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Antropologia semítica: uma análise exegética da perícope de DT. 6,1-9, com aproximação ao vocábulo LEV coração

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(1)

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

ANTROPOLOGIA SEMÍTICA. UMA ANÁLISE

EXEGÉTICA DA PERÍCOPE DE DT 6,1-9, COM

APROXIMAÇÃO AO VOCÁBULO

LEV

.

Por

Rogério de Fábris

Orientador

Prof. Dr. José Ademar Kaefer

Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião para a obtenção do grau de mestre.

(2)

FICHA CATALOGRÁFICA

F84a Fabris, Rógerio de

Antropologia semítica : uma análise exegética da perícope de Dt. 6,

1-9, com aproximação ao vocábulo lev / Rógerio de Fabris. São Bernardo

do Campo, 2014. 232fls.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Metodista de São Paulo,

Faculdade de Humanidades e Direito, curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião.

Orientação: José Ademar Kaefer

1. Bíblia hebraica 2. Antropologia cristã I. Título

(3)

Exegética da Perícope de Dt 6,1-9, com aproximação ao vocábulo

lev

”,

elaborada por Rogério de Fábris, foi apresentada e aprovada em 25 de Março

de 2014, perante banca examinadora composta por Dr. José Ademar Kaefer

(Presidente/UMESP), Dr. Tércio Machado Siqueira (Titular/UMESP) e

Antônio Carlos Frizzo (Titular/ITESP).

__________________________________________ Prof. Dr. José Ademar Kaefer

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião

Área de Concentração: Linguagens da Religião

(4)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus e ao nosso Senhor Jesus Cristo pela saúde, disposição, e pela vida que prossegue.

Agradeço aos meus familiares pelo apoio e compreensão. Ao meu pai, Carlos Alberto de Fábris e minha mãe Marly Mendes de Fábris.

Ao meu primeiro orientador, falecido, Dr. Milton Schwantes, ao meu segundo orientador Dr. Cláudio de Oliveira Ribeiro, e ao atual orientador Dr. José Ademar Kaefer.

Ao professor Dr. Tércio Machado Siqueira, Dr. Paulo Roberto Garcia, Dr. Rui de Souza Jozgrilberg, e à todos que apoiaram o meu ingresso. Agradeço à Sirley Antoni, à senhora Ana Fonseca e Dr. Jung Mo Sung. Ao Dr. Rainer Kessler (Philipps-Universität Marburg).

Aos amigos que contribuíram de alguma forma, seja através de diálogos, sugestões, e debates dialéticos a respeito do tema, dentre eles: Thiago de Menezes Machado, Fernando Marques,

Marlene Duarte, Jorge Steban “Bolívia”, Vitor Chaves, Helder Kanaschiro, Eufrásio Torquato de Araújo Junior, e à todos os amigos discentes que de forma direta ou indireta contribuíram para a pesquisa. Ao amigo Sérgio Claudio Rocha Duarte, à turma de 2011 do período de graduação em teologia, pelo apoio, pois sem o mesmo não teríamos ingressado no programa de Pós-Graduação.

(5)

“coração”. São Ber

Metodista de São Paulo, 2014 (Dissertação de Mestrado). 232 fo.

RESUMO

A presente pesquisa tem como objeto de investigação o vocábulo lev na perícope de Dt 6,1-9. Este vocábulo também é utilizado em várias partes do Antigo Testamento. Assim a pesquisa também faz um levantamento deste uso na perspectiva de diversos autores. No primeiro capítulo se apresentam os blocos que constituem a moldura do livro do Deuteronômio com o objetivo de identificarmos o contexto maior onde encontra-se a perícope de Dt 6,1-9. No segundo capítulo partimos de uma análise exegética da perícope ressaltando os vários aspectos da linguagem, como estilo literário, gênero literário, e análise de conteúdo. Nesta parte também consta uma análise das realidades concretas subjacentes à produção do texto, como assento histórico, contexto social, político e ideológico. No terceiro capítulo apresenta-se o amplo campo apresenta-semântico do vocábulo lev no Antigo Testamento na perspectiva de diversos autores. Tal delineação tem por objetivo explorar a polissemia do vocábulo, e assim neutralizá-la, buscando o sentido mais apropriado do vocábulo para a perícope de Dt 6,1-9.

Palavras-chave: Bíblia Hebraica – Exegese – Antropologia – Deuteronômio –

Lev.

(6)

FABRIS, Rogério de. Antropologia Semítica: Uma Análise Exegética da Perícope de Dt 6,1-9, com aproximação ao vocábulo lev “coração”. São Bernardo do Campo: Universidade

Metodista de São Paulo, 2014 (Dissertação de Mestrado). 232 fo.

ABSTRACT

This research aims to research the word lev in the passage from Deuteronomy 6,1-9. This word is also used in various parts of the Old Testament. Thus the research also suggests a set of this use in view of various authors. The first chapter presents the blocks that constitute the frame of the book of Deuteronomy with the aim of identifying where the larger context is the pericope of Dt 6,1-9. In the second chapter we start from an exegetical analysis of the pericope highlighting the various aspects of language , such as writing style, literary genre, and content analysis. This part also contains a detailed analysis of the underlying text production realities, as historical seat, social, political and ideological. The third chapter presents the broad semantic field of the word lev in the Old Testament from the perspective of several authors. Such delineation aims to explore the polysemy of the word, and thus neutralize it, seeking the best sense of the word for the pericope of Dt 6,1-9.

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO CAPÍTULO I

Deuteronômio: Origem, Formação, Moldura e Mensagem ... 14

1. Da Lei Reformatória ao Esboço Constitucional do Novo Israel Pós-Exílico. A História Literária e Legal do Dt e de suas Fontes ... 15

2. Deuteronômio e os contratos neoassírios ... 16

2.1. Estrutura do código da aliança: ... 21

2.2. Estrutura do Deuteronômio pré-exílico: ... 21

3. A Moldura do livro ... 22

4. Continuidade e Novo Começo: a localização histórica ... 36

4.1. Questões centrais das exposições anteriores ... 40

5. Vocabulário, sistema de palavras-chave, e expressões recorrentes do deuteronomista no Deuteronômio ... 42

5.1. Resumo: Uma breve síntese das palavras-chave e expressões recorrentes: ... 74

5.2. Sinopse dos discursos do divino YHWH no Deuteronômio ... 81

CAPÍTULO II Análise Literária de Dt 6,1-9. ... 88

Introdução ... 89

1. Texto Massorético. Deuteronômio 6,1-9. ... 90

1.1. Tradução literal: ... 90

1.2. Crítica Textual ... 91

1.3. Delimitação do texto ... 97

1.4. Estrutura do texto ... 98

1.4.1. Comentando a estrutura:... 98

1.5. Coesão do texto ... 101

(8)

1.5.2. Comentário sobre a Coesão da Perícope: ... 103

1.6. Estilo literário ... 106

1.7. Gênero literário ... 107

2. Estudo do Conteúdo com Análise Semântica. (Nível Diacrônico) ... 110

2.1. Semântica (análise de vocábulos) ... 124

2.2. Resumo: ... 144

3. Análise do Contexto Histórico (Macro-Estrutura) ... 152

3.1. Local, Data, e Contexto ... 152

CAPÍTULO III Uma Análise do vocábulo lev no Antigo Testamento ... 158

1. Delineação do campo significativo do vocábulo lev no Antigo Testamento. ... 159

1.1. Delineação do vocábulo lev na antropologia de Hans Walter Wolff ... 162

1.2. O vocábulo lev definido por vários autores: ... 188

1.3. Outras abordagens acerca do significado de lev: ... 189

1.3.1. Sentido físico: (coração, órgão ou víscera) ... 189

1.3.2. Sujeito de sintomas (impressão física, medicina popular; o predicado costuma ser metafórico): ... 189

1.3.3. Por metonímia: ... 189

1.3.4. Sentido figurado: ... 190

1.3.5. Sede da vida consciente: ... 190

1.3.6. Memória ... 190

1.3.7. Imaginação, fantasia: ... 190

1.3.8. Órgão da Atenção: ... 190

1.3.9. Inteligência, entendimento, juízo, razão, compreensão: ... 192

1.3.10. Atividade, exercício de pensar: ... 192

1.3.11. Capacidade: ... 193

1.3.12. Vontade, desejo, decisão: ... 193

1.3.13. Sentimentos, emoções, paixões: ... 193

1.3.14. Atitudes, sentimentos: ... 194

(9)

1.3.16. Consciência e Mentalidade: ... 195

1.3.17. Em paralelo com outros órgãos e membros: ... 196

2. Uma análise (aproximação) do vocábulo lev no Deuteronômio... 196

3. Hermenêutica ... 212

3.1. O contexto sócio-econômico e político da América Latina marcado pela ausência do lev (coração). ... 212

3.2. Medicina e Pastoral da Saúde ... 214

3.2.1. Contexto sociocultural... 219

CONCLUSÃO ... 223

(10)

INTRODUÇÃO

A proposta de realizar um trabalho sobre o livro do Deuteronômio com aproximação ao vocábulo lev é fruto de uma pesquisa realizada durante o curso de graduação em teologia na UMESP nos anos de 2008-2011.

