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Representações discursivas no discurso político. Não me fiz sigla e legenda por acaso : o discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães (30/05/2001)

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(1)

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

DEPARTAMENTO DE LETRAS

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS NO DISCURSO POLÍTICO. “Não me fiz sigla e legenda por acaso”: o discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães

(30/05/2001).

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REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS NO DISCURSO POLÍTICO. “Não me fiz sigla e legenda por acaso”: o discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães

(30/05/2001).

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob a orientação do Prof. Dr. Luís Passeggi, como requisito para obtenção do grau de Doutora.

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REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS NO DISCURSO POLÍTICO. “Não me fiz sigla e legenda por acaso”: o discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães

(30/05/2001).

Tese apresentada como requisito para a obtenção do grau de Doutora em Linguística ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL), Departamento de Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo sido defendida e aprovada em 28/08/2013, pela seguinte banca examinadora:

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Luís Álvaro Sgadari Passeggi (UFRN)

Presidente

_______________________________________________________________ Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto

Examinador Interno

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Marize Adriana Mamede Galvão

Examinadora Interna

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Sueli Cristina Marquesi

Examinadora Externa

______________________________________________________________ Prof. Dr. Gilton Sampaio de Souza

Examinador Externo

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A linguagem é um poder, talvez o primeiro poder do homem.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que, em seu silêncio, está sempre falando mais alto e ouvindo-me nos momentos difíceis.

À UERN, pela parceria nesta pesquisa, em especial ao Departamento de Letras do

Campus Avançado “Profa. Maria Elisa de A. Maia” (CAMEAM).

Ao Professor Luís Passeggi, pelas orientações de tese, pelos ensinamentos, pela ética e pela seriedade na condução desta pesquisa.

À minha família, pelo apoio em todos os momentos.

A Flaubert, pela cumplicidade, pelo companheirismo e pela compreensão, o que, com certeza, tornou esta pesquisa mais produtiva.

Aos Professores Drª Maria das Graças Soares, Drª Sueli Cristina Marquesi e Dr. Gilton Sampaio de Souza, pela valiosa contribuição no momento de qualificação deste trabalho.

Aos colegas Jailson José e Edilene Barbosa, do Departamento de Letras Estrangeiras do CAMEAM/UERN, pela tradução.

Ao Grupo de Pesquisa Análise Textual dos Discursos (ATD), por proporcionar novos olhares para os estudos do texto e do discurso.

Aos colegas do PPgEL, particularmente Milton Ramos e Karla Geane de Oliveira, pelo diálogo constante sobre as representações discursivas.

À Secretaria do PPgEL, pelo pronto atendimento.

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ATD Análise Textual dos Discursos LT Linguística do Texto

AD Análise do Discurso

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Figura 1 –Esquema 3: Determinações textuais “ascendentes” e regulações “descendentes”..24

Figura 2 – A Linguística Textual: ciência integrada?...26

Figura 3 – Esquema 10: Estrutura sequencial-composicional do texto...30

Figura 4 – Esquema 4 – Níveis ou planos do texto e do discurso...36

Figura 5 – Esquema 5: Operações de segmentação e de ligação...40

Figura 6 – Esquema 11: As três dimensões da proposição-enunciado...42

Figura 7 – Esquema 13: Operações de ligação que asseguram a continuidade textual...44

(10)

Tabela 1 – A referenciação e os seus modificadores no discurso político de renúncia...88

Tabela 2 – Os verbos de ação no discurso político de ACM...90

Tabela 3 – Os verbos de estado, mudança de estado e relações predicativas...94

Tabela 4 – Os modificadores da predicação na Rd de ACM...95

Tabela 5 – Localizadores espaciais no discurso de renúncia...97

Tabela 6 – Localizadores temporais na Rd de ACM...98

Tabela 7 – A conexão na Rd de ACM...99

Tabela 8 – A comparação na Rd de ACM...100

Tabela 9 – Verbos utilizados na Rd de ACM como locutor...113

Tabela 10 – A referenciação e os modificadores dos alocutários...161

Tabela 11 – A predicação e os modificadores dos alocutários...162

Tabela 12 – A referenciação e os modificadores do alocutário Jáder Barbalho...164

Tabela 13 – A predicação de ação do locutor...166

Tabela 14 – A predicação dos alocutários...166

Tabela 15 – A referenciação e os modificadores do alocutário FHC...172

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Quadro 1 – Síntese das operações lógico-discursivas...57

Quadro 2 – Síntese das operações de construção para o período descritivo...58

Quadro 3 – Síntese das operações de relação texto-gramática para a construção das proposições...61

Quadro 4 – Síntese das operações textuais e gramaticais para a construção dos textos...63

Quadro 5 – Síntese das operações semânticas das Rds...64

Quadro 6 – Síntese das operações semânticas para análise das Rds...65

Quadro 7 – Categorias semânticas readaptadas para a análise das Representações discursivas...73

Quadro 8 – Resumo das categorias semânticas das Rds de ACM e classes gramaticais correspondentes...177

Quadro 9 – Resumo das categorias semânticas das Rds dos alocutários e classes gramaticais correspondentes...178

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Antonio Carlos Magalhães (30/05/2001). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2013 (UFRN/PPgEL).

