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Em maio de 2010, foi realizado na cidade de Atibaia (SP) um evento organizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG) da UNESP com a finalidade de discutir com alunos, funcionários, docentes e coordenadores dos cursos de especialização os desafios da PGLS na universidade.

A Pró-Reitora de Pós-Graduação da universidade, na palestra de abertura, afirmava que a concepção do I Workshop Lato Sensu da UNESP era uma solicitação da Comissão Assessora da CCPG à PROPG, a partir dos trabalhos realizados por esta comissão, para que se iniciasse o debate entre os envolvidos nestes cursos sobre a realidade dos cursos de especialização (RUGDE, 2010a). Segundo a Pró-Reitoria,

[...] foi uma sugestão da Comissão, aprovado pela CCPG e nós então só partimos para organização deste evento. Também vale a pena dizer que dentro do PDI [Plano de Desenvolvimento Institucional] da UNESP este evento faz parte. Porque está lá no PDI a necessidade de nós fazermos uma avaliação dos nossos cursos de lato sensu para verificar os que têm qualidade, os que têm melhor qualidade, e que poderiam ser transformados em mestrados profissionais. Esta é uma ação do PDI dentro da PROGP [Pró-Reitoria de Pós-Graduação].

[...] esta é uma forma também de dizer: vale a pena fazer isso, não vale a pena transformar as especializações lato sensu? Esta não é uma coisa definida previamente e nós neste evento temos que avaliar: vale a pena fazer isso? Ou não vale a pena e nós devemos continuar com os mestrados profissionais e também com o lato sensu? Esta é uma definição que nós gostaríamos muito que neste [I] Workshop [Lato Sensu da UNESP] fosse concluída.

Além disso, também que nós tivéssemos critérios mais elaborados de avaliação daquilo que estamos produzindo na universidade. Está sendo bem formado o aluno que se utiliza dos nossos cursos de especialização? Esta é uma dúvida que nós achamos que na forma como nós hoje avaliamos os nossos cursos de especialização nem sempre isso acontece. (RUGDE, 2010a)

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Ao tomar conhecimento deste evento, o pesquisador contatou a PROGP da UNESP para que fosse possível a sua participação. Destaca-se que este órgão não apenas consentiu a participação do pesquisador como também, após esclarecer a finalidade desta, concedeu auxílio financeiro para as despesas com alimentação e alojamento durante o evento. Neste sentido, é digno de agradecimento à PROPG o apoio dado ao pesquisador.

Confirmava o Presidente da Comissão Assessora da CCPG, também na palestra de abertura, que

A possibilidade deste evento é na verdade a possibilidade de socialização de conhecimento, de troca de informações e também de conhecer as pessoas que estão envolvidas neste processo do lato sensu. E a gente sabe muito da importância do lato sensu e dos cursos de especialização, especificamente para algumas áreas, e o objetivo maior é subsidiar e enriquecer a qualidade de nossos cursos. Este é o primeiro objetivo, vamos falar assim, que a gente quer trabalhar e se envolver. (JOSÉ FILHO, 2010a)

Considerando a ênfase dada nestas falas e as atividades acompanhadas neste evento pelo pesquisador na condição de ouvinte, fundamentalmente, dois temas pertinentes aos cursos de especialização foram problematizados: (1) o processo de avaliação e (2) os mecanismos de acompanhamento e controle dos cursos pelos órgãos responsáveis da universidade.

Sobre a avaliação, na palestra intitulada “A Importância dos Cursos de Especialização

Lato Sensu na UNESP”, a Pró-Reitora de Pós-Graduação iniciava sua fala realizando um diagnóstico do desenvolvimento dos cursos de especialização na universidade nos últimos anos. Dizia a Pró-Reitora:

Bem, aí vamos entrar na UNESP, vamos ver o que estamos fazendo dentro do lato sensu na UNESP. [...]

[...] este é um gráfico que quando nós levantamos este gráfico, eu confesso que fiquei um pouco preocupada com o resultado. [...] O que fica muito claro é que nós temos um gap entre o número de vagas e número de alunos concluintes. Vejam que aqui em 2007-2008 este gap é ainda maior, o que me preocupa muito como Pró-Reitora. Ou seja, há uma demanda da sociedade? Não sei. Há uma demanda dos nossos docentes? Sim, em montar o curso de especialização. Mas, ou não está tendo uma resposta da comunidade em termos de inscrição ou esses alunos estão começando a fazer, preenchem inicialmente as vagas, mas não concluem o seu curso [de pós-graduação] lato sensu.