Durante o período de graduação na referida instituição, elaboramos o trabalho de conclusão de curso (TCC) sob o título: “Antropologia Semítica. O Ser Humano no

Antigo Testamento. Uma Análise do Campo Semântico dos Vocábulos Antropológicos Fundamentais da Bíblia Hebraica”.

Nesse período foram objetos desta pesquisa determinadas palavras do hebraico bíblico relacionadas aos órgãos do ser humano, aos membros do seu corpo, e às suas características como um todo. Partindo de diversos conceitos particulares elaboramos uma linguística-bíblico-antropológica onde palavras como nefesh, ruah, basar e levnos auxiliaram para que tivéssemos uma visão mais holística e integrada de ser humano na Bíblia Hebraica. Nesta pesquisa foi dada ênfase ao autor Hans Walter Wolff1 em diálogo com outros autores.

No final do ano de 2011 apresentamos um projeto de mestrado ao Dr. Milton Schwantes seguindo a mesma proposta, buscando um suposto aprofundamento da mesma. Sob a orientação do docente decidimos fazer uma delimitação da pesquisa com o objetivo de adquirirmos mais familiaridade com a exegese bíblica. Sob a orientação de Milton Schwantes escolhemos uma perícope para ser analisada a partir desta perspectiva

(11)

antropológica com aproximação do vocábulo escolhido, a saber, “lev”, palavra

comumente traduzida por “coração”.

Alguns critérios influenciaram na escolha desse vocábulo. Dentre eles o número de ocorrências e a relevância teológica do vocábulo no AT.

Outro fator determinante na sua escolha foi a influência do método teológico latino-americano que nos orienta a utilizar o coração e não apenas a cabeça na tarefa do fazer, elaborar teologia. Tal enunciado é explícito no método ver-julgar e agir.

Dentro desta perspectiva analisamos a condição humana em nosso contexto latino americano em alguns setores da sociedade e entendemos que o nosso contexto é marcado pela ausência do coração, seja no campo político, sócio-econômico, e também no campo da saúde e educação.

Não pretendemos nessa pesquisa fazer uma análise rigorosa de diferentes autores do sistema teológico latino-americano, expondo seus limites, porém, apenas queremos

tomar a “pauta” do método, que é a dimensão teológico-profética da teologia da libertação, que denuncia as injustiças sociais e pessoais do contexto da América Latina marcado pela ausência do lev. Mas, antes disso, iremos nos ater a uma análise exegética da perícope de Dt 6,1-9 com aproximação do vocábulo lev.

Todo texto da Bíblia Hebraica passou por um longo período de transmissão oral, desde a sua composição até a sua redação e editoração. Reconstruir a história completa de uma unidade literária, desde a sua origem e desenvolvimento no estágio oral, até a sua composição, redação e canonização não é tarefa simples.

Perícope ou unidade literária é um texto bíblico onde se encontra uma unidade de sentido, significado, com início meio e fim claramente demarcados.

Cada texto ou perícope tem seu lugar vivencial ou sitz im leben. Foi escrito em determinada época, por determinado movimento, com certas ênfases, pois surge das realidades concretas. Não é uma composição literária abstrata, mas é um clamor, uma realidade vivenciada seja por um indivíduo, seja por determinados grupos ou movimentos. Uma perícope pode pertencer a vários autores ou várias épocas pelo fato de ter passado por processos de revisões, interpretações, releituras e adaptações em sua trajetória.

(12)

iniciá-lo? Há sequência interna entre uma frase e outra ou existem rupturas literárias que deixam entender que são duas perícopes justa-postas? Onde se encontra o final da unidade literária? Estamos corretos em identificar o final da perícope no versículo que pensamos ser o final? Estes critérios serão analisados e identificados através da análise da coesão e coerência.

Outro fator importante a ser considerado na presente pesquisa é a identificação do gênero literário. Será necessário identificar o gênero literário. A perícope pode ser uma narrativa, um dito profético, oráculo, um salmo de lamentação individual ou coletivo, uma oração individual ou litúrgica, um provérbio, poesia, etc.

Após estes passos teremos que identificar a datação, a época em que o texto foi fixado por escrito, assim teremos uma noção do momento histórico e das realidades concretas subjacentes à produção do texto.

No tocante à teologia, a unicidade de YHWH deve ser guardada no coração ou os mandamentos se referem às leis do código deuteronômico que virão após? Será que existe relação entre guardar a unicidade de YHWH e consequentemente guardar as leis referentes ao código de Dt 12-26? Tais leis estão integradas? A nossa perícope foi colocada dentro de um bloco maior propositalmente conforme afirmam alguns exegetas? Amar a Deus de todo o coração, conforme afirma a nossa unidade literária de Dt 6,1-9, implicaria em guardar as leis do Dt 12-26, visto que tal estrutura se encontra estreitamente vinculada ao amor ao próximo, ao estrangeiro, à viúva, ao jornaleiro e a todo o projeto social que promove a preservação da vida?

O vocábulo comumente traduzido por “coração” refere-se ao “órgão”, “coração”? Quais os distintos significados do vocábulo que formam o campo semântico do mesmo?

Como último passo do procedimento exegético iremos fazer uma aproximação do vocábulo lev no intuito de analisarmos o sentido antropológico-teológico do mesmo. Este preceito acerca da guarda dos mandamentos no coração é considerado um querígma, um dos pontos teológicos centrais da Bíblia Hebraica, e, por isso, será também objeto de nossa investigação.

(13)

O autor que nos auxiliará nesse procedimento é Georg Braulik2, entre outros. Ainda no capítulo I nos propomos a fazer uma exposição de determinadas palavras-chave e expressões recorrentes que aparecem no livro do Deuteronômio. Palavras como mitsvah, hoq, mishpatym, tsvah, lev, néfesh, eretz, entre outras, ocorrem com muita frequência no desenrolar do texto de Deuteronômio, sendo que inúmeras vezes estas palavras-chave se encontram relacionadas entre si.

Podemos até afirmar e posterioremente iremos voltar nesse assunto, é que, tais expressões permanecem o tempo todo “orbitando”, no livro. No entanto quando um

objeto orbita, orbita em torno de algo.

No caso do Deuteronômio iremos demonstrar que estas expressões e palavras-chave não foram utilizadas pelo deuteronomista sem critérios, antes orbitam sempre em torno de um centro. Por “centro”, entendemos não um lugar espacial, um foco, uma

bússola. Falamos de centro no sentido de “orientação teológica”.

No capítulo II iremos analisar exegéticamente a perícope de Dt 6.1-9.

Seguiremos prioritariamente os passos do método histórico-crítico, sem nos ater exclusivamente a ele, conforme estudado em sala de aula nas disciplinas referentes à área de Literatura e Religião no Mundo Bíblico.

Iniciaremos com a tradução literal do texto hebraico massorético e com a decodificação do aparato crítico da BHS no intuito de analisarmos a história da transmissão do texto, o que chamamos na exegese de críticatextual.

Em seguida daremos os próximos passos como: identificação dos elementos de coesão e coerência, análise literária, estrutura da perícope, análise semântica, contexto sócio-econômico, atualização ou hermenêutica.

No capítulo III da pesquisa iremos fazer uma aproximação ao vocábulo lev

através de uma análise de ocorrências do vocábulo conforme exposto no AT. O autor que nos auxiliará nesse projeto é Hans Walter Wolff.

A fim de justificar metodologicamente tal procedimento trabalharemos com o conceito de polissemia, no sentido de que, partindo do pressuposto que um vocábulo possui um amplo campo de significações, só podemos encontrar o sentido apropriado do mesmo intensificando a sua polissemia, investigando o seu amplo campo de significações. Tendo feito isso, faremos o movimento contrário de neutralização da

2ZENGER, Erich; BRAULIK, Georg. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola,

(14)
(15)

CAPÍTULO I

DEUTERONÔMIO

(16)

1.