RESUMO

O objetivo deste trabalho é investigar como as representações discursivas do locutor e dos alocutários são construídas no discurso de renúncia ao mandato de senador, proferido por Antonio Carlos Magalhães (ACM), na 62ª sessão deliberativa ordinária, em 30/5/2001. A perspectiva teórica que adotamos situa-se no campo da Linguística do Texto, com foco na abordagem da Análise Textual dos Discursos – ATD (ADAM, 2011). A noção de representação discursivaapresentada pela ATD constitui um dos aspectos da dimensão semântica do texto e baseia-se, parcialmente, nos trabalhos de Grize sobre a esquematização (1990, 1996). Complementamos as categorias de análise com contribuições que nos permitem detalhar a expressão linguística, textual e discursiva das representações discursivas (NEVES, 2006; CASTILHO, 2010; RODRIGUES, PASSEGGI, SILVA NETO, 2010; RAMOS, 2011; RODRIGUES et al. 2012; PASSEGGI, 2012; OLIVEIRA, 2013). O enfoque metodológico é qualitativo, descritivo e interpretativista (MINAYO, 1994; TRIVINÕS, 1987; GIL, 2002). Os procedimentos de análise utilizam as categorias semânticas de referenciação, predicação, modificação (de referentes e predicações), localização espacial e temporal, conexão e comparação. A representação discursiva do locutor (ACM) é constituída pelo conjunto de representações mais específicas, expressas nas referenciações e nas suas modificações: vítima; político; sigla; nordestino; presidente do senado; senador confiante; condenado. ACM, como protagonista, assume sempre a sua voz no discurso, manifesta seus pontos de vista e posiciona-se como sujeito ativo, consciente da importância do seu papel político e social, que o torna alvo e vítima das ações dos adversários. Complementando essa referenciação, as predicações e suas modificações se expressam através de verbos de ação, em especial, verbos na 1ª pessoa do singular que marcam o tempo presente, real e conclusivo de ações que constroem um cenário positivo para si mesmo. A localização temporal e espacial indicam as ações realizadas pelos participantes nas diversas etapas temporais selecionadas pelo texto, articuladas a três espaços principais: o Senado Federal, o Brasil e, naturalmente, a Bahia. Por sua vez, conectores adversativos (sobretudo “mas”), explicativos e condicionais acompanham e estruturam o ritmo argumentativo do discurso de renúncia de ACM.

(13)

Carlos Magalhães (May, 30th, 2001). Doctor Thesis. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2013 (UFRN/PPgEL).

ABSTRACT

This research aims at investigating how discursive representation from speaker and listener are constructed at Senator relinquish discourse done by Antonio Carlos Magalhães (ACM), at the 62th Ordinary Section at Brazilian Congress House on May, 30th, 2001. The theoretical perspective we adopted in this work comes from Text Linguistics, focusing on Discourse Text Analysis (DTA). The notion of discursive representation presented through DTA consists in one of the faces from semantics text dimension and it is partially based on Grize works about schemata (1990, 1996). We complete our analyzes categories with contributions that allow us to detail linguistic, text, and discursive expressions about discursive representations (NEVES, 2006; CASTILHO, 2010; RODRIGUES, PASSEGGI, SILVA NETO, 2010; RAMOS, 2011; RODRIGUES et al. 2012; PASSEGGI, 2012; OLIVEIRA, 2013). The methodology focus on qualitative, descriptive and interpretative aspects (MINAYO, 1994; TRIVINÕS, 1987; GIL, 2002). To analyzing procedures, we used semantic categories at reference, qualification, modification (about referents and adjectivation) spatial and time connection and comparison. Discursive representation of speaker (ACM) is formed by a more specific set of representation; they are expressed in those references and their modification: victim, politician, acronym, northeastern, Senator President, guilty. ACM as the main in that situation always assume his own vice at the speech, he manifest his own point of view and take position as an active subject, he is conscious about his social and political role, this turn and victim from his opposite political actions. To complete that reference, the adjectivation and its modifying are expressed through action verbs, especially verbs in the first person that mark the simple present expressing reality and conclusions of actions, this construct a positive scenery to himself. Time and spatial localization indicates that the actions done by discourse participants in time selected in the text are articulated by three main spaces: Brazilian Congress (Senator) Brazil and naturally Bahia State. Opposite connectors (mainly “but”), explanatory and conditionals are joined and structure the argumentative rhythm in ACM relinquish discourse.

