• Nenhum resultado encontrado

CHARACIDAE) EM RIACHOS DE CAMPINARANA EM CRUZEIRO DO SUL - ACRE

3.1. RESULTADOS

Foram analisados 60 estômagos de Hemigrammus sp., sendo 30 na área de floresta e 30 na área de floresta antropizada. No riacho preservado os itens de origem alóctones foram os que prevaleceram na alimentação dos indivíduos e nos ambientes antropizados foram os itens autóctones.

A dieta dessa espécie foi constituída principalmente de restos de peixes, na área antropizada (IRI%=86,3) e insetos como Coleoptera (IRI%=53,6) e Hymenoptera (IRI%=32,3) na área de floresta (Tabela 2).

O consumo elevado de restos de peixes por Hemigrammus sp. nas áreas antropizadas sugere uma dieta restrita a um item autóctone, o que é comprovado pelos baixos valores de amplitude de nicho trófico (Ba= 0,21). A espécie também apresentou uma dieta restrita na área de floresta (Ba= 0,45), consumindo em maior quantidade itens alóctones como Coleoptera e Hymenoptera.

Tabela 2. Valores do Índice de Importância Relativa (% IRI), dos itens alimentares consumidos.

Antropizada Florestada

Vol Fre IRI Vol Freq IRI Origem Itens alimentares

% % % % % %

Autóctone

Zooplâncton 3,4 2,5 0,2 14,5 8,2 8,2

Restos de Peixes 70,4 70 86,4 21,7 2,9 5,3

Larvas de Diptera 0,0 0,0 0,0 3,2 0,6 0,3

Alóctone

Coleoptera 3,0 5,0 0,7 35,2 23,5 53,6

Hymenoptera 23,2 22,5 12,7 23,8 14,1 32,4

Odonata 0,0 0,0 0,0 1,6 0,6 0,2

Houve diferença significativa entre os volumes relativos dos itens consumidos entre as áreas (F= 7.61; P= 0. 000007).

A comparação post-hoc revelou diferença principalmente entre o item restos de peixes (F= 5,63; P= 0. 006) que foi consumido em maior quantidade nas áreas antrópicas e Coleoptera (F= 4,56; P= 0. 007) que foi consumido em maior quantidade nas áreas de floresta (Figura 2).

Figura 2. Média e desvio padrão do volume relativo dos itens alimentares consumidos pela espécie analisada.

3.2. DISCUSSÃO

Estudos relacionados a ecologia trófica na região neotropical ainda são carentes, apesar da grande diversidade de peixes de água doce (POLAZ; RIBEIRO, 2017), sendo a ictiofauna influenciada por variações ambientais como a retirada vegetação ripária, agricultura e pastagem (WOLFF; CARNIATTO; HAHN, 2013; DA SILVA GONÇALVES; DE SOUZA BRAGA; CASATTI, 2018).

Na área com a floresta ripária preservada os itens alóctones constituíram a maior parte do alimento consumido pelos peixes coletados, tendo como principal fonte de alimentos insetos da ordem Hymenoptera e Coleoptera. Esse dado demonstra uma relação entre o uso de alimentos alóctones e a vegetação ripária, tais alimentos têm sido apresentados como os principais componentes da dieta de peixes em riachos cobertos por vegetação florestal (ESTEVES; ARANHA, 1999; LOWE-MCCONNEL, 1999; CARDOSO; COUCEIRO, 2017;

FRAGOSO-MOURA et al., 2017). Visto que esses insetos são itens muito importantes encontrados na dieta de várias espécies que utilizam recursos alóctones (CLARO-JR et. al., 2004; BARRETO; ARANHA, 2006; CARDOSO; COUCEIRO, 2017), assim, a abundância desse tipo de item alimentar, pode estar correlacionada com as alterações que ocorre no meio em que peixe habita, sendo assim, influenciada através de pH, nível da água e a plasticidade alimentar (LIMA; SILVA; VIRGILIO, 2020).

