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Visualização da organização dos documentos da Empresa A anterior à

À medida que os colaboradores e funcionários se acostumam com a nova rotina e percebem os impactos benéficos trazidos por ela, tal resistência tende a desaparecer.

A Figura 15 identifica as etapas que compõem o SGQ em uma empresa de projeto, segundo a NBR ISO 9001. Seu modelo, que se originou na indústria seriada e que se autodefine como amplamente aplicável, é complexo e questionado por vários autores e profissionais.

FIGURA 15 – Sistema de Gestão da Qualidade em empresas de projeto25.

Segundo Cordeiro (2006) a norma não respeita as características das empresas de projeto, principalmente as das empresas de porte reduzido.

Andery, Arantes e Lana (2004) concluíram que alguns requisitos da norma são considerados desnecessários às empresas de projeto, não impactando na qualidade do próprio processo de projeto ou no sistema de gestão da empresa.

Verdi (2000), apud Fossati (2004), chega a afirmar que para se estabelecer os requisitos para a qualidade de projetos é necessário desvincular-se do enfoque adotado na indústria de manufatura.

A implementação das normas ISO realmente pode trazer benefícios às empresas de projeto, através da busca pela racionalização dos processos; entretanto, a qualidade do produto, que no caso dos escritórios de projeto arquitetônico é o projeto, não é afetada de forma substancial. Como afirma Melhado (1998) as normas ISO são normas de garantia de sistemas e não de produtos.

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Mais uma vez conclui-se que a melhoria na qualidade dos projetos resulta em melhoria na qualidade final do produto edificado. Porém, as normas ISO não são perfeitamente adaptadas aos escritórios de projeto merecendo, assim, maior discussão por parte do setor da Construção Civil.

É preciso obter-se maior entendimento sobre o que realmente seja um processo de garantia e gestão da qualidade e como ela interfere na qualidade do projeto e do produto. Não se trata de uma receita pronta para ser aplicada. É preciso analisá-la e adaptá-la para que assim possa gerar bons resultados.

O requisito 4.4 da norma que trata de controle de projeto refere-se ao projeto do produto do Sistema da Qualidade. Para o escritório de projetos arquitetônicos seu produto é o próprio projeto.

O requisito 4.9 trata do controle de processos. O processo dentro um escritório de projeto arquitetônico também é o projeto.

Projeto deve ser encarado sob a ótica do processo ou atividade, mas também pode ser encarado como informação que, por sua vez, pode ser de natureza gerencial ou tecnológica.

Em seu estudo de caso, realizado em cinco empresas de projetos certificadas ou em processo de certificação pela norma ISO 9001, Andery, Arantes e Lana (2004) afirmam que: “[...] a norma prioriza o entendimento do projeto como um

produto, ao invés de considerá-lo como um serviço ou processo que precisa ser gerido”.

Segundo Novaes (2001) a leitura da norma prioriza o entendimento do projeto na sua dimensão produto, enquanto a implantação deveria estar mais voltada à própria gestão do desenvolvimento do projeto na sua dimensão de processo.

Dessa forma, a aplicabilidade da norma gera dúvidas, no sentido de ser a melhor opção para implementação de um SGQ em escritórios de projeto, particularmente nos escritórios de pequeno porte voltados ao projeto arquitetônico.

A interpretação dos requisitos normativos nem sempre é simples, e ao que parece, um significativo número de profissionais tem dificuldade de associar esses requisitos aos parâmetros da atividade projetual, que determinam a qualidade do produto final, o projeto.

Além disso, os custos e o tempo demandado para a implementação da norma, com a elaboração de toda a documentação correspondente, pode ser difícil em escritórios que disponham de poucos profissionais – o que representa a maioria das empresas.

Também, a forte variabilidade na demanda por serviços (contratos), em parte função da conjuntura econômica e do “aquecimento” do mercado da construção, faz com que essas empresas tenham dificuldades em planejar os custos da implementação de um SGQ, bem como o tempo demandado por parte dos profissionais.

Some-se a isso o fato de que, ao contrário das empresas construtoras, as entidades de classe do setor de projetos arquitetônicos ainda são pouco representativas do mesmo, e não se mobilizaram no sentido de facilitar – por exemplo, através da formação de grupos de trabalho – a implementação da ISO 9001.

Note-se, nos casos em que isso ocorreu, a iniciativa de algumas empresas de consultoria com os decorrentes interesses comerciais. Ou seja, as associações de projetistas, tanto em caráter nacional como regional, na maioria dos casos, não estão preparadas para incentivar, apoiar ou proporcionar subsídios técnicos para a implementação da ISO 9001 nas empresas, particularmente naquelas de pequeno porte.

Outra importante crítica, destacada por Melhado e Cambiaghi (2006), diz respeito aos processos de auditoria de sistemas, em geral muito centrados na análise da eventual falta de documentos, do registro e das não-conformidades, e pouco focados no resultado final.

