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O primado da práxis adesão, seguimento e discipulado

No documento A COERENTE PRÁXIS DA FÉ NO MUNDO ATUAL (páginas 50-53)

2.1 Compreendendo a Nova Teologia Política

2.1.3 O primado da práxis adesão, seguimento e discipulado

33 GIBELLINI, 2002, p. 303.

34 METZ, Johann Baptist. Teologia Política. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 1976. p. 64

35 Ibidem, p. 64-65.

36 Ibidem, p. 65.

Ao desenvolver sua teologia, Metz aponta a profunda importância daquilo que ele

Assim, afirma Metz,

A teologia política deve ser explicada e desenvolvida aqui, em continuação crítica são conceitos-guia [...] desta teologia [...]. De maneira correspondente devem ser explicados, primeiramente, o sentido e o alcance do falar

respectivamente do fundamento prático de toda a teologia cristã [...]. Esta teologia fundamental prática deve ser exposta como teologia política do sujeito e comprovada, [...] frente às teologia imediatas do sujeito, como frente à luta universal pelo poder ser sujeito de todos os homens [...]. Deste ponto de partida é deduzida, imediatamente então, a importância do sujeito religioso na luta histórica pelo homem [...], na qual a fé dos cristãos deve ser formulada in nuce de tal forma que experiências sociais de contraste.37

A reflexão proposta pela Teologia deve estar permeada pela mensagem da boa notícia anunciada por Jesus em diálogo com a realidade política que o mundo esteja vivendo. Isso não significa aderir a um projeto político específico.38 Contudo, tal discurso teológico deve repercutir numa prática concreta devolvendo às pessoas, à religião e consequentemente à própria teologia a esperança que lhes pertence.

Para Metz a intenção da Teologia fundamental prática é não permitir uma subordinação a-

-se na própria constituição prática do logos da teologia cristã.39

Teologia fundamental prática dirige-se contra uma subordinação a-dialética da práxis à teoria e à ideia. Ela insiste na força da inteligibilidade da própria no sentido de uma dialética teoria-práxis. Nisto ela f

de que devem ser consideradas como a-críticas e pseudo-teóricas exatamente

crítica hoje vigentes e sumamente influentes fora da teologia [...] mas na constituição fundamental prática do logos da teologia cristã.40

Para o cristianismo, a ideia de Deus é uma ideia prática. E o próprio ato de pensar em Deus leva a uma revisão dos nossos próprios interesses e necessidades.

A ideia cristã de Deus é, em si mesma, uma ideia prática. Deus não pode ser pensado sem que este pensamento irrite e fira os interesses imediatos daquele que o procura pensar. Pensar Deus efetua-se como revisão dos interesses e necessidades imediatos, dirigidos a nós próprios. [...] Esta constituição fundamental prática

37 METZ, 1980, p. 62-64.

38 REBOLO GONZÁLEZ, 2018, p. 98.

39 METZ, 1980, p. 64-66.

40 Ibidem, p. 64-65.

mostra-se, com uma clareza especial, no saber cristológico. [...] Para toda a cristologia vale que Cristo tem de ser pensado sempre de tal modo que ele nunca seja apenas pensado. Toda a cristologia se alimenta, por causa de sua própria verdade, da práxis: da práxis do seguimento. Ela exprime, necessariamente, um saber prático. Neste sentido, toda a cristologia está sob o primado da práxis.41

Junto a isso, a Teologia Política compreende que tal experiência de seguimento leva ao surgimento de um novo sujeito da teologia que ultrapassa a dimensão profissional. Ao compreender a ideia de Deus como uma ideia prática, essa ideia constitui um sujeito, um indivíduo com identidade própria diante do seu Deus, nascendo, consequentemente, uma Teologia Política do Sujeito, conforme citamos anteriormente.42

A particularidade desse aspecto é bastante significativa e audaciosa. Primeiro, por se compreender que não se trata de um sujeito isolado, mas o indivíduo que só pode ser compreendido em sua dimensão comunitária, de povo, superando qualquer tentativa individualista de se fazer uma experiência de fé.

