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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA MALÁRIA EM CRUZEIRO DO SUL, ACRE

No documento Ciências Ambientais na Amazônia (páginas 196-200)

Mirla Jéssica Sampaio de Oliveira1, Marliton Vinicius Pedrosa Evangelista2, Leandra Bordignon2 e Rodrigo Medeiros de Souza1,2

1. Universidade Federal do Acre (UFAC), Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Câmpus Floresta, Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil;

2. Universidade Federal do Acre (UFAC), Centro Multidisciplinar, Câmpus Floresta, Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil.

RESUMO

A malária é uma doença parasitária com grande impacto na saúde pública. Ela persiste entre as principais endemias brasileiras, apesar de todos os esforços governamentais e progressos obtidos no combate à malária. Este trabalho objetivou analisar a tendência temporal da malária na última década e descrever as características socioepidemiológicas para o município de Cruzeiro do Sul, Acre. Para tanto, se desenvolveu um estudo de abordagem epidemiológica e descritiva sobre a malária autóctone do município de Cruzeiro do Sul entre os anos de 2011 e 2020. Neste período, foram notificados 141.249 casos de malária autóctone. A maior proporção acometeu homens, pardos da faixa etária economicamente ativa. Observou-se um perfil heterogêneo da incidência relativamente alto entre os meses de outubro e março, indicando uma sazonalidade na distribuição dos casos, provavelmente associadas ao período de chuva. A incidência parasitária anual sofreu uma redução ao longo de todo o período (VPAM: -11,3; IC 95%: -21,9, 0,6, p=0,061) e mais acentuadamente e significativa nos últimos quatro anos (VPA: -34,8; IC 95%: -56,8, -1,7, p=0,044). Embora o P. vivax tenha sido sempre mais prevalente, a malária causada por P.

falciparum apresentou um incremento proporcional. Cruzeiro do Sul permaneceu classificado como área de alto risco para malária em 2020, sendo a zona rural mais afetada. Desta forma, compreender e acompanhar as modificações das características sociais, econômicas e ambientais podem impactar positivamente a implementação de ações voltadas para o controle e a prevenção da doença permitindo a otimização dos processos já estabelecidos para o combate da doença.

Palavras-chave: Malária, Epidemiologia e Incidência.

ABSTRACT

Malaria is a parasitic disease with a major impact on public health. It persists among the main Brazilian endemics, despite all the government efforts and progress made in the fight against malaria. This study aimed to analyze the temporal trend of malaria in the last decade and describe the socio and epidemiological characteristics for the municipality of Cruzeiro do Sul,

Acre. An epidemiological and descriptive study was developed on autochthonous malaria in the municipality of Cruzeiro do Sul between 2011 and 2020. During this period, 141,249 cases of autochthonous malaria were reported. The largest proportion affected men, pardos of the economically active age group. A relatively high heterogeneous profile of incidence was observed between the months of october and march, indicating a seasonality in the distribution of cases, probably associated with the rainy season. The annual parasite incidence decreased throughout the period (VPAM: -11.3; 95% CI: -21.9, 0.6, p=0.061) and more markedly and significantly in the last four years (APV: -34.8; 95% CI: -56.8, -1.7, p=0.044). Although P. vivax has always been more prevalent, malaria caused by P.

falciparum showed a proportional increase. Cruzeiro do Sul remained classified as a high risk area for malaria in 2020, being the most affected rural area. In this way, understanding and monitoring the changes in social, economic and environmental characteristics can positively impact the implementation of actions aimed at controlling and preventing the disease, allowing the optimization of the processes already established to combat the disease.

Keywords: Malaria, Epidemiology and Incidence.

1. INTRODUÇÃO

A malária é uma doença parasitária com grande impacto na saúde pública e no desenvolvimento das populações dos países tropicais e subtropicais do planeta. Estima-se que a incidência mundial, em 2020, foi de 241 milhões de casos, com aproximadamente 627 mil óbitos relacionados a este agravo. Ressalta-se a importância do continente africano neste cenário epidemiológico com 95% dos casos, além de 80% de todas as mortes desta região ocorrerem em crianças menores de 5 anos (WHO, 2021).

Esta doença persiste entre as principais endemias brasileiras, apesar de todos os esforços governamentais e progressos obtidos no combate à malária. Atualmente, o Brasil permanece responsável por 26% dos casos advindos da América do Sul com 99% oriundos da Amazônia Legal brasileira. Nesta mesma região, registrou-se um aumento de 31% no número de óbitos e de 41,6% na letalidade (BRASIL, 2021a).

