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ARTES CÊNICAS E AFRICANIDADE NAS SÉRIES INICIAIS

No documento PDF CAPA - nwk.edu.br (páginas 133-146)

Joelma Cristina de Souza Soares20 Luis Carlos Gonçalves21

RESUMO

A Arte se caracteriza pelo lúdico e pela possibilidade de expressão e se manifesta através de quatro linguagens: visual, cênica, musical e expressão corporal. Dentre tais linguagens, destaco para este trabalho as artes cênicas, visto aparentemente ser raridade ouvirmos falar sobre a presença do teatro nas escolas, principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, mesmo nas aulas de Artes, apresentando aspectos de sua utilização para o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira. Para observar este trabalho pedagógico com artes cênicas e africanidade, realizou-se uma pesquisa de campo em duas escolas da rede estadual de ensino, ambas das séries iniciais do ensino fundamental, uma no município de Campinas/SP, e outra no município de Nova Odessa/SP.

Palavras-chave: Crianças; Expressão; Afrodescendentes.

ABSTRACT

The art is characterized by the playful and the possibility of expression and manifests itself in four languages: visual, scenic, musical and physical expression. Among these languages, it highlights for this work the performing arts, as apparently be rare we hear talk about the presence of the theater in schools, especially in the early grades of elementary school, even in the Arts classes, presenting aspects of their use in the teaching of history and Afro-Brazilian Culture. To observe this pedagogical work with performing arts and africanity, a field research was conducted in two schools of the state school system, both the initial grades of elementary school, one in Campinas, and another in the city of Nova Odessa.

Keywords: Children; Expression; African Descent.

1 Introdução

“A arte tem a natureza de mostrar o comportamento das sociedades, tanto no seu passado como no presente, fornecendo uma rica interpretação da relação das pessoas entre si e o mundo” (SANS, 1994, p. 99).

A arte é tudo o que nos envolve, o que está ao nosso redor diante dos nossos olhos, algo que podemos nos expressar através de música, dança, desenho, pintura,

20 Graduanda em Pedagogia das Faculdades Network – Av. Ampélio Gazzetta, 2445, 13460-000, Nova Odessa, SP, Brasil. (e-mail: joelma_gal@hotmail.com)

21 Professor Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia das Faculdades Network – Av.

Ampélio Gazzetta, 2445, 13460-000, Nova Odessa, SP, Brasil. (e-mail: lu1313@bol.com.br)

teatro, entre outros, caracterizando-se pelo lúdico e pela expressão e se manifestando através de quatro linguagens: visual, cênica, música e expressão corporal.

Ela pode exercer um papel importante e fundamental na educação se dá quando a arte tem por objetivo propondo a autonomia da criança, através da elaboração de atividades e projetos. Neste processo de elaboração, vem à tona a historicidade da criança e as diversas formas culturais vivenciadas pela mesma na comunidade.

“A educação em arte só pode propor um caminho, o da convivência com as obras de arte” (ARANHA, 2009, p. 433). Além disto, propicia que a criança compartilhe sua imaginação, sincronizando concentração, criatividade, demonstração e movimento.

Diante da proposta apresentada pelas autoras, “o docente necessita elaborar uma proposta de sequência didática bem ampla, que ambiciona desenvolver, de forma prática, por meio de jogos, dramatizações, improvisações e elaboração de materiais lúdicos, os elementos básicos e componentes da linguagem teatral” (FERREIRA;

FALKEMBACH, 2012, p. 30).

2 Revisão bibliográfica

Segundo Lima (2011), historicamente o ser humano sempre teve a necessidade de representar, demonstrando suas tristezas, angústias, alegrias. De início para cultuar deuses e, gradativamente, tornou-se uma atividade cultural encenada por muitos povos e, assim, o teatro começou a fazer parte da nossa cultura.

A cultura se representa pelos usos e costumes do ser humano, da comunidade, de si próprio através de comportamento, expressão e comunicação. E há um laço entre a cultura e o processo educacional através da transmissão de conhecimentos, de ideias e, sobretudo, de comportamentos. Em Mizukami (1986), é indispensável que o professor, no papel de orientador, exerça o trabalho de selecionar e organizar o que deve ser transmitido.

