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Mapa 07 – Linhas e Limites reforçando a posição brasileira

4. A EVOLUÇÃO DAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS E A CONTRUÇÃO

4.2 Os fundamentos dos conceitos da III CNUDM: uma reflexão sobre o saber/poder e a

4.2.2 A cristalização do mosaico de interesses no espaço marinho em seis conceitos

4.2.2.3 Zona Econômica Exclusiva

A III CNUDM estabelece um instituto até então não adotado nas convenções anteriores, o de Zona Econômica Exclusiva. Como foi apresentado no início deste capítulo, esse conceito é fruto de uma proposta original do campo majoritário liderado pelo México de mar patrimonial. A análise de tal conceito apresenta especificações quanto a exploração e a explotação de recursos

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(a) prevent infringement of its customs, fiscal, immigration or sanitary laws and regulations within its territory or territorial sea; (b) punish infringement of the above laws and regulations committed within its territory or territorial sea. (UNCLOS, 1982)

nestes espaços. Segundo o artigo 56, o Estado costeiro possui o direito soberano de explorar e explotar os recursos, sejam eles vivos ou não, do leito e subsolo marinho das águas superjacentes, incluído a possibilidade de produção energia com a “bomba d’água” das correntes, marés ou eólica. O limite máximo de extensão para a exploração ou explotação desses recursos é de 200 milhas náuticas contadas a partir da linha de base.

O artigo 57 explica sobre as rotas de tráfego interna à ZEE. Nele temos que “[a] mudança ou adoção de esquemas de separação tráfego de uma rota interna a ZEE pelo Estado costeiro é regulamentada pela convenção, entretanto deve ser comunicada previamente às autoridades internacionais de navegação e vôo antes de entrarem em vigor” (tradução nossa).

Apesar de serem especificadas tais regras para o estabelecimento de ZEEs, o conceito de “ZEE” flexibiliza-se e aproxima-se completamente do conceito de “Alto-Mar”, em relação aos direitos e deveres de outros em relação a esta sob os preceitos de liberdade de navegação, sobrevôo e possibilidade de colocar cabos ou dutos submarinos. Tal mudança é descrita no artigo 58, no qual é explicado que fica assegurada a possibilidade de outros Estados costeiros ou não de realizarem essas atividades desde que seguirem as regulamentações internacionais para tal. É importante também salientar que apesar da enorme tentativa de incrementar a densidade normativa desta categoria, no artigo 59 fica explícito que caso existam ausências da convenção sobre a delimitação de direitos ou jurisdição sobre qualquer um dos pontos, as particularidades do caso devem ser levadas em consideração, assim como os interesses da comunidade internacional como um todo.

Segundo o artigo 61, “O Estado costeiro deve determinar a capacidade de captura de recursos vivos permitida em sua zona econômica exclusiva” (tradução nossa) 53. Através da cooperação junto às agências internacionais, o Estado costeiro deve assegurar através de medidas de gerenciamento, que os recursos não estão sendo super-explorados além da sua capacidade de carga de regeneração, mas assegurando a máxima de extração sustentável levando em consideração as necessidades das comunidades costeiras e dos parceiros de pesca. Para tanto, o Estado costeiro deve manter e divulgar os dados sobre a extração de nacionais e de estrangeiros permitidos de explorar esses recursos, além de dados sobre a conservação e os estoques pesqueiros.

O artigo 62 garante que o processo de flexibilização territorial soberana ocorra para o uso de outros Estados da área da Zona Econômica Exclusiva para produção pesqueira. Segundo o parágrafo 2º desse artigo, “o Estado costeiro deve determinar sua capacidade de captura de recursos vivos da zona econômica exclusiva. Onde o Estado costeiro não possui a capacidade de capturar a inteira captura permissível, este deve, através de acordos e outros arranjos (...) dar a outros Estados acesso ao excedente da captura permissível” (tradução nossa) 54. No mesmo artigo, ainda são ressaltados que todas as condições econômicas e de interesse nacional devem ser relevadas pelo Estado costeiro, evitando, o máximo possível, o deslocamento de nacionais de outros Estados que normalmente já pescavam nessa área. Por outro lado, os nacionais de outros Estados devem seguir estritamente as regras internacionais de conservação ambiental e devem entre outras coisas:

(a) licenciar os Pescadores, embarcações e equipamentos de pesca, incluindo o pagamento de taxas e outras formas de remuneração, as quais, no caso de Estados costeiros em desenvolvimento, possivelmente consistem na adequada compensação no campo de financiamento, equipamento e tecnologia relativos a industria de pesca; (b) determinar as espécies as quais possivelmente são capturadas, fixando cotas de captura, seja em relação a estoques específicos ou grupos de estoque ou captura por embarcação pelos nacionais de qualquer Estado durante um período específico;

(c) regular as temporadas e as áreas de pesca, os tipos, tamanho e montantes de petrechos, e os tipos, tamanhos e números de embarcações pesqueiras que podem ser usados;

(d) fixar idade e tamanho do peixe e de outras espécies que podem ser capturados; (e) requerer informação específica das embarcações pesqueiras, incluindo estatísticas de captura e esforços de pesca e relatórios de posição das embarcações;

(f) requerendo, sobre a autorização e controle do Estado costeiro, a condução de programas de pesquisa de pescados específicos e regulamentando a condução de tais pesquisas, incluindo a amostragem de capturas, disposição de amostras e relatórios associados aos dados científicos;

(g) a colocação de observadores ou trainees a bordo de tais embarcações pelo Estado costeiro;

(h) o desembarque de toda ou qualquer parte da captura por tais embarcações nos portos do Estado costeiro;

(i) termos e condições relativos a empreendimentos conjuntos (joint ventures) ou outros arranjos cooperativos;

(j) requerimentos de treinamentos de pessoal e transferência de tecnologias de pesca, incluindo o aumento de capacidade do Estado costeiro em implementar pesquisa pesqueira;

(k) procedimentos coercitivos (tradução nossa) 55.

