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XVII Governo Constitucional

No documento Agendas e reformas administrativas em Portugal (páginas 182-186)

6 AGENDAS DE REFORMA ADMINISTRATIVA EM PORTUGAL

6.5 A GENDA D ECISIONAL E P OLÍTICAS DE R EFORMA A DMINISTRATIVA (1986-2007)

6.5.8 XVII Governo Constitucional

A chegada ao Poder do XVII Governo, a 12 de Março de 2005, assinala a abertura de uma janela de oportunidade para possíveis mudanças de trajecto na política de modernização do sistema administrativo público. Contudo, esta janela foi aproveitada para a defesa do “novo” modelo de Administração Pública promovido desde 1986 e que foi paulatinamente aprofundado pelos sucessivos Governos. Se o XV Governo assumiu indiscutivelmente o discurso e as ideias do New Public Management, o XVII Governo parece desejar prossegui-las, aprovando os instrumentos legislativos que possibilitem a sua implementação.

214 Ver ainda o Decreto Regulamentar nº 19-A/2004 e a Portaria nº 509-A/2004, ambos de 14 de Maio. 215 Ao nível da promoção da sociedade da informação e do conhecimento, gostaríamos de destacar um pacote de medidas, datado de 12 de Agosto de 2003, constituído, entre outros, pelo Plano de Acção para a Sociedade da Informação (RCM nº 107/2003), o Plano de Acção para o Governo Electrónico (RCM nº 108/2003) e o Programa Nacional de Compras Electrónicas (RCM nº 111/2003).

A modernização da Administração Pública responde, mais uma vez, ao desafio da competitividade e do desenvolvimento económico. O XVII Governo elege, como “preocupações maiores” da sua actuação, a desburocratização e simplificação de processos, a modernização da gestão e a flexibilização dos modos de funcionamento217. A consolidação das finanças públicas e o enaltecimento do valor “eficiência” continuam a ser elementos centrais à política de inovação administrativa, até porque permanece o risco de incumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Trata-se de um Governo que teve o mérito de agregar um conjunto de iniciativas de modernização administrativa até então dispersas sob uma determinada denominação, um rótulo (por exemplo, SIMPLEX ou PRACE), que passou a constituir uma marca divulgada junto da função pública e da opinião pública, em geral, facilitando a percepção de que existe uma real determinação em mudar a máquina administrativa, traduzida em actos concretos.

A análise da política de reforma do XVII Governo revela preocupações com a desburocratização e a qualidade (tal como tinha acontecido com todos os Governos Constitucionais, porém com especial destaque, na era managerial, para o XI, XII, XIII e XIV), com a gestão de recursos humanos218 (na senda do XIII Governo na atenção

dedicada à função pública, mas com uma filosofia próxima da dos XV e XVI

217 Rocha e Araújo procedem a uma leitura alternativa destas “preocupações maiores”. Para os autores, a principal preocupação do Ministro das Finanças e da Administração Pública reduz-se a uma questão quantitativa (2006: 23): “(...) attempt to reduce to the lowest figure possible the number of services and

public servants – fewer structures and fewer positions”.

218 Vejamos alguns dos diplomas aprovados durante a presente legislatura, ao nível da gestão de recursos humanos: RCM nº 109/2005, de 30 de Junho (estabelece um conjunto de parâmetros que irão pautar a política governamental relativa à função pública); RCM nº 110/2005, de 30 de Junho, Lei nº 60/2005, de 29 de Dezembro, Decreto-Lei nº 117/2006, de 20 de Junho, Lei nº 52/2007, de 31 de Agosto (convergência entre o sistema de pensões da Caixa Geral de Aposentações e o regime geral da segurança social); Lei nº 43/2005, de 29 de Agosto, RCM nº 38/2006, de 18 de Abril, Decreto-Lei nº 169/2006, de 17 de Agosto (conjunto de medidas conducentes a uma diminuição das despesas com o pessoal); Lei nº 51/2005, de 30 de Agosto (modificações nos procedimentos de nomeação e cessação de funções do pessoal dirigente da AP); RCM nº 199/2005, de 29 de Dezembro (garantir a aplicação e bom funcionamento do SIADAP); Lei nº 53/2006, de 7 de Dezembro (mobilidade da função pública); Decreto-Lei nº 71/2007, de 27 de Março (novo estatuto do gestor público); Decreto-Lei nº 122/2007, de 27 de Abril (regime de acção social complementar); e Decreto-Lei nº 181/2007, de 9 de Maio (justificação das faltas por doença e respectivos meios de prova).

Governos) e com o governo electrónico219 (como vinha a suceder desde o XIII

Governo).