Há comentários informais – que carecem de evidências documentadas – que apontam o fato de algumas empresas e seus representantes da direção, na véspera das auditorias, canalizarem grandes esforços e tempo para colocar toda a documentação exigida em dia, para poder ser examinada pelos auditores, documentação esta que, muitas vezes, não reflete a real qualidade dos processos de projetos em exame.

O campo de atuação e aplicação da norma pode realmente possuir um caráter generalista. No entanto, seus processos e requisitos normativos são

considerados exagerados o que, por sua vez, imprime uma característica burocrática à sua implementação.

A implementação da ISO 9001 é eficaz quando há forte comprometimento dos profissionais envolvidos, quando é feita uma análise crítica do próprio processo que servirá como base da retroalimentação do processo, quando existe um cuidado com a introdução de burocracias e procedimentos desnecessários e que não se aplicam dentro de um processo de projeto na prática e, também, quando são utilizadas tecnologias de informação.

Mesmo assim, a intenção de se implementar um SGQ já se configura como um indicador de preocupação com a qualidade dentro de uma empresa que, conseqüentemente, será capaz de promover a melhoria da qualidade de gestão de forma geral frente ao papel do projeto dentro da cadeia produtiva da construção civil.

Os projetos, integrantes fundamentais da cadeia produtiva no setor da construção civil, participam diretamente dos resultados finais dos empreendimentos em dois aspectos: primeiro como instrumento de decisão sobre as características geométricas, funcionais, econômicas, ambientais, mercadológicas, etc., do produto edifício; segundo, como ferramenta de auxílio à produção, fornecendo subsídios ao seu desenvolvimento. (ALBUQUERQUE; MELHADO, 1998)

3. Sistemas de Gestão da Qualidade referenciados na ISO

9001:2000

Como dito anteriormente, as empresas construtoras, motivadas principalmente pela crescente competitividade do mercado e também por uma questão de marketing, foram as pioneiras na implementação de um sistema de gestão da qualidade, buscando a certificação através da ISO 9001 e/ou do Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas Construtoras (SiAC), no âmbito do PBQP-H.

Depois delas as empresas de projeto foram pelo mesmo caminho, também motivadas pela mesma competitividade de mercado (ainda que em menor escala), mas sobretudo buscando uma melhoria na gestão dos seus processos, como conclui Andery (2004).

Como já indicado, anteriormente, a implementação da ISO 9001 traz uma série de benefícios, amplamente reportados na literatura recente. Entre eles podem destacar-se aspectos como: maior conscientização da empresa quanto à necessidade de contínuo aprimoramento de seus processos técnicos e gerenciais; melhor definição dos requisitos contratuais e dos requisitos dos clientes com relação ao projeto; melhoria da comunicação interna e externa; melhor definição das responsabilidades dentro da equipe; e, definição das etapas de projeto e planejamento desse processo.

Entretanto, a ISO 9001 oferece uma série de dificuldades, pelo menos no que diz respeito às empresas de projeto arquitetônico de pequeno porte, e cabe levantar a possibilidade de que sistemas alternativos de gestão da qualidade possam ser empregados com maiores vantagens para essas empresas. Por este motivo, sistemas alternativos de gestão da qualidade foram desenvolvidos, com o intuito de se adequar melhor à realidade das empresas de projeto e mais ainda à realidade dos escritórios de pequeno porte.

Um sistema de gestão da qualidade garante melhor gestão e maior qualidade nos processos inerentes à atividade projetual. Entretanto, como afirma Cordeiro (2006), não se trata de uma ferramenta pronta que pode ser aplicada da mesma

forma em qualquer ambiente de projeto.

Há um consenso na literatura recente no sentido de apontar para o fato de que um sistema de gestão da qualidade referenciado na ISO9001 não garante, de

per si, a qualidade do projeto entendido como produto final. No entanto, o fato de

permitir um melhor desempenho do processo de projeto, cria bases sólidas para que o produto resultante deste processo seja cada vez mais adequado, atendendo as necessidades e expectativas do cliente. E, ainda, o simples fato de a empresa buscar uma qualificação já representa um passo importante, vez que o processo de projeto vem cada vez mais se destacando como um elo fundamental da cadeia produtiva dentro da construção civil.

As iniciativas de se criarem Programas Setoriais da Qualidade, como o PSQ – Projetos no Programa da Qualidade da Construção Habitacional (QUALIHAB) em São Paulo, no Programa de Qualidade das Obras Públicas (QUALIOP) da Bahia, entre outros, e as certificações ISO 9001 obtidas por algumas empresas, tanto da área de projetos como de consultoria e gerenciamento mostram que, se por um lado esses sistemas podem melhorar a eficiência dessas empresas, em várias situações eles são muito custosos e pesados, como afirmam Melhado e Cambiaghi (2006).

Os sistemas de gestão da qualidade, como já visto, não têm se configurado como efetivos instrumentos de marketing e o mercado não reconhece uma diferenciação nas empresas certificadas, prevalecendo na maioria dos casos, o menor preço cobrado ou as questões de relacionamento já estabelecidas. O fator tempo também se mostra como grande dificultador para a implantação de programas de gestão da qualidade, vez que o tempo dedicado à etapa de elaboração dos projetos é bastante exíguo.

