação e da evolução biológica, ele permanece tal qual foi construído, e não é fácil mudá-lo, mesmo que não corresponda mais às necessidades e utilidades do indivíduo. Este permanece preso aos meios por ele mesmo criado, não podendo libertar-se deles, nem facilmente construir outros melhores. Com essa sua técnica na formação dos órgãos, o animal permanece um ser especializado, sendo difícil sair de sua especialização.

No homem, a coisa se passa diversamente, porque ocorreu um fato novo: apareceu o psiquismo que pode conscientemente dirigir a construção de novos instrumentos ou órgãos externos e independentes do corpo, para serviço próprio. Esse novo meio permitiu ao homem superar os limites evolutivos que dificultam a transformação do animal, fechado em sua especialização. Chegados a certo ponto da evolução, a sabedoria que a guia para o telefinalismo preestabelecido, ao invés de trabalhar escondida no subconsciente do animal, aparece visível em novo órgão ou instrumento, o sistema nervoso que se cerebraliza em funções psíquicas. Entra assim a vida em novo caminho, iniciando novo método para realizar-se: abandona o sistema da construção e elaboração de órgãos especializados, muito lento e limitado, rompe os diques e cria um organismo não especializado, mas adquiriu o poder de construir fora de si quantos órgãos especializados ou instrumentos lhe possam ser necessários e úteis para os objetivos de sua vida.

Então, esse trabalho de construção passa do subconsciente ao consciente, ou do consciente cósmico, que dirige a evolução para seus fins, ao consciente do ser humano, dessa forma chamado a colaborar, tornando-se ele mesmo operário e instrumento na realização dos planos da criação. Nasce, assim, no homem um órgão não mais limitado às funções determinadas para as quais foi construído, mas um órgão capaz de construir para si todos os órgãos ou instrumentos que lhe possam servir para a vida; mais ainda: habilitados a construir para si instrumentos capazes de construir esses novos órgãos. Entramos no mundo da técnica e das máquinas. Essa capacidade de construir para si meios separados do próprio corpo é que distingue o homem do animal.

Não há quem não veja as extraordinárias possibilidades de desenvolvimento contidas no atual método. Com as mãos, órgão não-especializado, o homem construiu para si as primeiras máquinas. Depois construiu outras máquinas para construir outras máquinas e assim por diante, aperfeiçoando cada vez mais a sua técnica. Dessa forma está até construindo órgãos artificiais para aperfeiçoar os que ele já possui em seu próprio corpo, ou para supri-los quando defeituosos ou faltantes. Não se exclui a possibilidade de que um dia o homem se apodere a tal ponto dos segredos da técnica da vida, que consiga construir artificialmente um organismo físico ou, se lhe convier mais, os meios para poder realizar a sua vida de entidade espiritual no plano físico, em formas diferentes das utilizadas pela vida até aqui, com essa finalidade. Não podemos imaginar que ilimitadas realizações possa atingir a biologia do futuro, transportada ao plano

psíquico e espiritual. Outrora, no plano animal, os aperfeiçoamentos eram obtidos mediante lentíssimas transformações de adaptação dos velhos órgãos a novas condições de vida e exigências do ambiente. Agora, no homem, as mudanças para satisfazer às novas necessidades podem realizar-se rapidamente, por meio dessa nova técnica do psiquismo que dirige a formação de novos órgãos ou instrumentos. Isto porque o órgão principal das construções biológicas não é mais um recôndito e instintivo impulso celular, mas é a inteligência do homem que se tornou consciente da construção biológica a qual deve realizar: um órgão mais ágil, mais sensível, senhor do fenômeno. Com a ciência e a técnica, o homem construiu e possui o instrumento que lhe permite construir outros instrumentos, trabalho que, embora de forma muito diversa, constitui a evolução; no íntimo dela, esse trabalho representa uma criação biológica, embora seja uma biologia não mais do mundo animal. Eis a nova biologia do psiquismo, eis os primeiros passos da vida para a espiritualização. Este não é um fenômeno destacado da biologia, mas é uma sua continuação. O espírito não é inimigo, oposto à matéria: é a continuação da matéria. Eis aí uma ordem de conceitos que se enquadra perfeitamente em nossa visão. Quando vemos o homem só aprender a construir para si os órgãos de que necessita, mas também a construir órgãos com os quais pode construir esses novos órgãos – e isto pelo fato de haver começado a caminhar pela estrada do psiquismo – então podemos dizer que a biologia confirma o conceito fundamental da visão, ou seja, a vida está evoluindo para a espiritualização.