Então, este é um assunto que nós devemos nos debruçarmos e entender o que está acontecendo: estamos sendo muito exigentes? Estamos abrindo vagas demais? Eu não sei a resposta. Temos apenas o resultado daquilo que está acontecendo na universidade. Claro que nós temos que excluir [os anos de] 2009 e 2010. Mas vejam outro fato que também chama a atenção. Em 2007 nós tínhamos 31 cursos de [pós-graduação] lato sensu, em 2009 [são] 35 [cursos]. Mas vejam bem o número de vagas como se ampliou. Aqui [em 2007] com 31 cursos nós tínhamos 1.500 vagas; agora em 2009 com 35 cursos nós temos 4.500 vagas. Tem alguma coisa aí que precisa ser analisada.

Existe por outro lado hoje uma demanda muito grande do governo do Estado [de São Paulo] em relação à montagem de cursos de especialização para a formação nas diversas secretarias de Estado. E também o governo federal tem de alguma forma aberto editais estimulando a formulação de novos cursos de especialização. Mas, eu não sei se isso vai continuar; nós

precisamos olhar isso com mais delicadeza. Está tendo evasão? Ou a demanda é menor do que o número de vagas? Eu não sei a resposta. [...] Quais são os desafios? Na verdade essa necessidade de qualificação rápida pelo mercado tem feito, gerado uma demanda da necessidade de aumentar o número dos cursos [de pós-graduação] lato sensu. Mas nos leva sempre ao problema: a gente não abre mão de que a qualidade tem que ser mantida. (RUGDE, 2010)

O excerto acima destacado parece indicar que a criação de um sistema de avaliação para os cursos de especialização da UNESP origina-se da necessidade de: (1) possivelmente transformar estes cursos em mestrados profissionais, uma ação presente no PDI da universidade; (2) identificar as demandas existentes por estes cursos e a sua consequente expansão no interior da universidade; e, (3) solucionar o problema da evasão nestes cursos, constatada a partir da diferença entre o número de inscritos/matriculados e concluintes.

Na percepção da Pró-Reitora, a discussão da avaliação dos cursos de especialização, além dos elementos mencionados, relaciona-se também com a manutenção de padrões mínimos de qualidade para as atividades realizada pela UNESP65.

Agora diria que temos ter alguns pontos de reflexão: qual é o modelo de avaliação e quem é que deve avaliar os cursos de especialização? Tem o órgão federal, estadual, é a própria academia ou o mercado? Ou a junção de tudo isso? No stricto sensu isso está muito bem definido. No lato sensu, na verdade cada universidade está fazendo a forma como acha, não existe ainda uma regulamentação nacional em termos dessa avaliação.

Alguns itens, que são sugestões, [mas] que me parecem pertinentes incluir na avaliação dos nossos cursos de especialização lato sensu: a infraestrutura física e administrativa, o corpo docente, isso nós já sabemos, o conteúdo programático, isso nós já sabemos. Mas, qual é o modelo pedagógico utilizado? Muito pouco disso está colocado nas propostas dos cursos de especialização. E sabemos algumas coisas em relação aos nossos alunos, mas e o egresso destes cursos? Qual é o impacto desses cursos de especialização na atividade profissional deste egresso? Ele sai com esta capacitação que ele veio procurar na universidade e como avaliar isso? Esta é uma questão muito importante, muito difícil de ser respondida. Existem algumas proposições já em algumas universidades do país, mas entendo que a UNESP deva caminhar para a construção do seu próprio critério de avaliação. Então, seria através, que instrumentos utilizar? Questionário com alunos, com ex-alunos, relatórios de atividades – isso nós usamos –, pareceres [...], e algum outro instrumento que nós não sabemos qual, mas que eu entendo que um conjunto como esse na universidade possa conseguir ajudar a Comissão [Assessora] a pensar sobre isso. (RUGDE, 2010)