A implementação da ISO 9001 em empresas de projeto tem servido como “catalisador” para a introdução de novas melhorias gerenciais dessas empresas (ANDERY, 2004). Sendo assim, o objetivo agora é o de analisar sistemas alternativos de gestão da qualidade voltados para escritórios de arquitetura de pequeno porte.

Levando em conta os aspectos acima citados, que apresentam - de forma resumida - vantagens e desvantagens do referencial normativo da ISO9001 como sistema de gestão para empresas de projeto, parece oportuno traçar um breve

histórico das alternativas que o setor tem encontrado.

Destarte, na seqüência são descritas algumas alternativas propostas nos últimos anos para a constituição de um referencial normativo, para a gestão da qualidade aplicável às empresas de projeto.

3.1 Programa de Qualidade e Produtividade em Obras Públicas - Pará Obras

O Programa Pará Obras, similarmente aos demais programas de qualidade estaduais, é realizado através de uma parceria do Estado do Pará com a iniciativa privada, que visa à modernização tecnológica, organizacional e gerencial da cadeia da construção civil, por meio da implementação de SGQ com base na norma ISO 9001 e nas diretrizes do PBQP-H.

As entidades envolvidas, através de acordos setoriais, se comprometem, no caso das empresas, em assumir os custos do investimento em certificação da qualidade e no caso do Governo do Estado e da CAIXA, a usarem seu poder de compra para exigir níveis de qualificação nas licitações de projetos e obras e na liberação de financiamento.

O Sistema de Qualificação (SiQ-projetistas) do Pará Obras segue a mesma estrutura da norma ISO 9001 e, da mesma forma que a proposta inicial do Sistema de Qualificação - SiQ-Projetos do PBQP-H -, difere da norma também pela ausência dos mesmos requisitos (7.5.5 e 7.6).

Quando foi iniciada, em 2002, uma discussão em torno do SiQ-Projetos sob a coordenação da Profa. Dra. Maria Ângela Braga e com a formação de um Grupo de Trabalho do Setor de Projetos de Arquitetura e Engenharia do PBQP-H, o Referencial Normativo do Pará Obras foi o documento que serviu como ponto de partida.

Segundo Braga (2002), as principais alterações realizadas no documento de referência foram:

• a revisão dos requisitos de cada nível evolutivo; e,

• a revisão da terminologia.

Posteriormente, esta tentativa de se elaborar o SiQ- Projetos em 2002 não obteve os resultados esperados e uma nova discussão foi pautada em 2006, para que assim fosse possível chegar-se à versão final do documento.

3.2 Programa de Qualidade das Obras Públicas da Bahia - QUALIOP

O QUALIOP, Programa de Qualidade das Obras Públicas da Bahia, configura-se como mais uma iniciativa em nível estadual, que objetiva estruturar o processo produtivo da construção civil e integrar os agentes do setor: órgãos contratantes, projetistas, construtores e fornecedores.

O QUALIOP tem como base as diretrizes do PBQP-H e, entre essas diretrizes consta o Regimento Geral do Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil – SiAC.

O programa visa à melhoria das obras públicas contratadas pelo Governo do Estado da Bahia mediante um sistema evolutivo de monitoramento da qualidade dos materiais, componentes, sistemas construtivos e projetos bem como os processos e procedimentos do contratante.

No que tange ao setor de projetos e consultoria de arquitetura e engenharia, será através do PSQ no setor que, junto aos demais participantes da cadeia da construção, que o setor deverá ser requalificado, especialmente em áreas onde o poder público é o único contratante.

O Sistema de Qualificação (SiQ-Setor) de Projetos e Consultoria de Arquitetura e Engenharia, documento anexo ao PSQ, exclui apenas o item 7.5.2 da ISO9001 e prevê a implementação do nível D até o nível A, evolutivamente.

Também prevê a qualificação de projetistas individuais ou autônomos através de treinamentos realizados por instituição credenciada. Muitas empresas já se encontram hoje certificadas pelo QUALIOP.

3.3 Management des Processus Realisation Operationnels Architecte - MPRO Architecte

O Sistema MPRO Architecte26 rege a gestão dos escritórios de arquitetura e engenharia franceses.

Diferentemente do que acontece no Brasil, na França não há uma articulação governamental como a realizada pela Coordenação Nacional do PBQP-H. As ações são conduzidas pelas entidades de classe, que são responsáveis pela criação dos refenciais setoriais e pelo oferecimento de suporte às empresas, como afirma Cardoso (2003). Outra diferença marcante é que cada entidade escolhe, através de concorrência, o organismo de certificação, que fará as auditorias e emitirá o certificado segundo o referencial específico.

Os requisitos do MPRO são divididos em: a) elementos permanentes do Sistema de Garantia da Qualidade da empresa; e, b) elementos específicos de cada projeto.

FIGURA 16 - Referencial francês de certificação de empresas de arquitetura27.