Para Mizukami (1986 p. 3-5):

A educação está intimamente ligada à transmissão cultural, pois deverá transmitir conhecimentos, assim como comportamentos éticos, práticas, sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo e ambiente.

A partir de 1971, com a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional à época, a arte é incluída no currículo escolar com o título de Educação Artística, mas considerada como uma simples “atividade educativa” e não uma disciplina.

Como uma atividade educativa, exige-se a participação, a interação dos alunos, onde se preza a oportunidade de se desenvolver, vivenciar o trabalho lúdico, a criatividade, e a liberdade de se expressar. Enquanto disciplina, as atividades educativas estão contempladas, contudo, cabe a ela, como propõe os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) – Arte (1997), também estudar a evolução das expressões artísticas, os conceitos, a metodologia, os conteúdos, os projetos desenvolvidos e a avaliação.

Nos PCN’s – Arte (1997, p. 114):

Muitos trabalhos de arte expressam questões humanas fundamentais: falam de problemas sociais e políticos, de relações humanas, de sonhos, manifestações culturais particulares e assim por diante. Neste sentido, podem contribuir para uma reflexão sobre temas como os que são enunciados

transversalmente, propiciando uma aprendizagem alicerçada pelo testemunho vivo de seres humanos que transformaram tais questões em produto da arte.

Na década de 70, os professores passaram a atuar em áreas artísticas, independentemente de sua formação e habilitação. Na década de 80, constitui-se o movimento Arte-Educação, inicialmente com a finalidade de conscientizar e organizar os profissionais, resultando na mobilização de grupos de professores de arte, tanto da educação formal como da informal. Este movimento tem sua importância no sentido de refletir e propor métodos para o desenvolvimento das artes no processo pedagógico.

O movimento Arte-Educação analisou as complexas relações culturais que influenciaram o ensino da arte nas escolas brasileiras, relacionando as ideias filosóficas, econômicas, sociais, artísticas e educacionais, com propósitos e finalidades determinantes para a educação artística. Segundo Barbosa (2006), detectou-se até um desinteresse dos próprios artistas no sentido da utilização da arte na escola. Os quais teriam totais condições de auxiliar no processo de ensino-aprendizagem a partir de suas vivências e das técnicas por eles empregadas.

O movimento Arte-Educação, constituído nos anos 80 com o intuito de conscientizar e organizar os profissionais e os grupos de professores de arte que atuavam na educação formal ou informal ampliou o debate sobre a valorização e o aprimoramento do docente para o trabalho com a Arte como instrumento pedagógico.

Uma vez que, desprestigiados e inseguros, os professores tentavam ensinar Artes com atividades múltiplas, envolvendo exercícios musicais, plásticos, corporais, sem conhecê-los bem, que eram justificados e divididos apenas pelas faixas etárias.

Foi em 1988, com o advento da Constituição, que se tomou força a discussão para uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Promulgada em 1996, a nova LDB, considera o ensino das Artes como componente curricular obrigatório nos diversos níveis de educação básica para a promoção do desenvolvimento cultural dos alunos.

Da promulgação da LDB e o impacto causado para o ensino de Artes, na década de 90, com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), propõem-se que a disciplina Artes, não mais denominada por Educação Artística, tenha em seus conteúdos próprios uma ligação à cultura, mobilizando novas tendências curriculares, sendo desejável que a escola ofereça ao aluno a oportunidade de vivências com o maior número possível de expressões artísticas. E que isto seja realizado com profundidade.

Ainda nos PCN’s – Arte (1997, p. 86):

O professor deve organizar as aulas numa sequência, oferecendo estímulos por meio de jogos preparatórios, com intuito de desenvolver habilidades necessárias para o teatro, como atenção, observação, concentração e preparar temas que instiguem a criação do aluno em vista de um progresso na aquisição e domínio da linguagem teatral.

