• Nenhum resultado encontrado

Caso fatal de balantidíase intestinal.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Caso fatal de balantidíase intestinal."

Copied!
4
0
0

Texto

(1)

R E L A T O D E C A SO

C A S O F A T A L D E B A L A N T I D Í A S E I N T E S T I N A L

M a r ia d a C o n c e iç ã o P in h e ir o e M a r c u s A u r e lh o d e L im a

C a s o fa t a l d e b a la n t id í a s e e m m u lh e r d e s n u t r id a d e 6 3 a n o s , c r ia d o r a d e p o r c o s , d a z o n a r u r a l d e U b e r a b a . A d o e n ç a e v o l u i u e m o it o d ia s c o m d i s e n t e r i a , n á u s e a e v ô m i t o s , c u lm in a n d o e m ó b it o p o r e n t e r o r r a g i a . A n e c r o p s i a c o n s t a t o u - s e c o l i t e u lc e r a d a c a u s a d a p o r 5 . c o l i , f a c i lm e n t e id e n t if i c a d o a o e x a m e h i s t o l ó g i c o d o i n t e s t i n o g r o s s o .

P a la v r a s - c h a v e s : B a la n t id ía s e . C o lit e . B a l a n t i d i u r n c o l i . S ín d r o m e d is e n t é r ic a . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l

2 4 ( 3 ) : 1 7 3 - 1 7 6 , j u l - s e t , 1 9 9 1

A b alan tid íase-in fecç ão é pouco diagnosticada no B rasil7 14 Em Uberaba não se encontrou um só caso de B a l a n t i d i u r n c o l i em três estudos sistem atizados realizados nas ú ltim a s d é c a d a s1 8 10. A o c o rrê n c ia de balantidíase-doença é ainda mais rara5615.

T e n d o tid o o p o rtu n id a d e de necropsiar um caso fatal de balantidíase, nos pareceu ju stificad a sua publicação.

RELATO DO CASO

M ulher, 63 anos, natural e procedente de zona rural de U beraba, criadora de porcos. A dm itida em 17/8/89 no H ospital Escola da Faculdade de M edicina do Triângulo M ineiro, com história de 8 dias de disenteria, dor abdom inal, vôm itos e perda de peso. Entre os a n t e c e d e n t e s p e s s o a i s m ó r b i d o s ,

destacam-T r a b a l h o do C u r s o de P ó s - G r a d u a ç ã o e m P a to lo g ia H u m a n a da F a c u l d a d e de M e d i c i n a do T r i â n g u l o M i n e i r o e d o D e p a r t a m e n t o d e P a t o l o g i a da U n iv e r s id a d e F e d e r a l do P ará .

E n d e r e ç o p a r a c o r r e s p o n d ê n c i a : D r . M a r c u s A u re lh o de L im a . S e r v iç o de P ato lo g ia C i r ú r g ic a / F M T M , 38025 U b e r a b a , M G .

R e c e b id o p a r a p u b lic a ç ã o em 19/08/91

se: 40 anos de tabagism o, doença pulm onar obstrutiva crônica (DPOC) e doença de Chagas assintom ática. Ao e x a m e f í s i c o , péssimo estado de nutrição, panículo adiposo e subcutâneo escassos, palid ez in ten sa e d esid ra ta ção . E v o l u i u com enterorragia, sinais de choque hipovolêm ico e óbito horas após internação, sem ter havido tempo de se fazer o diagnóstico clínico.

Necropsia

C adáver pesando 3 4 .0 0 0 g ra m a s, m edindo 155cm; péssimo estado de nutrição e panículo adiposo do subcutâneo escasso. Os achados fundam entais foram vistos no i n t e s t i n o g r o s s o . Este, do ceco ao reto, m ostrava úlceras redondas ou ovais com bordas elevad as, regulares ou irregulares, diâm etro variando en tre 0,1 e 3cm , às v ezes su p e rfic ia is , distribuindo a mucosa e subm ucosa, outras vezes profundas, chegando à m uscular. As úlceras que tinham bases recobertas por m ate­ rial fecal e muco ou sangue eram separadas por mucosa norm al ou edem aciada na qual havia pequenas elevações nodulares em “cabeça de alfinete” , com pertuito central, de superfície estreita e base alargada, lem brando frasco ou cantil (Figura 1).

(2)

R e l a t o d e C a s o . P i n h e i r o M C , L i m a M A . C a s o f a t a l d e b a l a n t i d í a s e i n t e s t i n a l . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a

d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 4 : 1 7 3 - 1 7 6 , j u l - s e t , 1 9 9 1

e bases das ú lceras com exsudato

predom inantem ente linfoplasm ocitário. Nas criptas da m ucosa, nas bordas e na base das ú lc e r a s , h a v ia f r e q ü e n te s e s tr u tu r a s a r re d o n d a d a s , c ilia d a s , c o n te n d o um m acronúcleo reniform e e um m icrondcleo,' identificadas como B a l a n t i d i u m c o l i (Figura 3), que mostravam ora evaginação (trofozoíta), ora invaginação ciliar (cisto).

