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3 RESULTADOS

3.3 Práticas de Atenção à Saúde dos Agentes Comunitários de Saúde

3.3.1 Visita domiciliar

A visita domiciliar é uma das principais atividades que permitem aos ACS conhecerem o contexto social e identificarem as necessidades de saúde das famílias assistidas pela equipe, permitindo uma maior aproximação com os determinantes do processo saúde-doença (KEBIAN; ACIOLI, 2014). Possui grande possibilidade de atendimento domiciliário junto às famílias, favorecendo a avaliação das demandas desses clientes, bem como do ambiente em que vivem (RODRIGUES; ROCHA; PEDROSA, 2014).

A visita domiciliar (VD) é uma atividade de assistência à saúde exercida junto ao indivíduo, à família e à comunidade. Constituindo-se em um conjunto de ações de saúde voltadas para o atendimento, tanto educativo como assistencial, além de uma atividade utilizada com o intuito de subsidiar a intervenção no processo de saúde-doença de indivíduos ou no planejamento de ações visando á promoção da saúde da coletividade (BRASIL, 2003b).

Para o manual “Trabalho do Agente Comunitário de Saúde”, a visita domiciliar é a como gravidez, desnutrição, pessoas com deficiência e etc;

Conhecer as condições de moradia e de seu entorno, de trabalho, os hábitos, as crenças e os costumes;

Conhecer os principais problemas de saúde dos moradores;

Perceber quais as orientações que as pessoas mais precisam ter para cuidar melhor da sua saúde e melhorar a sua qualidade de vida;

Ajudar as pessoas a refletir sobre os hábitos prejudiciais à saúde

Identificar as famílias que necessitam de acompanhamento mais frequente ou especial;

Divulgar e explicar o funcionamento do serviço de saúde e quais as atividades disponíveis;

Desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população do território de abrangência da unidade de saúde;

Ensinar medidas de prevenção e promoção à saúde, como os cuidados de higiene com o corpo, no preparo dos alimentos, com água de beber e com a casa, incluindo o seu entorno;

Orientar a população quanto ao uso correto dos medicamentos e a verificação da validade deles;

Alertar quanto aos cuidados especiais com puérperas, recém- nascidos, idosos, acamados e pessoas portadoras de deficiência;

Registrar adequadamente as atividades realizadas, assim como outros dados relevantes, para os sistemas nacionais de informação disponíveis para o âmbito da Atenção Primária à Saúde.

Azeredo et al. (2007) constataram que a visita domiciliar permite um olhar in loco da realidade do usuário da ESF, constituindo um importante instrumento na Estratégia Saúde da Família, reforçando o papel potencial do ACS como identificador de fatores determinantes do processo saúde-doença e promotor da saúde mediante a perspectiva da educação em saúde abordada.

Para tanto, a VD pode servir de mola propulsora para as outras práticas de saúde, relacionadas à gestão do cuidado e práticas educativas. Sendo assim, é um momento de promoção da saúde, que surge como uma oportunidade de estabelecimento de um plano assistencial voltado à recuperação e ao autocuidado (RODRIGUES; ROCHA; PEDROSA, 2014).

Logo, através da visita domiciliar, o profissional de saúde poderá avaliar as condições socioambientais e habitacionais em que vive o indivíduo e sua família, bem como realizar a busca ativa, planejar e executar as medidas assistenciais adequadas (MATTOS, 1995 apud SOUZA; LOPES; BARBOSA, 2004).

O “Guia prático do Agente Comunitário de Saúde” (BRASIL, 2009b), também discorre acerca das orientações para o cotidiano das práticas de saúde dos ACS a partir dos grupos de riscos indicados pelo Ministério da Saúde. Para cada grupo de risco, apresentam-se os objetivos do cuidados à esses grupos, e por fim, as orientações de cuidado à saúde, promovendo a prevenção de doenças e a promoção da saúde.

É preconizado que o Agente Comunitário de Saúde (ACS) realize, no mínimo, uma visita por família da área de abrangência ao mês, sendo que, quando necessário, estas podem ser repetidas de acordo com as situações determinantes de cada realidade. Cabe aos demais profissionais da ESF planejar suas visitas domiciliares procurando atender as demandas identificadas pelos agentes(BRASIL, 1998).