Mesmo o Brasil atingindo uma das Metas do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) que foi a de redução total dos casos em 75% entre 2000 e 2015, alguns locais da Amazônia ainda apresentam um significativo impacto desta doença sobre a população, como é o caso do município de Cruzeiro do Sul, no estado do Acre, que foi responsável por 5% dos casos de malária no Brasil em 2020 (BRASIL, 2021b).

A eliminação da malária encontra seus principais desafios na alta prevalência de casos assintomáticos e infecções submicroscópicas, a necessidade de melhores estratégias para o controle do vetor anofelino, na falta de hipnozoiticidas seguros para evitar a recaída

por Plasmodium vivax, na mobilidade humana e na necessidade de uma vigilância eficaz com ferramentas para identificar os focos de infecção principalmente em áreas de baixa transmissão (FERREIRA; CASTRO, 2016). Além disso, os efeitos das mudanças climáticas e ambientais poderão contribuir para um incremento da taxa de transmissão, influenciando negativamente os resultados esperados dos programas de controle (ERMERT; FINK;

PAETH, 2013).

A malária ainda se apresenta como um importante indicador de saúde e, juntamente com os determinantes sociais, econômicos e ambientais associados, pode trazer informações relevantes para contribuir para o sucesso das medidas que visam a diminuição da transmissão da malária em regiões de alto risco. Sendo assim, uma análise da tendência temporal da malária na última década e a descrição das características socioepidemiológicas foram exploradas para o município de Cruzeiro do Sul, Acre no presente trabalho.

2. MÉTODOS

2.1. TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo de abordagem epidemiológica e descritiva sobre a malária autóctone do município de Cruzeiro do Sul.

2.2. ÁREA E POPULAÇÃO DE ESTUDO

Na região mais ocidental do Brasil localiza-se o estado do Acre, representando 3,1%

da Amazônia legal. O mesmo é formado por 22 municípios, e dentre eles se destaca Cruzeiro do Sul como sendo a segunda cidade mais populosa. Com aproximadamente 89.760 habitantes, sua população é predominantemente urbana, contando com aproximadamente 30% de pessoas domiciliadas na zona rural, segundo estimativas (IBGE, 2022). O município possui uma área equivalente a 7.781,5 km², desenvolvido as margens do Rio Juruá. Seu clima é o equatorial úmido, com temperatura média anual de 26 ºC e índice pluviométrico elevado no período de novembro a abril (ACRE, 2017).

Fez parte deste estudo, todos os indivíduos residentes em Cruzeiro do Sul (Acre) e que indicaram como local provável de infecção alguma região do território deste município

no processo de notificação para o Sistema de Vigilância Epidemiológica em Malária (SIVEP- Malária).

2.3. FONTE, PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

A base de dados original proveniente do SIVEP-Malária, em extensão DBF, foi obtida junto ao Ministério da Saúde para o período de 1º de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2020. A mesma não apresentava nenhum dado que possibilitasse a identificação do usuário do sistema de saúde.

Os dados foram então transferidos para o Software Stata 14 (StataCorp, EUA) onde foram inicialmente analisados quanto a consistência, completude e necessidade. Após esta organização, as variáveis de interesse puderam ser analisadas de acordo com as suas características.

Posteriormente, utilizou-se para as análises das séries temporais o número absoluto de casos para evitar a flutuação aleatória do indicador visando avaliar o comportamento do número de casos no município através do software EPIPOI desenvolvido em MATLAB (The MathWorks Inc., EUA). Outras análises e apresentações gráficas foram possíveis pela utilização de plugins específicos do software QGIS 3.16 (OSGeo, EUA).

Utilizou-se a regressão de joinpoint para identificar alterações significativas na tendência da Incidência Parasitária Anual (IPA) no período estudado. Este método foi desenvolvido para analisar as séries temporais e usa a regressão de joinpoint para ajustar o modelo mais simples que os dados permitem. Utilizando o ano de notificação como variável independente, estimou-se a variação percentual anual (VPA) e a variação percentual anual média (VPAM) a partir de regressão linear do logaritmo natural da IPA. O nível de significância dos testes utilizados foi fixado aceitando um erro tipo 1 de 5% (α = 0,05).

2.4. ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo foi elaborado segundo as normas envolvendo pesquisa em seres humanos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, recebendo parecer favorável em 21 de julho de 2020 (CAAE: 30308120.2.0000.5010) pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Acre. O mesmo foi conduzido obedecendo aos preceitos da Declaração de Helsinque e do Código de Nuremberg, após autorização e cessão dos dados pelo Ministério da Saúde.

No documento Ciências Ambientais na Amazônia (páginas 196-200)