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2. A PUBLICIDADE E A PROPAGANDA NA ERA DIGITAL

2.3 WEB 3.0: CONHEÇO VOCÊ MELHOR DO QUE VOCÊ MESMO

Enquanto “participação” é a palavra-chave que pode ser usada para sintetizar as inovações trazidas pela web 2.0, “cooperação” vem se mostrando o espírito da web 3.025 (BARASSI; TRERÉ, 2013). Tratando-se de fases não excludentes entre si e sim complementares, a web 3.0 surge com capacidade de potencializar ainda mais os pontos de contato entre a marca e seus consumidores. Dessa forma, se na etapa anterior as empresas queriam estabelecer vínculos afetivos e duradouros com seus consumidores, a web semântica vem à baila para se retroalimentar das informações acerca desse usuário para que as marcas possam ainda mais se aproximar de seus clientes e até mesmo pensar em anúncios e interações cada vez mais personalizadas:

25 Tradução livre de: If ‘user participation’ was the key word within business models of Web 2.0, ‘users’ cooperation’ has become the new buzz word that identifies Web 3.0 technologies. (BARASSI e TRERÉ, 2013, p. 05)

A ideia básica da web 3.0 é definir dados de estrutura e vinculá-los a fim de descoberta, automação, integração e reutilização mais eficazes em vários aplicativos. É capaz de melhorar o gerenciamento de dados, oferecer suporte à acessibilidade da Internet móvel, simular criatividade e inovação, incentivar fenômenos da globalização, aumentar a satisfação dos clientes e ajudar a organizar a colaboração na Web social (AGHAEI; NEMATBAKHSH; FARSANI, 2012, p. 5).26

Surgindo no início da segunda década do século XXI, a web 3.0 é também chamada de “web semântica”, conceito que, conforme explicita Marino Latorre (2018), está ligado ao uso da linguagem na rede, tal como os mecanismos de busca que se baseiam em palavras chaves:

A Web 3.0 é conhecida como "web semântica" porque usa dados com mais eficiência: "dados da web". É interoperacional e o usuário tem o controle para fazer as alterações que deseja, modificando diretamente os bancos de dados. A web semântica inclui metadados semânticos ou ontológicos (que descrevem o conteúdo e as relações entre os dados) para que possam ser rastreados pelos sistemas de processamento (LATORRE, 2018, p. 5).27

Considerando, ainda que “cada pessoa com acesso à internet faz parte do ciberespaço quando troca informações, compartilha dados, publica alguma informação, enfim, usa essa infraestrutura técnica” (MARTINO, 2014, p. 29), a inserção das informações desses usuários por eles mesmos alimenta esse enorme banco de dados da web. Neste sentido, é imperativo aqui explanar como ocorre essa interligação de dados, pois é exatamente esta interligação que se torna relevante para os operadores da publicidade: os dados fornecidos pelos usuários são armazenados em nuvem e, assim, aptos a serem acessados a partir de qualquer dispositivo. Uma vez acessíveis, “o conteúdo semântico é adicionado aos documentos que o compõem e isso implica que a execução é realizada por máquinas que, com base em nossos perfis na rede, descobrem informações relevantes para nós” (LATORRE, 2018, p. 5).

26 Tradução livre de: The basic idea of web 3.0 is to define structure data and link them in order to more effective discovery, automation, integration, and reuse across various applications. It is able to improve data management, support accessibility of mobile internet, simulate creativity and innovation, encourage factor of globalization phenomena, enhance customers’ satisfaction and help to organize collaboration in social web. (AGHAEI; NEMATBAKHSH; FARSANI, 2012, p. 5)

27 Tradução livre de: La web 3.0 es conocida como la “web semántica” porque utiliza de forma más eficiente de los datos: “data web”. Es inter-operativa y el usuario tiene el control para hacer los cambios que desee modificando directamente las bases de datos. La web semántica incluye metadatos semánticos u ontológicos (que describen los contenidos y las relaciones entre los datos) para que puedan ser rastreados por sistemas de procesamiento (LATORRE, 2018, p. 5).

As informações colocadas à disposição na rede acabam por deixar um rastro acerca do nosso comportamento, opiniões, tendências de buscas, localizações, entre outros (LATORRE, 2018). A quantidade de conexões informacionais que a web semântica permite já é capaz de direcionar anúncios nas mídias sociais a partir do engajamento do consumidor em posts dessas próprias redes ou mesmo considerando seu padrão de interesse e buscas em sites como o Google. Isto faz com que a web 3.0 seja, nas palavras de Martino Latorre (2018, p. 5), “onisciente e quase divina”. A grande questão, em termos de publicidade, é como acessar, interpretar e utilizar estes dados oriundos da web 3.0 como fonte de informações acerca dos usuários online e aplica-las a seus planejamentos de campanhas, tais como direcionamento de buscas a partir de determinadas expressões para os sites ou mídias sociais das marcas, ou mesmo definição de público-alvo de campanhas a serem veiculadas nas redes sociais. Isto permite um processo publicitário ainda mais segmentado e direcionado a partir dos hábitos de comportamento online dos consumidores:

Numa ferramenta que usa base de dados semânticos, links patrocinados perdem grande parte do seu sentido, uma vez que eles são baseados em palavras de busca chave, não em camadas de significado. No entanto, de imediato, as primeiras aplicações viáveis para a publicidade estão diretamente ligadas ao chamado Web mining – ou mineração de dados Web – softwares e tecnologias que buscam recuperar informações na rede através da análise de textos, imagens e outros componentes presentes nas páginas da internet. Hoje programas já são capazes, através desta lógica, de minerar o grau de "badalação" em sites de música universitários. Com isto, pesquisadores da IBM conseguiram prever canções que seriam sucesso nas paradas com duas semanas de antecedência (PATRIOTA; PIMENTA, 2008).

Nesse sentido, a web semântica permite ao usuário encontrar informações em um nível de significância muito mais profunda a partir da contextualização dos termos usados nas buscas online, ou seja, a informação pode ser lida e interpretada pelos computadores da mesma forma como ocorre com os humanos: sem ambiguidade (NATH; ISWARY, 2015). Assim, o uso de sistemas de busca baseados na web semântica possibilita que o mercado publicitário direcione de forma mais inteligente seu conteúdo a partir da base de dados existentes na web e alimentado pelos próprios usuários. Destarte, é possível que a ciberpublicidade alcance o público no ato de sua busca por informações sobre determinado assunto, fazendo com que ele receba sugestões de fornecedores de produtos ou serviços

correlacionados às informações que ele esteja buscando e que atendem na região próxima à sua localização atual.

De fato, a web semântica implica em uma capacidade de conhecimento de hábitos dos usuários em uma celeridade não experimentada no mundo offline. A partir da compilação de nossos hábitos, sejam as rotinas, sejam nossos hábitos de consumo, a web semântica tem condições de retroalimentar um sistema comunicativo que permite uma diversidade de usos mercadológicos. Contudo, para que isso ocorra, é necessário o desenvolvimento de softwares capazes de compilar e interpretar os dados fornecidos pelos próprios usuários enquanto navegam pelo ciberespaço. Assim, além dos tradicionais sites de compras, fóruns de consumidores e sites de redes sociais, entre outros, a cada momento novas formas mercadológicas de usar a web vêm sendo discutidas, desenvolvidas ou mesmo apropriadas por profissionais de marketing e publicitários.