65“Não é porque está havendo uma demanda muito grande, mas eu tenho que responder esta demanda, mas ela

tem que ser uma resposta com qualidade. Aí a qualidade. Esta é uma das coisas que a gente vem discutindo como avaliar. Porque nós temos que diagnosticar esses problemas na avaliação e em cima deste diagnóstico tomar as correções e dai é necessária uma vontade política. Eu acho que essa nossa reunião é um resultado disso. Estamos olhando, sabemos o que temos na universidade e como vamos fazer para atuar sempre na produção daquilo que estamos fazendo.” (RUGDE, 2010)

Entretanto, por não existir um sistema estatal (federal ou estadual) de avaliação da PGLS, este processo fica sob a responsabilidade das próprias IES que estabelecem os critérios que julgam pertinentes.

No caso da UNESP, apesar de existirem uma série de características que são apreciadas no momento de proposição e finalização dos cursos de especialização, essas parecem não se constituir efetivas do ponto de vista de avaliação da qualidade dos cursos ofertados.

[...] como avaliar? [...] Hoje nós avaliamos a qualificação do corpo docente, o conteúdo, e olhamos muito isso: que o relatório final é igual à proposição. Isto nos parece neste momento insuficiente. Mas, o que mais vamos utilizar? Vocês vão ser os responsáveis por essa construção conjunta. Tem uma Comissão que acompanha isso, mas é da participação coletiva que eu entendo que nós vamos construir isto aqui, para evoluir, não ser só uma coisa muito mecânica em relação a esta avaliação, é necessário implementar mais. (RUGDE, 2010)

Conexos à questão da avaliação, os mecanismo de acompanhamento e regulação dos cursos de especialização da UNESP receberam maior destaque no I Workshop, tanto para apresentação dos resultados auferidos pelas atividades da Comissão Assessora da CCPG desde 2008, quanto como possibilidade de se repensar uma nova forma de acompanhamento e controle através da reformulação da atual resolução.

Na palestra proferida pelo Presidente da Comissão Assessora da CCPG, torna-se evidente esta preocupação de compartilhar com os propositores dos cursos de especialização os critérios utilizados para apreciação das propostas de novos cursos.

Alguns critérios são considerados: a carga horária de 360 horas/aula, sem considerar monografia ou TCC, conforme o artigo 2°, § 2°; quanto ao corpo docente, após a análise pela Assessoria Técnica, a Comissão [Assessora] observa se a formação do professor é compatível com a disciplina oferecida, bem como a atualização do currículo Plataforma Lattes e porcentagem do corpo docente. [A Pró-Reitora de Pós-Graduação] já falou que a Resolução [n° 1 de 2007 do] MEC fala em 50% [de professores com a titulação de mestre ou doutor] e que nós [da UNESP] somos um pouco mais rígidos no sentido de colocar 75% como doutores para ser o corpo docente do curso de especialização. E outro item importantíssimo é a produtividade, um artigo a cada 3 anos, [...]; isso aí não é o que critério da comissão, mas é um critério da própria UNESP. Vinculação do coordenador e vice-coordenador à Pós- graduação [stricto sensu] com as funções de orientação, ensino e pesquisa e recondução por até duas gestões. Coordenação de um só curso [de especialização], conforme o artigo 7[°].

Então, [estes] são alguns detalhes que a Comissão [Assessora] observou durante essa caminhada e para elencar isso que a gente fez a avaliação aos cursos de especialização. Indicação dos docentes do curso pelo coordenador e indicação da comissão para seleção dos candidatos: este

item em inúmeros processos não foi respeitado, vamos falar assim, não foi elucidado com clareza. Aparece lá uma relação com o nome dos professores, [...], mas que oficialmente não tem nesta perspectiva o que nos foi colocada na Resolução [UNESP n°] 78 [de 2007]. (JOSÉ FILHO, 2010)

Ao explicitar estes critérios, o Presidente apresenta em seguida as

[...] dificuldades encontradas na análise dos processos. [Em outros termos, os] principais problemas encontrados pela Assistência Técnica. O processo atende parcialmente a resolução. Aqui são inúmeras as dificuldade, não tem uma específica. Faltam formulários ou são diferentes dos formulários padronizados pela PROPG [Pró-Reitoria de Pós-Graduação] ou preenchidos inadequadamente ou faltam assinatura dos responsáveis. Sequência dos documentos juntados no processo [...]. Processos enviados fora do calendário previsto pela Resolução [UNESP n°] 78 de 2007. [...] Então, realmente [a Pró-Reitora de Pós-Graduação] falou no início que o

pessoal da Assistência Técnica é “mãezona”; que vai, volta, falta uma coisa, então manda de volta, até ficar tudo “redondinho”, até ficar tudo

completo porque aí sim, elas encaminham para a Comissão [Assessora analisar]. [...]