Assim, o homem pode também progredir por outros caminhos, que não são apenas os da evolução orgânica, sem ficar na dependência da lentíssima plasmabilidade da matéria celular. Com o novo elemento introduzido no campo da vida, ou seja, a inteligência, o homem conseguiu freqüentemente superar até mesmo os modelos que aquela vida atingira e lhe apresentava. Com a colaboração, a especialização e a organização, o homem conseguiu dar, na estrutura social, um rendimento ainda maior. Eis a que resultados maravilhosos pode levar a evolução a qual começara com os esforços inconscientes das primeiras plantas trepadeiras, que buscavam a luz, ou dos peixes para formar um organismo que respirasse e vivesse fora da água, ou da vida para criar os sentidos, a vista, o ouvido etc., a fim de perceber o mundo exterior.

Provam-nos estes fatos que a evolução se move em direção a objetivos exatos, justamente os da espiritualidade, objetivos que, por sua natureza, demonstram corresponder a um telefinalismo preestabelecido. Prova-o também o fato de o progresso da evolução não ser um movimento que aconteça ao acaso, mas um desenvolvimento lógico, numa direção constante. Então, pode-se compreender melhor de que modo esteja preestabelecido o objetivo, quando se admitir tratar-se da reconstrução dum organismo preexistente, que foi destruído, e agora se procura apenas reconstruir da mesma forma como já existiu. Ei-nos pois na teoria da queda e no conceito de involução e evolução. Temos, desse modo, de admitir, ao lado do telefinalismo que estabelece a meta, a presença de um impulso interior que a conhece por antecedência e se esforça por atingi-la. Doutra forma não se explicaria como pudesse realizar-se a tendência para esse telefinalismo. Tudo isso se harmoniza perfeitamente com a nossa visão.

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Novas confirmações, porém, apresenta-nos um pormenor do fenômeno da evolução. Discute quem nasceu primeiro, o órgão ou a função. Em princípio não existia nem um nem outro. Na primeira origem existia apenas um impulso interior para subir, em forma de desejo instintivo, no qual se revela a lei do regresso às origens. Aquele telefinalismo de que falamos é uma força ativa de atração. Surge assim o desejo, exprimindo esse impulso interior, individualiza-o no caso particular, na forma a ser atingida naquele dado momento e posição da vida. A matéria orgânica é forma regida por esse impulso interior, por isso lhe obedece, deixando-se plasmar por ele. Então o desejo começa a plasmar uma primeira tentativa, ou esboço do órgão, com os materiais que toma do ambiente, material passivo, que obedece por lei da vida, àquele impulso animador. Com esses materiais, aquele desejo se reveste de uma primeira forma rudimentar, que constitui

a sua primeira expressão. Nasce, desse modo, um primeiro esboço provisório, à espera de reforçar a tentativa, consolidando o tipo, se ele corresponde às condições do ambiente e às exigências da vida. Ele é a expressão do íntimo pensamento que a dirige; é o resultado de uma luta do pensamento criador contra a matéria inerte, para plasmá-la a seu modo. A luta é feita por ensaios, resistências, adaptações, tentativas. Esta é a forma pela qual se realiza a criação no plano material, por obra do espírito. O pensamento, desde a primeira criação feita por Deus, demonstrou sempre possuir poder criador.