Da Lei Reformatória ao Esboço Constitucional do Novo Israel

Pós-Exílico. A História Literária e Legal do Dt e de suas

Fontes

3

O ponto de partida da pesquisa sobre o Dt nos séculos XIX e XX foi a descoberta de W. M. L de Wette (1805) de que um Dt primitivo não podia ter sido escrito no tempo de Moisés ou da monarquia primitiva, mas apenas no contexto da reforma cúltica do rei Josias em 622/621 a. C.

Por isso, no século XIX reconheceu-se que a moldura do Dt (1-11; 27-34) à diferença da Lei (12-26), possui várias camadas literárias. Ela foi colocada posteriormente, secundariamente ao redor do Deuteronômio primitivo, de modo que o código Deuteronômico não foi redigido por Moisés e também não estava absolutamente vinculado a Moisés e à Montanha de Deus e à terra de Moab.

Depois de muitos debates sobre a hipótese de D. Wette, no inicio do século XX, e depois de uma controvérsia sobre datação antiga ou tardia do Dt, reinou na pesquisa do Dt uma certa calma. Isto se deu também por causa da tese de Martin Noth (1943) de uma obra historiográfica deuteronomista que se estenderia de Dt 1 até 2 Reis 25. Discutia-se, então, a pergunta da integração redacional do Deuteronômio nessa obra historiográfica deuteronomista.

O Dt 1-3 foi considerado a introdução à obra historiográfica deuteronomista, de modo que surgia a pergunta pela relação entre o Dt pré-deuteronomista em Dt 4-34 e as várias camadas literárias da obra historiográfica deuteronomista.

H. D. Preuss (1982) reconheceu a ampla parcela exílica deuteronomista que Dt 4-34 tinha no Dt, mas não conseguiu demonstrar alguma correlação entre a história do Dt e as camadas da obra historiográfica deuteronomista que fosse além do livro de Josué.

Antes da integração em contextos literários mais amplos do que o Pentateuco, o Dt permaneceu um elemento alheio aos livros de juízes até 2 Reis.

3 OTTO, Eckart. A Lei de Moisés. Edições Loyola. Tradução Monika Ottermann. São Paulo. 2011. 236 p.

(17)

Dessa maneira apareceu na agenda a pergunta por um Dt pós-deuteronomista como parte do Pentateuco, pois um tetrateuco dos livros do Gênesis até Números permaneceria um torso que não tem uma conclusão em Números 36.

2.

Deuteronômio e os contratos neoassírios

Os novos impulsos da pesquisa sobre o Dt também tem seus impulsos e interesses pelo reconhecimento de que o Dt adotou no fim da época pré-exílica tradições da ideologia real neoasssíria.

Imprecações de juramento de lealdade que o rei neoassírio Assaradon exigia dos grandes do seu império, entre os quais se deve supor o rei Manassés, teriam sido recebidas em Dt 28.

Após a morte prematura de seu filho mais velho e de sua esposa, de seu ataque fracassado contra o Egito e da constante piora de sua doença, Assaradon reuniu em 672 a. C. os notáveis do Império Assírio e dos povos que possuíam vínculos contratuais com a Assíria, entre eles também Judá.

Assaradon exigiu deles um juramento em favor de Assurbanipal e seu irmão Shamash-Shum-Ukin como príncipes herdeiros do império assírio e do Império Babilônico que estava sob o domínio da Assíria.

O juramento exigia a lealdade absoluta em relação a esses príncipes herdeiros, para garantirem a passagem, e a manutenção do governo depois da morte de Assaradon e, dessa forma, a continuidade do Império Assírio.

A semelhança entre o juramento de lealdade de Assaradon e Dt 28 só pode ser explicada através de uma análise da recepção.

Por meio da comparação de documentos do antigo Oriente é possível comprovar que as diferenças entre o juramento de lealdade de Assaradon e o Dt 28 estão na faixa daquilo que se deve esperar em traduções de textos da Antiguidade.

Os juramentos de lealdade neoassírios remontam a juramentos de funcionários hititas.

(18)

Dessa maneira a história literária do Dt encontrou fora do ambiente da hipótese de De Wette, um novo enfoque. Ele indica a época entre 672 a.C., ou seja, a redação do juramento de lealdade de Assaradon, e 612 a.C., ou seja, o caso do império Neoassírio. Sua recepção antes de 672 a.C. é impossível e depois de 612 é improvável, pois o gênero literário neoassírio do juramento de lealdade não é mais comprovado nos tempos babilônico e persa.

Na pergunta pela origem do Dt 12-16, a pesquisa encontrou uma nova hipótese. Eckart Otto afirma que a lei pré-exílica do Dt (12-26) é uma releitura do Código da Aliança (Ex 20,24-23,12).

Nesse processo receberam-se em Dt 12 não apenas as sentenças legais individuais, por exemplo, a Lei do Altar no Código da Aliança.

A reformulação do Código da Aliança no Dt foi desencadeada pela reforma cúltica do rei Josias (2 Rs 23).

Nos juramentos de lealdade neoassírios, a exigência do “amor”, que designa a

atitude da lealdade política absoluta, pode ser vinculada à fórmula de que se deve amar ao imperador como a si mesmo, relaciona-se com o Estado, representado pelo rei.

À diferença disso, o aspecto singular e revolucionário do Dt é o desvinculamento desta exigência do Estado e sua transferência para o Deus de Israel (apesar de que no pós exílio não tem mais estado, e o poder é administrado pelo templo, em nome de YHWH). Por isso a abertura do Dt já nomeia sua temática fundamental: a singularidade de YHWH, a quem se dirige a lealdade absoluta e indivisa e de quem vem tudo que se pode esperar de uma divindade, ou seja, exige a lealdade incondicional a esta divindade. Esta exigência de lealdade é amplamente desenvolvida no Dt 13, 2-12, de modo que ela emoldura a lei da centralização do culto (Dt 12, 13-27) como a lei principal do programa legal.

Dessa maneira o Dt expressa, já na abertura, sua polêmica subversiva contra a ideologia imperial assíria contemporânea. Não se pode aguardar, esperar o bem estar e a segurança de Israel do Estado assírio e do deus imperial dele, Assur, mas exclusivamente de seu deus YHWH.

(19)

Que o primeiro aspecto é novo em relação ao Código da Aliança mostra a estrutura do Dt na comparação com o Código da Aliança como o texto interpretado,

pois o “shema Israel” e o juramento de lealdade a YHWH em Dt 13 e Dt 28 são textos que vão além da estrutura recebida do Código da Aliança. Por isso vamos nos voltar para a recepção subversiva da tradição assíria no Dt, que está a serviço da identidade religiosa de Judá, ou seja, a manutenção da religião de Javé.

Desde o século VIII depois da sublevação fracassada do rei judaíta Ezequias contra os assírios em 701 a.C., o reino de Judá estava sob a dominação do Império Assírio.

A força da resistência contra a dominação assíria mostra-se na tentativa desesperada de Judá de libertar-se militarmente sob a liderança de Ezequias.

Após a derrota de Ezequias, não havia mais como pensar numa revolta, ou revolução militar, pois desde a campanha muito bem sucedida de Assaradon contra o Egito, um ano depois do juramento de lealdade em 672 a.C., o imperador assírio reinava sobre todo o crescente fértil do Oriente. A resistência poderia se realizar somente através da pena, e ela se cristalizou no Dt.

O grande impacto da ideologia imperial, religiosamente motivada, mostra-se na forte resistência que ela provocou entre intelectuais judaítas, por exemplo, no cântico de agradecimento (Is 8,23b-9,6) que vincula a libertação de Judá e de Israel do jugo assírio à subida do rei Josias, como criança legalmente incapaz, de apenas oito anos de idade no ano de 639 a.C. Mostra-se também no Sl 72 o hino de coroação de Josias, bem como nos salmos régios pré-exílicos tardios 2 e 89 que recebem motivos assírios de modo subversivo.

Estes textos pertencem a esta época de declínio do império neoassírio, que segundo Milton Schwantes possuía capacidade opressiva aperfeiçoada, porém, como sistema de províncias e administração, não funcionava muito bem.

Os assírios eram sanguinários e costumavam enumerar os massacres feitos pelos seus exércitos vencedores. Mas quem mata dessa maneira acaba liquidando o seu próprio futuro. Povo massacrado já não é explorável. Este foi o motivo do declínio dos assírios. Quando chegam ao limite dos massacres, já não tem o que explorar e chega-se ao limite de seu tempo de dominação. A conquista do Egito é por sua vez o começo do seu rápido declínio, afirma Milton Schwantes.4

(20)

Pertencem também a essa época do declínio do império assírio, a recepção subversiva pelo Deuteronômio de um dos textos centrais da ideologia imperial assíria, o juramento de lealdade ao rei Assaradon de 672 a.C.