Os próprios PCN’s (1997), ao comentar sobre a obrigatoriedade do ensino de Artes, abordam a falta de habilitação dos docentes, bem como a falta de preparação para o trabalho por não terem domínio de várias linguagens, tais como: as artes plásticas, a educação musical e as artes cênicas.

No que se refere às artes cênicas, é importante ressaltar que o professor esteja consciente do teatro como um elemento fundamental na aprendizagem e desenvolvimento da criança e não como mera transmissão de uma técnica. Não se trata de formar atores profissionais.

Muitas das vezes percebemos, nas escolas que trabalham com as artes cênicas, que tais atividades, nas palavras de Chagas (2009), são desenvolvidas meramente como lazer e entretenimento.

Além disto, segundo Ferreira e Falkembach (2012), quando as artes cênicas são desenvolvidas, o “teatrinho” é a forma mais conhecida nos ambientes escolares, onde é o momento em que as crianças, dirigidas ou organizadas pelo docente, apresentam-se em público, como uma forma de reprodução, sem consciência crítica e não produtora de saberes estéticos.

Em Ferreira e Falkembach (2012, p. 17):

Só na prática contínua de jogos teatrais, a abertura ao faz de conta, as dramatizações livres e orientadas e a improvisação teatral sistematizada poderão fazer com que as crianças caminhem para além dos modelos que já conhecem de programas televisivos e dos teatrinhos que já assistiram na escola.

O que se propõe é que, na construção de conhecimentos teatrais, o jogo, o lúdico, as criações individuais e coletivas estejam presentes nos processos de construção desse trabalho, para além de uma simples, mesmo que bem feita, apresentação pública, utilizando-se de todo o espaço possível nas unidades escolares, como afirma Ferreira e Falkembach (2012 p. 10-16):

É fundamental a presença do teatro na sala de aula, no pátio, na biblioteca, no auditório, no refeitório das escolas deste país, mas de maneira a permitir que as crianças possam se tornar agentes na construção de conhecimentos teatrais, na experimentação dos diversos elementos componentes do teatro.

O teatro permite que o professor perceba traços de personalidade, comportamentos individuais ou em grupos, bem como seu desenvolvimento, a partir da realização de cenas dramáticas, trabalhando o faz de conta, a imaginação e a interpretação.

Com referência aos jogos de faz de conta, segundo Chagas (2009, p. 44):

Em brincadeiras dessa natureza, as crianças têm a possibilidade de expressar- se com a voz e o corpo, incorporando emoções e sentimentos a essas manifestações. Nas atividades de faz-de-conta, as crianças assumem papéis, incorporam personagens e interagem em uma dinâmica de comunicação e improvisação.

Ao vivenciar esses jogos, é possível perceber o potencial das crianças para a dramatização. E, quanto mais e melhor isto for desenvolvido, é muito provável que os alunos adquiram progressivamente a linguagem dramática e adquiram gosto pelo contato com diversos estilos.

Desta feita, toda a “escola pode se transformar em um espaço de jogo, em um espaço-tempo de criação teatral, onde a imaginação, o corpo e a ação dos alunos estejam integrados na construção de novos saberes e competências expressivas” (FERREIRA;

FALKEMBACH, 2012, p. 11).

Devendo reconhecer e valorizar a manifestação artística da criação como algo espontâneo e de autoexpressão, na afirmativa dos PCN’s (1997), é imprescindível que o docente conheça todas as etapas a serem desenvolvidas com referência à linguagem dramática do aluno, relacionada ao desenvolvimento de sua cognitividade.

Através da ludicidade e com estímulo à criatividade, os alunos das primeiras séries se tornam capazes de tomar consciência das suas possibilidades como atores. Em contato com a atividade artística, ao chegarem ao fim das séries iniciais, os alunos estarão se expressando melhor oralmente, além de melhorarem suas expressões corporais.

Para Modesto e Rubio (2014), a ludicidade é importante estratégia a ser utilizada para que o docente contribua para a superação das dificuldades de aprendizagem que o aluno possa vir a ter.

