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A disciplina de estudos amazônicos e a formação de professores do ensino fundamental : uma experiência no munícipio de Marabá-PA

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, ARTES E HISTÓRIA DA CULTURA

GABRIEL RENAN NEVES BARROS

A DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência no munícipio de Marabá-PA

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GABRIEL RENAN NEVES BARROS

A DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência no munícipio de Marabá-PA

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Educação, Artes e História da Cultura.

Orientador: Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

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B277d Barros, Gabriel Renan Neves.

A disciplina de estudos amazônicos e a formação de professores do ensino fundamental : uma experiência no munícipio de Marabá-PA / Gabriel Renan Neves Barros – São Paulo , 2016.

158 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2016.

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GABRIEL RENAN NEVES BARROS

A DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência no munícipio de Marabá-PA

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Educação, Artes e História da Cultura

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________ Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________ Profª. Drª. Maria de Fátima R. de Andrade

Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________________ Prof. Dr Erineu Foerst

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela fonte de inspiração e conhecimento que me concedeu durante o período de realização deste trabalho.

À Luciana Kinoshita Barros, minha esposa, que nos momentos mais árduos me incentivou a buscar motivação para continuar este trabalho.

À minha mãe e avó, pelas orações e incentivo.

Ao professor Me. Davison Hugo Rocha Alves pela entrevista e esclarecimentos.

À professora Drª. Violeta Refkalefsky Loureiro pela receptividade em sua residência e por conceder umas das entrevistas que estruturou esta pesquisa.

A todos os professores da rede municipal de Marabá que participaram desta pesquisa, seja no momento de responder os questionários ou as entrevistas.

À professora Drª Petra Sanchez Sanchez, pelo empenho e dedicação nas primeiras orientações. Ao professor Dr. João Clemente de Souza Neto que me acolheu como seu orientando e me ajudou substancialmente para finalização desta pesquisa.

Às minhas companheiras de jornada acadêmica, Vanessa Zinderski Guirado, Eloisa Camargo Penna e Flávia Rodrigues, pela paciência e apreço por esta pesquisa.

A todos os professores do Programa de Pós-graduação em Educação, Artes e História da Cultura, em especial ao prof. Dr. Marcos Rizolli que ajudou, incentivou e acreditou nesta pesquisa.

À professora Joyce Cordeiro Rebelo pela ajuda em conseguir intermediar os dados perante a Secretaria Municipal de Educação.

Aos professores Dr. Erineu Foerst e Drª. Maria de Fátima pelas orientações na banca de qualificação.

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LISTA DE TABELAS

p. Tabela 1 – Perfil profissional dos professores de Estudos Amazônicos 65

Tabela 2 – Resposta à pergunta 1 67

Tabela 3 – Resposta à pergunta 2 69

Tabela 4 – Resposta à pergunta 3 70

Tabela 5 – Resposta à pergunta 4 71

Tabela 6 – Resposta à pergunta 5 72

Tabela 7 – Resposta à pergunta 6 72

Tabela 8 – Resposta à pergunta 7 73

Tabela 9 – Resposta à pergunta 9 75

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LISTA DE SIGLAS BR-230 - Rodovia Transamazônica

CEE – Conselho Estadual de Educação CME – Conselho Municipal de Educação CNE – Conselho Nacional de Educação CVRD - Companhia Vale do Rio Doce DCN’s - Diretrizes Curriculares Nacionais

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDESP - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais JPEG - Joint Photographics Experts Group

LDB– Lei de Diretrizes e Bases da Educação MEC – Ministério da Educação

ONU - Organizações das Nações Unidas PA-150 - Rodovia Paulo Fontelles PGC - Projeto Grande Carajás PIB - Produto Interno Bruto

PNLD - Programa Nacional do Livro Didático SEDUC – Secretaria de Estado de Educação

SEMED - Secretaria Municipal de Educação de Marabá SEMESP- Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior

SPVEA - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia UFPA - Universidade Federal do Pará

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RESUMO

Essa pesquisa trata da disciplina de Estudos Amazônicos e a formação de professores desta disciplina no Ensino Fundamental II do munícipio de Marabá/PA. Ao realizar nossa investigação, desenvolvemos um estudo que explica o surgimento da disciplina no estado do Pará e, consequentemente, em Marabá, identificando o perfil do profissional que trabalha com a disciplina e investigando a percepção dos professores no que concerne à contribuição dos conteúdos constantes no currículo e que reforce os conhecimentos quanto à sensibilização para as questões socioambientais. A relevância social consiste em entender a disciplina como resistência às práticas de exploração e ocupação do solo, subsolo e águas amazônicas, pois as características peculiares da região amazônica nos tornam participantes de diferentes disputas de poder e nós, enquanto pesquisadores, entendemos que a existência de uma disciplina que aborde a diversidade da região amazônica fortaleça a identidade do sujeito que reside na região com o seu próprio território. O referencial teórico é composto de Apple, Goodson, Almeida, Silva, Paulo Freire, Milton Santos, Rodrigues, Pontuschka, entre outros autores que nos ajudaram a entender a concepção de currículo, as dinâmicas de (re)produção do espaço urbano, a educação no contexto amazônico e a formação de professores. Empregamos um estudo de caso com análise de documental, adotando os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa documental, aplicação de questionários e entrevistas a professores que atuam/atuaram com Estudos Amazônicos no município de Marabá-PA, e entrevistas com a mentora da disciplina (Prof.ª Drª. Violeta Refkalefsky Loureiro), com o autor da primeira dissertação sobre a disciplina (Prof. Me. Davison Hugo Rocha Alves) e também com a representante Conselho Municipal de Educação (Prof.ª Jaide das Graças Barreiros). Concluímos esta pesquisa entendendo a importância dos Estudos Amazônicos para o contexto regional, entretanto, identificamos que a disciplina, de acordo com o discurso dos professores, não alcança uma de suas finalidades; a sensibilização das questões socioambientais.

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ABSTRACT

This research is about the school subject Amazon Studies and the elementary school teachers education in the municipality of Marabá-Pa. In carrying out our research, we developed a study that explains the emergence of the discipline in the state of Pará and, consequently, in Marabá, identifying the profile of the professional that works with the subject and investigating the teachers' perception regarding the contribution of the contents contained in the curriculum and to reinforce the awareness of socioenvironmental issues. Social relevance consists of understanding the subject as resistance to the practices of exploration and occupation of the Amazonian soil, subsoil and waters, because the peculiar characteristics of the Amazon region make us participants in different power disputes and we, as researchers, believe that the existence of a discipline that addresses the diversity of the region strengthen the identity of the subject that resides in the region with its own territory. The theoretical framework consists of Apple, Goodson, Almeida, Silva, Paulo Freire, Milton Santos, Rodrigues, Pontuschka, among other authors who have helped us to understand the curriculum concept, urban space dynamic (re)production, education in the Amazon context and teachers’ education. We used a case study with documentary analysis, adopting the following methodological procedures: documentary research, questionnaires and interviews with teachers who work/worked with Amazon Studies in the municipality of Marabá-Pa, and interviews with the mentor of subject (Violeta Refkalefsky Loureiro, Phd), with the author the first dissertation on the subject (Davison Hugo Rocha Alves, Msc.) and also with the Municipal Educational Council representor (Jaide das Graças Barreiros). We concluded this survey understanding the importance of the Amazon Studies to the regional context, however, we have identified that the subject, according to the teachers’ speech, does not reach one of its goals; the awareness of the socioenvironmental issue.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