Este texto era importante para Judá, pois entre os grandes do Império Assírio que tinham que prestar esse juramento, provavelmente estava também o rei judaíta Manassés. Portanto um exemplar desse texto, na língua acádica ou aramaica, deve ter existido também no arquivo do palácio de Jerusalém.

O juramento do rei judaíta, conforme esse texto, provocava a pergunta não só acerca da identidade política judaíta, mas também acerca da sua identidade religiosa, pois o juramento era prestado sob invocação das divindades assírias.

O juramento de lealdade assírio de 672 a.C., convoca à lealdade absoluta ao rei e ao sucessor designado:

Se escutares uma palavra ruim, inadequada, má, que não é boa para Assurbanipal, o rei da Assíria, vosso senhor, quer esta palavra esteja na boca de seu inimigo, quer na boca de seu amigo, ou na boca de seus irmãos, seus tios, seus primos, ou da sua família, descendentes da casa de seu pai, ou na boca de vossos irmãos, filhos e filhas, ou na boca de um profeta, ou algum solicitador da palavra divina ou na boca de qualquer ser humano, então vós não a ocultareis, mas vireis até Assurbanipal, o príncipe herdeiro da casa sucessora, o filho de Assaradon, o rei da Assíria, e a denunciareis. 5

A obrigação de denunciar oficialmente toda forma de crítica ao rei e ao príncipe herdeiro possui acréscimos em outra parte do documento:

Se alguém vos noticiar de levantamento, rebelião para matar, assassinar, eliminar Assurbanipal, o príncipe herdeiro da casa sucessora, o filho de Assaradon, o rei da Assíria, vosso senhor, que vos submeteu em favor de si ao julgamento de lealdade, e se vós escutardes isso da boca de alguém, então agarrareis os autores da rebelião e os levareis até Assurbanipal, o príncipe herdeiro da casa sucessora. Se fordes capazes de agarrá-los, de matá-los, então os agarrareis, os matareis, aniquilareis o seu nome e sua descendência do país. Se não fordes capazes de

(21)

agarrá-los, de matá-los, então o relatareis a Assurbanipal, o príncipe herdeiro da casa sucessora, e o apoiareis para matar e para agarrar, matar os autores de rebeliões, para aniquilar o

seu nome e a sua descendência do país.6

O rei como imagem e semelhança de Deus e instrumento da missão divina de pôr limites ao caos no mundo, precisava ser protegido a qualquer preço da rebelião como expressão do caos contrário à criação.

Outro detalhe a ser considerado é que, a camada literária básica do Dt 13, 2-10 recebeu na segunda metade do século VII o juramento de lealdade de Assaradon e o ampliou por motivos do documento mencionado acima. O lugar do imperador assírio e de seu príncipe e herdeiro foi ocupado pelo deus judaíta YHWH que também impunha a exigência de lealdade absoluta conforme o texto abaixo:

Se surgir em teu meio um extático ou um incubante (?) que te diz: “Vamos seguir outros deuses e serví-los”, não o ouças. Esse extático deverá ser morto, pois pregou uma alta traição contra Yhwh. Se teu irmão, filho de teu pai, ou filho de tua mãe, ou teu filho, ou tua filha ou a mulher do teu coração ou teu amigo, a quem amas como a ti mesmo te seduzir às escondidas dizendo: “vamos e serviremos a outros deuses”, tu não o seguirás e não o ouvirás. Não terás piedade dele e não o

esconderás. Pelo contrário, deverá mata-lo (Dt 13, 2, 4, 6).7

Com a transferência da exigência da lealdade para o deus judaíta YHWH, a recepção subversiva do juramento assírio de lealdade tira do imperador assírio e do poder hegemônico sobre Judá, o direito de exigir lealdade absoluta, pois esta cabe ao deus de Judá.

Conforme mostra em Dt 28 as imprecações do juramento assírio de lealdade, igualmente recebidas, a exigência divina de lealdade em Dt 13 é também confirmada por juramento. A confissão da singularidade de YHWH e a exigência da lealdade absoluta com todo o coração e toda a força em Dt 6 e em Dt 13, 2-12, são a moldura em torno da lei da centralização do culto em Dt 12, 13-27, que é uma centralização do sacrifício.

(22)

Os autores do Dt não querem ficar para trás em relação à religião da Assíria, pois a veneração ao deus Assur também se encontrava num local centralizado.

O deus Assur ficava no centro da procissão da festa do Ano Novo.

Animados pela reforma do rei Josias os autores do Dt decretaram uma centralização dos sacrifícios de YHWH em Judá.

Os autores do Dt procuraram criar um projeto onde o povo encontraria sua identidade por meio das liturgias em comum e não pelo poder das instituições estatais representados na pessoa do rei.8

Abaixo segue as estruturas do Códigos da Aliança e do Dt apresentadas por Eckart Otto:

2.1.

Estrutura do Código da Aliança:

9

Lei do Altar Ex 20, 24-26

Direito social de privilégio: Ex 21, 2-11 (moldura teológica) Ordem legal: Ex 21, 12-17

Ex 21, 18-32 Ex 21, 33 – 22, 14 Ex 22, 15-16 Ex 22, 17-19

Ex 22, 20-26. 28-29

Ordem Judicial: Ex 23, 1-3 Ex 23, 4-5

Ex 23, 6-8

Direito social de privilégio: Ex 23, 10-12 (moldura teológica)

2.2.

Estrutura do Deuteronômio pré-exílico:

10

8 Tal afirmação do autor Eckart Otto não nos parece convincente, visto que, o rei Josias e os que estão

com ele, se utilizam de métodos semelhantes aos métodos assíros oprimindo as aldeias do interior.

(23)

Lei principal: Dt 12, 13-27

Exigência de lealdade: Dt 13, 2-12

Direito social do privilégio: Dt 14, 22-15, 23 Ordem das festas: Dt 16, 1-17

Ordem judicial: Dt 16, 18 - 18, 5 Ordem legal: Dt 19, 2-13

Dt 19, 15 - 21, 23 Dt 22, 1-12 Dt 22, 13-29 Dt 23, 16-26 Dt 24, 1-4 Dt 24, 6 - 25, 4 Dt 25, 5-10 Dt 25, 11-12 Dt 26, 2 – 13

Imprecações: Dt 28, (15). 20-44

3.

A Moldura do livro

Segundo George Braulik11, o Dt se apresenta como narrativa dos acontecimentos do dia da morte de Moisés (32,50; 34,5).

É o primeiro dia do décimo primeiro mês do ano 40 depois da saída do Egito (1,3; 32,48), e liturgicamente é também o primeiro dia da preparação para a Páscoa em Canaã (Js 5,10).

O narrador do livro, entretanto, via de regra, apenas constatava que Moisés teria dito algumas palavras. A maior parte da história relatada é apresentada por Moisés.

Sob a matriz da narrativa básica do livro transparece outra forma literária abrangente: o Dt como coletânea de discursos. São as últimas palavras de Moisés, pois

(24)

somente nos capítulos 31 e 34 ocorrem discursos de Deus. De certo modo estes discursos são na verdade discursos de despedida de Moisés em forma de testamento.

Os textos arquivados foram providos de quatro títulos, que especificam a

“categoria textual” dos documentos que lhe são incorporados: “Palavras” (1,1), “Torá” (4,44), “Palavras de berit “aliança” (28,69), “bênçãos” (33,1). A esses títulos

acrescentam-se observações sobre a forma da apresentação, os endereçados e as condições de origem, além de uma ou várias introduções ao discurso.

Esse sistema de títulos estrutura o livro em quatro partes. Somente as passagens sobre a morte de Moisés em 32,48-52 e 34 não são abrangidas por meio dele.

Se tratando da moldura do Deuteronômio o autor clássico na matéria, Gerhard Von Rad estruturou o livro em quatro partes:

1) Exposição histórica dos acontecimentos do Sinai e parênese (1-11) 2) Proclamação da Lei (12-26)

3) Obrigação da aliança (26,16-19) 4) Benção e Maldição (27-28)

De forma um pouco distinta apesar de algumas semelhanças, Eckart Otto afirma que, entre a interpretação do Decálogo em Dt 5 e da Torá sinaítica em Dt 12-26, Moisés inicia uma nova parênese da Lei que abrange os capítulos 6-11 cujo centro é a inculcação da exigência de exclusividade já contida no decálogo acerca da proibição de outras divindades e proibição de imagens.

Outros autores definem a moldura do livro a partir de critérios distintos. Para Juan Louis Ska12 a estrutura do livro do Deuteronômio gravita em torno de quatro títulos semelhantes em sua construção e conteúdo:

1,1: Estas são as palavras que Moisés dirigiu a todo Israel, além do Jordão...