Depois de formado, do primeiro esboço é feito um primeiro funcionamento experimental. Com isto, comprova-se o ambiente, adapta-se, fixa os resultados adequados, aperfeiçoa-se. Esse aperfeiçoamento do esboço leva a um aperfeiçoamento maior no funcionamento, permitindo também que o órgão se desenvolva e aperfeiçoe cada vez mais. Dessa forma, o órgão e o funcionamento, escorando-se mutuamente, guiados e sustentados pelo impulso interior da vida em direção ao telefinalismo, vão construindo e aperfeiçoando-se, até nascer o órgão novo e completo. Desse modo, a manifestação do impulso interior da vida consegue achar aos poucos a sua expressão. O processo se desenvolve, por isso, por tentativas, por experiências contínuas, por adaptações ao ambiente, agindo e reagindo às reações do mesmo; é no entanto, todo constituído de vida que de igual forma tenta, paralelamente, e se adapta e reage, a fim de realizar as suas formas e funções. A vida não se desenvolve em um único ser isolado, mas numa orquestração de seres que se estão experimentando reciprocamente, constituindo dessa forma uma marcha ascensional de toda a vida, cujo telefinalismo deve conter também a tendência de cada um dos seres a unir-se para conseguir reorganizar-se, finalmente, num sistema único. Esta tendência pode constituir outra prova da teoria aqui sustentada, dizendo-nos que o ser evolui do caos para o Sistema, um estado eminentemente orgânico.

Observemos outro fato, que também nos prova o poder criador do pensamento e o movimento da evolução no sentido da espiritualidade. Por um fenômeno paralelo ao agora examinado, segundo o qual a matéria orgânica é dirigida e plasmado pelo impulso interior, animador das formas da vida, acontece que as idéias dominantes na existência de um homem permanecem impressas em seu rosto, os seus traços físicos exprimem, dessa maneira, em síntese, a sua história vivida: dores, alegrias, lutas, vitórias, as notas fundamentais da personalidade, reforçadas ou corrigidas pelas novas experiências. Dessa maneira, um rosto pode representar uma biografia. Para aprender a lê-la, observemos o significado das várias partes do corpo humano.

Pode dividir-se em três planos: 1) Parte inferior: dos pés ao ventre, que constitui a animalidade. 2) Parte média: peito e coração, que representa o sentimento. 3) Parte superior: cabeça e cérebro, que representa a alma e a personalidade.

O rosto humano pode-se igualmente dividir-se em três planos correspondentes àqueles, começando de baixo. 1) O maxilar e a boca exprimem, quando muito desenvolvidos, a animalidade voraz e egoísta, a avidez e a sensualidade bestial. 2) Os olhos exprimem o sentimento do coração, emotividade passional, podendo tomar parte da vida inferior quanto na superior, revelada pelo rosto. No primeiro caso, os olhos exprimem astúcia, egoísmo, avidez, sensualidade. No segundo caso, a inteligência, generosidade, bondade, assim como sexualidade sublimada ao plano de amor espiritual. 3) A fronte manifesta o poder e o domínio atingidos no campo do pensamento, da bondade, do espírito.

Ora, com a evolução, a vida desloca o seu centro do plano inferior ao superior, tanto no corpo como na expressão de seu rosto. Há uma tendência da vida em subir também espacialmente para o alto, da Terra para o céu, tendência em ser cada vez menos réptil que rasteja ou quadrúpede, e cada vez mais homem que caminha levantando a cabeça para o alto. Este fenômeno traduz, em sentido espacial, o fenômeno da subida espiritual. Com tais critérios, qualquer pessoa poderá, ao olhar a sua imagem, ler nela a própria história, destino e valor. A evolução consiste em deslocar o centro da própria vida do plano em que funciona o ventre, para aquele em que trabalha a cabeça, do plano do maxilar para o do cérebro. Este deslocamento traduz nos órgãos materiais que o exprimem, o processo evolutivo da espiritualização. Foge-se da animalidade pelo telhado. Esta é a maturação biológica que leva do Anti-Sistema ao Sistema. Quer se queira, ou não, este é o

