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III. RESULTADOS E DISCUSSÃO

III.1 Caracterização atual das comunidades do planalto

III.1.2 Caracterização das áreas de pormenor

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A classe do Junco, é muito pouco visível a esta escala de análise, uma vez que ocorre em menor expressão, em Cervunais ou áreas com uma elevada presença de água no solo.

Ocorre essencialmente na Nave de Santo António, no Vale da Candeeira e noutras áreas de turfeiras. Os Fetos, com alguma expressão no terreno, têm origem em dois tipos de comunidades distintas: os que surgem nas áreas recentemente ardidas, como é o caso de algumas vertentes em áreas abaixo da Nave de Santo Antônio em direção ao Vale da Alforfa e na área ardida em 2017 junto ao Sabugueiro; e os que são característicos de locais com boas condições de humidade e relativa frescura, seguindo inclusive os percursos baixos dos vales, em locais mais abrigados e com maior presença de água.

Encontram-se com a mesma cor no mapa uma vez que a distinção espectral entre estas duas comunidades não foi possível. Acima dos 1600m não apresentam uma expressão considerável, encontrando-se apenas localizados de forma esporádica e não concentrada;

a sua maior expressão no terreno localiza-se entre os 1300 e os 1600m (Figura. 43).

89 Covão do Boi

A área cartografada do Covão do Boi (Figura. 48 – Distribuição das comunidades vegetais no Covão do Boi., localizada entre 1850/1870 m, apresenta um bom exemplo da variedade de vegetação existente no andar superior da Serra da Estrela, quer pela existência de espécies dominantes deste andar e resistentes às condições de neve e gelo, como é o caso do Zimbro (Juniperus communis ssp alpina), quer pela presença de espécies que se encontram principalmente nos Cântaros, devido à capacidade destes indivíduos resistirem a condições de secura, insolação e ventos fortes, como é o caso da Caldoneira (Echinospartum ibericum).

Figura. 48 – Distribuição das comunidades vegetais no Covão do Boi. “A” no mapa corresponde à área com caldoneira degradada, retratada na Figura. 35.

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Esta área apresenta também um Cervunal, na superfície aplanada junto das colunas graníticas, formado por comunidades de herbáceas, dominadas por cervum (Nardus stricta), e onde também ocorre a gramínea endémica Festuca henriquesii. Esta superfície apresenta linhas de água permanentes, que são temporariamente alagadas formando cursos de água de maior dimensão. No caso da imagem cartografada, apresentam-se escondidas no Cervunal, e acompanhadas muitas das vezes por matos de Torga e Urze, que se localizam lateralmente às linhas de água. A classe Torga, apresenta uma fraca representação nesta área cingindo-se a alguns locais perto da área mais extensa de Cervunal, intercalada por comunidades de Zimbro e Urze, ao longo dos interstícios das rochas em locais mais abrigados. O Zimbro, característico do andar superior e bem representado nesta área, encontra-se um pouco por todo o território, intercalado na malha entre outras comunidades descritas e nos setores NE e SW da área cartografada em aglomerações mais densas. O Piorno é a espécie que apresenta maior expressão no local.

Os matos que se encontram no Covão do Boi, de uma forma geral, não são contínuos, apresentando espaçamento entre si, numa malha de diferentes espécies, encontrando-se intercaladas por afloramentos rochosos e solo nu (Figura. 49). Onde a densidade destes arbustos é maior, existe uma distribuição muito retalhada de espécies que se misturam no espaço.

Figura. 49 - Mosaico constituído pelas formações de matos presentes no Covão do Boi

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Segundo a cartografia realizada por Soncco (2020) para o mesmo local, é possível observar as áreas de pisoteio no Covão do Boi. De acordo com esta autora o pisoteio ocorre nas partes adjacentes à estrada e perto do monumento da nossa Senhora da Boa Estrela, em vegetação predominantemente herbácea. A presente classificação, complementa o trabalho já existente para esta área realizado por Soncco, ao nível das comunidades existentes neste local. Tendo sido também capaz de encontrar outras áreas com degradação na vegetação, nomeadamente no que toca à Caldoneira (Figura. 50), que se apresenta seca e degradada, principalmente no local correspondente à letra A (Figura.

