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XV Governo Constitucional

No documento Agendas e reformas administrativas em Portugal (páginas 179-182)

6 AGENDAS DE REFORMA ADMINISTRATIVA EM PORTUGAL

6.5 A GENDA D ECISIONAL E P OLÍTICAS DE R EFORMA A DMINISTRATIVA (1986-2007)

6.5.6 XV Governo Constitucional

201 A Estrutura Comum de Avaliação, mais conhecida por CAF – Common Assessment Framework, é uma ferramenta concebida especialmente para a auto-avaliação da qualidade nos serviços públicos, na União Europeia. Para maior desenvolvimento ver Rocha (2006: 86-93) e Carapeto e Fonseca (2005: 57-78).

202 RCM nº 24/2001, de 1 de Março. 203

RCM nº 110/2000, de 22 de Agosto. 204 RCM n 156/2000, de 16 de Novembro.

205 Vide Resolução nº 143/2000, de 27 de Setembro (DR 2ª Série), a Resolução nº 32/2001, de 2 de Março (DR 2ª Série) e o Decreto-Lei nº 104/2002, de 12 de Abril. Muitas das iniciativas projectadas pelo XIV Governo só emergiram, com alguma notoriedade, com o XV Governo. É o caso da Bolsa de Emprego Público (Decreto-Lei n.º 78/2003, de 23 de Abril) e do Programa de Compras Electrónicas (RCM nº 36/2003, de 12 de Março e RCM nº 111/2003, de 12 de Agosto). Reflectindo o prolongamento no tempo de muitas destas medidas, o Programa de Compras Electrónicas continua a ser defendido pelo XVII Governo, almejando-se a sua adopção generalizada em todos os serviços do sector público administrativo (vide, para o efeito, Decreto-Lei nº 37/2007, de 19 Fevereiro, o qual define o sistema nacional de compras públicas (SNCP) e procede à criação e aprovação dos estatutos da Agência Nacional de Compras Públicas, E.P.E. (ANCP), como entidade gestora do SNCP).

Para o XV Governo, a reforma da administração pública está no cerne de duas metas – “consolidar um Estado com autoridade, moderno e eficaz” e “sanear as finanças públicas” – conducentes, na concepção dos governantes, ao desenvolvimento económico e à competitividade do País. Tem-se como referência um “novo modelo de serviço público” (que continua a ser uma continuação do modelo idealizado pelos Governos pós 1986206), baseado em “três linhas de força dominantes” (vide GOPs 2003-2006207):

• “redução do peso excessivo da Administração Pública;

• prossecução de objectivos de eficiência, visando a satisfação das necessidades dos cidadãos;

• promoção de uma cultura de mérito e exigência, em que os serviços devem nortear-se por resultados e altos padrões de qualidade”.

Na RCM nº 95/2003, de 30 de Julho, definiram-se as linhas de orientação da reforma administrativa, reforma que o Governo encara como prioritária208 e na RCM nº 53/2004, de 21 de Abril, procedeu-se à sua operacionalização209.

O cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento ocupa um lugar proeminente na agenda do Governo e irá moldar a política de reforma administrativa. Enfatiza-se a necessidade de reduzir o “peso excessivo da Administração Pública”, de racionalizar as estruturas, extinguindo as que se revelarem redundantes ou que não acrescentem valor, de identificar as áreas funcionais cujos custos superem os benefícios, de parar a

206 Embora o fenómeno do path dependency explique que raramente ocorre uma inovação radical nas políticas públicas prosseguidas, fruto do peso do passado e da inércia institucional, os governantes gostam sempre de se retratar como os principais autores de uma dada (e, por vezes, suposta) inovação. Embora a política de reforma administrativa do XV Governo seja, em geral, uma continuação das anteriores, não excluindo o acentuar dos elementos de “privatização” do sistema, o Governo escreve, nas GOP para 2003-2006, que irá proceder a uma “revolução tranquila, mas firme e prioritária” na Administração Pública.

