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específicos. Entre as opções oferecidas pela empresa ABS, quatro se destacam: 1º) embriões de vacas americanas (de raça holandesa) puras, ou mestiças com gir, em barriga de aluguel, garantida a prenhez da fêmea; 2º) marcação genética de tourinhos candidatos a teste de progênie; 3º) coquetel de fertilidade, com sêmen de vários touros na mesma ampola; e 4º) clonagem de feto ou de adulto. A empresa ABS já fez parceria com a Sete Estrelas Embriões, empresa brasileira de Campo Grande-MS, que deseja utilizar a técnica norte-americana sob o monitoramento e assistência da ABS. A ABS existe desde 1941. (...). Seu programa de clonagem bovina começou em 1987, com uma equipe pequena e um orçamento limitado, conseguindo atingir seu objetivo em 1997, um mês depois da ovelha Dolly, com o nascimento do bezerro ‘Gene’128.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária129 através do desenvolvimento de várias tecnologias usadas no setor reprodutivo, conseguiram em 2001 o nascimento do primeiro clone bovino da América Latina, a bezerra Vitória da Embrapa. No dia 4 de setembro de 2003, nasceu um novo clone bovino, a bezerra "Lenda da Embrapa", sendo que para tal foram utilizadas células ovarianas de uma vaca já morta, o que abre para a ciência um excelente precedente, já que além de possibilitar a recuperação de animais de alto valor produtivo, pode ser usada também para regenerar animais silvestres ameaçados de extinção que, freqüentemente, são vítimas de acidentes, especialmente atropelamentos130.

Após o delinear destas considerações a fim de nortear o panorama histórico, demonstrado está que as pesquisas genéticas voltadas à clonagem de vegetais e animais há muito vêm sendo realizadas.

Desta corrida rumo ao progresso biotecnológico131, cabe questionar se a clonagem humana deve chegar a produzir o primeiro clone humano e, em caso afirmativo, quais os limites éticos e jurídicos que podem conter a aplicação desenfreada deste procedimento no campo da biotecnologia.

Clone é literalmente uma réplica, de genes ou de células, obtida através de uma biotecnologia de reprodução assexuada denominada clonagem, ou seja, indivíduo geneticamente idêntico a outro, produzido por manipulação genética132.

Para Mariana Zatz “Um clone é definido como uma populaç ão de moléculas, células ou organismos que se originaram de uma única célula e que são idênticas à célula original e entre elas”133.

Em linhas gerais, a clonagem é um mecanismo comum de propagação da espécie em plantas ou bactérias. Já em humanos, os clones naturais são os gêmeos idênticos que se originam da divisão de um óvulo fertilizado.

De modo mais específico, é o conceito de clonagem para Roger Abdelmassih:

“clonagem é a repetição exata de um material genético por meio de uma maneira assexual a partir do núcleo de células embrionárias cultivadas e células somáticas diplóides adultas”134. Infere-se, pois, do conceito em epígrafe, que toda vez que um ser é gerado a partir de células ou fragmentos de uma mesma matriz, através de um processo de reprodução assexuada que resulta na obtenção de cópias geneticamente idênticas de um mesmo ser vivo (microrganismo, vegetal ou animal), acontece uma clonagem, como leciona Leandro Siqueira:

Clonagem é o processo de reprodução assexuada que resulta na obtenção de cópias geneticamente idênticas de um mesmo ser vivo - microrganismo, vegetal ou animal.

A clonagem pode ser natural ou induzida artificialmente. Ela é natural em todos os seres originados a partir de reprodução assexuada, ou seja, na qual não há participação de células sexuais, gametas, como é o caso das bactérias e dos seres unicelulares. A clonagem natural também pode ocorrer em mamíferos, como no tatu e, mais raramente, nos gêmeos univitelinos. Nos dois casos, embora haja reprodução sexuada na formação do ovo, os descendentes idênticos têm origem a partir de um processo assexuado de divisão celular. A clonagem induzida artificialmente é uma técnica da engenharia genética aplicada em vegetais e animais, ligada à pesquisa científica. A clonagem induzida em vegetais baseia-se na plantação de brotos e na criação de enxertos, nos quais são implantados brotos de plantas selecionadas em caules de outros vegetais. Esta técnica é utilizada em larga escala em muitas culturas comerciais, com a finalidade de aumentar a produção, melhorar a qualidade e uniformizar a colheita. Por outro lado a clonagem induzida em animais pode usar como matéria-prima células embrionárias ou células somáticas (todas as células do corpo humano com exceção das reprodutivas), que são introduzidas em óvulos anucleados (sem núcleo) artificialmente135.