De acordo com as Grandes Opções do Plano para 2005-2009220, o Governo desenvolverá processos de modernização administrativa que visam atingir os seguintes objectivos:

• facilitar a vida aos cidadãos e às empresas;

• qualificar os recursos humanos e as condições de trabalho; • adequar a Administração aos objectivos de crescimento.221

Estes objectivos, ao serem alcançados, permitirão, argumenta-se, o redesenho da Administração Pública, tornando-a “mais eficiente e ajustada aos recursos do País”, menos produtora e mais “reguladora e fiscalizadora” e ainda “mais próxima dos cidadãos”. Os meios escolhidos passam pela:

• organização da AP: reestruturação de serviços públicos, em especial, ao nível da Administração Central; descentralização e desconcentração de funções e serviços; adopção do modelo de serviços partilhados;

• gestão empresarial: “empresarialização”(adopção de novas técnicas de gestão ou a externalização de serviços)222, estímulos à adopção de uma cultura tida como próxima da de mercado na própria Administração Pública223 e a

219 Iniciativas como a “Empresa na Hora” e a “Marca na Hora” (Decreto-Lei n.º 125/2006, de 29 de Junho) repousam na utilização das tecnologias da informação e comunicação e representam uma profunda transformação no modo como os processos se desenrolavam até então.

220 Lei nº 52/2005, de 31 de Agosto. 221

Estes são os objectivos da política de reforma administrativa já definidos no Programa Eleitoral do Partido Socialista e no Programa do XVII Governo Constitucional, sob a expressão “linhas de actuação”.

222 No texto das Grandes Opções do Plano 2005-2009, a empresarialização aparece como uma das linhas de acção prioritárias do XVII Governo, estabelecendo-se uma suposta relação de causalidade entre a aproximação a modelos empresariais e a obtenção de ganhos de eficácia e eficiência: “empresarialização, com o objectivo de promover a adopção de instrumentos e modelos de gestão que melhorem os resultados obtidos pela Administração ou permitam a externalização de serviços que possam ser prestados com uma melhor relação custo-benefício por entidades fora da Administração”. 223 Repare-se como o XVII Governo pretende, de acordo com as GOP 2005-2009, desenvolver “(...) uma cultura de risco e concorrência em certos domínios da Administração, quando se mostre útil e adequado, como forma de aumentar a liberdade de escolha dos cidadãos”.

implementação da gestão por objectivos e dos sistemas de avaliação de desempenho dos funcionários e dos serviços;

• gestão de recursos humanos: pretende-se o estabelecimento de regimes e sistemas de gestão de recursos humanos não diferenciados face aos demais trabalhadores (com excepção das carreiras que implicam o exercício de funções de soberania), o que justifica, por exemplo, a aproximação do regime jurídico do exercício de funções públicas ao regime do contrato individual de trabalho, a revisão e implementação de um novo sistema de carreiras e remunerações na Administração Pública e o desenvolvimento de um novo regime de protecção social, bem como a alteração do regime de aposentação dos trabalhadores da Administração Pública, no sentido da convergência com o regime geral de segurança social;

• desburocratização e qualidade: simplificação administrativa, tendo como ponto fulcral a satisfação das necessidades dos cidadãos e empresas e o desenvolvimento da administração electrónica.

As iniciativas são inúmeras. Destas, destacamos a reorganização do aparelho administrativo resultante do PRACE – Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado, o SIMPLEX – Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa, a Empresa na Hora, o Cartão do Cidadão, a introdução dos serviços partilhados e a mudança em curso ao nível da gestão de recursos humanos, com as transformações legalmente reificadas nos seus diferentes subsistemas224.

224 As alterações promovidas na gestão de recursos humanos da Administração Pública pelo XVII Governo – novo sistema de vínculos, carreiras e remunerações, reformulação e implementação do sistema integrado de avaliação de desempenho – SIADAP, novo regime de mobilidade de pessoal, novo sistema de aposentação, etc. -, ao indiciarem uma convergência com a gestão praticada noutros sectores, estão em manifesta consonância com o modelo gestionário advogado após os anos oitenta e representam uma viragem no modelo de gestão até então tido como inerente aos serviços públicos (um modelo burocrático, garante da satisfação do interesse geral). As consequências desta mudança só poderão ser, como é natural, avaliadas no futuro. Pode-se, no entanto afirmar, que este conjunto de medidas plasma-se na consolidação da denominada “privatização da Função Pública” (Moura, 2004: 327-334, 374-419).

No documento Agendas e reformas administrativas em Portugal (páginas 182-186)