O processo inflam atório lim itav

ao intestino grosso e não se associava a outros p a ra s ita s . O d ia g n ó s tic o fo i de c o l i t e b a l a n t i d i a n a .

DISCUSSÃO

(3)

R e l a t o d e C a s o . P i n h e i r o M C , L i m a M A . C a s o f a t a l d e b a l a n t i d í a s e i n t e s t i n a l . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a

d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 4 : 1 7 3 - 1 7 6 , j u l - s e í , 1 9 9 1

se contam inado pela ingestão acidental de fezes de anim al contam inado.

Os sintomas e sinais que a balantidíase produz, e que a nossa paciente apresentou, são indistingüíveis daqueles produzidos por outras enterocolites parasitárias, muito mais freqüentes em nosso meio, como a amebíase p o r e x e m p lo . Is to , a sso c ia d o a p o u ca freqüência da balantidíase, leva os clínicos a não pensar em etiolog ia balantidiana nas sfndrom es disentéricas (SD).

Do ponto de vista anatom opatológico, a lesão mais im portante apresentada pela doente era uma colite ulcerada que, como se sabe, pode ter etiologia variada” . Entre os a g e n te s c a p a z e s de p r o d u z ir q u a d ro m orfológico sim ilar ao observado no cólon de nossa paciente, ressalta a E . h i s t o l y t i c a . E n tre ta n to , não o b serv am o s nas lesões intestinais, trofozoítas desse parasita mas sim estruturas caracterizadas com B . c o l i , as quais encontravam -se na intim idade do processo inflam atório do cólon.

Ao contrário do que relata a literatura, que refere ser a balantidíase em geral, doença de evolução favorável1J, em nossa paciente a c o lite le v o u ra p id a m e n te ao ó b i t o , dem onstrando a necessidade do diagnóstico clínico, o mais precoce possível. Acresce, ainda, que outros fatores parecem im portantes no desenvolvim ento da balantidíase, dentre os quais o estado de nutrição do hospedeiro2 o qual, na nossa paciente, era precário. O índice de letalidade nos casos agudos não tratados, é de cerca de 2 0 %7 e com antibioticoterapia há casos que evoluem para o óbito48.

O ê x ito le ta l p o d e o c o rre r p o r peritoníte secundária à perfuração do intestino

ou por abscesso ganglionar m esentérico61. Ao choque séptico tem também se atribuído a re sp o n sa b ilid a d e pelo ó b ito 4 s. No caso relatado, a colite balantidiana, através da SD, levou ao choque hipovolêm ico e este à morte,

possibilidade já relatada2.

SUMMARY

A fatal ca se o f a 6 3 -y e a r old pig -ra isin g country w o m a n w ith an e ig h t- d a y c o u r s e o f n a u s e a , v o m itin g .

d y s e n te ry w ith in te stin al b le e d in g the la tte r b e i n g the d i r e c t ca u s e o f d e a th . T h e a u to p s y s h o w e d u lc e r a tiv e co litis due to B . c o l i , w h ic h w a s e a s ily o b s e r v e d on h isto lo g ic a l e x a m i n a tio n o f th e la r g e b o w e l.

K e y -w o rd s: B ala n tid iasis. C o litis. B a la n t i d iu m c o l i . D y s e n te ry .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. A l o n s o M T . I n c i d ê n c i a d e p r o t o z o o s e s e h e l m i n t o s e s i n t e s t i n a i s e m c r i a n ç a s n o T r iâ n g u l o M in e i r o . O H o s p i t a l 2 : 9 3 5 - 9 4 0 , 1 9 6 7 .

2 . A r e á n V M , K o p p i s c h E . B a l a n t i d i a s i s . A r e ­ v i e w a n d r e p o r t o f c a s e s . A m e r ic a n J o u r n a l o f P a t h o lo g y 3 2 : 1 0 8 9 - 1 1 1 5 , 1 9 5 6 .

3 . B ia g i F . U n u s u a l i s o l a t e s fr o m c l i n i c a l m a t e ­ r ia l B a la n ti d iu m c o l i .A n n a ls N e w Y o r k A c a d ­ e m y S c i e n c e s 1 7 4 : 1 0 2 3 - 1 0 2 6 , 1 9 7 0 .

4 . C a s tr o J , V a s q u e z - I g l e s i a s J L , S a r n a l- M o n r e a l F . D y s e n t e r y c a u s e d b y B a l a n t i d i u m c o l i .

R e p o r t o f tw o c a s e s . E n d o s c o p y 1 5 : 2 7 2 - 2 7 4 , 1 9 8 3 .

5 . C a m p o s R , G o m e s E . B a l a n t i d í a s e . I n :

V e r o n e s i R ( e d ) D o e n ç a s I n f e c c i o s a s e P a r a s it á r ia s . 8 a e d i ç ã o . G u a n a b a r a K o o g a n . R io d e J a n e ir o p . 7 9 6 - 7 9 7 , 1 9 9 1 .

