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Uma visão exemplar dos Bens Culturais Eclesiásticos na Europa: os casos italiano e

CAPÍTULO 1 – A IGREJA E SEUS BENS CULTURAIS NA CONTEMPORANEIDADE:

1.3 Uma visão exemplar dos Bens Culturais Eclesiásticos na Europa: os casos italiano e

A institucionalização de um debate acerca da tutela e conservação do patrimônio cultural da Igreja, como visto, é uma discussão que toma força nas primeiras décadas do século XX, sendo importantes as ações desempenhadas tanto no contexto português por meio da Comissão Episcopal Portuguesa (CEP), cuja atuação remonta aos anos 1930, mas com os primeiros estatutos aprovados apenas em 1967; quanto na Itália pela Comissão Episcopal Italiana (CEI), fundada em 1952. Em ambos os organismos nacionais, apesar de problemas reconhecidos, verificam-se grandes avanços e uma preocupação latente para com a salvaguarda patrimônio cultural da Igreja, especialmente no campo da gestão dos acervos,

valorizando-se não somente a criação de organismos especializados para este fim, mas também convênios e parcerias sólidas com outras entidades públicas e privadas. Busca-se apresentar, assim, alguns casos do contexto europeu, tendo em vista sua aplicabilidade para a construção de uma política de salvaguarda e difusão dos acervos eclesiásticos.

Na Itália, por exemplo, as ações da Igreja no campo dos bens culturais são anteriores a CEI. Em 1924, foi criada a Pontifícia Comissão Central para a Arte Sacra, cuja atuação concentrava-se no contexto italiano, tendo como objetivo regular aspectos relativos à arte sacra, nova e antiga, e fortalecer o surgimento de outras comissões congêneres no seio das dioceses. Neste mesmo ano, a referida comissão já havia publicado um documento incentivando os bispos a instituírem museus diocesanos, entre outras questões.

Contudo, as principais ações no contexto italiano tiveram força a partir das iniciativas da CEI, muitas delas em parceira com o governo da Itália. Como em outros países europeus, as normativas italianas mais contundentes em torno da preservação dos bens culturais da Igreja vieram após o final da década de 1960, sendo importante Le Norme per la tutela e la

conservazione del patrimonio storico-artistico della Chiesa in Italia, aprovadas em 1973,

durante a X Assembleia Geral da CEI, e publicadas em 14 de junho de 1974. Em linhas gerais, o documento procurava constituir um quadro de diretrizes capazes de contribuir para a regulamentação da salvaguarda, da tutela, da valorização e da fruição dos bens culturais eclesiásticos, promovendo-os tanto no seio da própria Igreja quanto nas comunidades.

Verifica-se que a preocupação com a tutela extrapola o âmbito da Igreja, uma vez que, segundo o texto das normas, os "bispos estão conscientes, por razões objetivas, do quanto os problemas de proteção exigem a colaboração de todos os órgãos responsáveis pela proteção do patrimônio cultural em geral e, em particular, das artes", sendo que "a proteção, de fato, tem para o Estado uma dimensão humana e histórica, para a Igreja, em primeiro lugar, visa o bem maior das almas” (CEI, 1974, tradução nossa)57. Destaca-se o valor da prática do inventário como um instrumento eficaz de controle e de proteção dos acervos, bem como do catálogo, como etapa seguinte. Contudo, dada a deficiência da Igreja em conseguir manter esta atividade, seria possível apoiar-se nas estruturas estatais já existentes, em mútua cooperação. Este apoio poderia se aplicar também na gestão e cuidado dos espaços da Igreja, incluindo reformas, restauros e adaptações frente à reforma litúrgica, porém sempre com o aval das autoridades eclesiásticas competentes.

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“Vescovi sono consapevoli, per ragioni obiettive, quanto i problemi della tutela esigano la collaborazione di tutti gli organi preposti alla salvaguardia dei beni culturali in genere e, in specie, delle arti” (...) “la tutela, invero, per lo Stato ha dimensione umana e storica, per la Chiesa anzitutto tende al maggior bene delle anime”.