Justificativa ... 12

Problemática ... 14

Objetivos ... 15

Geral ... 15

Específicos ... 15

Metodologia ... 15

Estrutura da dissertação ... 17

1 POR QUE ENSINAR SOBRE AMAZÔNIA? ... 19

1.1 Fatos históricos e caracterização do ambiente amazônico ... 19

1.2 Amazônia Legal e suas multiplicidades ... 22

1.3 Entroncamento de Marabá ... 28

2 O MARCO REFERENCIAL DA DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS .... 34

2.1 Parte Diversificada do currículo e a disciplina de Estudos Amazônicos ... 34

2.2 Surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos ... 37

2.3 Estudos Amazônicos e a interdisciplinaridade ... 40

3 FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE ESTUDOS AMAZÔNICOS ... 44

3.1 Quem é o professor de Estudos Amazônicos? ... 44

3.2 A proposta curricular da disciplina de Estudos Amazônicos: a quem compete ensinar? 52 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DOS DADOS ... 60

4.1 Tipo de pesquisa ... 60

4.2 Contexto e sujeitos ... 60

4.3 Análise de dados ... 62

4.3.1 Entrevistas estruturantes ... 63

4.3.2 Questionários ... 64

4.3.2.1 Perfil profissional dos professores ... 64

4.3.2.2 Questões semiestruturadas ... 67

4.3.3 Entrevistas dialogadas ... 76

5 CONCLUSÕES ... 83

REFERÊNCIAS ... 87

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APÊNDICE A – Questionário para professor de Estudos Amazônicos em Marabá... 93

APÊNDICE J – Transcrição da entrevista com a Prof.ª Dr.ª Violeta Refkalefsky Loureiro ... 95

APÊNDICE K – Transcrição da entrevista com o Prof. Me. Davison Alves (Unifesspa) ... 105

APÊNDICE L – Transcrição da entrevista com a Prof.ª Jaide das Graças Barreiros (Conselho Municipal de Educação) ... 128

APÊNDICE M – Transcrição da entrevista com o Prof. A1 ... 131

APÊNDICE N – Transcrição da entrevista com o Prof. A2 ... 134

APÊNDICE O – Transcrição da entrevista com o Profª A3 ... 144

APÊNDICE P – Transcrição da entrevista com o Prof. A4 ... 152

ANEXOS ... 157

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata da disciplina de Estudos Amazônicos e a formação de seus professores do Ensino Fundamental, com foco no munícipio de Marabá/PA, onde buscamos entender a importância de estudar o ambiente amazônico mediante a uma disciplina específica e, também, como se dá a formação deste professor.

Para tal, é importante entender a Amazônia como um espaço de múltiplos contrastes e contradições, haja vista a diversidade sociocultural e ambiental que a região proporciona devido ao seu território de dimensões continentais. No entanto, o processo de integração/ocupação dos últimos quarenta anos do espaço amazônico tem sido caracterizado pela destruição de suas florestas e, consequentemente, do espaço vivido pelas comunidades amazônicas. Tal processo motiva uma preocupação no cenário nacional e internacional, com a possibilidade de intensificação da crise ambiental que vivenciamos em escala global. Essa reordenação espacial, especialmente nas últimas décadas, tem, como fator propulsor, a apropriação e extração de riquezas por parte de grandes empreendimentos como o Projeto Grande Carajás, de ordem mineralógica.

Neste contexto, e baseando-se na Lei nº 12.796, de 04 de abril de 2013, que altera o art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), surge, no estado do Pará, a disciplina de Estudos Amazônicos, que integra a Parte Diversificada de disciplinas elaboradas pelo Conselho Estadual de Educação (CEE), conjuntamente com diversas unidades educacionais e, inicialmente, buscava-se, subsidiar a disciplina de Geografia naquilo em que seu conteúdo não abarcava.

No município de Marabá, sudeste do Pará, a disciplina tornou-se obrigatória a partir de instrução normativa de 01 de fevereiro de 2003. Porém, não foram criados critérios para trabalhar com a disciplina no Ensino Fundamental II, o que, possivelmente, ocasiona diversas problemáticas no processo de ensino.

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Justificativa

Meu percurso acadêmico iniciou-se em 2007, aos 17 anos de idade, quando ingressei na Universidade Vale do Acaraú (UVA), localizada em Belém, estado do Pará, no curso de Licenciatura em Geografia. Inspirado pelos professores de Geografia com os quais tive contato tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio. Minha escolha pela área foi pela facilidade para lidar com temáticas relacionadas à Geografia, tais como Geopolítica, Geografia Física, Urbanização e Geografia Agrária.

No decorrer do curso fui me familiarizando com teóricos essenciais para formação de um Geógrafo, como exemplo: Milton Santos, Ana Fani Carlos Alessandri, Roberto Lobato Correa, Marcelo Lopez de Souza, Saint-Clair Cordeiro da Trindade Junior, Rosa Acevedo Marin etc. Também professores do próprio curso como Dalva França, Mário Benjamin Dias e Fabiano Oliveira Bringel, me inspiraram a seguir carreira como Geógrafo.

O professor Mário Benjamin Dias, em sua disciplina Urbanização e mobilidade sócio-espacial, convidou-me para participar do seu grupo de pesquisa Urbanização das Micro Bacias Urbanas de Belém, quando tentamos produzimos conjuntamente vários artigos acadêmicos, tendo sido um deles1 publicado nos anais do XVI Encontro Nacionais os Geógrafos (ENG), em 2010.

Assim, iniciava-se a vocação como pesquisador de temáticas relacionadas ao meio ambiente urbano. No ano de 2011, à luz da tese de doutoramento da então discente Gerusa Gonçalves Moura, fui inspirado a escrever meu trabalho de conclusão de curso sobre a seguinte temática: Segregação sócio-espacial na rodovia Augusto Montenegro, na cidade de Belém-PA.

Neste mesmo ano fui aprovado em concurso público no município de Marabá, sudeste do Pará, para o cargo de professor de Geografia. Foi quando vi que minha formação como professor foi deficitária, pois tinha me tornado um Geógrafo e não um professor de Geografia.

No ano seguinte, iniciei um curso de pós-graduação lato sensu em Geotecnologias e suas aplicações, ofertado na modalidade semipresencial pelo Instituto de Geologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Foi quando tive meu primeiro contato com o

1Urbanização e condições de vida da população residente nas micro bacias urbanas no distrito administrativo de

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Sensoriamento Remoto, Sistema de Informação Geográfica (SIG) e outras ferramentas que me possibilitavam analisar o espaço geográfico.

Em 2013, comecei a cursar outra especialização Lato Sensu pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi) em Metodologia de Ensino de Geografia, onde defendi, em junho de 2015, a monografia intitulada “O uso das Geotecnologias no Ensino Básico da disciplina de Geografia: A potencialidade do Google Earth no ensino da Cartografia”.

Meu percurso acadêmico até aqui me credenciava como pesquisador na área de Geotecnologias e sua utilização na urbanização. Entretanto, voltando ao ano de 2011, quando passei no concurso público e fui convocado a assumir o cargo de professor de Geografia, deparei-me com uma disciplina chamada Estudos Amazônicos, para qual recebi uma carga horária de 50 horas, o que correspondia a quatro turmas de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

Essa disciplina me tirava o sono. Não era habilitado para lecionar assuntos concernentes à temática amazônica. Em toda grade curricular da minha graduação, tive apenas uma disciplina que trabalhava especificamente esta temática. Porém, fui desafiado pelo meu próprio instinto a encarar os Estudos Amazônicos. A matriz curricular da disciplina era algo desafiador; Temáticas que envolvem principalmente assuntos concernentes à história do município de Marabá, do sudeste paraense, do estado do Pará e da Amazônia em suas diversas multiplicidades.

A formação deficitária não foi o único problema encontrado neste caso. O fato de não ser fornecido livro didático específico para a disciplina também incomodava bastante. Há apenas um material paradidático que, nem sempre, atende às necessidades, recaindo sobre o professor a grande responsabilidade de adaptar e criar materiais didáticos para utilizar na disciplina.

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pesquisar a Formação do professor de Estudos Amazônicos e tentar minimizar minhas inquietudes em relação a esta disciplina.