A partir dos relatos, identificamos que além dos ACS realizarem as usas próprias visitas domiciliares, os mesmos ainda acompanham outros profissionais da equipe em suas visitas domiciliares.

[...] E as consultas que a gente faz com a doutora, escolhe cada semana uma microárea e faz a visita domiciliar. Eles escolhem os agentes. Tem 3 técnicos de Enfermegam. [...] ela escolhe uma microárea, pros acamados. Em parte né gente, porque lá na minha área não tem nenhum acamado. Na verdade recebe visita domiciliar mas não é acamado. [...] a gente vai e acompanha a doutora e ela prefere que vá um agente, nós temos 3 técnicos lá, mas nenhum dos três vai, quem vai é o agente. Ela prefere que o agente que vá junto com ela! ACS_W

[...] às vezes vai um médico junto, enfermeira, leva um técnico junto pra fazer curativo, se é um caso de curativo, alguma coisa ai o técnico vai junto. ACS_ X

De acordo com a PNAB (BRASIL, 2012b, p.48), o ACS precisa acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que as famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de uma visita/família/mês.

Notamos que apesar da VD ser preconizada para todos da equipe multidisciplinar, a visita domiciliar do ACS é mais frequente na prática dos ACS do que dos outros profissionais da equipe, mesmo porque, a VD do enfermeiro e do médico, por exemplo, é realizada somente junto aos usuários com as necessidades de saúde identificadas como prioritárias.

Vale ressaltar, que a visita dos ACS é uma atividade importante dentro da ESF, visto que ele possui vínculo contínuo com a clientela da área de abrangência de sua unidade (LIMA; SILVA; BOUSSO, 2010). Além do vínculo estabelecido entre usuário-ACS, o mesmo conhece bem o território, sendo assim, essencial a sua companhia nas VD de outros profissionais.

Notamos que as VD’s, além de serem agendadas previamente e realizadas uma vez por semana para cada profissional. No entanto ao agendar uma vista domiciliar não quer dizer que a mesma esteja sendo planejada como preconizado pelo Ministério da saúde. Porém não encontramos nos relatos dos depoentes como essas VD’s são planejadas.

A visita domiciliar é um espaço promissor para o desenvolvimento de atividade de promoção da saúde, uma vez que a aproximação com a intimidade do lar possibilita conhecer mais profundamente as relações interpessoais e a realidade social, fundamentais para o desenvolvimento de práticas de saúde coerentes com as necessidades das famílias e para o fortalecimento da promoção da saúde (KEBIAN, 2011, p. 98).

Entretanto, para que a visita seja bem-sucedida e atinja seu objetivo, é fundamental que ela seja devidamente planejada, para que o agente aproveite melhor seu tempo e o tempo das pessoas que vai visitar. Além disso, é importante que tanto este profissional como o indivíduo ou a família visitada compreendam a finalidade dessa atividade (LIMA; SILVA;

BOUSSO, 2010).

[...] Mas a visita já tem, é programada, toda semana tem. No caso a nossa enfermeira lá é toda sexta feira. Ela e a dentista, tendo carro ou não ela sai. Só quando não tem carro ela faz as visitas mais próximas. E a doutora lá é toda terça- feira a tarde. Aí tem carro e ela vai!ACS_W

[...] Ela vai ver o dia disponível, a semana inteira a agenda dela é cheia né, ai marca um dia, na parte da tarde ai a gente vai. ACS_ X

Os sujeitos também relatam a falta de transporte como um fator limitante para a realização das visitas domicilires em áreas rurais ou distantes das unidades. Por isso, ficam dependentes de um carro para a realização destas práticas.

[...] nós somos de área de fazendas, área rural. E o carro pro agente usar um dia da semana. Aí fica complicado. [...] De bicicleta não dá é muito longe! ACS_ W

[...] Na terça feira tarde nós temos o carro e a doutora faz a consulta domiciliar.

ACS_X

Contudo, percebemos que a visita domiciliar é a principal prática de saúde do ACS. E que através das mesmas as outras práticas de atenção à saúde vão se desenvolvendo como por exemplo o acompanhamento de grupos de riscos, a busca ativa e a entrega de medicação. E em cada uma dessas práticas, torna-se natural as orientações individuais que se configura uma prática educativa.