Registra-se, ademais, que o termo clonagem, atualmente, tem sido aplicado tanto a células quanto a organismos, de modo que um grupo de células-tronco que procedem de uma única célula também recebe esse nome, como ensina Edna Raquel Rodrigues Santos

132 HOGEMANN, Edna Raquel Rodrigues Santos. Conflitos bioéticos: o caso da clonagem humana, p.131.

133 ZATZ, Mayana. Clonagem e células-tronco. Revista Ciência e Cultura-SBPC. Ano 56, n. 3, p. 23, São Paulo, julho/agosto/setembro de 2004.

134 ABDELMASSIH, Roger. Clonagem Reprodutiva e Clonagem Terapêutica: significado clínico e implicações biotecnológicas. Revista do Centro de Estudos Jurídicos (CEJ), n. 16, p. 29-48, Brasília, jan./mar. 2002.

135 SIQUEIRA, Leandro de. A clonagem no mundo de hoje. Revista on-line da Universidade Federal de Viçosa. Disponível em: < http://www.ufv.br/dbg/BIO240/C012.htm>. Acesso em: 27 jun. 2004.

Hogemann “O termo clonagem designa as técnicas de duplicação que tanto podem ser utilizadas em genes, células, tecidos, órgãos e seres vivos” 136.

Por seu turno, cumpre mencionar que o termo clonagem pode ser referido à clonagem de organismos humanos ou a órgãos e tecidos humanos, como afirma Fermin Roland Schramm:

(a) A clonagem de órgãos e tecidos humanos é uma técnica emergente que utiliza células-tronco e que visa, a partir de células saudáveis e a princípio totipotentes, fornecer órgãos e tecidos saudáveis aos doentes. Por ter uma finalidade claramente terapêutica, esta técnica tem uma aceitação mais social crescente, não havendo portanto objeções morais substantivas do ponto de vista da bioética laica, desde que sejam respeitadas as necessárias medida de biossegurança e o princípio da eqüidade.

(b) Já a clonagem de organismos humanos é por enquanto apenas uma possibilidade prometida por especialistas em reprodução humana, apesar de um primeiro bebê clonado (feito a partir da técnica de transferência nuclear) ter sido anunciado por Severino Antinori para dezembro de 2002 durante o 18º Congresso da Sociedade Européia de Reprodução Humana e de Embriologia, ESHRE, e ter sido posteriormente confirmado pelo próprio Antinori e a seita dos realianos, mas não ter sido ainda confirmada nenhuma instância científica internacional reconhecida137.

Em linhas gerais, a clonagem é a cópia ou duplicação de células, a partir de um ser já adulto, em que as cópias possuem todas as características físicas e biológicas de seu doador genético

Cumpre ressaltar ainda, que segundo Edna Raquel dos Santos Hogemann, “a clonagem pode ser feita separando-se as células de um embrião em seu estágio inicial de multiplicação celular, ou pela substituição do núcleo de um óvulo por outro proveniente de uma célula de um indivíduo já existente138.

O processo de clonagem pode ser assim resumido, os cientistas isolam uma célula e retiram dela o seu núcleo, substituindo-o pelo núcleo de uma célula retirada de outro ser e a partir daí acontece a duplicação das células, que através de duplicações sucessivas de duas células de quatro em quatro, de oito em oito, de dezesseis em dezesseis, e assim, sucessivamente, até chegar ao ponto dessas células todas constituírem um ser, como é o caso da ovelha Dolly139.

136 HOGEMANN, Edna Raquel Rodrigues Santos. Conflitos bioéticos: o caso da clonagem humana, p. 131.

137 SCHRAMM, Fermin Roland. A clonagem humana: uma perspectiva promissora? in: GARRAFA, Volnei;

PESSINI, Leo (Orgs). Bioética: poder e injustiça. São Paulo: Loyola, 2002, p. 193.

138 HOGEMANN, Edna Raquel Rodrigues Santos. Conflitos bioéticos: o caso da clonagem humana, p. 131-132.

139 HOGEMANN, Edna Raquel Rodrigues Santos. Conflitos bioéticos: o caso da clonagem humana, p. 131-132.

No documento CLONAGEM HUMANA VERSUS DIGNIDADE HUMANA (páginas 39-42)

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