Buscando entender como se deu/dá a formação do professor de Estudos Amazônicos, acreditamos que é possível saber os problemas relacionados a essa disciplina e assim possivelmente elenca-los e tentar compreender o que se ensina em sala de aula, não como forma de vigilância, mas se os objetivos e finalidades para qual a disciplina foi criada estão sendo compridos.

Acreditamos na existência de relevância acadêmica e social desta pesquisa. Em relação à questão acadêmica podemos afirmar que a bibliografia referente à disciplina de Estudos Amazônicos é escassa, o que dificulta pesquisas que se proponham a investigar tal tema. Sendo assim, ao realizar a presente investigação, estaremos desenvolvendo um estudo que poderá fornecer subsídios para que outros pesquisadores possam melhorar o processo de formação do professor que ministra a disciplina.

Problemática

Partindo-se do pressuposto de que existem dificuldades a serem vencidas, tanto na formação inicial dos professores da disciplina de Estudos Amazônicos, quanto no espaço escolar, na realidade local e no ambiente amazônico, dada a invisibilidade na qual a Amazônia estava e ainda está inserida, buscamos compreender como a disciplina de Estudos Amazônicos vem sendo ministrada no município de Marabá/PA, para isto, propomos algumas questões que compõem a problemática do presente estudo. São elas:

 Qual a formação acadêmica dos docentes que ministram a disciplina na rede pública do município de Marabá/PA?

 O que é proposto a partir da legislação nas esferas federal, estadual e municipal em relação à formação e aos critérios de seleção de professores para disciplinas que compõem a parte diversificada do currículo da Educação Básica, em especial no que diz respeito à disciplina Estudos Amazônicos?

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Objetivos Geral

A partir da estimativa de que existem dificuldades a serem superadas no ensino da disciplina de Estudos Amazônicos quanto à formação acadêmica, investigamos a contribuição da formação dos professores que ministram essa disciplina de Estudos Amazônicos para os discentes de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental no município de Marabá-PA, frente ao que consta na legislação, propondo assim, alternativas no processo de aperfeiçoamento e formação continuada dos docentes.

Específicos

 Refletir sobre o que é proposto pela legislação nas esferas federal, estadual e municipal em relação à formação e critérios de seleção de professores para disciplinas que compõem a parte diversificada do currículo da Educação Básica, em especial, no que diz respeito à disciplina de Estudos Amazônicos.

 Analisar os diferentes perfis dos profissionais que ministram a disciplina de Estudos Amazônicos;

 Investigar a percepção dos professores da disciplina de Estudos Amazônicos no que concerne à contribuição dos conteúdos constantes no currículo e que reforce seus conhecimentos quanto à sensibilização para questões socioambientais.

Metodologia

Para responder aos questionamentos propostos e, desse modo, alcançar os objetivos traçados, desenvolvemos um estudo de caso com análise documental, para que assim fizéssemos a triangulação dos dados. Segundo Gil (2008) o estudo de caso aponta alguns propósitos que se enquadram em nossa pesquisa, são eles: 1) explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; 2) preservar o caráter unitário do objeto estudado; 3) descrever a situação do contexto em que está sendo feita uma determinada investigação. Utilizamos diversas fontes de dados, como análise documental, questionários e entrevistas para alcançar nossos objetivos propostos.

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histórico de fatos referentes ao surgimento das disciplinas da parte diversificada do currículo e os critérios de seleção de professores para disciplina de Estudos Amazônicos. Para tanto, investigamos documentos oficiais das esferas federal, estadual e municipal. É importante ressaltar que analisamos diversos documentos e não resolvemos destinar uma única subseção nos procedimentos metodológicos apenas a eles por entender ser necessário utilizá-los para fundamentar as bases epistemológicas para delineamento desta pesquisa, logo, é possível encontrar a análise documental no decorrer dos capítulos.

Além da pesquisa documental, realizamos três entrevistas que chamamos de estruturantes, pois os entrevistados nos forneceram dados para que pudéssemos iniciar esta pesquisa de forma satisfatória, haja vista que uma das entrevistadas foi concedida pela mentora da disciplina, Profª. Drª Violeta Refkalefsky Loureiro e o outro foi o responsável pela única dissertação de mestrado que conta um pouco da história da disciplina de Estudos Amazônicos, o Prof. Me. Davison Hugo Rocha Alves. Ainda nesta fase, entrevistamos a professora Jaide das Graças Barreiros, membro do Conselho Municipal de Educação de Marabá.

Os questionários e as entrevistas dialogadas foram aplicados a professores da disciplina de Estudos Amazônicos da rede pública municipal de Marabá-PA. Ao todo foram aplicados oito questionários e quatro entrevistas dialogadas para identificar o perfil do profissional, e, consequentemente, entender como este profissional visualiza a disciplina. Inicialmente foram aplicados os questionários compostos de perguntas abertas e fechadas e, posteriormente, as entrevistas que chamamos de dialogadas, pois, com a impossibilidade de realizar as entrevistas com todos os profissionais que responderam o questionário, devido à incompatibilidade de horários, buscamos outros profissionais que pudessem nos dar informações substanciais sobre a disciplina.

Optamos por utilizar sujeitos vinculados somente à rede pública municipal de Marabá/PA devido ao número de docentes no Ensino Fundamental ser o mais significativo nesta rede que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015, dentre os 1566 docentes do Ensino Fundamental, 1265 são do ensino público.

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Para formulação desta pesquisa utilizamos referencial teórico de diversos autores e áreas do conhecimento para que pudéssemos discutir os principais conceitos que constam neste trabalho. Conceitos como desenvolvimento sustentável, que nos levaram a entender qual desenvolvimento queremos para Amazônia ou se necessitamos de um modelo de desenvolvimento. O conceito de disciplina escolar e seu contexto histórico e se de fato Estudos Amazônicos pode ser considerado uma disciplina. Além dos conceitos de formação inicial e continuada que nos deram base para entender a importância dos critérios para escolha do professor da disciplina em questão.

Estrutura da dissertação

No primeiro capítulo dissertamos sobre ‘POR QUE ENSINAR SOBRE AMAZÔNIA’, aonde fizemos uma caracterização historiográfica do território amazônico afim de mostrar o ambiente de tensão no qual a população está inserida. Elucidamos os variados contextos e a multiplicidade no qual o espaço geográfico amazônico vem sendo (des)territorializado e, por fim, categorizamos o município de Marabá/PA mediante o seu processo de ocupação e a condição socioeconômica de sua população. Este capítulo nos permitiu um diálogo entre a práxis das problemáticas verificadas no espaço amazônico e a importância de criar um capítulo que falasse sobre a contexto em que a disciplina de Estudos Amazônicos foi criada.

No capítulo dois ‘O MARCO REFERENCIAL DA DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS’, abordamos a LDB/96, mais especificamente seu artigo 26 que trata da Parte Diversificada do currículo, analisamos o parecer 06/2001 do Ministério da Educação, bem como dissertamos sobre o surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos e a interdisciplinaridade que a envolve.

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abordagens, técnicas e processos utilizados no desenvolvimento de nossa investigação, logo, foi dividia nas seguintes subseções: ‘Tipo de pesquisa’, ‘Contexto e sujeitos’ e ‘Análise de dados’. É importante ressaltar que neste capítulo usamos questionários, entrevistas estruturantes e dialogadas, utilizando o método de triangulação dos dados para analisá-los.

Em nosso último capítulo, intitulado ‘CONCLUSÕES’, fizemos um breve resumo da investigação, expomos as dificuldades e limitações encontradas durante a sua realização, elencamos os objetivos alcançados, retomamos e respondemos as perguntas que nos levaram a realizar esta pesquisa, e também propomos novos questionamentos que podem ser respondidos em próximas explorações do mesmo tema que contribuirão como diretrizes para estes estudos.

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1 POR QUE ENSINAR SOBRE AMAZÔNIA?

O objetivo deste capítulo é elencar e apresentar as dinâmicas que tornam relevantes o estudo da região amazônica de modo interdisciplinar. Para tanto, ele é abordado em três subseções: 1.1 Fatos históricos e caraterização do meio ambiente amazônico; 1.2 Amazônia legal e suas multiplicidades; 1.3 O entroncamento de Marabá.