Como recorda o próprio Metz, essa experiência de povo é a essência de toda trajetória bíblica, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Ao se relacionar com Deus, o povo é chamado a ser sujeito num caráter dinâmico frente às maiores ameaças, adquirindo responsabilidade e identidade. Além disso, a ideia bíblico-cristã de Deus por ser essencialmente prática, constitui um sujeito solidário em oposição a uma identidade orientada pelo ter e pelo possuir, possibilitando uma luta por Deus e pelo ser sujeito em liberdade de forma simultânea. Aqui se faz Teologia Política, chamando homens e mulheres a serem agentes de uma nova história.43

[...] eles são chamados no perigo, são chamados a perder o medo: êxodo, conversão, levantar a cabeça, seguimento... [...] A relação para com Deus não se torna expressão de submissão servil e de resignação débil; [...] assim a oração estimula aquele que reza a permanecer sujeito e não afastar para longe de si a sua responsabilidade diante da própria culpa; força-o a tornar-se sujeito frente aos seus inimigos e no meio do medo perder o seu nome, a sua face, de perder a si mesmo.44

Para enfatizar o que foi abordado, vale lembrar o que é afirmado por Merio Scattola em sua reflexão sobre a história da Teologia Política, citando o pensamento de Metz.

Scattola45 recorda que diante de todas as tendências de cunho existencialista, personalista, transcendental a religião se transformou numa prática privatista no intuito de reagir à crítica da razão iluminista. Por isso, a

41 METZ, 1980, p. 65-66.

42 Ibidem, p. 78.

43 Ibidem, p. 79-80.

44 Ibidem, 1980, p. 79.

45 SCATTOLA, 2009, p. 234-236.

busca ser um corretivo perante essa realidade, possibilitando ao cristão o enfrentamento do nexo entre fé e mundo. De forma que essa teologia seja um aspecto fundamental na construção da consciência teológica crítica em geral.

[...] a teologia política é uma categoria teológica e não política e que o seu conceito fundamental é o da memória do sacrifício do Cristo. A paixão do Filho, de fato, libertou o homem do pecado, suspendeu a história terrena e, na expectativa do advento do reino de Deus, confiou o mundo ao homem. Semelhante tarefa não pode, todavia, ser entendida como direito absoluto de disposição, mas como responsabilidade do homem para com a criação [...]. Como a recordação de Cristo se dá como comunicação no espaço público, a responsabilidade cabe em primeiro lugar à Igreja, que exerce a sua função como memória constante da liberdade [...].46

Ainda com base no pensamento de Scattola47, é possível afirmar que a Teologia Política, conforme aqui é dissertada, consiste na presença simultânea da escatologia e da -se no tema central da liberdade cristã, como a teologia da libertação, revolução, negra, feminista, da paz podem ser consideradas formas de Teologia Política.

teologia que seja a resposta adequada a um mundo que não pode mais aceitar tal diminuição

48

Tal Teologia Política aqui discutida, que se propõe a ser uma teologia crítica da sociedade, deve possibilitar à Igreja uma discussão mais ampla da história da humanidade e na busca desse diálogo não cair em situações de extremismos ou de uma concepção política equivocada e estrita.

[...] a teologia política [...] é chamada a descobrir um traço absolutamente fundamental da própria consciência teológica. [...] para prevenir possíveis temores dos sistemas políticos, como uma crítica libertadora, que a história em sua totalidade está sob a reserva escatológica de Deus. Ela precisa fazer valer que a história em sua totalidade jamais poderá ser um conceito político no sentido mais restrito do termo, e que, portanto, a história em seu conjunto nunca poderá tornar-se conteúdo de uma particular ação política [...]. 49

No documento A COERENTE PRÁXIS DA FÉ NO MUNDO ATUAL (páginas 50-53)