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1. Texto Massorético Deuteronômio 6,1-9

1.7. Gênero literário

A expressão ouve Israel é composta por uma cadeia de vários interativos que é o prefácio dos sermões subsequentes com o objetivo de chamar atenção à importância do assunto. As palavras “Ouve Israel” são evidentemente uma fórmula de estereótipo no Deuteronômio. Sendo assim, a hipótese de que essas cláusulas são meramente ferramenta literária não pode ser aceita facilmente, portanto devemos perguntar qual a sua origem. Provavelmente se refere a coisas tradicionais dos dias antigos da adoração da assembleia ou das tribos.47 De início, queremos ressaltar a presença de alguns resquícios no texto que deixam entender que, a perícope de Dt 6,1-9, possui aspecto poético e alguns traços daquilo que se chama “paralelismo”, na literatura hebraica.

Quando falamos de paralelismo não há possibilidade de definirmos o conceito apenas a partir dos três tipos de paralelismo, como sinonímico, sintético e antitético.

É tarefa muito difícil fazer o mapeamento destes três aspectos do paralelismo de forma rígida. O verso hebraico possui muita liberdade. Varia entre poesia e prosa ritmada bem como nas frequentes e imprevistas passagens da prosa à poesia e vice- versa.

47 RAD, Von. Deuteronomy. Tradução de Dorothea Barton. Westminster Press Philadelphia, Pensylvania,

No entanto entendemos que na perícope de Dt 6,1-9 podemos identificar alguns aspectos de paralelismo denominado de sinonímico.

Há uma cuidadosa correspondência entre coisas e coisas, entre palavras e palavras umas e outras perfeitamente medidas e correlatas.

A relação de sinonímia encontra-se nos versos alternados, correspondendo o v. 1 aos vs. 8-9, sendo que estes últimos exprimem o efeito do que se diz no v. 1.

O v. 7 é um reflexo, ou efeito do que se diz no v. 2, enquanto o v. 6 é também efeito do que se afirma no v. 3.

Mas, a elegância do paralelismo sinonímico da perícope se concentra na superposição do quiasmo. Superposição porque, constitui um centro, a saber, os vs. 4-5, enquanto isso os demais versos surgem correspondendo-se entre eles entorno deste foco que é o centro donde os vocábulos, expressões e palavras permanecem orbitando.

Portanto podemos levar aos vários entendimentos, de que a unidade literária poderá vir acompanhada de alguns aspectos da poética hebraica. Uma das características encontradas é a métrica com rima.

Exemplo v. 1:

~yjiêP'v.Mih;w ‘~yQixuh;( hw"©c.Mih; tazOæw>

~k,_t.a, dMeäl;l. ~k,Þyhel{a/ hw"ïhy> hW"±ci rv<ïa

~T,²a; rv<ïa] #r<a'êB' tAfå[]l;

`HT'(v.rIl. hM'v'Þ ~yrIïb.[o

A rima poderá existir como procedimento didático, ou seja, como forma de facilitar o entendimento, o aprendizado, o armazenamento das informações na memória. A poesia, o poema, o canto, são formas fáceis de serem arquivadas no consciente/memória, pois a sonoridade é pressuposto para que as palavras se combinem de forma simétrica conforme o exemplo acima através da expressão:

~yjiêP'v.Mih;w> ‘~yQixuh;( hw"©c.Mih;

ha-mitsvah ha-huquim we-ha-mishpatim...

Assim, a rítmica presente na perícope de Dt 6,1-9 remete-nos ao sentido didático na apropriação do texto de forma hábil. Um exemplo de tal procedimento poder ser demonstrado através da justaposição de expressões chaves que são encadeadas não apenas pela significação, mas pela semelhança sonora conforme da expressão contida no v. 2:

^ån>biW ‘hT'a; è^W<c;m. ykiänOa' rv<åa] éwyt'wOc.miW wyt'äQoxu-lK'-ta,

`^ym,(y" !kUïrIa]y: ![;m;Þl.W ^yY<+x; ymeäy> lKoß ^ên>Bi-!b,W

Podemos notar a métrica rítmica utilizada pelo redator deuteronomista através de expressões que possuem terminações sonoras muito semelhantes.

O redator deuteronomista utiliza de repetições frequentes no tocante às terminações de algumas palavras na forma gramatical de sufixo pronominal na segunda pessoa do singular. Só no v. 2 aparecem seis vezes tais expressões acompanhadas por sufixo pronominal conforme o esquema abaixo:

1.

^yh,ªl{a/

2.

^W<c;m.

3.

^ån>biW

4.

^ên>Bi-!b,W

5.

^yY<+x; ymeäy> lKoß

6.

^ym,(y" !kUïrIa]y: ![;m;Þl.W

Estes fatores podem remontar tantos às descrições das estruturas literárias quanto legislativas das sociedades e culturas próximas daquela época.

A cláusula, a ordenança, o chamamento poderá não ser meramente literário, podendo ser também parte de um ambiente de culto, de tradição oral, de ordenanças legislativas.

Podemos considerar, a fórmula de estereótipo

lae_r"f.yI [m;Þv.

Ouve Israel! uma designação prática do sistema método/didático daquele tempo, quer seja, o do direito e/ou dos contratos hititas conforme abordagem anterior, no capítulo primeiro.

Em equiparação contextualizada desta última designação, poderíamos referir-nos a legislação atual com seus artigos, parágrafos e incisos, organizados de forma facilitadora para a guarda, para a busca na memória pelos operadores do direito, o que facilita uma busca rápida e habilidosa nos arquivos imaginários.

No v. 5 o redator deuteronomista utiliza novamente a justaposição de expressões com terminações semelhantes, porém nesse caso, utiliza suas ferramentas gramaticais não apenas no intuito de cativar o lev (sentimento/racionalidade) de seus destinatários através da sonoridade das expressões tiradas do seu acervo vocabular, mas no intuito de

justapor termos antropológicos que descrevem a reivindicação da entrega total do ser humano à YHWH:

^ïb.b'l.-lk'B. ^yh,_l{a/ hw"åhy> taeÞ T'êb.h;a'äw>

`^d<)aom.-lk'b.W ^ßv.p.n:-lk'b.W

Levantamos a hipótese de uma forma sistemática-metodológica-didática caracterizada pela memorização de textos rítmicos, simétricos, poéticos. Não obstante, o sistema de chamamento poderá fazer alusão ao cânon do Deuteronômio, à lei.

A fórmula Ouve Israel! poderá ser entendida como uma designação de cláusula, um símbolo, uma forma de pensamento para designar a importância da lei na época.

No entanto, o escutar no pensamento semita possui sentido concreto. Escutar é com o lev! Pois o lev é também o órgão da escuta!

2. Estudo do Conteúdo com Análise Semântica. (Nível

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