1.1 Fatos históricos e caracterização do ambiente amazônico

Nesta subseção abordaremos o percurso histórico e caracterizaremos a região amazônica em diversas perspectivas, apresentado a nomenclaturas mais utilizada para designar o ambiente amazônico, bem como exemplificamos a importância dessa região para o Brasil, América do Sul e outros continentes.

Segundo Figueiredo (2006), as pesquisas históricas revelam que a Amazônia começou a ser explorada pelos colonizadores através do navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón, no início do século XVI, precisamente, nos primeiros dias de fevereiro de 1500, portanto, quase três meses antes da chegada das caravelas de Cabral. Esta fase ficou conhecida como Amazônia Espanhola, que perdurou até meados de 1640, quando ocorreu a separação das Coroas de Portugal e Espanha, período em que vigorava o Tratado de Tordesilhas2.

A região amazônica vivenciou e ainda vivencia diversas fases econômicas, geopolíticas e de poder. Uma dessas fases foi o período da Amazônia Luso-Espanhola, quando a Espanha exercia um domínio jurídico-formal e Portugal, efetivamente, exercia o domínio territorial, situação que se prolongou até meados de 1750, encerrando-se com o Tratado de Madri3.

Após a independência do Brasil, a região amazônica passou por um longo período de esquecimento, “vazio demográfico” quando autoridades passaram a centralizar suas ações no eixo Sudeste e Sul. Esse período foi superado a partir da importância geopolítica dada à

2O Tratado de Tordesilhas exerceu sua importância na região amazônica do Brasil colônia. Logo, os portugueses

efetivamente trataram, antecipadamente de exercer o domínio sobre a maior parte da região sem ter o respaldo jurídico.

3 O Tratado de Madri, assinado em 1750, objetivou juridicamente o domínio de Portugal, situação que perdurou

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Amazônia (Amazônia Continental), pelos países que compõem o G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo.

[...] No entardecer do século XX e no alvorecer do século XXI, em relação a Amazônia, cujo território se distribui por oito países da América do Sul. Para isso invoca concepções modernas de Geopolíticas, infladas pelas variáveis ecológicas, com o objetivo de pretensamente assegurar o equilíbrio climático do planeta Terra. Objetivamente, propõe que os países amazônicos renunciem parte da soberania que possuem sobre o seu território, entregando a gestão ambiental da Amazônia a uma entidade supranacional, como foi alvitrado na cúpula de Haia, em 1989. (RIBEIRO. 2006, p. 21)

Nota-se, que, por ter havido a globalização das questões ambientais, a soberania da região foi posta em xeque, pois a Amazônia passou a ser objeto de um clamor público internacional, pois sua devastação provocaria o desequilíbrio no clima da Terra e, portanto, uma ameaça para sobrevivência do ser humano; a solução para o problema deveria ser a internacionalização da região.

Coincidentemente, em relação a esse clamor público, a Amazônia começou a ser valorizada na área educacional a partir da década de 90 do século XX, quando surgiu a disciplina de Estudos Amazônicos no estado do Pará e, consequentemente, em Marabá.

Neste âmbito, a floresta amazônica é essencial para a existência do planeta Terra. Composto por nove países da América do Sul, a área florestal tem sua maior área concentrada no Brasil. Devido às várias nomenclaturas designadas para caracterizar a região, (exemplo: Pan-Amazônia, Amazônia Internacional e região Norte), escolhemos o termo Amazônia Legal4 como padrão e passaremos a utilizá-lo no decorrer do texto. Esta terminologia nomeia uma região que:

[...] foi criada inicialmente como área de atuação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953. Atualmente, ela corresponde à área dos Estados da Região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), acrescidos da totalidade do Estado de Mato Grosso e dos municípios do Estado do Maranhão situados a oeste do meridiano 44º O. Em sua configuração atual, equivale a área de atuação da SUDAM. (IBGE, 2015)

A Amazônia Legal foi instituída por necessidade de diferenciar o que, no imaginário das pessoas, confunde-se com a região Norte e, principalmente, no nível de desenvolvimento,

4 Utilizamos essa nomenclatura com base nas referências jurídicas e administrativas criadas a partir de 1953, tais

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usa-se essa nomenclatura para incluir parte do estado do Maranhão e, em sua totalidade, o estado de Mato Grosso que são caracterizados por pertencer ao domínio amazônico, como podemos observar no mapa a seguir:

Mapa 1 - Mapa da Amazônia Legal

Fonte: IBGE 2014

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Vidal de la Blache, Jean Bruhnes, Demolins, Ratzel, Reclus e muitos outros, nos estudos dos fatores geográficos que realizaram, demostraram a importância desses fatores sobre o social. Solo, clima, água ventos, chuvas, temperatura, flora, fauna determinam a conduta humana, os seus processos sociais, o nascimento das instituições, o desenvolvimento dos grupos sociais.

Os agentes geográficos podem agir direta ou indiretamente, produzindo fenômenos sociais, no espaço social. Sem ser através de uma ação rígida e quase sempre indiretamente, os fatores geográficos não deixam de influir nos fenômenos sociais de uma área geográfica. (ARAÚJO, 2003, p. 29)

Devido a essa diversidade natural, cultural e territorial, faz-se necessário optarmos por um eixo temático que nos leve a esclarecer a importância do ambiente amazônico, como explicitaremos nas próximas subseções.

1.2 Amazônia Legal e suas multiplicidades

Como este estudo trata da criação da disciplina de Estudos Amazônicos e a formação de seus professores, faz-se necessário uma delimitação da caracterização do ambiente amazônico, pois, diante de várias multiplicidades e vertentes que poderíamos seguir, optamos por entender a importância do ambiente amazônico a partir da urbanização, como veremos nesta subseção e na próxima.

A grande expansão urbana no Brasil, como um componente fundamental das mudanças estruturais na sociedade brasileira, ocorreu na segunda metade do século XX. Somente na década de 1960, a população urbana tornou-se superior à rural. Portanto, o rápido processo de urbanização é um fenômeno estrutural relativamente recente, tendo o seu auge medido pela velocidade do crescimento da população urbana, entre os anos 1950 e 1970.

O fenômeno da urbanização é, hoje, avassalador nos países do Terceiro Mundo. A população urbana dos países subdesenvolvidos (tomadas apenas as cidades com mais de vinte mil habitantes) é multiplicada por 2,5 entre 1920 e 1980, enquanto nos países subdesenvolvidos o multiplicador se aproxima de 6. O retardo da urbanização nos países do "Sul" é seguido por uma verdadeira revolução urbana. No caso do Brasil, a população urbana é praticamente multiplicada por cinco nos últimos trinta e cinco anos e por mais de três nos últimos vinte e cinco anos. (SANTOS, 1988, p.15)

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Foi com a formação do moderno aparelho de Estado, associada à sua crescente intervenção na economia e no território, que se acelerou e se tornou contínuo o processo de ocupação da Amazônia, com base na dominância absoluta da visão externa e privilégio das relações com o centro de poder nacional. (BECKER 2001, p.136)

A extração de parte dessas riquezas propiciou um fomento da urbanização da Amazônia brasileira, mesmo que tenha sido efêmera, baseada em ciclos econômicos. Um traço relevante que marca as diferentes atividades que prevaleceram em momentos distintos é, em geral, o não encerramento de cada um deles. O que houve foi uma alternância da hegemonia. Assim, o chamado ciclo das drogas do sertão, que muito marcou o período dominado pelos jesuítas e a época da colônia até o fim do século XIX, está ainda vigente. Da mesma forma, o ciclo da borracha, que começou na segunda década do século XIX e teve seu apogeu na primeira década do século XX, não se encerrou, embora tenha perdido boa parte de seu vigor e, sobretudo, tenha passado a um plano bem mais secundário no panorama na economia regional.

