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METODOLOGIA DA PESQUISA

No documento universidade federal de minas gerais (páginas 110-113)

3. EPISTEMOLOGIAS FEMINISTAS E MÉTODOS

3.4 METODOLOGIA DA PESQUISA

56 Como veremos em nossos dados, posteriormente, o percentual de mulheres que são as relatoras dos acórdãos acompanha o percentual de mulheres desembargadoras no TJMG.

98 A realização da pesquisa se deu, principalmente, a partir da análise de conteúdo dos acórdãos judiciais referentes aos casos de violências contra as mulheres do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, no período temporal de 1998 a 2015. Este recorte temporal se justifica pelo fato de que os processos históricos e contextuais pelos quais a criminalização da violência contra as mulheres percorreu no Brasil, de forma a se tornar uma política pública, são importantes indicativos para entendermos os constrangimentos apresentados que ainda se fazem presentes no Poder Judiciário. Ademais, tentamos, com esse recorte, cobrir o histórico dos julgamentos relacionados a violências contra as mulheres pelo TJMG desde a implementação da Lei 9.099/95, quando enfim, os casos de violência contra as mulheres são contemplados pelo arcabouço jurídico do país, mesmo que de forma não específica57.

A coleta dos acórdãos judiciais referentes à violência contra as mulheres foi realizada no sítio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais58 durante os dias 17, 18, 20 e 21 de dezembro de 2015, e também durante os dias 14 e 15 de janeiro de 201659 (para os acórdãos de 2015).

Optamos por fazer esta coleta inserindo a palavra de busca “violência mulher”. Com essa chave, o sistema do TJMG baixa todos os acórdãos relacionados, como por exemplo, aqueles julgados sobre a Referência Legislativa Lei Maria da Penha. A escolha por esta palavra-chave para a pesquisa se deu pelo fato de estarmos trabalhando com um período pré e pós implementação da Lei Maria da Penha. Portanto, precisávamos de uma busca que fosse capaz de abranger todo o período, de forma semelhante. Identificamos, a partir dos argumentos apresentados nos respectivos acórdãos, quais têm sido os principais dispositivos discursivos acionados pelos desembargadores para se decidirem sobre os casos de violência contra as mulheres em Minas Gerais. O foco foi, portanto, nas decisões de segunda instância proferidas pelos desembargadores das Câmaras Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

A Justiça Estadual está estruturada em dois graus de jurisdição. A primeira instância é composta por juízes de direito – no caso, as varas especializadas de violência doméstica e familiar são esta instância e, quando não há a especializada, os casos adentram nas varas

57 Importante mencionar que 1998 foi o primeiro ano que um recurso relacionado à “violência mulher” foi julgado pelo TJMG.

58 Link para acesso ao sítio da instituição onde as coletas de acórdãos judiciais são realizadas:

http://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/formEspelhoAcordao.do

59 Apesar de estarmos dando continuidade na pesquisa realizada pelo NEPEM, não utilizamos aqui em nossa Dissertação os acórdãos selecionados por ela. Isto pelo fato de nossa palavra-chave ser diferente das usadas anteriormente.

99 comuns. Já a segunda instância, que nos interessa aqui, é constituída por 27 Tribunais de Justiça, cada um em um estado e no Distrito Federal, que possuem a competência para julgar recursos feitos sobre as decisões proferidas pela primeira instância (MATOS et al, 2011, p. 95-96). Os acórdãos judiciais são decisões colegiadas e são redigidos por um relator que irá apreciar a decisão proferida pelos juízes de primeira instância, o recurso trazido pelos recorrentes, como também as contrarrazões ao recurso. Cabe ressaltar que a segunda instância representa o último estágio institucional jurídico onde é possível contestar a apreciação e sentenças proferidas (MATOS et al, 2011, p. 84).

Tendo em vista a grande quantidade de casos em tramitação nas instituições que compõem o sistema de justiça mineiro, optamos por analisar a segunda instância do TJMG, como já informamos. Esta escolha se deve ao fato de que, ao chegar nesta instância, os casos, usualmente, já tramitaram pelas outras instituições – como, por exemplo, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e as varas criminais especializadas de violência contra as mulheres.

Segundo Vargas (2000), há grande quantidade de informações sobre as violências contra as mulheres no Brasil produzidas a partir de documentos elaborados no Sistema de Justiça Criminal, como por exemplo, os boletins de ocorrência. Foi, justamente, a partir do uso destes instrumentos que a situação de violência pôde ser quantificada – ao menos o que chega até as instituições em forma de denúncia –, e que políticas públicas específicas para tratar da violência contra as mulheres fossem elaboradas e implementadas. Além disso, essas informações são valiosas, pois embasam análises robustas sobre a situação de violência – causas, abrangência, características sociais dos envolvidos – que contestam o senso comum que insiste em culpabilizar as mulheres (VARGAS, 2000, p. 182-183).

Os processos penais são importantes e privilegiadas fontes de análise sobre a representação jurídica dos conflitos de gênero. Encontram-se neles todos os procedimentos que foram realizados por escrito: desde a apreensão do fato e sua tradução em fato criminal, passando por seus desdobramentos jurídicos onde há o julgamento de acordo com as leis. Há também a possibilidade de acompanhar todas as intervenções realizadas por agentes jurídicos que compõem o sistema, desde funcionários do cartório até as decisões dadas em casos de apelação aos recursos criminais (IZUMINO, 2004, p. 221). Ao utilizar este material, a pesquisadora se depara com diferentes possibilidades de abordagem do mesmo objeto. Pode-se privilegiar os aspectos formais, enunciados a partir de dados de frequência (a quantidade que

100 adentra no sistema, como e por quem são julgados, referências legislativas acionadas, entre outros), como também análises que se pretendem qualitativas, incorporando depoimentos e também entendimentos extralegais, que permitem à pesquisadora apreender como se cruzam as relações entre as pessoas e as instituições (IZUMINO, 2004, p. 149).

Segundo Izumino (2004), apesar de muitos estudos já terem se debruçado sobre o papel da polícia na apuração das denúncias e instauração de inquéritos referentes às violências contra as mulheres, pouco se sabe ainda sobre o andamento destes casos na esfera judicial, consequentemente,

algumas questões relativas à impunidade, à existência de uma

“vitimologia feminista” e ao uso de argumentos que apelam para a defesa da honra têm recebido respostas nem sempre satisfatórias para a compreensão desse problema (IZUMINO, 2004, p. 147).

Este estudo pretende preencher esta lacuna. A escolha por analisar os acórdãos judiciais sobre a perspectiva de gênero se dá pelo fato de estes serem considerados como a “ponta do iceberg” do mundo jurídico. Se comparados ao volume de processos que adentram na primeira instância da justiça, o número de casos tramitando em segunda instância é relativamente pequeno, mas ainda assim, é um número bem expressivo para análises (COACCI, 2013).

Serão apresentadas agora quais as técnicas de pesquisa que foram utilizadas para a análise dos dados coletados para esta pesquisa bem como técnicas de coletas de dados que servirão como complementares para nossas análises. Cabe reforçar que trabalhamos com os acórdãos judiciais do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e também entrevistas semiestruturadas com os desembargadores.

No documento universidade federal de minas gerais (páginas 110-113)