4,44: Esta é a lei que Moisés transmitiu aos filhos de Israel...

28,69: Eis as palavras da aliança que YHWH ordenou a Moisés concluir com os filhos de Israel...

33,1: Esta é a benção que Moisés, o homem de Deus, concedeu aos filhos de Israel, antes de morrer...

12

(25)

Para Meredith G. Kline13 o Deuteronômio é uma unidade. O referido autor também afirma que a estrutura do Deuteronômio é semelhante aos antigos tratados de suserania, seguindo o mesmo padrão. O seu esboço do livro é apresentado abaixo:

1. Preâmbulo: O mediador da aliança, 1,1-5.

2. O prólogo histórico; a história da aliança, 1,6-4,49. 3. As estipulações da aliança: avida sob a aliança

a. O grande mandamento, 5,1-11,32 b. Mandamentos subsidiários 12,1-26,19.

4. As sanções da aliança: ratificação da aliança, bênçãos e maldições e voto de confirmação da aliança, 27,1-30.20.

5. Disposições dinásticas: continuidade da aliança, 31,1-34,12.

Segundo Werner H. Schmidt, o Deuteronômio é formado pelos discursos de despedida de Moisés14. Esta homilia de Moisés dirigida ao povo é estruturada tendo como núcleo a estrutura (Dt 12-26) cercada por uma moldura interior (5-11; 27-28) e outra exterior (1-4; 29-30) de discursos, enquanto os capítulos finais (31-34) interligam o cântico (32) e a bênção (33) de Moisés, como também informações sobre a investidura de Josué (34), além de outros temas. Assim podemos visualizar a grosso modo, a estrutura do Dt:15

I. (Dt 12-26) II. (5-11) (27-28) III. (1-4) (29-30) (31-34)

Segundo o autor referido anteriormente, a estrutura do Deuteronômio possui semelhanças com o Código da Aliança (Ex 20.24).

13 THOMPSON, J.A. Deuteronômio. Introdução e Comentário. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,

São Paulo, 1982. p. 17-18.

14SCHMIDT, H, Werner. A Fé do Antigo Testamento. Tradução: Vilmar Schneider. São Leopoldo, RS,

Editora Sinodal, 2004. p.118.

(26)

A lei deuteronômica inicia com instruções que se referem ao local de culto, neste caso a distinção em relação ao Código da Aliança se dá por meio da centralização do culto (Dt 12-26). No meio (16-18) um bloco se refere às autoridades, como o rei e os profetas, o que lembra o livro de Jeremias (21-23). Na terceira e última parte se mesclam vários temas.

É importante notarmos que a maioria dos autores reconhecem a estrutura do Dt 12-26 bem demarcada, de forma coesa formando uma unidade com começo, meio e fim, e no debate atual há unimidade acerca disso entre grande parte dos exegetas.

Abaixo segue a estrutura do livro do Dt proposta por Georg Braulik:16

(1-4) Retrospectiva sobre a caminhada do Horeb até Bet-Pegor (1,6-3,29); Parênese sobre as possibilidades e os perigos na terra da promessa

(5-28) Legitimação histórica da legislação no Horeb e parênese do mandamento principal da adoração exclusiva à Javé (5,11)

Leis singulares (12,1-26,16)

Ata da celebração de uma aliança/acordo (26,17-19)

(27) Incumbências para o tempo depois da travessia do Jordão (28) Bênção e maldição

(29-32) Notas de como agir com a aliança (29-30) Instalação de Josué (31)

Cântico de Moisés (32) (33) Bênção de Moisés (34) Morte de Moisés

A estrutura dos capítulos 5-28 pode ser comparada à de alguns códices e leis do Antigo Oriente Próximo:17

Códice de Hamurabi Lei Deuteronômica

Prólogo 5-11 Prólogo

(27)

Leis

Epílogo (com benção e maldição)

12-26 Corpo de leis

28 Epílogo (benção e maldição)

Nesse esquema os versos 26,17-19 não possuem nenhuma função, mas apenas constituem uma transição.

O cap. 27 não contém leis válidas para sempre, contudo no contexto de um ritual futuro, contrapõe ao decálogo do início dos caps. 5-26 o “Dodecálogo de Siquém” (27,15-26) como contraponto no final das leis.

Um códice trata de leis variadas que regulam a vida toda. De fato, anuncia-se a promulgação de huqqim umishpatim“leis e preceitos legais”, em 4,45; 6,1;12,1.

Em 26,16 declara-se que elas terminam. Em 5-11 elas obtêm uma fundamentação introdutória. E nos caps. 12-26 são expostas. Um sistema de moldura em 5,1; 11,32; 12,1; 26,16 sublinha esse esquema. Com um sistema de moldura comparável o trecho final é estruturado em bênção e maldição, por meio de misvot

“mandamentos” em 28,1.13 e 28,15.45.

No próprio corpo de leis podem ser distinguidos, sobretudo, três blocos:

12,2-16,17 Direito privilegiado de Javé (direito litúrgico entremeado de regulamentações sociais)

16,18-18,22 Projeto de constituição para Israel (leis sobre cargos concebidos com subdivisão de poderes)

19-25 Direito penal e civil (de conteúdo diverso)

26,1-15 Apêndice litúrgico

O corpo de leis singulares que forma esses blocos são sistematizados de acordo com princípios que eram comuns em outras codificações legais do Antigo Oriente Próximo, mas obviamente estranhos a uma moderna disposição de leis.

Outra característica a ser destacada é o fato de todo material ser organizado, estruturado segundo áreas de assuntos.

(28)

exemplo, 12,29-31; contrapor caso e caso oposto (19,1-10; 11-13); alinhar as leis segundo a posição social das pessoas envolvidas (22,13-29) ou segundo a sequência cronológica de acontecimentos (16,1-17).

Em qualquer parte pode acontecer que seja feita uma inserção motivada por palavras chave ou associação de pensamentos, a fim de tratar de uma questão de maneira mais completa possível num só lugar. Depois de tais digressões volta-se ao tema principal. Esses princípios de organização servem à memorização.

Mais que no Antigo Oriente Próximo, em geral, forma-se no Dt uma unidade retórica de grupos inteiros de leis por meio de diferentes técnicas estilísticas, como concatenação de tópicos, molduras, esquema A-B e estrutura palindrômica (composição

circular). Isso talvez tenha a ver com o fato de que, como “lei de aliança”, esses textos destinavam-se a ser proferidos em público (31,9-13) e recitados constantemente na família (6,6).

A Torá de 5-28 pode ser entendida a partir da forma de um texto de aliança, ou seja, de um contrato, assim como também se pode trocar a designação dos caps 5-28 como sefer hatorah, “livro da torá” por sefer haberit “livroda aliança”, no contexto do

Dt, quando o contexto trata do estabelecimento de uma aliança (2Rs 22s.). Para um contrato interessa sobretudo, assegurar a lealdade diante do parceiro.18

Como modelo entra a hipótese do tipo de documento “hitita” de contratos com vassalos. Seu esquema básico e a correspondência em Dt são:19

Contratos hititas com vassalos Parte central do Dt Preâmbulo

Prólogo histórico

Declaração fundamental Determinações detalhadas

Lista de divindades como testemunhas contratuais

Bênção e maldição

5-11 Prólogo histórico e Declaração fundamental

12-26 Determinações detalhadas

28 Bênção e maldição

O preâmbulo e a lista de divindades-testemunhas ficaram fora no Dt, cada qual por razões próprias.

(29)

É importante atentarmos que o esquema de contrato com vassalos também pode ser encontrado em blocos menores de textos, a saber, na forma redacional de 5-8 e 9-11 (e fora da Torah em 4 e 29s.

O trecho 26,17-19 interpreta expressamente os caps. 5-28 como documento de contrato. O texto fala de duas mensagens, de duas declarações, em forma espelhada, por parte de Javé e também por parte de Israel.

Elas correspondem antes a concepções de contratos paritários. Os dois compromissos próprios são realizados publicamente nas declarações de 27,1 para Israel e 27,9 para Javé. Também faz parte desse “contrato de aliança” o ato simbólico de

passar entre animais cortados ao meio. (29,11).

Como narrativa de um único dia e como composição de discursos em quatro

partes com ênfase na “Torá” de Moisés, o Dt é consistente em si mesmo.