Ao estudar o padrão de ocupação do espaço geográfico da região, fica claro que, ao longo de séculos, os núcleos de povoamento sempre obedeceram às características impostas pela natureza. Os rios serviam de vias de interiorização e as terras mais afastadas das margens ficavam despovoadas. Até hoje, parte significativa da produção do extrativismo é comercializada pelos rios, entretanto, vale ressaltar que o padrão rio-várzea-floresta5 espaço a um novo padrão, estrada-terra firme-subsolo6a partir da década de 60 do século XX, o que proporciona uma (re)produção do espaço amazônico. De acordo com Trindade Junior: O quadro regional da Amazônia brasileira das últimas décadas nos faz concluir pela existência de uma nova dinâmica de urbanização que toma forma difusa e diversa na região. Há uma mudança no padrão de organização do espaço que desemboca, igualmente, em uma maior complexidade, relacionada não só às formas da cidade, como também aos seus conteúdos, confirmando o processo diferenciado de produção do espaço. (TRINDADE JÚNIOR, 2011, p.135)

Se a Amazônia dos rios foi o padrão que marcou mais de quatro séculos de ocupação europeia, o cenário começa a mudar de figura nas três últimas décadas do século XX. A era desenvolvimentista, inaugurada ainda nos anos 1950, no governo de Juscelino Kubitschek, chega de fato à Amazônia após a retomada da dinâmica da economia no final da década de 1960, já no regime militar. Uma série de fatores convergia para a promoção de um arrojado

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projeto de integração da região, reproduzindo na escala nacional um fenômeno semelhante ao que ocorria também nos outros países da Pan-Amazônia

Políticas de planejamento para Amazônia, a partir da criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953, tomaram a região como tendo uma estrutura econômica deficitária, necessitando de ações transformadoras para resgatá-la de seu atraso e subdesenvolvimento. Para isso, seria necessário estimular a industrialização, desenvolver uma agricultura voltada para o mercado local e ainda promover a integração econômica daquela região ao Sudeste e Sul mais desenvolvido.

No mesmo período, ganhavam força os objetivos geopolíticos de também efetivar a ocupação da região, que, supostamente, estaria ameaçada por interesses hegemônicos de outros Estados. O Regime Militar de 1964 deu sustentação aos argumentos de soberania nacional, que serviram de justificativa para as políticas implantadas, a partir de então, na Amazônia Legal Brasileira, mas que também encobriram as várias formas de atuação do capital estrangeiro, no sentido de obter a um baixo custo as possíveis riquezas minerais disponíveis na região, conforme diz Bertha Becker:

O Estado tomou a si a iniciativa de um novo e ordenado ciclo de devassamento amazônico, num projeto geopolítico para a modernidade acelerada da sociedade e do território nacionais. Nesse projeto, a ocupação da Amazônia assumiu prioridade por várias razões. Foi percebida como solução para as tensões sociais internas decorrentes da expulsão de pequenos produtores do Nordeste e do Sudeste pela modernização da agricultura. Sua ocupação também foi percebida como prioritária, em face da possibilidade de nela se desenvolverem focos revolucionários. (BECKER, 2001, p.137).

Todas essas iniciativas acabaram por colocar definitivamente a Amazônia Oriental no contexto da economia de mercado liderada pelo Centro-Sul mais desenvolvido, com boas oportunidades para investimentos por parte de empresários e de grupos econômicos dessa região e também do exterior.

As prospecções realizadas por iniciativas governamentais e por subsidiárias de empresas estrangeiras permitiram um levantamento dos recursos minerais, culminando com a descoberta das reservas de minério de ferro na Serra dos Carajás, no Sul do Pará, área então pertencente ao município de Marabá.

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dois. A participação do Estado ocorreu, inicialmente, por meio de incentivos fiscais e, depois para subsidiar a infraestrutura, sobretudo por meio de estradas, construção de aeroportos, fornecimento de energia elétrica, construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí e também por meio de empresas estatais, como a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), incumbida pelo Governo Federal de implantar o Projeto Grande Carajás (PGC), a partir de 1980.

A inserção de políticas públicas direcionadas à Amazônia Oriental trouxe uma grande quantidade de migrantes, principalmente para cidade de Marabá, desse modo, modificando e (re)produzindo o espaço urbano da cidade. Para Santos (1998, p.52), “Quanto mais intensa é a divisão do trabalho numa área, tanto mais cidades surgem e tanto mais diferentes são umas das outras”. Dentro desta perspectiva, quanto mais uma região produz, mais ela vai se desenvolver, pois criará um maior número de necessidades.

Entretanto, desenvolvimento não é sinônimo de progresso. Por esse motivo, o desenvolvimento regional aconteceu de forma facetada, segregando e excluindo os que não foram absorvidos pelos Grandes Projetos, formando bolsões de miséria em todo Sudeste paraense. A soberania nacional foi garantida em detrimento das mazelas sociais evidenciadas no espaço de várias cidades envolvidas num verdadeiro negócio da China7 proposto pelo Governo Federal.

Neste contexto é importante ressaltar as políticas públicas que estavam sendo implementadas em âmbito internacional para que se chegasse a um “Desenvolvimento Sustentável”. Fala-se em crise ambiental, e não temos dúvida de que a crise exista. Entretanto, preocupamo-nos com os modelos adotados para solucionar esta crise. Desde a Conferência de Estocolmo (1972) ou Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano, organizado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), na Suécia, busca-se um modelo ideal de exploração dos recursos naturais e a harmoniosa convivência entre o homem e o meio ambiente.

Em 1992, aconteceu no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), que envolveu o número recorde de delegações de 178 países e promoveu a celebração do Desenvolvimento Sustentável através de documentos como a Agenda 21. Em primeiro plano, a ECO-92 foi o

7 Com a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), atualmente conhecida como VALE, a empresa

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lugar onde celebrou-se o modelo de Desenvolvimento Sustentável que seria adotado pelos países signatários.

Desenvolvimento Sustentável: suas origens remetem à obra do liberal norte-americano do final do século XIX, Gifford Pinchot, responsável pela teorização acerca do que se convencionou chamar de conservacionismo (uso racional da natureza através de pequenos estoques), mas somente na década de 1960 houve uma aproximação dos movimentos ambientalistas nascentes e das estratégias geopolíticas, de matriz neomalthusiana, para adequação da natureza-combustível a um novo ritmo de desenvolvimento que mantivesse as relações exploratórias entre centro e periferia no sistema-mundo. Ou seja, tornou-se necessário, sob o viés hegemônico, cuidar da natureza para evitar seu esgotamento e não prejudicar a continuidade do ritmo capitalista. Tudo isso gerou uma grande celeuma, que originou estratégias aparentemente sinceras de cuidado ambiental, como o Ecodesenvolvimento, e outras de caráter claramente dominante, como o Crescimento Zero, que pregava o congelamento econômico dos países intitulados de “Terceiro Mundo”. O Desenvolvimento Sustentável é o corolário deste processo de encontro de interesses, que eclipsou as antigas divergências, e simboliza o fracasso da Conferência de Estocolmo, onde houve grande dissenso de idéias, e o sucesso da ECO – 92. (OLIVEIRA, 2005, p. 26)

A região amazônica estava/está inserida nesta lógica de pensamento, pois, partindo do pressuposto que somos considerados um país que busca seu desenvolvimento e que a Amazônia brasileira é localizada na região de menor desenvolvimento econômico do país, busca-se, a todo e qualquer custo, um modelo de desenvolvimento que não é pensado para população residente na região, um modelo esgotado de exploração onde os maiores beneficiados são os países considerados desenvolvidos economicamente.

Cabe ressaltar as diversas tipologias das concepções do Desenvolvimento Sustentável elencadas por Sauvé (1997): Desenvolvimento Contínuo, com inovação tecnológica e mercado livre baseado no crescimento econômico; Desenvolvimento Dependente da Ordem Mundial; Desenvolvimento Alternativo; Desenvolvimento Autônomo (Desenvolvimento Indígena).