Dificuldades encontradas nas análises dos processos [ou] principais problemas encontrados pela Comissão [Assessora]: currículo [Plataforma] Lattes desatualizado ou currículo fora do padrão. Este é um ponto importantíssimo. Produção acadêmica insuficiente dos docentes envolvidos. É outro destaque que a gente dá. Aprovação ad referendum pelas instâncias locais. Tem processo que vem tudo ad referendum, desde o Departamento até a Congregação. Então esta é uma dificuldade nossa. Propostas de novas edições de curso que já estão na sua 15ª ou 18ª edição, sem que as referências das disciplinas sejam atualizadas. Isso daqui tem sido o nosso tendão de Aquiles, vamos falar assim. Desculpem, mas é impossível que um curso na sua 18ª edição que continua com a mesma bibliografia da 1ª edição. Isso é um curso de especialização. Minimamente deve ter alguma produção neste tempo que foi trabalhada, que foi desenvolvido. [...] (JOSÉ FILHO, 2010).

Apesar da pertinência destas problematização realizadas pela Pró-Reitora e pelo Presidente da Comissão Assessora, cada vez mais o evento se direcionou para a discussão sobre os critérios estabelecidos pela universidade para o acompanhamento e controle dos cursos de especialização do que para a construção conjunta de um processo avaliativo.

Este fato evidencia-se pela preocupação preponderante dos participantes em reformular a Resolução UNESP n° 78 de 2007, a partir da dinâmica adotada no segundo dia do evento: primeiramente, pela reunião entre os membros pertencentes às áreas particulares (humanas, exatas e biológicas) e, posteriormente, com a síntese das propostas de cada área para uma plenária geral.

Especificamente para a área de humanas, as propostas debatidas entre os coordenadores e docentes sinalizavam para adoção de maior flexibilidade ao processo de aprovação dos cursos de especialização da universidade. Algumas destas propostas:

aprovação de mais de duas turmas por curso ou de duas ou mais edições; após sucessivas edições de um mesmo curso, o processo de aprovação poderia tornar-se mais flexível; inutilidade de que o Coordenador e o Vice-coordenador estivessem vinculados à PGSS como critério para a análise de abertura de novos cursos e propostas de novas edições; diminuição dos valores financeiros repassados às unidade universitárias e à UNESP obtidos com a cobrança de taxas e mensalidades, dentre outros aspectos.

No momento da plenária geral em que seriam debatidas as propostas das diferentes áreas para se redigir uma nova resolução, a falta de tempo e o desacordo entre as propostas e destas com as opiniões dos representantes dos órgãos responsáveis pelos cursos de especialização da universidade não possibilitou a sua reformulação. Finalmente, decidiu-se consensualmente que os coordenadores presentes encaminhariam suas propostas específicas para a Comissão Assessora, para que posteriormente estas fossem apreciadas, delineando-se, então, diretrizes comuns que embasariam a nova resolução.

Pode-se afirmar que o I Workshop Lato Sensu da UNESP representou a última dimensão política investigada nesta pesquisa sobre os cursos de especialização. A partir dos elementos analisados e da presença/observação do pesquisador, verificou-se pela análise deste evento a existência de uma oposição entre a UNESP e os propositores dos cursos de especialização quanto ao entendimento e aos objetivos almejados para este setor da pós- graduação na universidade.

A UNESP busca introduzir um processo de avaliação e de aprimoramento dos mecanismos de controle sobre a sua oferta dos cursos de especialização diante do contexto vertiginoso da sua expansão; já os propositores têm a pretensão de flexibilizar ainda mais os critérios estabelecidos para propostas de novos cursos e os procedimentos referentes ao processo de aprovação, no sentido de defender a expansão dos cursos de especialização na universidade.