Em relação à alimentação dos peixes coletados nas áreas antropizadas, houve a predominância de alimentos autóctones, especialmente restos de peixes, seguido por zooplâncton. Sugerindo que a retirada da vegetação ripária, influenciou no consumo dos itens alimentares por Hemigrammus sp., assim podemos apoiar a hipótese que esta espécie apresenta um comportamento generalista, comprovando que, a ausência da vegetação ripária pode favorecer as espécies uma maior flexibilidade no uso dos recursos alimentares (BOJSEN, 2005). Riachos desprovidos de vegetação ripária apresentam dominância de espécies com dieta baseada em algas, detritos e insetos aquáticos, enquanto a presença de insetos terrestres é mais comum na dieta de espécies em riachos florestados (FERREIRA et al., 2012).

A alimentação em áreas antropizadas, sem uma vegetação ripária pode também ser prejudicial de certo modo na composição da ictiofauna e na disposição de alimento para os peixes (CASTRO; CASATTI, 1997; OLIVEIRA; BENNEMANN, 2005), assim, o IRI na área antropizada neste estudo, prevaleceu os restos de peixes, não apresentando uma variedade na sua alimentação. Além disso, a amplitude de nicho trófico que foi analisada em

Hemigrammus sp. apresentou uma dieta restrita na área florestada e antropizada. Então, sabe-se que os itens alimentares que são mais consumidos, é conforme a sua preferência, mesmo que o ambiente possa apresentar uma diversidade de alimentos (SILVA et al., 2008;

LIMA; SILVA; VIRGILIO, 2020).

No geral, essa variação na dieta de Hemigrammus sp. relacionada a retirada da vegetação ripária, é esperado para algumas espécies de peixes da ordem Characiformes, pois segundo Trindade et al. (2013), pode haver alteração em seus hábitos alimentares em resposta às mudanças na disponibilidade de itens alimentares.

4. CONCLUSÃO

Pode-se concluir que, a disponibilidade de recursos alimentares provindo da vegetação ripária, é muito importante na alimentação dos espécimes coletados, além de reforçar a ideia da importância da vegetação de entorno sobre a dieta das espécies, sua retirada pode gerar consequências negativas como já observado em algumas pesquisas. O presente estudo também observou, que a espécie estudada sofreu uma adequação alimentar quando sujeita a diferentes ambientes.

5. REFERÊNCIAS

ABILHOA, V.; BRAGA, R. R.; BORNATOWSKI, H.; VITULE, J. R. Fishes of the Atlantic Rain Forest streams: ecological patterns and conservation. In: GRILLO, O. Changing diversity in changing environment. Rijeka: InTech, 2011. 392p.

ARAÚJO-LIMA, C. A. R. M.; AGOSTINHO, A. A. and FABRÉ, N. N. Trophic aspects of fish communities in Brasilian rivers and reservoirs. Rio de Janeiro. Limnology in Brazil. p.105- 136, 1995.

BARRETO, A.P.; ARANHA, J.M.R. Alimentação de quatro espécies de Characiformes de um riacho da Floresta Atlântica, Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Revista Brasileira Zoologia, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, p. 779-788, 2006.

BERG, J. Discussion of methods of investigation the food of fishies with reference to a preliminarystudy of the prey of Gobiusculus flavencens. Marine Biology, v.50, p.263-273, 1979.

BOJSEN, B. H. Diet and condition of three fish species (Characidae) of the Andean foothills in relation to deforestation. Environmental Biology of Fishes, v. 73, p. 61-73, 2005.

BORBA et.al. Dieta de Astyanase Asuncionensis (characiforme characidae) em riachos da bacia do rio Cuiabá Estado do Mato Grosso, Brasil. Acta Scientiarum Biological Sciences, v.30, n.1, p.39-45, 2008.

BUNN, S. E.; DAVIES, P. M.; MOSISCH, T. D. Ecosystem measures of river health and their response to riparian and catchment degradation. Freshwater biology, v.41, n.2, p.333-345, 1999.

CARDOSO, A. C.; COUCEIRO, S. R. M. Insects in the diet of fish from Amazonian streams, in western Pará, Brazil. Marine and Freshwater Research, v.68, n.11, p.2052-2060, 2017.

