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CAPÍTULO 3 A (r)existência do Sistema Estadual de Assistência Social: entre os

3.3 Planejamento estratégico da Assistência Social: vontade e circunstâncias

3.3.1 Vontades e Circunstâncias

Apesar dos projetos políticos do governo Requião terem proximidades com os projetos que se instalavam em cenário nacional, esses não foram suficientes para estabelecer a

assistência social como política pública prioritária junto com a educação, a saúde no âmbito das políticas públicas sociais, uma vez que a tradição existente na política institucional paranaense sempre voltou-se ao atendimento de grupos específicos.

Isso, em síntese, explica que a proximidade com o projeto político nacional neste período não denota prioridade de agendas, mas alternativas aos projetos políticos estaduais que se subscreviam no âmbito da política de governo com medidas de compensação que se desenharam a partir de ações políticas compensatórias e paliativas de curto prazo. Ou seja, o investimento dar-se-á em ações residuais dentro de um projeto político de governo afastando- se dos interesses de consolidação da política de assistência social como política pública.

Essa posição reafirma a necessidade de compreensão de como a “disputa entre diferentes projetos políticos estrutura e dá sentido à luta política” (DAGNINO, OLVERA e PANFICHI, 2006, p. 15), assim como requer um olhar aguçado para as questões que envolvem compartilhamento de um dado projeto político presente em um contexto político específico, cujo “os projetos políticos interagem e negociam com o mesmo, sofrendo alterações e adaptações de acordo com o caráter de disputa e negociação que o constitui”. (GUTIERRES, 2015, p.47).

A janela de oportunidades aberta no governo Requião retrata a oportunidade de vinculações do projeto político da assistência social como política pública, fortalecendo a dimensão da luta política iniciada desde 1996 no Paraná, permitindo a interação entre Estado- sociedade a partir do compartilhamento de projetos políticos entre algumas instâncias, mesmo que seus atores trouxessem no aspecto da representação e da participação divergências e discordâncias mediante as agendas de reinvindicações.

Por outro lado, este processo de interação descreve a importância do formato institucional dado a política estadual a partir da articulação do Grupo Interinstitucional de Trabalho responsável pela implementação da LOAS no Estado, que conseguiu aprovar durante sua existência um sistema estadual prevendo mecanismos e espaços de representação paritária (governo e sociedade), deliberativos, de debates, de articulação, de negociação e decisão como é o caso dos Conselhos Gestores e as Conferências; e outros espaços mais amplos como os Fóruns de Assistência Social, por exemplo.

A escolha do petista Padre Roque Zimmermann, quarto colocado nas eleições de 2002 e apoiador de Requião no segundo turno, como secretário de Trabalho, Emprego e Promoção Social (2003-2006) para cuidar das relações de emprego, renda e cidadania estabeleceu um elo de ligação entre os projetos políticos estadual com o federal, ampliando a janela de

oportunidades aberta no início do novo governo e possibilitando que os movimentos de defesa da assistência social ampliassem a discussão da PNAS/2004 e da implementação do SUAS no Paraná.

O sucessor de Zimmermann foi o deputado estadual Nelson Garcia, psedebista, que priorizou a política de emprego e renda durante sua gestão como secretário, o que acarretou entre outras coisas, na diminuição do orçamento para a assistência social, a priorização das atividades governamentais aos programas de atendimento assistenciais a população, conforme expresso no PPA (2008/11), e as constantes reivindicações dos atores envoltos a esta política para o cofinanciamento pelo Estado aos municípios na implantação do SUAS, demandas constantes nas Conferências estaduais de assistência social.

A refração da assistência social no segundo mandato de Requião, não parou o avanço do SUAS no Estado, que teve nos municípios o protagonismo necessário para a implementação do sistema em nível local, com o cofinanciamento federal de forma direta para a implantação de equipamentos básicos e para os serviços, programas e projetos, considerando a contrapartida municipal de implementar os instrumentos operacionais previstos no artigo 30 da LOAS: Conselho, Plano e Fundo de Assistência Social, além de critérios definidos e aprovados pelo Conselho Estadual de Assistência Social a partir das orientações da NOB-SUAS.

Destarte, a municipalização do SUAS contou com a participação direta das instituições de participação estaduais, o que oportunizou avanços concretos para o Sistema Estadual de Assistência Social, tais como: (a) o fortalecimento do controle e da participação social com a criação de novos conselhos e da realização de conferências municipais de assistência social e, (b) a dinamização da participação local com a realização de conferências regionais que alargaram os debates em torno do SUAS e possibilitaram aos municípios discutir uma pauta comum diante das dificuldades encontradas no âmbito local.

Ademais, a municipalização intensificou a atuação do CEAS na regulamentação, aprovação, avaliação e fiscalização dos serviços de assistência social prestados pelos órgãos governamentais e não governamentais do Estado. Discussão que será apresentada mais detalhadamente no próximo capítulo.

O período posterior (2011/18) é demarcado pela ascensão do assistencialismo sintomático e o mecanismo de resistência esteve ancorado no fortalecimento das instituições participativas iniciado nos anos anteriores, que souberem aproveitar a janela de oportunidades dentro da nova administração para a regulamentação do sistema estadual, de acordo com as

diretrizes do SUAS, deliberando pela ampliação da participação do Estado no cofinanciamento dos serviços municipais através dos Planos Plurianuais mantendo a estrutura básica implementada em anos anteriores, porém com a ampliação de recursos financeiros.

Se antes as práticas assistencialistas forjavam-se de “ajuda aos necessitados, pela ação compensatória, por uma política de conveniências eleitorais e pelo clientelismo” (COUTO, 2004 p.165), em seu governo, estas traduziram-se na minimização de um sistema de políticas públicas a um programa de governo, em que a “ajuda” passa a ser denominada de “acompanhamento personalizado”, “ação compensatória” de “mais visibilidade às famílias em maior vulnerabilidade social”, assim como “conveniências eleitorais” a partir da “imposição de condicionalidades para o repasse de recursos estaduais aos municípios após estes aderirem ao programa”.

Ainda, o “clientelismo” avança por meio institucionalizado travestindo-se de “transferência direta de renda aos usuários”, no qual a proteção e a promoção social de caráter universal reduzem-se novamente ao atendimento das pessoas imersas a pobreza financeira codificada dentro da política estadual como de “alta vulnerabilidade social”.

É importante acentuar que a implementação do Programa Família Paranaense em outra seara poderia ser de enorme valia à Política Estadual de Assistência Social se o governo não o tivesse colocado dentro de um paralelismo ao SUAS, sobretudo, se o mesmo abarcasse dentro de sua estrutura de ação, equipe técnica estadual, conforme preconizado na NOB-RH/SUAS; se os recursos destinados a consolidação do SUAS aos municípios não representasse um percentual mínimo dos investimentos da SEDS na área de assistência social, da mesma maneira que os repasses não estivessem imersos a condicionalidades de adesão e/ou prioridade.

A vontade de inserção dos projetos políticos partidários do executivo se distanciaram das circunstâncias reais da política local, pois a intrínseca relação entre os gestores local e estadual ocorreu no âmbito da negociação política de implantação do Família Paranaense, uma vez que o governo psedebista carecia de capital político nacional para dar continuidade a suas ambiciosas intenções na vida política brasileira.