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OS PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO - Univali

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Academic year: 2023

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PARADIGMA ETIOLÓGICO

Assim, como resultado do trabalho dos teóricos da Criminologia Positivista, estabelece-se e distribui-se a tese com estatuto científico de que o crime é uma qualidade inata de uma determinada minoria da sociedade (minoria patológica), à qual pertencem os sujeitos, considerados anormais e perigosos. e o Estado, através do sistema penal, deve procurar eliminá-los ou neutralizá-los, para que a parte normal e saudável da sociedade (a grande maioria) esteja protegida e em ordem. Embora os respetivos conceitos de homem e de sociedade sejam profundamente diferentes, em ambos os casos encontramo-nos, com exceções, na presença da afirmação de uma ideologia de proteção social, como nó teórico e político fundamental do sistema científico. O crime é expressão de uma atitude interna punível, porque é contrária aos valores e normas, presentes na sociedade antes mesmo de serem sancionados pelo legislador.

Os fenómenos historicamente condicionados do desvio e do controlo penal, antes de serem interpretados segundo o seu conteúdo real, são poststatizados à luz de certas relações socioeconómicas em que se inserem, como elementos de uma concepção genérica e formal de sociedade. Deste ponto de vista, a teoria das subculturas criminosas nega que o crime possa ser considerado uma expressão de uma atitude contrária aos valores e normas sociais gerais, e argumenta que existem valores e normas específicas de diferentes grupos sociais (subcultura) .

PARADIGMA DA REAÇÃO SOCIAL

Revan, 2002. p das ciências sociais para fornecer uma definição que possa servir como eventual suporte para uma teoria crítica do sistema penal;. Não se pode ignorar que parte do sistema penal – mesmo num sentido limitado – são procedimentos contravencionais para controlar sectores marginalizados da população, poderes arbitrários de sanção policial, punições extrajudiciais, execuções extrajudiciais, etc. Os segmentos centrais ou estáveis ​​do sistema penal (polícia, judiciário e executivo) consistem em grupos humanos estratificados, nos quais podem ser distinguidos subgrupos provenientes de diferentes classes e classes sociais.

O sistema penal possui discursos tradicionais (jurídico, criminológico, policial, correcional, judicial e político) que legitimam a finalidade e a função preventiva do sistema penal, ou seja, que o sistema penal teria uma função preventiva especial e geral, ou seja, ressocializar os condenados e dissuadir outras pessoas de cometer qualquer comportamento criminoso. É claro que esta natureza tende a ser mantida através do controle social e de sua parte punitiva, denominada sistema penal. Tal como explorado nos capítulos anteriores, o sistema penal funciona de forma desigual como forma de controlo social.

Isto mostra que as variáveis ​​(posição social, etnia, cor, situação familiar, etc.) que se relacionam com a pessoa do infrator e o estado da vítima, influenciam a seletividade da atuação dos órgãos de justiça criminal. Em outras palavras, a clientela do sistema penal é formada por pessoas pobres, não porque tenham tendência a cometer crimes, mas justamente porque têm maiores chances de serem criminalizadas e rotuladas como criminosas, onde essas chances são distribuídas de forma desigual. Em suma, a prisão representa a ponta do iceberg que é o sistema penal burguês, o momento culminante de um processo seletivo que se inicia antes mesmo da intervenção do sistema penal, com discriminação social e educacional, com a intervenção dos institutos de controle. de menores, assistência social, etc.

Tal seleção operacional do sistema penal reflete a estrutura estratificada da sociedade, baseada na divisão de classes, na qual os interesses dominantes direcionam as ações do Estado, no caso, seus órgãos oficiais (legislativo, executivo e judiciário). O que ocorre, assim, é uma ação do sistema criminal dirigida às classes pobres, sua clientela, condicionada por estereótipos, gerando o conceito generalizado de que o crime pertence a tais classes. Isso mostra que as variáveis ​​(posição social, etnia, cor, situação familiar, etc.) relacionadas à pessoa do agressor e da vítima, são condicionantes e influenciam a seletividade das atividades dos órgãos do sistema penal.