Neste momento, ao brincar, de acordo com Ivo (2005), o aluno passa por um processo de descobertas, experimentações, reinvenções, enriquecendo-se, além do que aproxima do mundo do artista, onde através de jogos, brinquedos, teatros, música podemos ensinar, educar as crianças de forma com que elas se interagem com o próximo.

Em cada etapa, o professor pode exercitar e deve avaliar as capacidades cognitivas, sensitivas, afetivas e imaginativas dos alunos. Como desenvolvem a atenção, como se expressam, se possuem concentração, como se articulam nos gestos, se sabem organizarem-se em grupos, como se dá a comunicação e se colaboram entre si, com respeito mútuo.

Dessa forma, a contribuição do teatro no desenvolvimento da criança nas séries iniciais é grandiosa, pois ajuda o aluno no desenvolvimento de suas próprias potencialidades de expressão e de comunicação.

De acordo com Ferreira e Falkembach (2012, p. 15):

Uma das formas mais produtivas de apreensão dos códigos e dos procedimentos, que estão envolvidos na linguagem teatral, é experimentá-los na prática. Não há manuais escritos que ensinem a ser espectador e muito menos a fazer teatro.

O contato com a linguagem teatral contribui para as crianças perderem continuamente a timidez, a desenvolverem e priorizarem a noção do trabalho em grupo, a se saírem bem em situações onde é exigido o improviso e a se interessarem mais por textos e autores variados. A linguagem lúdica, multifacetada e pouco dependente da escrita é ideal para colocar em cartaz espetáculos sobre a cultura local ou acontecimentos cotidianos. A atividade desenvolve a oralidade, os gestos, a linguagem musical e, principalmente, corporal.

Para Oliveira (2007, p. 234):

A intervenção do professor deve basear-se em uma análise das situações de jogo produzidas pelas crianças, em relação tanto a seu conteúdo (temas, personagens, clima emocional, etc.) como a seus aspectos externos ou formais (normas, uso dos materiais, organização do espaço, modos de desempenhar os papéis como protagonistas ou não, e outros).

Acrescente-se a isso a necessidade de planejar e realizar a ida ao teatro com os alunos, ou trazer peças teatrais para dentro do ambiente escolar, como formas de contato com a expressão artística mais elaborada, relacionando o teatro em sua prática e em sua historicidade com as histórias e práticas das crianças. Sempre respeitando o repertório de conhecimentos e experiências que o aluno já traz consigo previamente, como bem enfatizam Ferreira e Falkembach (2012).

Esta oportunidade de ter contato com atores profissionais de teatro é um momento muito rico, pois os alunos podem tirar dúvidas e oferecer sugestões, expondo

suas curiosidades e trocando experiências. Em Salla (2011), para o desenvolvimento das expressões artísticas, há a necessidade de conhecê-las, a partir do que ele denomina de uma arte da observação.

Sendo assim, o trabalho com as artes cênicas na instituição escolar tem uma importância fundamental para a educação. O aluno aprende a improvisar, desenvolve a socialização, criatividade, coordenação, memorização, oralidade, leitura, pesquisa, expressão corporal, confecção de figurino e montagem de cenário, trabalha o emocional, cidadania, fábulas etc., tomando como fundamento, de acordo com os PCN’s (1997), a experiência viva e vivida em sua totalidade, viabilizada pelo acesso à literatura especializada e as atividades teatrais que ocorram na comunidade.

Enfatizando mais sobre a importância do teatro no desenvolvimento da aprendizagem, Lima (2011) afirma que as artes cênicas contribuem para que o aluno, através da comunicação, favoreça o processo de produção coletiva do saber cultural.

É inegável que uma apresentação de uma peça de teatro, tanto produzida pelos próprios alunos, quanto apresentada por profissionais, pode despertar o interesse pelo hábito da leitura com a aproximação às histórias e contos, representados no teatro.

Muito embora saibamos que não há tantas casas de espetáculos teatrais para acesso dos alunos, isto não pode se tornar um impeditivo para que a escola, através de seus professores, procure os grupos teatrais existentes e organizem visitações em seus locais e trabalhos na própria escola. Vale lembrar que o circo também contribui para este contato com as artes cênicas.