Em contrapartida, a designação Deuteronômio, ou seja, “segunda Lei”, aponta

para a relação (e diferenças) desse livro final do pentateuco para com os corpos de leis (e narrativas) dos livros precedentes. O papel de Josué e dos reis (Js 8,32; Dt 17,18) revela ao mesmo tempo que o Dt está intensamente direcionado para os subsequentes

“profetas anteriores” do cânon hebraico. Portanto, deve ser lido dentro desse nexo

literário amplo. Isso vale no âmbito do texto canônico, mas de igual modo para a história do surgimento. Isso porque, na época em que foi redigido, o Dt recorreu a textos já existentes do Pentateuco e dos livros históricos, concedendo-lhes nesse processo suas próprias ênfases e interpretações de máxima autoridade, vindas da boca do maior de todos os profetas, que estava às portas da morte (Dt 34,10).

No tocante ao surgimento, o complexo sistema de afirmações do Deuteronômio canônico somente pode ser compreendido a partir da profundidade histórica. No entanto há concepções muito divergentes entre os estudiosos da Bíblia com relação ao processo de formação do livro segundo o autor. Sequer existe unanimidade sobre os critérios de diferenciação, que valem para uma crítica literária e redacional.

Outro fator que permanece como enigma é saber se as ênfases teológicas, ou kerígmas distintos, difíceis de se ajuntarem, revelam distintas camadas.

(30)

Algumas concepções iniciais são mencionadas quando se elaboram teorias sobre a formação do Dt:20

a) Na interpelação de Israel há troca de número: uma vez Moisés diz “tú”, depois ele retorna ao “vós”. A interpelação no singular e no plural pode até alternar diversas vezes na mesma frase. Será que esse fato indica diversas camadas de modo que por exemplo, ao Deuteronomio que originariamente estava no singular foram acrescentados trechos no plural e esses novamente foram complementados por partes no singular? Contudo, ainda que isso fosse o caso em certas partes antigas do Dt, não seria possível que autores posteriores tenham considerado a mescla de número como estilo típico do Dt e teria o imitado em seus próprios textos, de modo que apesar da alternância de número, não se descobrem, nesse caso, camadas diferentes? A troca de número poderia, então, ter sido útil, por exemplo, para destacar retoricamente pontos altos temáticos ou assinalar subdivisões, como por exemplo em Dt 4,1-40.

b) As palavras-chave teológicas não estão distribuídas de forma homogênea pelo livro. Será que esse fato revela que no Dt foram ajuntados textos da mais variada origem? Nesse caso a estilística linguística seria um bom auxílio. Porém, não seria possível que camadas posteriores retomassem as formulações típicas de camadas mais antigas, de maneira que as divisas se dissipam no uso linguístico?

c) Nos capítulos 12-26 há varias formas de leis: leis apodícticas, casuísticas, com introdução aos mandamentos por meio de memórias históricas, como por exemplo, 12,29-31; ou

com determinadas fórmulas como “extirparás o mal do teu

meio”, no caso de 13,6. Será que originalmente elas pertencem a coleções separadas e formalmente uniformes de leis, ou já era possível desde sempre que essas formas coexistissem de forma mescladas?

d) acaso existem concepções teológicas distintas, “querigmas”

diferentes, impossíveis de juntar e, por isso, indicadoras de camadas diferentes? Porém até que ponto é possível situar um texto histórica e socialmente somente a partir do conteúdo? Segundo Georg Braulik, quando se elaboram teorias sobre a formação do Dt, pode-se trabalhar com diferentes concepções iniciais:21

Deve-se contar com relativamente poucos processos de redação ou com longo processo de ampliações e comentários? Muito depende da questão de em que medida se espera consistência lógica de uma literatura do tipo do Dt e em que proporção se pode contar com uma solução jurídico-interpetativa de aparentes contradições já por ocasião da formulação, solução expressa unicamente por meio de uma

(31)

composição sistemática. Será que já tiveram em circulação diversas edições paralelas da lei do Dt, unificadas posteriormente, Acaso foram reunidos por redatores diferentes blocos de texto como defende, por exemplo, Martin Noth 4,44-33,20 foram ampliados pela obra historiográfica deuteronomista com 1-3 (4) e 31 34? Existia um texto básico, ao qual foram acrescentadas novas ampliações e interpretações legais (hoje há uma predileção maior por essas “redações continuadas”. Portanto, retornam os tipos básicos dos modelos do Pentateuco: hipóteses do documento básico, dos

fragmentos e dos complementos. As inseguranças

metodológicas associam-se não raro a uma despreocupação dos exegetas diante da LXX e da versão samaritana no que concerne à crítica textual. Além disso, existem ainda poucas investigações sincrônicas dos textos legais do Dt. É provável que o Dt tenha sido sistematizado juridicamente e polido linguisticamente num tipo de redação final. Apesar de grandes incertezas e de uma multidão de teorias sobre o Dt, foram feitas, durante a elaboração delas, numerosas observações de valor duradouro, bem como vem crescendo entre alguns um certo consenso.

(32)

a saber, a estrutura que abrange os capítulos 5-28. Inserido dentro da mesma se encontra o Código Deuteronômico que abarca os capítulos 12-26. No tocante a tais afirmações há unanimidade entre muitos exegetas. Queremos ressaltar este aspecto para o leitor, o nosso enfoque na análise acima é uma tentativa de identificar os pressupostos que influenciaram o deuteronomista no seu empreendimento de organização das regulamentações, dos incisos do Deuteronômio. Entendemos a partir da exposição dos autores que o livro possui um bloco centralizado, a saber, a estrutura que abrange os capítulos 5-28. Inserido dentro da mesma se encontra o código deteronômico que abarca os capítulos 12-26. Lembrando que tal forma de estruturação remonta aos contratos do Antigo Oriente Próximo. Queremos deixar evidente ao leitor a nossa hipótese: O livro do Deuteronômio possui uma estrutura concêntrica. Tal formulação não é particularidade de Israel. São heranças, modelos, conforme as estruturas de contratos do antigo Oriente, organizados possivelmente de forma a auxiliarem na busca rápida dos incisos e preceitos, nos arquivos e na memória. No quadro abaixo apresentaremos ainda a estrutura que compõe o blocos do livro do Dt na perspectiva de Duane Christhensen22, para que o leitor observe de forma demonstrativa o modelo concêntrico utilizado pelo deuteronomista. Na sequência iremos expor o bloco que compõe a estrutura de 1-11 e as unidade literárias menores que o compõe. Desta forma o leitor poderá notar que estas estruturas ou unidades literárias menores também seguem o modelo concêntrico, onde todos os elementos do texto orbitam em torno de um centro teológico elaborado pelo redator deuteronomista:

A - O quadro externo: Parte I - Um olhar para trás (1-3). B - O quadro interno: Part I – A grande peroração (4-11). C - O núcleo central – Pacto, estipulações (12-26).

B' – QUADRO INTERIOR : Parte II - A Cerimônia de Aliança (27-30). A ' - O quadro externo: Part II - Um olhar em frente (31-34).

1-3 QUADRO EXTERIOR. Parte I - Um olhar para trás:

1,1- 6a A - Inscrição: Deuteronômio em Nuce.

1,1- 6b- 8 B - Convocação para entrar na terra prometida. 1,9-18 C - Organização do povo para a vida na terra. 1,19-2,1 D - (Guerra profana de Israel).

2,2-25 E - A marcha para conquista. 2,26-3,11 D’ - YHWH e a guerra santa.

3,12-17 C '- Distribuição da terra na Transjordânia.

22 CHRISTHENSEN, Duane, L. Apud LOHFINK, Norbert. Das Deuteronomium. Entstehung, Gestalt

(33)

3,18-22 B '- Convocação para tomada da terra prometida. 3,23-29 A ' - Transição: A partir de Moisés para Josué.

31-34 QUADRO EXTERIOR. Part II - Um olhar em frente.

31,1-6 A - De Moisés a Josué: O que YHWH vai fazer. 31,7-23 B- Moisés e Josué: a Torá é a canção.

31,24-29 C- A Torá como Testemunha.

31,30 D - Moisés recita as palavras da canção. 32,1-43 E - O cântico de Moisés.

32,44 D ' - Moisés falou as palavras da canção. 32,45-47 C '- A Torá como Testemunha.

32,38-34,6 B '- Moisés e YHWH: a morte de Moisés. 34,7-12 A ' - De Moisés a Josué: O que Moisés fez.

Dt 1,19 - 2,1 ISRAEL DA GUERRA PROFANA

1,19 a - Relato sobre uma viagem: fomos de Horebe à Cades barnéia. 1,20 b- Relatório: Você chegou a terra prometida.

1,21 c- Convocação para possuir a terra. 1,22 d- Pecado de Israel : Eles pedem Spies. 1,23-24 e- Relatório: Enviei espiões.