Sobre os museus diocesanos e/ou interdiocesanos e salas expositivas, aponta o texto que deveriam ser criados apenas quando não fosse possível a conservação e a preservação correta das obras nos próprios locais de culto, onde favorecem os exercícios de piedade (CEI, 1974, tradução nossa)58. Estes espaços não poderiam ser entendidos como depósitos, mas como salas de guarda de um importante conjunto de bens que devem ser alvo do conhecimento, da valorização e da divulgação da história da piedade eclesiástica, frequentemente de toda a região (CEI, 1974). Se não fosse possível a instituição de espaços museológicos pela Igreja, após as devidas autorizações, as peças poderiam integrar as coleções de museus já existentes, tanto públicos-estatais, quando privados. Vale apontar que o mais antigo museu diocesano italiano é o de Bressanone, instituído em 1901 e sediado na ala oriental do Palácio Episcopal ou Castelo de Bressanone.

Um ponto importante no texto se refere às adaptações necessárias à nova liturgia pós- Vaticano II. Para tanto, o clero deveria sempre contar com o apoio de especialistas de todas as áreas afetadas no processo, a fim de que fosse evitado o critério unilateral de apenas a arte ou apenas a liturgia (CEI, 1974). O desafio estaria em conciliar o antigo com o novo de forma harmônica, proporcionando um bom funcionamento litúrgico-pastoral e o respeito aos bens culturais. Para isso, tornava-se necessária a existência de comissões de arte sacra em nível diocesano, formadas por autoridades qualificadas de várias áreas.

Outro importante documento foi a nota pastoral publicada pela CEI no ano de 1992, durante a presidência do Cardeal Camillo Ruini, com o título I Beni Culturali della Chiesa in

Italia. Orientamenti. O texto foi gestado desde 1989, quando se procurou aprofundar o tema

dos bens culturais a partir de uma consulta nacional59 e das diretrizes emanadas pela, na época, Pontifícia Comissão para a Conservação do Patrimônio Histórico e Artístico da Igreja. O documento foi analisado na XXXV Assembleia geral da CEI e aprovado na assembleia seguinte, já incorporando os documentos e novas legislações (como o novo Código de Direito Canônico) emanadas neste período.

Direcionado a todos os setores dos bens culturais da Igreja, como arquivos, bibliotecas e museus, o documento se coloca no papel de normatizar e atualizar procedimentos no que

58 “se la conservazione nei luoghi originari non sia possibile, perché le opere e la suppellettile non hanno più

funzione di culto, o sia gravemente rischiosa, si istituiscano musei diocesani o interdiocesani oppure apposite sale di esposizione”.

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“La Conferenza Episcopale Italiana ha istituito la Consulta nazionale per i beni culturali ecclesiastici come organo interno di consulenza e con il compito di tenere contatti con le Consulte regionali, con il Ministero per i beni culturali e ambientali e con gli altri Ministeri competenti. Della Consulta Nazionale fanno parte oltre ai delegati regionali nominati dalle rispettive Conferenze Episcopali Regionali, i rappresentanti delle associazioni di settore (ABEI, AAE ...), gli esperti in beni culturali ecclesiastici presenti negli organismi consultivi statali e altri membri nominati dalla Conferenza Episcopale Italiana” (CEI, 1992).

tangia à salvaguarda do patrimônio cultural da Igreja. À comunidade cristã é creditado um grande papel neste processo, devendo ela ser sempre motivada e ter sua atenção voltada “a tutta la gamma di beni culturali ecclesiastici, dai beni architettonici a quelli artistici, archeologici, demoantropologici, archivistici, bibliografici, musicali, senza sottovalutare anche il ricco e vario patrimonio attinente alla religiosità popolare” (CEI, 1992). Esta mesma ideia de colaboração deveria ocorrer entre entes públicos e privados, associações e movimentos.

Dando prosseguimento às normas, o documento de 1992 continua reforçando o valor da cooperação entre a Igreja e o Estado, sobretudo na catalogação dos bens culturais de propriedade eclesiástica, a fim de promover suas corretas tutela e valorização. Esta colaboração era vista como necessária, utilizando-se da justificativa de que este vasto conjunto de bens culturais da Igreja era parte inerente da história da Itália. Desta forma, qualquer indivíduo que se propusesse a documentar o patrimônio cultural italiano deveria ter plena compreensão desta realidade, já que tais bens seriam depositários de valores e saberes essenciais para a compreensão correta da identidade italiana. Vale destacar que alguns anos antes, em 18 de fevereiro de 1984, a Igreja e o Estado italianos haviam firmado o Accordi di

revisione del Concordato Lateranense, onde se exprimia, no artigo 12, a colaboração mútua

na tutela do patrimônio histórico e artístico da Igreja, devendo os órgãos competentes de ambas as partes propor disposições conjuntas para a salvaguarda, a valorização e a fruição dos bens culturais de interesse religioso.