O Desenvolvimento Contínuo é baseado na produtividade e competitividade, onde a ciência e a tecnologia estarão a serviço do Estado para o crescimento econômico. O ambiente é visto como recurso para o desenvolvimento e o gerenciamento do uso racional dos recursos para sustentabilidade.

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dos sindicatos, etc. Cada ator deverá "perseguir" seus objetivos no mercado de trabalho: isso é essencial para criar empregos e aumentar as riquezas. A ideologia neoliberal cria uma forma de Darwinismo social, favorecendo os mais adaptados para esse tipo de desenvolvimento baseado na competição orientada, onde as regras do jogo estão a priori determinadas pelos e para os mais ricos. Não obstante, Mead (1994) observa que alguns acreditam que somente o significante crescimento econômico no Norte pode gerar uma riqueza necessária para criar um equilíbrio entre o Norte e o Sul. (SAUVÉ, 1997)

Neste modelo, o desenvolvimento é pensado para o aumento da produtividade sem exaurir os recursos naturais e estimulando a competitividade. Acreditamos que não seja o modelo a ser seguido para a Amazônia, logo, o crescimento econômico, com princípios neoliberais, não irão resolver os problemas sociais e ambientais de nossa região.

O Desenvolvimento Dependente da Ordem Mundial e dos Modelos de Produção é baseado no livre comércio em grandes escalas, inovações científicas e tecnológicas para reestruturação das condições sociais. Neste modelo, o ambiente é pensado como uma biosfera de recursos a serem geridos por organizações mundiais, pactos regionais, acordos nacionais e legislações locais. Segundo Sauvé (1997):

Essa concepção baseia-se em que o mercado livre e a inovação tecnológica trazem o desenvolvimento. Todavia, ela deve reconhecer que os mecanismos da distribuição da "nova riqueza" (empregos, qualidade de vida) são anacrônicos ou pouco desenvolvidos. Por causa disso, a polarização social está aumentando tanto no Norte como no Sul. Enquanto os tomadores de decisão empregam a retórica da sustentabilidade, os autônomos desafiam a habilidade governamental para o controle do consumo e da poluição. (SAUVÉ, 1997)

Este modelo de desenvolvimento é considerado excludente. Os problemas sociais não foram resolvidos pelo crescimento econômico e o controle pelas organizações superiores foram questionados por movimentos autônomos.

No Desenvolvimento Alternativo é estruturado um modelo de desenvolvimento bio-regional econômico com distinção das necessidades e dos desejos, reduzindo a dependência e utilizando os recursos renováveis, estimulando assim, os processos democráticos, a participação e a solidariedade. O Ambiente é visto como um projeto comunitário.

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O modelo de desenvolvimento alternativo é pensado por comunidades regionais que visa o fortalecimento da relação social em prol do ambiente. Podemos considerar este modelo como endógeno.

No Desenvolvimento Autônomo prevalece a economia de subsistência, baseada na solidariedade e associada às distintas cosmologias. É conhecido também como desenvolvimento indígena, por ressaltar os valores culturais sem a perda da identidade territorial dos povos, fato comumente visto em um mundo globalizado.

O desenvolvimento dessa concepção, adotada pelas comunidades indígenas, constitui-se uma alternativa para o próprio desenvolvimento, que é percebido como um negócio inadequado e indesejado. "Para muitos representantes das comunidades indígenas, a noção de desenvolvimento é irrelevante". A identidade cultural, associada à ocupação territorial, bem como a integridade dos recursos (preservação ou regeneração), constituem-se como únicos valores constituem-seguros que garantem o verdadeiro desenvolvimento. (SAUVÉ, 1997)

Este modelo desenvolvimento adotado por comunidades indígenas é fundamental para pensarmos o modelo que a região amazônica necessita, haja vista que a Amazônia é o território de permanência não só dos indígenas, mas de diversas comunidades tradicionais, como os ribeirinhos, quilombolas, pescadores, jangadeiros, sertanejos etc.

Pensando nas concepções de desenvolvimento apresentadas até aqui, entendemos que a interconexão dos modelos de Desenvolvimento Alternativo e Desenvolvimento Autônomo, elencados por Sauvé (1997), sejam os mais propícios a serem adotados para região amazônica, pois além de integrar toda uma região que é constituída de diversos povos, não exclui as comunidades tradicionais.

Neste sentido é importante entender quando surgem as primeiras pesquisas voltadas à disciplina de Estudos Amazônicos e qual sua finalidade. Porém, antes de dissertamos sobre o surgimento da disciplina, necessitamos compreender as dinâmicas que o Sudeste do Pará, mais especificamente o município de Marabá, está inserido.

1.3 Entroncamento de Marabá

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tratamento dos dados produzidos e podem ser preponderantes para os resultados de nossa pesquisa.

FIGURA/Mapa 2 – Localização da cidade de Marabá

Fonte: IBGE 2016

O título desta subseção, Entroncamento de Marabá, deve-se ao encontro das duas principais vias de acesso à cidade: as rodovias Transamazônica (BR-230) e Paulo Fontelles (PA-150), rodovias que foram e continuam sendo fundamentais para o desenvolvimento da cidade e da região de Carajás8. Além destas duas rodovias, a cidade é banhada, principalmente, pelos rios Itacaiúnas e Tocantins que também exercem sua importânciadesde a fundação da cidade.

Segundo Almeida (2008), o processo de ocupação da área onde hoje se encontra Marabá deve-se à fundação do Burgo Agrícola, instaurado por Carlos Gomes Leitão9 que é pertencente de um grupo de famílias provenientes de Goiás em 1895. Inicialmente, a ideia era estabelecer um núcleo dedicado à agropecuária para assentar colonos que fugiam das lutas

8O Carajás é uma proposta para uma nova unidade federativa do Brasil, que seria fruto do desmembramento do

Pará. A região abrange uma população de aproximadamente 1,7 milhão de habitantes, e 289.799 km² de área.

9 Conhecido como coronel Leitão foi um político, militar, magistrado e agricultor brasileiro que se fixou nos

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políticas na cidade de Boa Vista10 que, até então, pertencia a Goiás. Entretanto, o local escolhido para a fundação da cidade, junto ao encontro do rio Itacaiúnas com o rio Tocantins, próximo de onde hoje se encontra o bairro Marabá Pioneira, apresentou problemas de insalubridade e parte da população foi acometida por febres. Em consequência disso, alguns moradores migraram para um outro ponto do burgo, acompanhando Carlos Leitão, 18 quilômetros rio abaixo. Segundo o engenheiro Ignácio Baptista de Moura, que em 1896 percorreu a região comissionado pelo Governo do Pará, as condições no novo local eram bem melhores, inclusive no que se referia às enchentes11.

Figura 1 – Enchente na década de 80

Fonte: Casa da Cultura

Após o estabelecimento do Burgo Agrícola, foi descoberto o caucho (borracha) nas matas em torno da bacia do rio Itacaiúnas. A exploração do caucho12 impôs a necessidade de ocupar o pontal pela facilidade de se controlar o acesso à mata, sobre os caucheiros que extraiam o produto e também do trafego fluvial por parte dos comerciantes que negociavam o produto na capital, Belém. Nesse pontal formou-se um núcleo a partir de uma casa comercial fundada por um maranhense chamado Francisco Coelho, em 1898.

10 Segundo IBGE (2015), a cidade de Boa Vista, atualmente conhecida como Tocantinópolis, foi alvo de intensas

disputas políticas geradas pelo coronel Leitão que inclusive em sua época já almejava a criação do estado do Tocantins.

11 A cidade de Marabá, desde a sua fundação, sofre anualmente com problemas de enchentes. Esse problema

deve-se ao local de fundação da cidade, que foi justamente no encontro dos rios Itacaiúnas e Tocantins.