Percebe-se que os alunos atualmente dão extrema importância ao ambiente virtual. O que, em certa medida pode ser mais um obstáculo para o contato com as peças teatrais de forma concreta e presencial. Contudo, o professor pode se utilizar deste meio para iniciar um processo de hábito com a linguagem teatral.

“A boa visita online é, definitivamente, mais que um simples passeio com mouse em mãos”. (ALMEIDA, 2011, p. 69). Certo é o professor estimular oportunidades de interação entre os alunos e as peças teatrais, com exploração de ferramentas disponíveis na escola ou até mesmo em casa, ou seja, o uso do computador, isto se trata de uma vivência diferente a ser trabalhada.

Vale lembrar que, em muitas das famílias, não há referenciais para que o aluno tenha o gosto pelo teatro. E isto é outro obstáculo a se transpor. E como já dito, a facilidade de acesso ao universo digital está apresentando para as crianças as mesmas informações que os adultos têm acesso.

Em Ferreira e Falkembach (2012, p. 18):

As crianças compartilham, hoje, de praticamente todas as informações e conteúdos do dito “mundo adulto”, o que compreende as questões que envolvem a violência, a sexualidade, o preconceito, a criminalidade, a política, a realidade social, o conhecimento científico, enfim, aquilo que deveria estar apartado delas segundo uma concepção moderna de infância.

Para Camilo (2015), ao estimular as potencialidades criativas de uma criança, estamos fazendo com que ela se desenvolva como sujeito e como cidadã, pois a produção artística amplia a capacidade do aluno em perceber o mundo, se perceber no mundo e emitir críticas, juízos e opiniões.

Assim, no que se refere à cultura afro-brasileira, a Lei Federal nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, incluiu no currículo oficial a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", cujo conteúdo programático deve abordar o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o

negro na formação da sociedade nacional, com o objetivo de resgatar a sua contribuição histórica nas áreas social, econômica e política.

Tais conteúdos, de acordo com a supracitada lei, deverão ser ministrados em todo o currículo escolar, enfatizado nas áreas de Artes, Literatura e História Brasileiras.

No que tange às Artes, Rodrigues (2012) afirma que, mesmo com a obrigatoriedade legal, os trabalhos sobre africanidade desenvolvidos na escola brasileira ainda são muito tímidos, além do que, a produção dos artistas afro-brasileiros é pouco valorizada pelos docentes.

De acordo com Rodrigues (2012, p. 35):

As imagens que chegam à escola sobre o negro, publicadas no livro didático ou trazidas pelos professores, ainda são aquelas em que artistas clássicos e modernos resumem a figura do negro a um ser exótico, além daquelas que retratam uma situação estigmatizada advinda da escravidão.

Decorridos quase uma década da promulgação da lei, e independente de sua própria existência, é preciso compreender a importância de uma prática pedagógica que desfaça estereótipos e crie nos alunos sentimentos de pertencimento e orgulho de nossas origens afrodescendentes. Para Rodrigues (2012) há um desestímulo para os alunos se valorizarem, incorporando um sentimento de inferioridade.

Há professores que desenvolvem o tema, mas muitas vezes, folclorizam e estigmatizam a imagem do negro, pensando ser essa a melhor solução para manter a harmonia em sala de aula e reafirmar que não existe racismo entre seus alunos.

Ainda em Rodrigues (2012, p. 36):

O trabalho com africanidade ainda fica restrito ao interesse específico de alguns profissionais. O fato de terem pouca ou nenhuma referência trazida pela escola ajuda explicar o porquê de algumas crianças e adolescentes negros terem dificuldades em assimilar valores culturais de origem africana.

O professor deve enxergar a produção artística afro-brasileira como uma ferramenta de valorização e apreciação significativa de nossa cultura. Em suas aulas, as potencialidades perceptivas, geram para o aluno motivações no sentido de imaginar, refletir e transformar conceitos ultrapassados promovidos por uma prática.

Assim, na mesma linha em que este texto propõe promover a ida a uma peça de teatro que valoriza a cultura e a história do afrodescendente, estimula a transformação destes conceitos estereotipados para uma visão e prática adequadas à importância do negro para a formação cultural brasileira.