Aponta-se ainda no documento da CEI que os problemas de gestão dos bens culturais estariam voltados a vários fatores, como à ausência de pessoal qualificado; à falta de formação de base adequada por parte do clero e dos leigos, artistas e outros indivíduos que atuam nesta área; à falta de financiamento, apontando-se que uma das soluções seria recorrer "à comunidade cristã local, uma vez que os bens culturais eclesiásticos são principalmente expressões de valores específicos da própria comunidade cristã, custaram sacrifícios aos seus membros, são de sua propriedade e são colocados ao seu serviço" (CEI, 1992, tradução nossa)60, bem como ao Estado; à falta de documentação (inventário e catálogos) consistentes sobre os acervos, bem como de informações; e às deficiências na segurança.

Os arquivos, bibliotecas e museus deveriam ser valorizados, não só pelo valor das obras que mantém, mas por seu valor pastoral. Apesar de continuar a estimular a presença dos

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“ alla comunità cristiana locale, dal momento che i beni culturali ecclesiastici sono in primo luogo espressione di valori specifici della comunità cristiana stessa, sono costati sacrifici ai suoi membri, sono di sua proprietà e sono posti al suo servizio”.

bens em seus locais de origem, quando isso não fosse possível, os museus, sobretudo os diocesanos, se constituiriam como o ponto de referência natural para instituições eclesiásticas nas iniciativas organizacionais, técnico-científicas, culturais e pastorais (CEI, 1992). Contudo, quando a dinâmica diocesana não permitisse a instituição de um arquivo, uma biblioteca e um museu em sedes distintas, seria possível estabelecer os organismos em um único complexo integrado, onde todos pudessem trabalhar de forma colaborativa (CEI, 1992).

Atenção deveria ser dada também aos bens culturais pertencentes a paróquias suprimidas, bem como aquelas que não possuíssem condições suficientes para mantê-los salvaguardados corretamente, estando em iminente risco. Tais pontos levariam a situações limites, como furtos e alienações indevidas. No documento, a manutenção preventiva e constante tornar-se-ia o principal meio para a correta preservação dos bens móveis, imóveis e integrados, sendo o restauro realizado apenas por especialistas e com as devidas autorizações. Somente assim, os acervos poderiam ser empregados para a valorização da missão litúrgica, catequética e formativa da Igreja, já que “a maior parte dos bens culturais eclesiásticos foi criada e continua a se referir à liturgia que lhe constitui sua razão de ser, a destinação natural, aquele que pode chamar de “contexto funcional” (CEI, 1992, tradução nossa)61. Unem-se a ele outros valores também cultivados pela instituição, como a pesquisa científica, iniciativas didáticas e de divulgação, além do turismo. Com relação ao último, seria importante ter o cuidado necessário para que o patrimônio cultural da comunidade cristã não fosse reduzido a mero objeto de consumo turístico (CEI, 1992).

O texto é finalizado retomando a questão das adaptações litúrgicas, apontando para a ideia de que os bens culturais da Igreja não poderiam ser considerados apenas patrimônio cultural intangível para ser conservado com critérios museais, mas frutos de uma realidade viva, em contínua mudança segundo as exigências da liturgia católica, a qual se encontraria em constante diálogo com a sociedade. A CEI assume os notáveis reflexos no campo dos bens culturais promovidos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. Contudo, aponta que a reambientação litúrgica das igrejas é uma demanda conciliar específica que deve ser implementada com a necessária prudência, respeitando as normas e prescrições emanadas. Para tanto, cada projeto deveria ser profundamente analisado e realizado somente após as autorizações necessárias. O mesmo valeria para novas Igrejas, já que a instituição "sente-se

61 “la maggior parte dei beni culturali ecclesiastici è stata creata e continua a far riferimento alla liturgia che ne

comprometida não só a preservar, mas também a aumentar o próprio patrimônio de arte sacra" (CEI, 1992, tradução nossa)62.