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Antonio Carlos Magalhães (30/05/2001). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2013 (UFRN/PPgEL).

RESUMEN

El trabajo tiene por objetivo investigar como las representaciones discursivas del locutor y de los alocutarios son construidas en el discurso de renuncia al mandato de senador, proferido por Antonio Carlos Magalhães (ACM), en la 62ª sesión deliberativa ordinaria, en 30/05/2001. La perspectiva teórica que adoptamos se sitúa en el campo de la Lingüística del Texto, centrada en el abordaje del Análisis Textual de los Discursos – ATD (ADAM, 2011). La noción de representación discursiva presentada por la ATD constituye uno de los aspectos de la dimensión semántica del texto y se basa, parcialmente, en los trabajos de Grize sobre la esquematización (1990, 1996). Complementamos las categorías de análisis con contribuciones que nos permiten detallar la expresión lingüística, textual y discursiva de las representaciones discursivas (NEVES, 2006; CASTILHO, 2010; RODRIGUES, 2012; PASSEGGI, SILVA NETO, 2010; RODRIGUES et al. 2012; PASSEGGI, 2012; RAMS, 2011). El enfoque metodológico es cualitativo, descriptivo e interpretativista (MINAYO, 1994; TRIVINÕS, 1987; GIL, 2002). Los procedimientos de análisis utilizan las categorías semánticas de referenciación, predicación, modificación (de referentes y predicaciones), localización espacial y temporal, conexión y comparación. La representación discursiva del locutor (ACM) es constituida por el conjunto de representación más específicas, expresas en las referenciaciones y en las modificaciones: víctima; político; sigla; nordestino; presidente del senado; senador confiado; condenado. ACM, como protagonista, asume siempre a su voz en el discurso, manifiesta sus puntos de vista y se posiciona como sujeto activo, consciente de la importancia de su papel político y social, que le convierte en el blanco y la víctima de las acciones de los adversarios. Complementando esa referenciación, las predicaciones y sus modificaciones se expresan a través de los verbos de acción, en especial, verbos en 1ª persona del singular que marcan el tiempo presente, real y conclusivo de acciones y construyen un escenario positivo para sí mismo. La localización temporal y espacial indican las acciones realizadas por los participantes en las diversas etapas temporales seleccionadas por el texto, articuladas a tres espacios principales: el Senado Federal, Brasil y, evidentemente, Bahia. Por su vez, conectores adversativos (sobre todo “mas”), explicativos y condicionales acompañan y estructuran el ritmo argumentativo del discurso de renuncia de ACM.

(15)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 18

2 PANORAMA TEÓRICO DA PESQUISA ... 22

2.1 A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS E AS REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS ... 22

2.1.1 A análise textual dos discursos: uma abordagem teórico-metodológica da linguística do texto ... 22

2.1.1.1 Os níveis de discurso e os níveis de texto no campo da análise textual discursiva...29

2.1.2 As representações discursivas: o nível semântico do texto ... 39

2.1.2.1 A proposição como unidade textual-discursiva mínima: construção de atos de referência...39

2.1.2.2 A proposição-enunciado e as ligações semânticas para formar o plano composicional do texto...43

2.1.3 A representação discursiva ... 49

2.1.3.1 Os três grupos das representações discursivas...52

2.1.3.1.1 A representação discursiva do locutor...54

2.1.3.1.2 A representação discursiva do alocutário...54

2.1.3.1.3 A representação discursiva do tema tratado...55

2.1.4 A construção das categorias semântico-conceituais como procedimentos de análise das representações discursivas ... 56

2.1.5 Categorias semânticas de análise das representações discursivas do locutor e dos alocutários no discurso de ACM ... 66

3 CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA: METODOLOGIA DE PESQUISA, PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE E CARACTERIZAÇÃO DO CORPUS ... 71

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA ... 71

3.2 O DISCURSO POLÍTICO ... 75

(16)

4.1 A REFERENCIAÇÃO E OS SEUS MODIFICADORES ... 87

4.2 A PREDICAÇÃO E OS SEUS MODIFICADORES ... 90

4.3 LOCALIZAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL ... 96

4.4 CONEXÃO ... 99

4.5 COMPARAÇÃO ... 100

5 ANÁLISE DO DISCURSO DE RENÚNCIA DE ACM: AS REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DE SI ... 101

5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO DISCURSO DE RENÚNCIA DE ACM ... 101

