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Comparação da distribuição da vegetação atual no planalto com a de

III. RESULTADOS E DISCUSSÃO

III.2 Evolução espaciotemporal das comunidades em estudo

III.2.1 Comparação da distribuição da vegetação atual no planalto com a de

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Figura. 52 - Mistura existente entre a Torga e o Tojo- fotografia de trabalho de campo- Nave de Santo António.

Uma análise comparativa entre as duas áreas retratadas, é capaz de diferenciar de forma clara as comunidades existentes nos dois locais. Por um lado, a Nave é marcada pela forte presença de Torga (Calluna vulgaris), praticamente isolada; por uma maior diversidade nas comunidades existentes sobre o Cervunal; e uma maior densidade nos seus matos envolventes, dominados por Urzes, não possuindo praticamente vestígios de Zimbro. Já o Covão do Boi, é marcado pela presença do Piorno e do Zimbro, com fraca representação de Torga (aqui intercalada com outras espécies) e Urze, sem vestígios consideráveis de Sargaço e Tojo, e apresentando, de forma ainda considerável, apesar da subestimação na sua classificação, a Caldoneira, acompanhando muitas das vezes as restantes áreas de matos, mais esparsos e intercalados por solo nu e blocos de rocha nua.

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não existia no mapa de 2020, a classe “Mato Esparso”. Esta surgiu de forma a aglomerar as áreas que possuíam algum tipo de vegetação, nomeadamente matos, mas que se encontravam de uma forma dispersa, intercalados com solo nu ou rocha nua, não permitindo assim a sua individualização em classes distintas. Por esta razão optou-se por considerar apenas uma avaliação e comparação ao nível da ocupação das classes vegetais, em cada uma das cartografias realizadas.

No ano de 1995, aquando da aquisição do ortofotomapa utilizado para a elaboração da presente cartografia, a distribuição das comunidades de vegetação no Planalto da Serra da Estrela era ligeiramente diferente da que apresenta atualmente (Figura. 53). Apesar da distribuição das grandes comunidades ser na sua maioria similar à que é possível observar nos dias de hoje, apresentando-se nos mesmos locais, observam-se pequenas alterações que demonstram mudanças na dinâmica das mesmas ao longo do período de estudo.

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Figura. 53 - Cartografia das comunidades do planalto para o ano de 1995 (e para o ano de 2020)

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Fazendo uma análise ao nível dos grandes grupos de comunidades de vegetação do planalto, e começando com a classe das florestas, é possível observar uma diminuição das mesmas. Já sabido que estas ocorrem no andar intermédio da distribuição altitudinal da serra da estrela (na área apresentada, maioritariamente até aos 1400m) localizam-se essencialmente nas vertentes de vales. Comparativamente com o ano de 1995, existe uma diminuição da área florestada junto ao Sabugueiro que apresentava uma densidade considerável de árvores e que atualmente se encontra apenas com esparsos indivíduos, o que se pode justificar pela ocorrência de incêndios nesta área, nomeadamente o grande incêndio ocorrido em 2017. A classe de “Outras Comunidades” que engloba as áreas colonizadas por fetos, mantem-se sensivelmente nos mesmos locais, excetuando as duas grandes áreas presentes na cartografia (a NW do Vale de Loriga e no Vale da Caniça) que apresentam uma extensa comunidade interpretada como pertencente à classe de fetos.

Apesar de ainda se encontrar classificada na cartografia de 2020 perto dos mesmos locais, não apresenta a mesma dimensão, estando ocupada conjuntamente com matos e por vezes com alguma floresta. De salientar também a classe de Áreas agrícolas, que apesar de fazer parte das componentes antrópicas, apresenta uma mudança importante, pela diminuição neste território, como é possível observar essencialmente, pelas áreas junto ao Sabugueiro.

As comunidades mais importantes para este estudo são os Matos e as Pastagens de Gramíneas, representados fundamentalmente pelos Cervunais. Também nestas classes podemos observar diferenças ao longo dos dois períodos cartografados. Localizando-se de grosso modo nos mesmos locais, e não podendo fazer uma análise mais pormenorizada no que toca aos Matos, devido às diferenças de resolução que levaram à criação de uma nova classe, é possível comparar apenas as áreas com maior densidade desta vegetação.

Destaca-se a diferença existente junto ao Vale do Conde, onde, devido à mais esparsa localização dos arbustos, observa discrepâncias entre as duas classificações. Noutras áreas observa-se o contrário, sendo possível identificar uma concentração mais densa de Matos no planalto, no ano de 1995 que no ano de 2020, nomeadamente nas formações perto da Lagoa Comprida (a SW e SE). Já os Cervunais e pastagens de gramíneas, são provavelmente o resultado mais interessante desta análise, uma vez que demonstram uma diminuição ainda considerável entre os dois períodos de estudo. Estas áreas encontram- se atualmente com maior presença de matos, que invadiram, ao longo deste período, as

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áreas de pastagem, levando a uma diminuição das mesmas, o que poderá estar ligado ao abandono da Serra por parte da pastorícia.

Sanz-Elorza et al. (2003) estudou 34 anos de evolução da vegetação no centro da PI, notando também um aumento arbustivo nas montanhas. Este considera, no entanto, que não se pode atribuir uma causa direta a este acontecimento, podendo ser influenciado por diversos fatores, não só a subida da temperatura do ar, como alterações ao nível do uso do solo e diferenças de resposta das diferentes comunidades existentes. Também Archer et al. (1995), conclui que para os EUA ocidental (estudos no Arizona/Utah/Novo México), tem existido um aumento da área ocupada por arbustos e uma invasão dos mesmos em pastagens, alegando que apesar de poder estar relacionado com muitos outros fatores como os referidos, também o aumento de CO2 poderá ter influenciado este processo. Mais recentemente, García-Ruiz et al. (2021), detetou grandes mudanças no uso do solo na cintura subalpina dos Pirenéus ao longo do século XX, particularmente desde a década de 1960. Revelando um declínio esmagador das pastagens e um aumento das áreas arbustivas e de floresta de pinheiros.

Se analisarmos o número de cabeças de gado (Erro! A origem da referência não foi e ncontrada.) por localização geográfica aos concelhos da qual a área de estudo faz parte (sendo maioritariamente ocupada pelo concelho de Seia, seguido de Manteigas) podemos observar uma diminuição do número efectivo de ovinos, responsáveis pela manutenção das áreas de Cervunais, pela sua alimentação que inclui vegetação arbustiva.

Tabela 8- Número de efetivo Ovino para os concelhos de Gouveia, Seia, Manteigas, Covilhã.

INE, Recenseamento agrícola- séries históricas.

Para tentar aprofundar um pouco mais as descobertas realizadas ao nível do aumento arbustivo na Serra, foi efetuada uma análise de índices de vegetação.

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