Com isto, melhorando o aprendizado e enriquecendo os conhecimentos dos alunos, uma vez que “as aulas de arte podem ampliar o universo cultural dos alunos, reforçando uma imagética que privilegie as diversas matrizes culturais do nosso País”

(RODRIGUES, 2012, p. 36).

O professor também pode construir projetos que tenham como foco a temática

“História e Cultura Afro-Brasileira”, criando aulas significativas, já que, “durante o desenvolvimento do projeto, habilidades/competências linguísticas e artísticas deverão ser consideradas, assim como relações com a sociedade, as culturas e a história, entre outros” (HERNÁNDEZ, 2007 apud FERREIRA; FALKEMBACH, 2012, p. 47).

Partindo das artes cênicas, o professor pode desenvolver projetos incluindo a cultura afro para serem aplicados com seus alunos. Como por exemplo, usando dos computadores, através dos quais os alunos podem apreciar imagens, histórias e datas sobre a cultura afra para ter mais conhecimento sobre a origem negra.

Dando continuidade ao projeto, os alunos também podem assistir peças de teatro online. Em seguida, o professor pode discutir em sala, reunindo as crianças para conversar sobre o que aprenderam o que mais chamou a atenção, realizando um debate entre eles. Assim, a partir das respostas, as crianças são capazes de formularem perguntas sobre o que gostariam de fazer, saber e aprender sobre o teatro.

Outro tipo de projeto que o professor pode trabalhar com seus alunos é a construção de uma apresentação de peça de teatro. Cabe ao professor, pelo seu conhecimento prévio em jogo, leitura de livros e pesquisas, selecionar o tema mais adequado a ser realizado com sua turma, distribuindo as falas de acordo com o jeito de cada aluno. Na sala de aula, providenciar os ensaios com eles, focando na memorização, improvisações, confecção de materiais diversos, movimentos, gestos e falas.

Na etapa final, fazer uma apresentação para os demais alunos da escola, terminar com uma roda da conversa avaliando todos os pontos negativos e positivos da turma, construindo relações com o que já conhecem.

Assim como essas propostas aqui expostas, outras poderão ser criadas, a partir das condições estruturais das unidades escolares, dos níveis de ensino e de outras condicionantes, levando em consideração de que sejam “propostas de atividades diversas na sequência didática, envolvendo foco de cada encontro, a fim de que o objetivo central da sequência e os objetivos específicos possam se trabalhados”

(FERREIRA; FALKEMBACH, 2012, p. 33). Envolvendo as artes cênicas, focando a valorização da história e da cultura afro como importante para a construção da sociedade brasileira.

3 Metodologia

Foi feito um levantamento bibliográfico sobre o tema com foco na proposta de trabalhar o teatro na escola. A pesquisa de campo é qualitativa, descritiva e não experimental baseada na observação em duas escolas, sendo elas da rede estadual de ensino, uma localizada na cidade de Nova Odessa-SP, chamada E.E. Profa. Silvania Aparecida Santos e a outra localizada na cidade de Campinas-SP, chamada E.E. Ary Monteiro Galvão. A pesquisa de campo foi realizada nas séries iniciais do ensino fundamental e com professora especializada em Arte.

Através da participação e observação dentro da sala de aula na disciplina de Artes, foi feita uma coleta de dados por meio de questionário, constituído por questões abertas e fechadas.

4 Resultados e discussões

Como já mencionado, foi aplicado um questionário para coleta de dados, respondido por duas professoras, uma de cada escola onde a pesquisa de campo fora realizada. Seguem as perguntas:

1- Em sua opinião, qual a importância da Arte para a Educação?

2- Para você, os alunos se interessam pelo desenvolvimento de conteúdos de Arte em sala de aula? Por quê?

3- Você desenvolve conteúdos de Arte em sala de aula?

( ) Sim ( ) Não

Se a resposta for afirmativa, de que maneira eles são desenvolvidos?

Se a resposta for negativa, por quê?

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