INTERPRETAÇÃO ESTRUTURAL

  • C ONTROLE SOCIAL DIFUSO
    • Religião
    • Mídia
  • C ONTROLE SOCIAL INSTITUCIONALIZADO
    • Sistema escolar
    • Sistema penal

O alcance do controle social é muito amplo e dada a sua configuração multiforme e a imersão do pesquisador nela, nem sempre é claro. Este fenómeno de ocultação do controlo social é mais pronunciado nos países centrais do que nos países periféricos, onde os conflitos são mais manifestos. Isto significa que o controlo social se apresenta como um fenómeno multidimensional, o que impossibilita tentar explicar de forma simplista a estrutura de poder de uma determinada sociedade.

Assim, existem os chamados instrumentos de controle social para regular e limitar as relações interpessoais. Estes – com exceção da lei, que é institucional – são definidos como membros de um controle social disperso. Mesmo que as formas possíveis de controle social sejam punitivas (verdadeiramente punitivas) com um discurso não punitivo (formalmente não punitivo), vale a pena perceber que sempre que o controle social funciona através da institucionalização de pessoas (asilos, asilos, orfanatos), ele revela uma série de possibilidades reais de punição, que precisam ser investigadas.

74 Neste subtítulo serão expostas apenas algumas formas de controle social generalizado e não todas as possíveis que existem na sociedade contemporânea. No mundo ocidental, a ameaça de coerção física no controlo social estava reservada ao Estado, através do sistema penal. Este fato ratificou a importância do papel da mídia e da indústria do entretenimento como instrumentos de formação da opinião pública e de controle social.

81 Por sua homogeneidade e ligação funcional com o sistema penal, o sistema escolar será mencionado neste subtítulo controle social institucionalizado.

A DUPLA SELEÇÃO DO SISTEMA PENAL

  • A CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA
  • A C RIMINALIZAÇÃO SECUNDÁRIA

Quanto à intemperança, que o dogma penal tradicional justifica com o caráter fragmentário do direito penal (a proteção apenas daqueles bens considerados importantes por natureza ou pela adequação técnica de certas questões em relação a outras), este processo de a criminalização primária preserva - seja por inação do legislador ou por tipificação simbólica - os comportamentos desviantes típicos das classes sociais hegemônicas (portadoras do poder econômico e político) ou que sejam funcionais às exigências do processo de acumulação de capital, ainda que sejam mais sério do que o chamado. crimes tradicionais. 92 Vale a pena lembrar que o custo económico do crime de colarinho branco ou empresarial é significativamente mais elevado do que o da delinquência comum e do crime violento. Porque, entre a seleção abstrata, potencial e temporária operada pelo direito penal e a seleção efetiva e final operada pelas instâncias de criminalização secundária, medeia-se um complexo e dinâmico processo de refração.

Estudos sobre os fenómenos da criminalidade do colarinho branco e da taxa de criminalidade negra revelaram a lacuna que existe entre o crime real (comportamento criminalizável que é realmente praticado) e o crime estatístico (oficialmente). Com essas revelações, esses estudos desqualificaram as estatísticas oficiais na quantificação da criminalidade real, mas foram utilizados em estudos sobre o fenômeno da criminalização realizados por órgãos de controle social criminal. Mesmo tratando-se de crimes que chegam ao conhecimento da polícia, não são objetos de acusação, julgamento e condenação, desde a passagem do crime de instituição para instituição (polícia, MP, judiciário, execução penal), figuras negras, isto é, o processo de criminalização em todas as suas fases cria figuras sombrias.

Nesta perspectiva, torna-se claro como o crime estatístico não é de todo um retrato do crime real, mas o resultado de um complexo processo de ruptura, com um profundo fosso entre os dois, não apenas quantitativo, mas também qualitativo. Uma correção fundamental a esta explicação estatística e etiológica do crime é que, além de ser um comportamento majoritário, o crime é onipresente, ou seja, está presente em todos os estratos sociais. Assim, se o comportamento criminoso é generalizado e omnipresente, e a clientela do sistema penal consiste regularmente em pessoas das camadas sociais mais baixas de todo o mundo, isto significa que existe um processo de selecção de pessoas que se qualificam como criminosas. e não, como se pretende, um mero processo de escolha da conduta assim definida.