48), já referido nas metodologias, devido à dificuldade na sua classificação (Figura. 35).

O local onde esta se encontra degradada, corresponde a uma área mais exposta a S/SE, estando sujeita a uma maior exposição solar e consequente secura. Esta degradação não é diretamente de influência antrópica, e não se deve ao pisoteio. Uma análise mais pormenorizada ao comportamento desta espécie neste local teria de ser realizado a fim de perceber quais as condicionantes, ecológicas e climáticas que poderão estar a levar a este acontecimento nesta espécie em específico, face a outras presentes no local.

Figura. 50 - Degradação dos arbustos da comunidade Caldoneira. Fotografia recolhida em campo

92 Nave de Santo António

Figura. 51 – Distribuição das comunidades vegetais na Nave de Santo António.

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A classificação de uma área na Nave de Santo António teve como objetivo a produção de cartografia detalhada das comunidades que se encontram neste local de interesse científico, devido não só à diversidade de comunidades que apresenta, mas também pela sua localização geográfica, abaixo do limite dos 1600m, numa área de transição entre o andar intermédio e o superior, perto do limite superior da floresta. Na parcela cartografada é possível obter uma amostra das diferentes espécies que se encontram na NSA, importa de novo reforçar que constam apenas as espécies que se conseguem observar à escala classificada (7cm), que apresentam uma extensão considerável.

A classe predominante é o Cervunal, que se localiza na área mais plana e baixa da Nave. Dentro dos matos, as Urzes são a comunidade predominante desta área, localizando-se juntamente com os Piornos nos limites da nave e ao longo das vertentes da mesma. Estas apresentam uma grande densidade com pouco espaçamento entre indivíduos e uma relativa mistura espacial, com a comunidade de Piornos, estando também intercalados, nas vertentes a Este, por blocos de acumulação morénica.

A Nave é um dos locais com maior densidade de Torga em todo o planalto da Serra da Estrela. Aqui é possível observar uma extensão considerável desta espécie, ao longo do Cervunal em aglomerações mais ou menos extensas. A classe de Junco está localizada junto das áreas com cursos de água ou pequenos charcos sazonalmente inundados. Devido à elevada resolução utilizada nesta cartografia, é possível, para além da distinção da vegetação muitas das vezes ao nível do indivíduo (caso dos arbustos), a distinção de outras comunidades não consideradas para a classificação do planalto, nomeadamente o caso do Sargaço e do Tojo. Presentes ao longo da área de Cervunal, o Sargaço encontra- se localizado nas áreas mais periféricas deste, numa coroa localizada antes das áreas ocupadas por matos. No caso do Tojo, aparece mais esparso no Cervunal, perto das áreas ocupadas também pela Torga, encontrando-se muitas das vezes, em comunidades misturadas (Figura. 52).

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Figura. 52 - Mistura existente entre a Torga e o Tojo- fotografia de trabalho de campo- Nave de Santo António.

Uma análise comparativa entre as duas áreas retratadas, é capaz de diferenciar de forma clara as comunidades existentes nos dois locais. Por um lado, a Nave é marcada pela forte presença de Torga (Calluna vulgaris), praticamente isolada; por uma maior diversidade nas comunidades existentes sobre o Cervunal; e uma maior densidade nos seus matos envolventes, dominados por Urzes, não possuindo praticamente vestígios de Zimbro. Já o Covão do Boi, é marcado pela presença do Piorno e do Zimbro, com fraca representação de Torga (aqui intercalada com outras espécies) e Urze, sem vestígios consideráveis de Sargaço e Tojo, e apresentando, de forma ainda considerável, apesar da subestimação na sua classificação, a Caldoneira, acompanhando muitas das vezes as restantes áreas de matos, mais esparsos e intercalados por solo nu e blocos de rocha nua.