6 . C é s p e d e s R , M o r e r a P . B a l a n t i d i a s i s . R e v i s t a d e B i o l o g i a T r o p i c a l 3 : 1 6 1 - 1 7 0 , 1 9 5 5 . 7 . C o u t in h o E . B a l a n t i d i o s e . T r a t a d o d e c l í n i c a

d a s d o e n ç a s i n f e c c i o s a s e p a r a s i t á r ia s . E d ito r a G u a n a b a r a K o o g a n . R io d e J a n e ir o p . 4 0 0 - 4 0 2 , 1 9 5 1 .

8 . C u r r ie A R . H u m a n b a l a n t i d i a s i s : a c a s e r e ­ p o r t. S o u th A f r ic a n J o u r n a l o f S u r g e r y 2 8 : 2 3 -2 5 , 1 9 9 0 .

9 . F a l e i r o S , M e s q u i t a P . P a r a s i t o s e s d o T r i â n g u l o M i n e i r o : U b e r a b a , R e v i s t a B r a s il e ir a d e M e d ic i n a 1 6 : 2 7 0 - 2 7 2 , 1 9 5 9 . 1 0 . F r a n c i s c o n J U , P r a t a A . R e s u l t a d o s

p r e li m i n a r e s s o b r e in q u é r it o c o p r o l ó g i c o e s ­ c o la r e m U b e r a b a . In : R e s u m o s d o X X I V C o n g r e s s o da S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p i c a l , M a n a u s p . 9 9 , 1 9 8 8 .

1 1 . L u s R G , I b a n e z N T , B u s q u e t e s M A V . U m c a s o d e b a l a n t i d i o s i s e s t u d ia d o e n Z a r a g o z a . L a M e d ic i n a T r o p i c a l 4 2 : 9 9 - 1 0 4 , 1 9 6 6 . 1 2 . N e a f i e R G . B a l a n t i d i o s i s . In : B in f o r d C H ,

C o n n o r D H ( e d ) P a t h o l o g y o f t r o p i c a l a n d e x t r a o r d in a r y d i s e a s e s . A r m e d F o r c e s I n s t i ­ tu te o f P a t h o l o g y , W a s h i n g t o n D C p . 3 2 5 - 3 2 7 ,

1 9 7 6 .

(4)

R e l a t o d e C a s o . P i n h e i r o M C , L i m a M A . C a s o f a t a l d e b a l a n t i d í a s e i n t e s t i n a l . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a

d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 4 : 1 7 3 - 1 7 6 , j u l - s e t , 1 9 9 1

1 3 . R a s o P , B r a s i l e i r o F i l h o G . E s ô f a g o . E s t ô m a g o . I n t e s t i n o . P e r i t ô n i o . M e s e n t é r i o . R e t r o p e r i t ô n i o . In : L o p e s E , C h a p a d e ir o E ,

R a s o P , T a f u r i W L ( e d ) , B o g l i o l o P a t o l o g i a , 4 a . e d i ç ã o , E d it o r a G u a n a b a r a K o o g a n , R io d e J a n e ir o p . 5 1 7 - 5 2 9 , 1 9 8 7 .

1 4 V a lla d a E P . B a l a n t i d i u m c o l ie m I t a p c t in i n g a .

C o m u n ic a ç ã o d e 1 2 c a s o s . O H o s p i t a l 7 2 : 8 2 1 -8 2 4 , 1 9 6 7 .

15 W oody NC, W oody HB. B alantidiasis in infancy. The Journal o f Pediatrics 56:485- 489, 1960.

Referências

Documentos relacionados

Os dados descritos no presente estudo relacionados aos haplótipos ligados ao grupo de genes da globina β S demonstraram freqüência elevada do genótipo CAR/Ben, seguida

propriedade do capital, tomando o capitalista não mais necessário ao processo de produção, mas este ainda é necessário à relação social capitalista de

Prato: BIFE DE PERÚ COM MOLHO DE COGUMELOS E ARROZ PRIMAVERA Prato: PEIXE COZIDO COM BATATA E LEGUMES. Dieta: BIFE DE PERÚ GRELHADO COM ARROZ Sandes: SANDES

 A alimentação na idade adulta deve ser adequada e saudável, assim como nas fases anteriores, de forma a promover a saúde, evitar ou retardar o aparecimento de

Reduz alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados incidente sobre os equipamentos que consomem menos energ ia.. CÂMARA DOS DEPUTADOS.. PROJETO DE LEI N° 4. RUBENS

Jayme Leão, 63 anos, nasceu em Recife, mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança e, passados vinte e cinco anos, chegou a São Paulo, onde permanece até hoje.. Não

ÉÃÊ Ë;Ì%ÍÏÎÐÑ4ÒÏÓÔ ÕÏÖ.×Ø%ÙoÚÛ ÜÝÞ... ÇÈÉUÊËÌ ÍÎ

Di ga: Para um cálculo mais fácil, você pode usar figuras como círculos para representar dezenas e traços para representar unidades....