Desta forma, a minoria criminosa referida na explicação etiológica do crime e na ideologia da defesa social é o resultado de um processo altamente seletivo e desigual de criminalização dos indivíduos dentro do número total daqueles que se envolvem em comportamentos criminosos, o comportamento não ser criminoso em si é uma condição suficiente para este processo.

A PRISÃO: INSTRUMENTO CENTRAL DE CONTROLE SOCIAL

Mesmo quando o preso está exposto ao regime prisional, o preso também sofre um processo de socialização negativo onde: há uma desadaptação às condições necessárias para uma vida em liberdade (diminuição da força de vontade, perda do sentido de autoresponsabilidade de um ponto de vista econômico). visual e social), redução do sentido da realidade no mundo externo e a formação de uma imagem ilusória dele, o distanciamento progressivo dos valores e comportamentos típicos da sociedade externa; e ao mesmo tempo uma internalização de atitudes, modelos de comportamento e valores característicos da comunidade prisional. A hipótese de Foucault, de estender o universo prisional à assistência pré e pós-prisão, de modo que esse universo seja constantemente foco de uma observação cada vez mais científica, que por sua vez se torna um instrumento de controle e observação de toda a sociedade, parece estar em facto muito próximo dessa linha de desenvolvimento que o sistema penal tem tomado na sociedade contemporânea. Desta forma, percebe-se a função da prisão na produção de indivíduos desiguais, pois no momento, através da seleção das áreas mais miseráveis ​​da sociedade, produz um setor de pessoas socialmente marginalizadas destinadas à intervenção estigmatizante do penal estadual. sistema e realizar os processos que, ao nível da interação social e da opinião pública, são ativados pela punição e contribuem para alcançar o seu efeito marginalizador e atomizador.

A prisão passa a fazer parte de um processo que inclui família, escola, assistência social, cultura, trabalho e universidade, pois o tratamento correcional e a assistência pós-penitenciária visam reparar atrasos na socialização que prejudicam os indivíduos marginalizados, ou seja, que são especializados. Embora um dos princípios norteadores da ideologia criminal dominante seja a igualdade das pessoas e dos bens jurídicos protegidos, é manifesta a desigualdade que ocorre no processo de criminalização, onde a definição de comportamentos e pessoas e a imposição de penas operam seletivamente de acordo com a classe e o social. grupos aos quais os indivíduos pertencem. Isto resulta num processo marginalizante de criminalização, que produz e reproduz a desigualdade social, principalmente através dos efeitos criminogénicos da prisão.

Desta forma, tudo é mantido no seu devido lugar, os ricos são imunizados do processo de criminalização e os pobres ficam na prisão. Quanto à primeira hipótese, confirmou-se, uma vez que o sistema penal, na ação legislativa, não defende todos os bens que são considerados essenciais, mas também vários bens que apenas interessam a uma parte da sociedade (classe dominante), é que isto é, uma seleção de bens que serão protegidos de acordo com os interesses das classes dominantes, o que logicamente não direcionará as ações do sistema criminal contra elas, mas sim contra as classes vulneráveis. Quanto à segunda hipótese, também foi confirmada, principalmente devido ao processo de criminalização secundária a que estão sujeitos os indivíduos selecionados pelas instituições oficiais responsáveis ​​pela investigação, acusação e julgamento.

O que faz o indivíduo sofrer o processo de criminalização não é o seu comportamento criminoso, mas sim a classe social a que pertence, ou seja, a clientela do sistema penal é formada por pessoas pobres, não porque tenham propensão a cometer crimes. , mas justamente porque têm maiores chances de serem criminalizados e rotulados como delinquentes, sendo essas chances distribuídas de forma desigual.

Referências

Documentos relacionados

6 em anexo nálise da execução - Gontinua ão • Reunião Técnica do Projeto Qualidade da Água, realizada na PRR 3a Região, no dia 27/01/2016, com os seguintes objetivos: 1