207 Lei nº 32-A/2002, de 30 de Dezembro.

208 No preâmbulo da RCM nº 95/2003, de 30 de Julho, podemos ler: “A reforma da Administração Pública influenciará, directa ou indirectamente, muitas outras reformas sectoriais, a propor ou em curso, das quais o País também carece, pelo que constituirá a grande prioridade da acção reformadora do Governo”.

209 Segundo Rocha e Araújo (2006: 20), esta resolução foi concebida com base nas recomendações de uma empresa de consultadoria.

tendência de crescimento do número de funcionários públicos210, de dinamizar a

prática da gestão por objectivos, de introduzir o regime do contrato individual de trabalho, de incentivar a mobilidade na função pública, constituindo uma Bolsa de Mobilidade, de atribuir autonomia administrativa e financeira apenas aos organismos que respeitem as condições previstas na Lei de Bases de Contabilidade Pública (para que haja autonomia financeira, os organismos terão de possuir receitas próprias que cubram, no mínimo, dois terços das despesas totais211), etc. Embora as medidas anunciadas não alterem substancialmente o caminho percorrido até então, verifica-se, com este Governo, um reforço da óptica gestionária e um maior foco na eficiência, enquanto os Governos precedentes preferiram realçar a qualidade e a melhoria das relações da Administração com as empresas e os cidadãos.

Nas GOP para 2004212, o Governo precisa as “ideias nucleares da reforma”: a definição das funções essenciais do Estado (que são, no seu entendimento, as funções reguladoras e fiscalizadoras), a criação de um modelo de organização dos serviços próximo da “filosofia do modelo empresarial” e a implementação da gestão por objectivos (é com vista à concretização desta última ideia que se irá defender o novo Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho – SIADAP). Estamos em pleno esplendor do discurso do New Public Management, ao se defender um Estado mínimo, reduzido a funções de regulação e fiscalização, prosseguidas por organismos estruturados e geridos em moldes “empresariais”213.

A reforma traduziu-se em medidas como a aprovação das leis quadro da administração directa do Estado (Lei nº 4/2004, de 15 de Janeiro) e dos institutos públicos (Lei nº 3/2004, de 15 de Janeiro), a aplicação do contrato de trabalho na Administração Pública (Lei nº 23/2004, de 22 de Junho), novos mecanismos de

210 Uma das primeiras medidas do Governo foi tentar controlar as admissões na AP (RCM nº 97/2002, de 18 de Maio), uma intenção partilhada pelo seu antecessor, embora com um carácter menos restritivo (vide RCM nº 12/2001, de 8 de Fevereiro e RCM nº 16/2002, de 28 de Janeiro).

211 Este regime de excepção, cada vez menos excepcional, também poderá ser atribuído, segundo a Lei de Bases de Contabilidade Pública, a entidades que gerem fundos comunitários (art. 6, nº 4, da Lei 8/90, de 20 de Fevereiro).

212 Lei nº 107-A/2003, de 31 de Dezembro.

213 Rocha faz a seguinte avaliação da política de modernização administrativa do XV Governo Constitucional (2005: 44): “A fazer fé nas declarações dos responsáveis governamentais, nas recentes leis e ainda nas propostas legislativas, tudo indica que se retoma o modelo managerial, ao mesmo tempo que se pretende emagrecer o Estado, bem ao modo da Sra. Thatcher dos finais dos anos setenta e começo dos anos oitenta. Assim, pretende-se menor e melhor Estado, adopção do contrato individual de trabalho, avaliação de desempenho, mas nomeação política para todos os cargos dirigentes (...).”

mobilidade (Decreto-Lei nº 193/2002, de 25 de Setembro, Decreto-Lei nº 78/2003, de 23 de Abril e Decreto-Lei nº 101/2003, de 23 de Maio), a revisão do Estatuto do Pessoal Dirigente da Administração Pública (Lei nº 2/2004, de 15 de Janeiro) e a aprovação de um sistema integrado de avaliação do desempenho que, teoricamente, abrange os serviços e organismos, os funcionários e os dirigentes (Lei nº 10/2004, de 22 de Março214). Continuaram-se a desenrolar programas de desburocratização, qualidade e promoção do governo electrónico215.

No documento Agendas e reformas administrativas em Portugal (páginas 179-182)