CENEVIVA-BASTOS, M.; CASATTI, L. Shading effects on community composition and food web structure of a deforested pasture stream: evidences from a field experiment in Brazil.

Limnologica-Ecology and Management of Inland Waters, v. 46, p. 9-21, 2014.

CLARO-JR, L.; FERREIRA, E.; ZUANON, J.; ARAUJO-LIMA, C. O efeito da floresta alagada na alimentação de três espécies de peixes onívoros em lagos de várzea da Amazônia Central, Brasil. Acta Amazonica, v.34, p.133-137, 2004.

DA SILVA GONÇALVES, C; DE SOUZA BRAGA, F. M; CASATTI, L. Trophic structure of coastal freshwater stream fishes from an Atlantic rainforest: evidence of the importance of protected and forest-covered areas to fish diet. Environmental Biology of Fishes, v. 101, n. 6, p. 933–948, 2018

DE CARVALHO, D. R. et al. The trophic structure of fish communities from streams in the Brazilian Cerrado under different land uses: an approach using stable isotopes.

Hydrobiologia, v. 795, n. 1, p. 199–217, 2017.

FERREIRA, A. et al. Riparian coverage affects diets of characids in neotropical streams.

Ecology of Freshwater Fish, v. 21, n. 1, p. 12–22, 2012.

FRAGOSO-MOURA, E. N.; LUIZ, T. F.; COETI, R. Z.; PERET, A. C. Trophic ecology of Hemigrammus marginatus Ellis, 1911 (Characiformes, Characidae) in a conserved tropical stream. Brazilian Journal of Biology, v.77, n.2, p.372-382, 2017.

GAMBAROTTO, B. L. Redes De Interação Trófica De Peixes Em Riachos Expostos A Diferentes Pressões Ambientais. Dissertação (Dissertação em engenharia ambiental) - UTFP, Londrina. p. 60. 2017.

GREGORY, S. V.; SWANSON, F. J.; MCKEE, W. A.; CUMMINS, K. W. An ecosystem perspective of riparian zones: focus on links between land and water. Bioscience, v. 41, p.

540-551, 1991.

HEPP, L.; PASTORE, B. A IMPORTÂNCIA DA VEGETAÇÃO RIPÁRIA PARA O FUNCIONAMENTO DE RIACHOS: EFEITOS DA QUALIDADE QUÍMICA E ORIGEM DAS ESPÉCIES. Vivências, v.17, n.32, 439-455, 2021.

JUNK, W.J.; PIEDADE, M.T.F. The amazon river basin. Pages 63-117 in L.H. Fraser, P.A.

Keddy, editors. The world's largest wetlands: ecology and conservation. Cambridge University Press, Boston. 2005.

KAUSHIK, N. K.; HYNES, H. B. N. The fate of the dead leaves that fall into streams. Asch.

Hydrobiol. Departament of Biology, University of Waterloo, Waterloo, Ontario, Canadá.

1971.

LEITE, M, F. Processos Ecológicos em Zonas Riparias o Efeito da Integridade da Vegetação Riparia sobre as Comunidades Aquáticas em Riacho. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília, 2013.

LIMA, F. S.; SILVA, A.L.C.; VIRGILIO, L.R. Ecologia trófica de Hemigrammus sp. e Hemigrammus neptunus (Characiformes, Characidae) em um riacho no município de Guajará, Amazonas. Brazilian Journal of Ecology, v. 1, n. 1, p. 1-20. 2020.

LOBÓN‐CERVIÁ, J.; MAZZONI, R.; REZENDE, C. F. Effects of riparian forest removal on the trophic dynamics of a Neotropical stream fish assemblage. Journal of Fish Biology, v.89, n.1, 50-64, 2016.

LOWE-McCONNELL, R. H. Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais.

EDUSP, São Paulo, p. 366, 1999.

MEYER, C.; KREFT, H.; GURALNICK, R.; JETZ, W. Global priorities for an effective information basis of biodiversity distributions. Nature Communications, v.6, p.8221, 2015.