12 Um dos atrativos para ocupação da cidade de Marabá foi a descoberta do Caucho (Castilla ulei Warb), uma

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Segundo Rodrigues (2010), o extrativismo do caucho ganhou impulso atraindo levas de migrantes, comerciantes donos de embarcações e distribuidores de mercadorias. Muitos deles também se estabeleceram na condição de aviadores por adiantarem ou aviarem recursos, utensílios e alimentação aos caucheiros para que estes penetrassem na mata. O acerto era feito na entrega do produto para embarque em Marabá em direção a Belém. Essa relação de trabalho conhecida como aviamento, acabou se consolidando e depois se manteve durante o ciclo da castanha.

Por meio do aviamento a mão de obra era submetida a uma relação de dependência, antes e depois do trabalho de extração do caucho, uma vez que, sem o adiantamento em produtos e a estadia mantida pelo patrão, o caucheiro não tinha como iniciar o seu serviço.

Dentro desse processo, constituiu-se o núcleo urbano, onde uma parte da população deslocava-se para outras regiões na entressafra do caucho e outra se dedicava a serviços temporários, praticando uma agricultura de subsistência ou roçado. Durante essa época do ano o movimento na cidade diminuía, nas pensões, no comércio e no porto às margens do rio Tocantins, pois a navegação durante o “verão” era mais difícil com a vazante dos rios.

No início do segundo decênio do século XX, a crise da borracha provocada pela concorrência asiática derrubou os preços da goma elástica brasileira, afetando a extração do caucho na área de Marabá. Contudo, um outro produto já bem conhecido na região encontrava boas possibilidades no mercado internacional, a castanha-do-pará, fruto da castanheira (bertholetia excelsa). A presença de castanhais nas áreas do Baixo Tocantins já era bem conhecida e a sua extração também. O que notabilizou a área do município de Marabá foi a grande concentração dessas árvores, também na bacia do rio Itacaiúnas e de seus igarapés. A castanha era muito apreciada na Europa e nos Estados Unidos, sobretudo para confecção de doces e bolos.

A castanha colocou Marabá em uma situação favorável para poder superar rapidamente a decadência do comércio da goma elástica. Além da localização, próxima aos castanhais mais produtivos, Marabá possuía um porto já instalado e o sistema de aviamento em vigor na época do caucho e que se perpetuou nessa atividade.

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Carajás. Atualmente, a cidade vive o ciclo da agropecuária, principalmente a pecuária extensiva.

Hoje o município de Marabá é o quarto mais populoso do Pará, contando com aproximadamente 266.032 habitantes, segundo o IBGE (2016), e com o 4º maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado, com seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é de 0,668. É o principal centro socioeconômico do sudeste paraense e uma das cidades mais dinâmicas da região Norte.

A evolução histórica da urbanização da cidade de Marabá, desde seu surgimento, tem sido condicionada pelas atividades econômicas e políticas de desenvolvimento que, por si, conduziram a um elevado aumento populacional, em alguns momentos, que deu origem a uma ocupação e uso do solo conflitantes, em algumas áreas, com as condições ambientais locais.

Devido a dinâmica da migração, impulsionada pelos ciclos econômicos outrora verificados na região e a perspectiva da instalação da Aços Laminados do Pará (ALPA)13, que seria implantado pela mineradora VALE, além dos núcleos14 de povoamento já existentes (São Félix, Cidade Nova, Nova Marabá, Morada Nova), foi possível verificar o surgimento da expansão do núcleo Nova Marabá.

13Inicialmente projetado para ser implantado pela mineradora VALE, a siderúrgica ALPA motivou a vinda de

migrantes da própria região e de diversas regiões do Brasil, principalmente do Nordeste. Criou-se uma estrutura para implantação do projeto, mas a mineradora VALE doou o terreno à multinacional Cevital, que promete investir U$ 2 bilhões e gerar 2.500 empregos diretos até 2019.

14 A cidade de Marabá, inicialmente devido a topografia e depois pela expansão do mercado imobiliário é

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Figura 2 – Imagem de satélite dos núcleos de Marabá

Fonte: Google Maps 2016

Na imagem acima é possível identificar os núcleos de ocupação da cidade de Marabá. O círculo em vermelho representa o primeiro núcleo de povoamento, São Félix, que posteriormente se expandiu para Cidade Nova (círculo em lilás), Nova Marabá (círculo em azul) e atualmente a expansão se dá pela BR-230 (Transamazônica), sentido Tocantins (círculo em vermelho escuro).

Ainda segundo o IBGE (2015), o município possui 1265 docentes da rede pública de ensino municipal, 219 escolas municipais e 43.035 alunos matriculados no Ensino Fundamental da rede pública de ensino. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), referente ao 9º ano é de 4,0. (INEP, 2015)15. Estes fatores e os outros expostos até aqui nos credenciam pela escolha do município de Marabá para realização desta pesquisa, haja vista a necessidade de entender o processo de formação do professor que atua com uma disciplina específica sobre a temática amazônica e a sua importância para disseminação dos conhecimentos relacionados a nossa região.

15O IDEB é apenas um dos mecanismos de avaliação da Educação Básica, o que não reflete realidade da

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2 O MARCO REFERENCIAL DA DISCIPLINA DE ESTUDOS AMAZÔNICOS

Neste capítulo abordaremos a LDB/96, mais especificamente seu artigo 26 que trata da Parte Diversificada do currículo, analisaremos o parecer 06/2001 do Ministério da Educação (MEC), bem como dissertaremos sobre o surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos e a interdisciplinaridade que a envolve. Para tanto, dividimos este capítulo nas subseções: 2.1 Parte diversificada do currículo e a disciplina de Estudos Amazônicos; 2.2 Surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos e 2.3 Estudos Amazônicos e a Interdisciplinaridade.

2.1 Parte Diversificada do currículo e a disciplina de Estudos Amazônicos

Antes de conhecermos a história da disciplina de Estudos Amazônicos, necessitamos definir como surgiram as disciplinas escolares e entender o real objetivo e significado que a disciplina tem para a Amazônia.

Por isso, começamos com uma indagação de Bittencourt (2004) “afinal, o que é uma disciplina escolar”? E qual a importância de criar-se uma disciplina que aborde a temática amazônica?

Responder à pergunta “o que é uma disciplina escolar?” não é simples, e existe séria polêmica a respeito desse conceito, a qual pode parecer meramente acadêmica e teórica, mas está relacionada a concepções mais complexas sobre a escola e o saber que ela produz e transmite assim como sobre o papel e o poder do professor e dos variados sujeitos externos à vida escolar na constituição do conhecimento escolar. (BITTENCOURT, 2004, p. 35)

Analisando os principais estudos sobre a história das disciplinas escolares, é possível destacar os trabalhos de Chervel (1990) e de Chevallard (1991), aos quais foram atribuídos os créditos como marco referencial nessa área de pesquisa.

Os conceitos discutidos por Yves Chevallard contribuíram para o embasamento de várias pesquisas, pois o autor entende a disciplina escolar como resultado da transposição didática, ou seja, a disciplina tem o objetivo de criar formas para transpor o conhecimento.

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fundamental para identificação, classificação e organização das finalidades do ensino escolar. Para Chervel o termo “disciplina” até o início de século XX era tido como uma vigilância e uma punição as crianças, porém com o fim da primeira guerra mundial o termo perde a força que o caracterizava anteriormente e torna-se uma simples matéria de ensino.

Neste sentido cabe pensarmos qual foi o intuito da criação da disciplina de Estudos Amazônicos. Houve relação de poder? A disciplina tornou-se um movimento de resistência ou apenas uma disciplina resistida a velha lógica do pensamento hegemônico de dominação social? Tentaremos entender se esses questionamentos são respondidos ao logo dessa dissertação, mas, para isso, necessitamos saber a base legal na qual surgiu a disciplina.