54“2. The coastal State shall determine its capacity to harvest the living resources of the exclusive economic zone.

Where the coastal State does not have the capacity to harvest the entire allowable catch, it shall, through agreements or other arrangements and (…)give other States accessto the surplus of the allowable catch, having particular regard to the provisions of articles 69 and 70, especially in relation to the developing States mentioned therein.

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(a) licensing of fishermen, fishing vessels and equipment, including payment of fees and other forms of remuneration, which, in the case of developing coastal States, may consist of adequate compensation in the field of

O Artigo 69 vem para atender as reivindicações dos países geograficamente desfavorecidos56, apontando que as regras acima estabelecidas devem também ser aplicáveis e aproveitadas por estes em ZEE de países vizinhos. Porém, quando for de países sem litoral desenvolvidos, estes somente poderão reivindicar participação nos recursos de ZEE de países desenvolvidos de sua mesma sub-região. Mas, estes não podem transferir esses direitos a terceiros países.

A Convenção também dedica os artigos 63 e 64 à definição de provisões para delimitação de direitos de exploração recursos vivos que ocorrem em mais de uma ZEE, ou em ZEE e fora de seus limites, assim como da ocorrência de espécies altamente migratórias. Nestes fica clara a indicação que a Convenção deixa em aberto a negociação entre os países envolvidos, mas na incumbência de cooperar a partir da criação de organizações internacionais que regulam a conservação e captura das espécies indicadas nos Anexo I da Convenção. Nesse ponto, fica clara que a iniciativa de organizações como a ICCAT, como apresentada no contexto verbal internacional, foi e é vista como um modelo de gestão dos recursos vivos a ser seguido no cenário internacional global. Da mesma forma, no artigo que trata sobre os mamíferos marinhos (art. 65), a Convenção não tece detalhes de adensamento normativos sobre o território da ZEE, deixando como melhor escolha de gestão, a utilização de organizações internacionais focadas no tema de melhor aproveitamento e conservação, principalmente de cetáceos.

financing, equipment and technology relating to the fishing industry; (b) determining the species which may be caught, and fixing quotas of catch, whether in relation to particular stocks or groups of stocks or catch per vessel over a period of time or to the catch by nationals of any State during a specified period; (c) regulating seasons and areas of fishing, the types, sizes and amount of gear, and the types, sizes and number of fishing vessels that may be used;(d) fixing the age and size of fish and other species that may be caught; (e) specifying information required of fishing vessels, including catch and effort statistics and vessel position reports; (f) requiring, under the authorization and control of the coastal State, the conduct of specified fisheries research programmes and regulating the conduct of such research, including the sampling of catches, disposition of samples and reporting of associated scientific data; (g) the placing of observers or trainees on board such vessels by the coastal State;

(h) the landing of all or any part of the catch by such vessels in the ports of the coastal State; (I) terms and conditions relating to joint ventures or other co-operative arrangements;

(j) requirements for the training of personnel and the transfer of fisheries technology, including enhancement of the coastal State's capability of undertaking fisheries research; (k) enforcement procedures.

56Segundo a Convenção para lidar especificamente sobre esta parte "Estados geograficamente desfavorecidos"

significam Estados costeiros, incluindo Estados fronteiriços a mares confinados ou semi-confinados, cujas as situação geográfica fazem deles dependentes da exploração de recursos pesqueiros das zonas econômicas exclusivas de outros Estados na subregião ou região para suprimento adequado de pescados para fins nutricionais de suas populações ou parte delas, e Estados Costeiros os quais não podem reivindicar zona econômica exclusiva por si só”.

Como apresentado anteriormente, o conceito de passagem de trânsito foi a alternativa encontrada para normatizar as questões relativas ao fluxo de navegação em estreitos internacionais. Este é definido pelo artigo 38 como

o exercício de acordo com essa parte da liberdade de navegação e sobrevôo somente para o propósito de continuamente e expeditamente transitar em estreitos entre uma parte do alto-mar ou uma zona econômica exclusiva e outra parte do alto-mar ou uma zona econômica exclusiva. Entretanto, o requerimento de trânsito continuo e expedito não impede a passagem através de estreitos com o propósito de entrada e saída ou retorno de um Estado fronteiriço ao estreito, sujeito as condições de entrada daquele Estado (tradução nossa)57.

Sobre a necessidade de delimitação técnica e geográfica dos limites da ZEE, o artigo 75 normatiza que o Estado costeiro deve apresentar e publicar suas linhas limítrofes especificando seus dados geodésicos. Para que sejam reconhecidas internacionalmente, tais direitos, “cópias das cartas ou da lista das coordenadas geográficas devem ser entregues ao Secretário Geral das Nações Unidas” (tradução nossa)58.