MEYER, J. L.; STRAYER, D. L.; WALLACE, J. B.; EGGERT, S. L.; HELFMAN, G. S.;

LEONARD, N. E. The contribution of headwater streams to biodiversity in river networks.

Journal of the American Water Resources Association, v. 43, p. 86-103, 2007.

OLIVEIRA, D. C. D.; BENNEMANN, S. T. Ictiofauna, recursos alimentares e relações com as interferências antrópicas em um riacho urbano no sul do Brasil. Biota Neotropica, v.5, n.1, 95-107, 2005.

OSBORNE, L.L.; KOVACIC, D.A. Riparian vegetated buffer strips in water-quality restoration and stream management. Freshmler Biology, v. 29, n. 2, p. 243-258, 1993.

POLAZ, C. N. M.; RIBEIRO, K. T. Conservação de peixes continentais e manejo de unidades de conservação. Biodiversidade Brasileira - BioBrasil, n. 1, p. 1–3, 2017.

POMPEU, P.S.; GODINHO, H.P. Dieta e estrutura trófica das comunidades de peixes de três lagoas marginais do médio São Francisco. In: GODINHO, H.P.; GODINHO, A.L. (org.).

Águas, peixes e pescadores do São Francisco das Minas Gerais. Belo Horizonte: PUC Minas, p. 183-194, 2003.

PUSEY, B. J.; ARTHINGTON, A. H. Importance of the riparian zone to the conservation and management of freshwater fish: a review. Marine and Freshwater Research, v.54, n.1, p.

1-16, 2003.

SALGADO, A. A. R.; MARENT, B. R.; NASCIMENTO, F. A.; GOMES, A. A. T.; JÚNIOR, S.

S. T. Rearranjos de drenagem na porção setentrional da Bacia Amazônica. Revista Brasileira de Geomorfologia, v.22, n.3, 2021.

SILVA, A. L. C.; VIRGILIO, L. R. The influence of sand extraction on fish assemblages in campinarana streams in Cruzeiro do Sul–AC, Brazil. Biotemas, v.32, n.3, p.73-85, 2019.

SILVA, N. C. S. et al. Resource partitioning and ecomorphological variation in two syntopic species of Lebiasinidae (Characiformes) in an Amazonian stream. Acta Amazonica, v.46, p.25–36, 2016.

TEIXEIRA, J. L. A.; GURGEL, H. C. B. Métodos de análises do conteúdo estomacal em peixes e suas aplicações. Arquivos da Apadec, v.1, p.20-25, 2002.

TRINDADE, M. et al. Variation in the diet of a small characin according to the riparian zone coverage in an Atlantic Forest stream, northeastern Brazil. Acta Limnologica Brasiliensia, v. 25, n. 1, p. 34-41, 2013.

UIEDA, V. S.; MOTTA, R. L. Trophic organization and food web structure of southeastern Brazilian streams: a review. Acta Limnologica Brasiliensia, v.19, n.1, p.15-30, 2007.

VIEIRA, T. S. G.; JUNIOR, E. C.; DE OLIVEIRA, C. L.; DA SILVA, M. G.; YAMAMOTO, K. C.

Composição e diversidade das assembleias de peixes em igarapés na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, Manaus–AM. Brazilian Journal of Development, v.7, n.3, p.30860-30879, 2021.

WINDELL, J. T.; BOWEN, S. H. Methods for study of fish based in analysis of stomach conténs, in: Methods for the assessement of fish production in fresh Waters. Oxford: Black Science. 219-226, 1978.

WOLFF, L. L; CARNIATTO, N; HAHN, N. S. Longitudinal use of feeding resources and distribution of fish trophic guilds in a coastal Atlantic stream, southern Brazil. Neotropical Ichthyology, v. 11, p. 375–386, 2013.

INFLUÊNCIA DA URBANIZAÇÃO NA QUALIDADE HÍDRICA DO

No documento Ciências Ambientais na Amazônia (páginas 70-77)