verdadeiro drama da vida, o seu conteúdo e objetivo. Com a evolução, a vida se torna também fisicamente cada vez mais ereta. Este erguimento da vida, também em sua forma material, representa a transformação (endireitamento) da existência, partindo de sua forma material no Anti-Sistema, para sua forma espiritual no Sistema. O primeiro impulso da vida, nascida no seio das águas, foi de emergir para a terra. Verificamos um contínuo esforço da vida para emergir, erguer-se, libertar-se, esforço para voltar ao Sistema, encontrando somente desta maneira sua explicação lógica. Essa tendência é tão profunda e fundamental que transparece, até nas formas concretas do plano físico. Aí mesmo, vemos escrita a teoria da queda, nas primeiras formas de vida aprisionadas no interior da matéria, das quais apenas a evolução, reerguendo essa vida para o Sistema, poderá libertá-la.

Chegamos assim a ver a teoria da queda e da reascensão também em sua expressão concreta no plano físico. Continuando o desenvolvimento dos conceitos agora expostos, poderemos imaginar o homem do futuro tão adiantado que o cérebro, agora constituindo a sua parte mais evoluída, venha a constituir para ele a parte mais atrasada, por ter transferido o centro de sua vida a planos ainda mais altos. No passado, as artes locomotoras foram a primeira conquista do ser, situada na vanguarda da evolução – e são agora o ponto mais atrasado de nosso nível humano, – assim, o nosso cérebro e o sistema nervoso que hoje representam no homem a conquista mais avançada no seu processo evolutivo, representarão para o homem de amanhã o ponto mais atrasado em relação ao nível que ele houver atingido. Para nós, é tão difícil imaginar qual será o novo tipo biológico em ascensão, situado à frente no caminho evolutivo, quanto podia ter sido para os primeiros répteis, que rastejam na terra, imaginar os fenômenos psíquicos e

espirituais, que agora fazem parte normalmente da personalidade humana.

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O processo evolutivo, contudo, não é apenas conquista de psiquismo, mas também de organicidade. Essas conquistas são coordenadas e valorizadas em novos estados orgânicos coletivos. Quando os elementos componentes do sistema perfeito saído das mãos de Deus, desmoronaram instantaneamente no caos, não mudou o número infinito das individuações. Outra coisa mudou, ou seja, ao invés de permanecerem fundidas no estado orgânico de sistema, confundiram-se na desordem do caos. Então os elementos se amontoaram ao acaso, como simples soma de individuações que não se conhecem reciprocamente, e não cooperam por meio de fusões coordenadas no seio do mesmo organismo.

Ora, o processo da evolução consiste na reunificação; a vontade íntima que o dirige, impõe como telefinalismo o estado orgânico próprio do sistema, sendo isto justamente o que se deve constituir. Em outros termos, o que desmoronou com a involução não foi o número das individuações ou criaturas: esse permaneceu o mesmo, igual; o que desmoronou no caos foi a sua ordem; o que se desfez foi seu estado orgânico, transformado no estado desorgânico. Dessa forma, ao invés de os elementos componentes do Sistema permanecerem coordenados, para funcionar irmanados no mesmo organismo, unidos pela única Lei, todos em função de Deus, caíram na anarquia, passando a viver indisciplinados sem se conhecerem, repelindo-se ao invés de se fundirem, porque cada um seguia apenas o seu próprio princípio individual rebelde à Lei, somente em função do próprio eu que se havia substituído ao centro único, Deus.

Consiste o processo evolutivo justamente numa gradual reconstrução do que foi destruído, na reordenação do caos, na disciplina da Lei de Deus. Os elementos componentes permanecem os mesmos, mas modifica-se a sua posição recíproca. O processo consiste em coordená-los, induzindo-os a existir em unidades orgânicas cada vez mais vastas, complexas e perfeitas. Quando estes elementos chegarem a reconstituir-se num Sistema único que os abarque a todos e no qual todos se fundam harmonicamente, tal como era o Sistema em sua origem, então o processo evolutivo estará terminado, porque tudo terá voltado a Deus; e com isso, o Sistema originário, que fora