O tema da reforma litúrgica e suas consequências para os espaços de culto tomaram tamanha importância que uma nova nota pastoral foi publicada pela CEI em 31 de maio de 1996, intitulada L’adeguamento delle chiese secondo la riforma litúrgica (A adequação das igrejas segundo a reforma litúrgica). O texto abrange todas as áreas envolvidas na nova ordenação litúrgica, entendida como uma questão urgente, haja vista que o texto distava cerca de 30 anos da promulgação da Constituição Sacrosanctum Concilium. De certo modo, a nota pastoral da CEI tinha o objetivo de ajudar o clero (sobretudo os bispos e as comissões de arte sacra e liturgia) a propor melhores práticas nas construções sob as quais tinham responsabilidade, uma vez que

algumas ações recentes de reambientação levantaram posições, polêmicas e contrastes, seja por sua evidência e originalidade, seja porque foram feitas no coração de edifícios que muitas vezes constituem parte fundamental do patrimônio monumental de nosso país e interessam, por vários motivos, os indivíduos, os grupos e as instituições (CEI, 1996, tradução nossa)63.

Buscando, portanto, conciliar os diferentes aspectos que incidiam sobre os templos (litúrgico, cultural, normativo, turístico e técnico), os bispos propuseram caminhos pastorais de diálogo para a resolução dos problemas. O texto aborda todos os principais mobiliários e espaços litúrgicos, com objetivo de adequar o templo à celebração eucarística, também dedicando espaço a sacramentos como o Batismo e a Penitência, e a outros locais de apoio, como sacristias, depósitos, adros e praças fronteiras.

É também tratada a questão da adequação iconográfica, devocional e decorativa das igrejas. A CEI assume a importância do vasto patrimônio iconográfico de que são dotados os templos, formados por pinturas, afrescos, mosaicos e esculturas, importantes do ponto de vista histórico, espiritual e artístico (CEI, 1996). Nas igrejas antigas, em geral, estes programas eram desenvolvidos de modo unitário e orgânico, caracterizando o espaço de modo que a assembleia pudesse comungar de forma mais íntima com o mistério celebrado. Contudo, “tais programas iconográficos nem sempre foram preservados em sua integridade, seja devido à

62 “si sente impegnata non solo a conservare, ma anche ad accrescere il proprio patrimonio di arte sacra”. 63 “alcuni recenti interventi di adeguamento hanno suscitato prese di posizione, polemiche e contrasti, sia per la

loro evidenza e originalità, sia perché sono stati realizzati nel cuore di edifici che spesso costituiscono parte fondamentale del patrimonio monumentale del nostro paese, e interessano, per varie ragioni, i singoli, i gruppi e le istituzioni”.

inevitável degradação decorrente da passagem do tempo, seja a intervenções destrutivas ou substitutivas devido a novas necessidades cultuais ou práticas" (CEI, 1996, tradução nossa)64. Tendo isso presente, o texto afirma a importância de que a reambientação litúrgica tenha em vista tanto o aparato iconográfico, quanto o decorativo. Este pressuposto deveria levar em conta, inclusive, a pertinência da obra no contexto espacial, devendo ser conservados em outros ambientes “pinturas ou esculturas de qualidade muito modesta ou totalmente não relacionadas ao contexto da igreja" (CEI, 1996, tradução nossa)65. Assim, por ocasião do projeto de adequação, é possível que haja a "oportunidade de aproveitar melhor as obras de arte e de artesanato, de modo que sejam adequadamente acessíveis aos visitantes” (CEI, 1996, tradução nossa)66. Os museus, neste contexto, são vistos como uma boa opção, porém não perdendo de vista a dinâmica viva das igrejas e sua função de culto, a qual não poderia, em nenhuma hipótese, ser substituída pela museológica.

Por outro lado, alguns templos acabavam, invariavelmente, assumindo esta função, devido à sua importância histórica e artística. Nestes casos, a fim de proporcionar a melhor fruição dos bens culturais, em harmonia com o permanente significado religioso dos edifícios e das obras, poderia ser promovida uma generosa acolhida aos visitantes, com horários adequados para as visitas, a presença de guias, a instalação de iluminação adequada para as peças, a criação de materiais impressos, entre outros. Tais esforços buscam, contudo, a continuidade das obras em seus locais de origem. Quando da impossibilidade, os objetos não mais utilizados poderiam ser o ponto de partida para a criação de museus, ainda próximos ou no próprio espaço de culto, sendo a migração das obras para instituições museológicas externas (mesmo que diocesanas) apenas na impossibilidade da primeira situação.