Para entendermos esta base legal é necessário fixarmos nosso olhar para currículo escolar dos Ensinos Fundamental e Médio que é composto por dois eixos, o da Base Nacional Comum e a Parte Diversificada. A Base Nacional Comum é obrigatória em âmbito nacional e as disciplinas são fixadas pelo Conselho Federal de Educação. A Parte Diversificada do currículo é composta de disciplinas que serão escolhidas com base em relação elaborada pelos Conselhos de Educação, para os respectivos sistemas de ensino.

A Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que altera o Art. 26 da LDB de 1996, diz que: Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (BRASIL, 2013)

É importante ressaltarmos que existiam muitas dúvidas referentes à diferenciação dos termos Base Nacional Comum e Parte Diversificada. Tanto é que, o Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, através do oficio CEED/ N. 761, consulta a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação sobre o entendimento que há de ter sobre os termos Base Nacional Comum e Parte Diversificada.

Segundo o Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, as expressões Base Nacional Comum e Parte Diversificada são resquícios da Lei nº 5.692/71 que, na atual LDB, com bastante acuidade, tornam a Parte Diversificada sem o sentido que deveria ter no contexto da educação local.

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Educação é bem claro em relação a como deve ser elaborada a Parte Diversificada a partir da LDB de 1996:

A lei n. 9.394/96 das diretrizes e bases da educação nacional contém mudanças significativas com relação ao ordenamento educacional anterior. A nova lei em seu art, 92, chega mesmo a revogar as leis de educação precedente. Isto significa mais do que a instituição de uma outra lei. Significa um projeto que contenha uma mudança significativa, nova. Esta novidade atende na lei n. 9.394/96 pelo nome de autonomia [...] (BRASIL, 2006)

Dessa forma, precisamos deixar claro que as disciplinas que compõem a Parte Diversificada devem servir os educandos e, prioritariamente, envolver as características locais, culturais e da economia de cada região. Portanto, cada escola pode elaborar e escolher qual disciplina atende as necessidades dos educandos, para dar complementaridade e sentido a Parte Diversificada do currículo.

É necessário entender a proposta da parte diversificada analisando os variados conceitos de currículo existentes. A palavra currículo vem da palavra latina scurrere (correr) e refere-se a curso (ou carro de corrida), o que leva etimologicamente a uma definição de currículo como um curso a ser seguido, ou mais especificamente, apresentado (GOODSON, 1995).

Apple (2006, p. 32) afirma que “o currículo nunca é um conjunto neutro de conhecimentos, ele é parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo”. Sendo assim, podemos entender o currículo como a base cultural de determinado grupo social, em diversas temporalidades, entrelaçando-se entre o tradicional e o moderno.

A Secretária de Estado e Educação do Pará explicita o currículo como:

O currículo deve ser definido a partir das necessidades específicas de cada realidade escolar, por todos os sujeitos envolvidos no contexto em questão. Isto implica dizer que na definição do currículo deve-se partir da “realidade”, da “necessidade” dos alunos para a seleção dos “saberes” e “conhecimentos” a serem por eles apropriados. (PARÁ, 2003)

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além de um currículo que vise apenas atender necessidades, devemos almejar um currículo crítico-libertador.

Não reduzimos, por isso mesmo, sua compreensão, a do currículo explícito, a uma pura relação de conteúdos programáticos. Na verdade, a compreensão do currículo abarca a vida mesma da escola, o que nela se faz ou não se faz, as relações entre todos e todas as que fazem a escola. Abarca a força da ideologia e sua representação não só enquanto idéias mas como prática concreta. No currículo oculto o “discurso do corpo”, as feições do rosto, os gestos, são mais fortes do que a oralidade. A prática autoritária concreta põe por terra o discurso democrático dito e redito (FREIRE, 2000, p. 123).

Assim, o entendimento do que é currículo torna-se fundamental para que seja desenvolvida uma matriz curricular para disciplina de Estudos Amazônicos e, consequentemente, entender as necessidades dos discentes em relação ao porque estudar uma disciplina de características regionais.

2.2 Surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos

Em meados da década de 80 do século XX, houve a necessidade da inclusão das disciplinas História do Pará e Estudos Paraenses na grade de disciplinas da Secretaria Estadual de Educação do estado do Pará e Secretaria Municipal de Educação de Belém, com a justificativa do fortalecimento dos conteúdos concernentes ao estado do Pará e baseados em um programa do MEC que instituiu um programa chamado “Educação para Todos – Caminho para Mudança”. A partir da implementação deste programa o curso acadêmico de História, principalmente na Universidade Federal do Pará (UFPA), reorganizou sua grade curricular e, posteriormente, sugeriu a implementação das disciplinas supracitadas.

Como as disciplinas História do Pará e Estudos Paraenses não são o foco desta pesquisa, vamos partir para o surgimento da disciplina de Estudos Amazônicos, deixando claro que houve sim, importância das disciplinas, mas em um outro período, já no final da década de 80 do século XX, começou-se a pensar na possiblidade de uma disciplina com abrangência regional, sem desmerecer os conteúdos locais.

Segundo entrevista concedida por Loureiro (2016)16, a disciplina de Estudos Amazônicos começou a ser pensada em meados da década de 80 a partir da elaboração de um

16Violeta Refkalefsky Loureiro, doutora em Sociologia - Institut Des Hautes Etudes de Amérique Latine (1994).

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livro chamado 'Amazônia estudos e problemas sociais', onde vários professores foram convidados para sua elaboração e o mesmo visava elucidar temas referentes à Amazônia. O livro foi desenvolvido para os professores do Ensino Médio, especificamente para os professores de Geografia, História e Sociologia, para que os temas relacionados à Amazônia fossem disseminados no Ensino Básico.

Você só consegue defender uma região, do ponto de vista de agressões ambientas e mesmo agressão de direitos humanos e tudo, se você conhece os problemas da região e os alunos conheciam muito pouco, então, eu comecei a discutir duas questões básicas: era a falta de conhecimento sobre a Amazônia e a importância da Sociologia e da Filosofia no Ensino Médio. (LOUREIRO, 2016)

Partindo desse pressuposto, entendemos que o surgimento da disciplina se deu em um período oportuno no qual a professora Violeta Loureiro era diretora de ensino na SEDUC/PA e, segundo Alves (2016):

Os debates na Secretaria de Educação do Estado do Pará e a elaboração da disciplina Estudos Amazônicos, começaram a ser discutido em 1987, quando esta secretaria organizou um evento em Belém voltado para os professores da rede estadual, neste encontro os professores ressentiam-se da falta de material didático, que dialogasse com temas amazônicos para a escola. Neste sentido a SEDUC em parceria com o IDESP (Instituto de Desenvolvimento Econômico-social do Pará), publicou uma coletânea de textos voltados para os professores da rede estadual, que discutisse alguns acontecimentos recentes na região amazônica, processos sociais que até então eram silenciados no espaço escolar. (ALVES, 2016)

A partir da resolução nº 630/97, aprovado pelo Conselho Estadual de Educação (CEE/PA), a disciplina de Estudos Amazônicos passar a existir em substituição à disciplina Estudos Paraenses. Vale ressaltar que a professora Violeta Loureiro também era membro do CEE/PA e, prioritariamente, tinha-se pensado que a disciplina seria ofertada para o Ensino Médio. Entretanto, por falta de recursos a disciplina foi e continua sendo ofertada apenas no Ensino Fundamental II, com exceção de algumas escolas com jurisprudência do governo do Estado do Pará que ofertam a disciplina no Ensino Médio, fruto de muitas lutas e conquistas por parte de professores e alunos. Apesar da resolução ter sido publicada no ano de 1997, segundo Alves (2016), somente no ano de 1999 a disciplina torna-se obrigatória no Ensino Fundamental II :

Imagem

Figura 1  –  Enchente na década de 80
Figura 2 – Imagem de satélite dos núcleos de Marabá
Figura 3 - Número de matrículas no Ensino Superior
Tabela 01 – Perfil profissional dos professores de Estudos Amazônicos  Nome (Professores) A, B, C, D, E, F, G e H
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