1,25-28 f- Relatório dos espiões e rebelião de Israel. 1) Espiões: Será que é um Deus terra? 2) murmuração e rebelião de Israel.

3) Espiões: As pessoas são mais fortes do que nós. 1,29-31 g – Convocação: Sem medo.

1,32-36 f ' - Rebelião de Israel e Julgamento de YHWH

1) Relatório de Moisés : falta de confiança de Israel 2) de YHWH Julgamento: Adiamento da Conquista 3) Relatório de Moisés : A Exceção de Caleb 1,37-39 e’ - Relatório: YHWH estava com raiva de mim

1,40-41 d' - Pecado de Israel : eles confessam mas Act Presumptuosly 1,42 c' - Convocação. Não Luta pela Terra

1,43-44 b' - Relatório: Você não conseguiu entrar na terra

1,45-2,1 a’ - Um aviso de Viagem: Saímos de Cades para o Monte Seir

E - 2,2-25 A marcha para a conquista:

2,2- 4a a - Convocação para seguir em direção ao norte. 2,4 b – 6 b - Convocação para não lidar com os filhos de Esaú. 2,7 c - Um olhar para trás: O Êxodo.

2,8-9a d - A viagem, notas e aviso para não lidar com Moabe. 2,9 b-11 e - Os Emins foram desalojados pelos filhos de Ló. 2,12 e' – Os horeus foram desalojados pelos filhos de Esaú. 2,13-15 d’ - Convocação para atravessar o Zerede.

2,16-18 c' - A olhar em frente: A Conquista

(34)

D ' 2,26 - 3,11 YHWH DA GUERRA SANTA

2,26-30 a - Anedota sobre Siom: Recusa do pedido de salvo-conduto. 2,31-36 b - A conquista de Heshbom.

1) A derrota de Siom.

2) O Reino de Siom Dedicado a destruição naquele tempo. c - 2,37-3,1 - Anúncio de Viagens: na direção à Basã contra Og.

3,2 c' - Convocação para não temer Og. 3,3-10 b' Conquista de Basã.

1) A derrota de Og no momento.

2) O Reino de Og dedicado a destruição. 3) Relato de Conquista na Transjordânia. 3,11 a' - Anedota sobre Og: o último dos “refains”.

4-11 O quadro interno: Parte I – A grande peroração:

4,1-40 A - E agora, ó Israel, obedeça os mandamentos de YHWH. 4,41-43 B - Moisés separou da árvore (levítico) cidades de refúgio. 4,44-6,3 C- Esta é a Torá - As dez palavras.

6,4-7,11 D - Ouve, ó Israel, YHWH é o nosso Deus - só YHWH. 7,12-8,20 E - Quando você obedece você será abençoado. Quando você desobedecer você será destruído.

9,1-29 D ' - Ouve, ó Israel, você está prestes a atravessar o Jordão. 10,1-7 C '- Naquele tempo YHWH falou as dez palavras.

10,8-11 B '- Naquele tempo YHWH definir uma parte da tribo de Levi. 11,12-11,25 A ' - E agora, ó Israel, o que YHWH lhe pede?

A - E agora, ó Israel, cumpra OS MANDAMENTOS DE YHWH (Dt 4,1-40)

4,1-4 a – Mantenha os mandamentos de YHWH para viver na terra. 4,4-8 b – A singularidade de Israel, demonstrada em sua Torah. 4,9-10 c – Tenha cuidado para não esquecer o que aconteceu em Horebe.

4,11-15 d – Tenha cuidado para não esquecer o que aconteceu em Horebe.

4,16-19 e – Pacto e estipulações - emitidas em Horebe. 4,20 f – Nenhuma imagem ou divindades astrais. 4,21 f’ – O Êxodo fez o povo herança de YHWH. 4,22-24 e’ – A conquista faz a terra ser herança de Israel. 4,25-27 d’ – Não há imagens. YHWH é um Deus ciumento. 4,28-34 c’ – Pacto amaldiçoa - em vigor na Terra.

4,35-39 b’ – YHWH não vai esquecer o seu pacto com os seus pais.

4,40 a’ – A singularidade de YHWH, como mostrado no Êxodo. Mantenha os mandamentos de YHWH para viver na terra.

C - ESTA É A TORAH - Dez Palavras (Dt 4,44-6,3)

4,44-48 a - Esta é a Torah.

(35)

5,4-5 c - YHWH falou do meio do fogo.

5,6-7 d – Mandamento I: Não respeitar outros deuses. 5,8-10 e - Mandamento II: Idolatria Proibida.

5,11 f - Mandamento III: Honrar o nome YHWH. 5,12-15 g - Mandamento IV: Mantenha o sábado. 5,16 f ' - Mandamento V: honrar seus pais. 5,17-21 e ' - Mandamentos VI- X: Moralidade Ética. 5,22 d ' - Resumo : Não há outras palavras.

5,23-31 c ' - YHWH falou do meio do fogo.

5,32-33 b '- HOJE : Tenha o cuidado de guardar os mandamentos de YHWH .6,1-3 a '- Este é o mandamento.

D – OUVE Ó ISRAEL, YHWH é nosso Deus e vocês um povo santo (Dt 6,4-7,11)

6,4-9 a – Só YHWH é o nosso Deus. Devem amá-lo mantendo suas palavras.

6,10-15 b - Quando YHWH lhe conduzir para a terra, tome cuidado para não esquecer ou ele vai destruí-lo.

6,16-19 c - Um olhar para trás: Êxodo - Conquista 6,20-25 c ' – Um olhar para frente: Pós - Conquista.

7,1-6 b '- YHWH dá a seus inimigos para você destruí-los ou então YHWH vai destruí-lo.

7,7-11 a'- o amor de YHWH para você é a sua maneira de manter sua palavra/ juramento a vossos pais, de modo a manter a ordem.

E - Quando você obedece você é abençoado; quando você esquece e desobedece VOCÊ SERÁ DESTRUÍDO (Dt 7,12-8,20).

7,12-16 a- Quando você obedecer essas leis você será abençoado na terra, mas você deve destruir todos esses povos.

7,17-24 b - Não tenha medo deles. YHWH vai entrega-los para que você possa destruí-los.

7,25-26 c - Um olhar Avançado: Destrua os seus deuses ou será destruído.

8,1 d - Tenha o cuidado de manter todo o mandamento que você pode, para possuir a terra.

8,2-5 c ' - Um olhar para trás: Lembre-se de disciplina de YHWH esses 40 anos.

8,6-10 b '- Mantenha os mandamentos de YHWH e louva-o pela boa terra que Ele lhe deu.

8,11-20 a'- Se você se esquecer de YHWH e dos mandamentos será destruído.

D ' - OUVE, Ó ISRAEL, você está prestes a atravessar o Jordão (Dt 9,1-29).

9,1-3 a - YHWH está cruzando o rio Jordão como sua vanguarda para ajudar você a destruir as nações.

(36)

9,7-10 c - Você se rebelou constantemente no deserto, enquanto eu estava na montanha para receber as duas tábuas de pedra.

9,11-12 d - Enquanto estava na montanha YHWH me disse que vocês tinham feito uma imagem de gesso.

9,13-14 d' - Como YHWH colocou: “Este povo tem dura cerviz

- fique para trás, enquanto irei destruí-los”.

9,15-21 c' - Quando eu vim para baixo e vi o bezerro, eu quebrei as tábuas, intercedeu por você e Arão, e esmagou a imagem ao pó.

9,22-24 b'- Você se rebelou e outra vez no deserto, desde que eu conheci você.

9,25-29 a' – Eu (Moisés) argumentei com YHWH: Não destrua o teu povo para que não manchar sua reputação, porque são sua herança.

A' - E AGORA Ó ISRAEL, o que o seu YHWH requer de ti? (Dt 10,12-11,25)

10,12-15 a – Tema YHWH e guarde seus mandamentos. Ele escolheu você.

10,16-19 b – Circuncidai os vossos corações e amai o estrangeiro. 10,20-11,1 c - Temam YHWH e guardem os seus mandamentos, pois Ele tem vos abençoado.

11,2-7 d - Um olhar para trás: Seus olhos viram o que YHWH fez.

11,8-9 e - Manter todos os mandamentos que você pode para possuir a terra e permanecer nela.

11,10-12 d ' - Um olhar para frente: Os olhos de YHWH estão sobre a terra para abençoá-la.

11,13-15 c' - Se guardardes os meus mandamentos, eu te abençoará em sua terra.

11,16-21 b'- Não sirvam outros deuses, e guardem as minhas palavras para permanecerem na terra.

11,22-25 a'- Se você observar cuidadosamente estes mandamentos, YHWH irá desapropriar nações e dar-lhe toda a terra.