Nos três documentos publicados pela CEI, vale destacar a presença da valorização da obra em seus locais originais, sendo a sua transferência para museus vista como algo extraordinário. Como apontou Santi, “a remoção de obras de arte sacra de seu contexto constitui, contudo, uma violência no que diz respeito à obra e, de alguma forma, torna mais difícil sua plena compreensão” (SANTI, 2012a, p. 39, tradução nossa)67. Neste caso, só seria possível o distanciamento da obra de sua sede quando ela perdesse sua função de culto ou quando houvesse riscos para a sua segurança e conservação; e, mesmo assim, seu local de

64 “tali programmi iconografici non si sono sempre conservati nella loro integrità sia a causa del degrado

inevitabile dovuto al trascorrere del tempo, sia per interventi distruttivi o sostitutivi dovuti a nuove esigenze cultuali o pratiche”.

65 “dipinti o sculture di qualità troppo modesta o del tutto estranei al contesto della chiesa”.

66 “l'opportunità di valorizzare meglio le opere d'arte e di artigianato, in modo che siano adeguatamente fruibili

dai visitatori”.

67 “L‟allontanamento delle opere d‟arte sacra dal loro contesto costituisce comunque una violenza nei riguardi

destino seria, primariamente, os museus eclesiásticos e, na total impossibilidade e acatando as determinações legais, os museus de entidades públicas – neste caso, o depósito seria temporário. Vale destacar que nos documentos da CEI não aparece a possibilidade de museus de administração mista, isto é, entidade eclesiástica e pública/privada.

A importância assumida pelos museus eclesiásticos no contexto italiano levou à criação de uma entidade específica, a AMEI – Associazione dei Musei Ecclesiastici Italiani. Fundada em 1996, o organismo nasceu com o objetivo de se colocar como uma ferramenta de coordenação e apoio aos museus eclesiásticos italianos, grandes ou pequenos. A criação da AMEI está diretamente ligada à instituição, por parte da CEI, do Ufficio Nazionale per i Beni

Culturali Ecclesiastici e do projeto de inventário dos bens artísticos e históricos das dioceses

italianas, tudo no mesmo ano de 1996. As diversas atividades propostas em torno do conhecimento e da preservação dos bens culturais de propriedade eclesiástica, bem como ao aumento considerável de instituições museológicas diocesanas (de 37 museus no ano de 1971 para 104, em 1993 – SANTI, 2012a, p. 42), levou ao desejo por uma estrutura que pudesse orientar, formar e estabelecer uma linha de atuação e gestão para tais espaços de memória e salvaguarda da história da Igreja italiana, tanto os já existentes quanto aqueles a serem criados. Atualmente, a AMEI conta com mais de 140 museus associados e sua sede é o Museu Diocesano Tridentino, na cidade de Trento.

As ações do Ufficio Nazionale per i Beni Culturali Ecclesiastici68 são também importantes do ponto de vista institucional, especialmente a partir do lançamento do projeto de inventário dos bens culturais diocesanos, realizado em um sistema desenvolvido pelos setores competentes da CEI. Em um primeiro momento, o projeto foi dedicado ao levantamento dos bens históricos e artísticos, como pinturas, esculturas, objetos e paramentos, devido ao maior risco de dispersão, passando para os bens arquitetônicos. O trabalho de inventário nos arquivos, bibliotecas e museus deveria ser realizado em parceria com associações de setor, como a AMEI, ABEI (Associazione dei Bibliotecari Ecclesiastici

Italiani, criada em 1978) e AEE (Associazione Archivistica Ecclesiastica, fundada em 1956).

A grande proposta do inventário eclesiástico informatizado69 era conhecer o patrimônio cultural eclesiástico italiano e, ao mesmo tempo, poder propor um catálogo nacional. Por isso a necessidade de um levantamento padronizado dos dados, do ponto de vista metodológico –

68 Desde 27 de setembro de 2016, o órgão passou a ser denominado Ufficio Nazionale per i beni culturali

ecclesiastici e l’edilizia di culto, ligado à secretaria geral da CEI. Sua ação está ligada a tudo o que se refere ao espaço de culto, sua tutela e correta valorização, adequação litúrgica e incremento dos bens culturais