Queremos ressaltar mais uma vez que, não somente os blocos maiores que compõem o livro do Deuteronômio possuem estrutura concêntrica, ou seja, uma estrutura que emoldura um núcleo, um elemento central. Unidades literárias menores também são compostas por elementos que estão sempre orbitando entorno de um centro teológico.

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Queremos deixar evidente ao leitor que, apresentamos o quadro acima dando ênfase ao modelo centralizado, ou “concêntrico”, apresentado pelo redator.

Entendemos que no livro do Dt tal esquema predomina. Pode ser um artifício pedagógico utilizado na época, que facilita a memorização.

De forma resumida afirmamos o seguinte: A apresentação do quadro do Dt 1-11 nesta parte da pesquisa é importante por dois motivos: Primeiro porque o leitor poderá notar que as unidades literárias menores do Dt também são compostas a partir de uma estrutura concêntrica. Segundo, porque através desta apresentação nos aproximamos da perícope que será objeto de análise exegética no próximo capítulo. Desta forma estamos afunilando, fazendo um movimento de fora para dentro, em direção à unidade literária que iremos ainda analisar.

4.

Continuidade e Novo Começo: a localização histórica

Segundo Frank Crüsemann,23 o código de leis de Dt 12-26 é uma reformulação da vontade de Deus através de um livro de leis. Isto se dá pela mudança das circunstâncias que exigem alterações.24

Este fenômeno já se encontra no Código da Aliança, onde são notórias e evidentes as marcas de complementação mais recente, ou seja, de atualizações.

No Deuteronômio se encontram múltiplos sinais de atualizações, revisões, e releituras. Uma nova codificação possui significado radical, um corte profundo. A alteração de um código de leis está vinculada a uma mudança profunda e significativa, ou seja, a uma realidade concreta que inspira a reformulação das leis.

Lembrando que a constituição da Alemanha foi reformulada com o fim do terceiro Reich e da segunda guerra mundial, mas que, com a anexação da Alemanha Oriental, não deu lugar a uma nova interpretação, constituição.

23 CRÜSEMANN, Frank. A Torá. Teologia e História Social da Lei do Antigo Testamento. Editora

Vozes, São Paulo. p. 283.

24 A descrição a seguir baseada no autor Frank Crüsemann se concentra nos problemas do Código

(38)

Mas, por que em Israel as possibilidades de complementação e ampliação não foram suficientes? Portanto entende-se que esta pergunta serve de fio condutor para as pesquisas do Deuteronômio.

Ampliação, complementação, e explicação, são os fatores que relacionam o código deuteronômico com o Código da Aliança.

Fazendo uma análise comparativa entre o Código da Aliança e o Código Deuteronômico concluímos que o material mais recente foi elaborado com a intenção de substituir o mais antigo.

Os traços decisivos que são peculiares no Código da Aliança em relação aos códigos de leis do antigo Oriente são ampliados pelo Dt, isto é, pelo menos em parte são preservados, porém ampliados.

No conjunto se apresenta como o mandamento do Deus de Israel, porém, no Dt é apresentado de maneira nova, transmitido por Moisés.

O centro é a adoração única à YHWH, o primeiro mandamento que ocupa lugar central. Diversas tradições são conservadas, reunidas em um só texto: ética, religião, direito e culto.

De forma geral podemos encontrar semelhanças da Lei Deuteronômica com o Código da Aliança, como no início, em (Dt 12) encontramos uma lei referente ao altar com prescrições relacionadas aos sacrifícios legítimos e a presença divina, sendo que no final há declarações de bênção e maldição (Dt 27-28) que de certa forma correspondem ao apêndice do Código da Aliança (Ex 23,20).

Algumas leis são repetidas sofrendo determinadas alterações. Podemos identificar como uma das alterações a lei sobre os escravos (15, 12).

Outro exemplo é um calendário com as mesmas festas contidas no Código da Aliança. Podemos encontrar também regras sobre a conduta diante de um tribunal (16, 19) que se repetem no Dt, porém, com pequenas variações em relação ao Código da Aliança.

Esta constatação nos faz concluir que não se trata de uma complementação e sim de uma substituição do Código da Aliança. Não há perspectiva de outra concepção senão a de um novo começo.

(39)

Por outro, lado podemos encontrar alterações, inovações, quando comparamos os dois códigos. No Dt o discurso é colocado na boca de Moisés e não de Deus.

Desta forma, a intenção teria sido de remontar a um passado longínquo a fim de camuflar uma reformulação atual, no presente. As leis referentes ao direito e segurança dos fracos em termos sociais e jurídicos, são no Dt reformuladas de maneira bem mais detalhadas.

Um fator que distingue o Dt do Código da Aliança é a radicalização da centralização do culto expressa no Dt, diferente do Ex 20,24 que autoriza o culto nos lugares onde Deus havia determinado.

Partes importantes do Código da Aliança são abreviados no Dt, no entanto as determinações em relação a segurança dos fracos são ampliadas e a elas se acrescentam determinações detalhadas do direito familiar e sexual, como da virgindade (Dt 22,13) e do novo casamento (24,1).

Encontramos também regulamentações amplas na parte central de Dt 16,18-20,20, onde trata-se de instituições como monarquia, direito, sacerdócio, profecia e guerra, isto é, uma esfera mais abrangente que não encontra-se no Código da Aliança nem no direito oriental antigo, porém existem afirmações de que apenas encontramos tais formulações em constituições da época moderna.

A relação entre os dois corpos legais encontra-se diante de outro problema, visto que o dia do descanso que possui um papel central em Ex 34,21 e é considerado uma das pilastras do Código da Aliança, falta completamente do Deuteronômio. Este aparece apenas como um dos mandamentos do decálogo em Dt 5,12.

A partir de agora iremos abordar uma nova perspectiva, uma interpretação que nos abre um mundo novo. Esta nova perspectiva refere-se às reflexões teológicas sobre a lei. Estas leis encontram-se nos caps. 6-11 e 30s e não possuem correspondente no Código da Aliança. Aqui encontramos uma “linguagem teológicanova”.

Neste ensejo encontramos uma terminologia que determina toda a teologia orientada pela Bíblia. O sentido dos mandamentos é relacionado com a história do povo que foi liberto do Egito. A doação da terra e a eleição também encontram sentido nos mandamentos que possibilitam a permanência junto a esse Deus.

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Para alguns autores a Torá é o centro, a união entre Deus e o seu povo que toma forma no intuito de preservar e concretizar tal relacionamento que promove a liberdade.

Como em tudo isto se trata de ampliação, de extensa complementação do conteúdo e de reflexões teológicas novas, em que só em poucos casos acontecem correções maiores, a maioria destes passos também poderia ser entendida como revisão literária do Código da Aliança.

Por isso, a comparação do conteúdo não pode responder à pergunta pela razão da nova redação. A verdadeira razão não pode estar no conteúdo.

A pergunta pelo motivo da nova redação da história da lei no Deuteronômio, em comparação como o Código da Aliança, deve ser feita e respondida dentro do próprio Deuteronômio, especialmente tendo em vista os múltiplos traços e indicações de ampliação e complementação. Muitas gerações se empenharam no Deuteronômio. Atualmente não se questiona a hipótese de o termos em forma deuteronomista, isto é, tardia ou exílica. É reconhecido que os cap. 1-3 estão ligados à obra histórica de Js e 2Rs e à inserção do Deuteronômio nesta obra. O Dt 4 mostra estar muito próximo da teologia exílica e pós-exílica, especialmente do Deutero-Isaías.

Nos dias atuais também se afirma a existência se acréscimos posteriores em passagens de Dt 5-11 e 12-26. Isso se afirma até de capítulos inteiros como Dt 5.

Outro exemplo são as determinações constitucionais em 16,18-18,22. Em outros capítulos podemos encontrar complementos. Justamente pelo fato de não se poder duvidar dos múltiplos traços de redação, é necessário inquirir a razão e o motivo de uma nova codificação. O que não podemos esquecer é a afirmação de que certamente os redatores conheciam o Código da Aliança e o tinham diante de si.

Através de nossas leituras podemos mencionar como fator importante, as teses de Georg Braulik.

Baseado em trabalhos mais antigos ele entende que o Código Deuteronômico, na redação final que temos em mãos, está estruturado de forma análoga aos mandamentos do decálogo.

Os princípios estruturais que caracterizam as antigas leis orientais e o Código da Aliança, também são encontrados aqui.

É certo que o Dt 12-26 não se baseia apenas nos dez mandamentos. Existem sim correspondências, porém de clareza variada e gerais.

Referências

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