5.2 A COMPOSIÇÃO DO PLANO DE TEXTO DO DISCURSO DE ACM ... 103

5.3 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DO LOCUTOR ... 106

5.4 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 106

5.4.1 Referenciação: a representação discursiva construída pelo pronome “eu” ... 106

5.4.2 A predicação e os modificadores ... 113

5.4.3 Localização espacial e temporal ... 129

5.4.4 Conexão ... 133

5.5 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE ACM VÍTIMA DE INJUSTIÇAS ... 135

5.6 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 135

5.6.1 Referenciação ... 135

5.6.2 A predicação e os modificadores ... 135

5.6.3 Localização espacial e temporal ... 141

5.6.4 Conexão ... 142

5.7 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE ACM ADVERSÁRIO ... 143

5.8 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 143

5.8.1 A referenciação e os modificadores ... 143

5.8.2 A predicação e os modificadores ... 144

(17)

5.10.2 A predicação ... 145

5.10.3 Localização espacial e temporal ... 146

5.10.4 Comparação ... 146

5.11 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE ACM SIGLA ... 147

5.12 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 147

5.12.1 A referenciação e os modificadores ... 147

5.12.2 A predicação e os modificadores ... 147

5.13 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE ACM NORDESTINO ... 149

5.14 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 149

5.14.1 A referenciação e os modificadores ... 149

5.14.2 A predicação e os modificadores ... 149

5.14.3 Localização espacial ... 151

5.15 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE ACM PRESIDENTE DO SENADO ... 151

5.16 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 151

5.16.1 A referenciação e os modificadores ... 151

5.16.2 A predicação e os modificadores ... 152

5.16.3 Localização espacial e temporal ... 155

5.16.4 Conexão ... 155

5.17 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE ACM SENADOR CONFIANTE ... 156

5.18 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 156

5.18.1 Predicação ... 156

5.18.2 Localização espacial ... 157

5.18.3 Conexão ... 157

5.19 A REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA DE ACM SENADOR CONDENADO ... 157

(18)

5.20.3 Localização temporal ... 159

5.20.4 Conexão ... 159

6 ANÁLISE DO DISCURSO DE RENÚNCIA DE ACM: AS REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DOS ALOCUTÁRIOS ... 161

6.1 “SENHORES E SENHORAS” ... 161

6.2 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 161

6.2.1 A referenciação e os modificadores ... 161

6.2.2 A predicação e os modificadores ... 162

6.2.3 Localização espacial e temporal ... 164

6.3 JÁDER BARBALHO PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL ... 164

6.4 OPERAÇÕES SEMÂNTICAS ... 164

6.4.1 Referenciação ... 164

6.4.2 A predicação e os modificadores ... 166

6.4.3 Localização espacial e temporal ... 169

6.4.4 Conexão ... 171

6.5 FHC PRESIDENTE DO BRASIL ... 172

6.6 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE ... 172

6.6.1 A referenciação e os modificadores ... 172

6.6.2 A predicação e os modificadores ... 173

7 SÍNTESE DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES ... 175

REFERÊNCIAS ... 182

(19)

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa aborda o estudo das Representações discursivas (Rds) no discurso político de renúncia do Senador Antonio Carlos Magalhães (ACM) em 30.05.2001. As representações discursivas se configuram no nível semântico do texto, podendo ser

entendidas, num primeiro momento, como as “imagens” que todo texto constrói – com maior ou menor explicitação – do locutor, dos alocutários e dos temas tratados.

O quadro teórico, no qual nos situamos, é o da Linguística do Texto e, de forma mais

específica, o da Análise Textual dos Discursos (ATD), abordagem desenvolvida por Adam (2011), objetivando analisar a produção co(n)textual de sentido, sempre fundamentada na análise de textos concretos. Para nosso propósito, são particularmente relevantes os trabalhos

desenvolvidos no Brasil, que examinam diversas representações discursivas (RODRIGUES, PASSEGGI, SILVA NETO, 2010; RAMOS, 2011; RODRIGUES et al. 2012; PASSEGGI, 2012; OLIVEIRA 2013).

Duas questões de pesquisa norteiam nosso trabalho:

1) Como se efetiva a construção das representações discursivas no gênero “discurso

político de renúncia”?

2) Quais os elementos linguístico-discursivos que ACM utiliza para a construção das representações discursivas de si e dos alocutários no discurso de renúncia de 30/5/2001?

Para responder a essas questões de pesquisa, objetivamos, de forma geral, investigar como as representações discursivas do locutor e dos alocutários são construídas no discurso de renúncia, por Antonio Carlos Magalhães (ACM).

Especificamente, temos o interesse de: (i) analisar a construção das representações discursivas no discurso de renúncia de ACM ao mandato de senador; (ii) descrever e interpretar os elementos linguísticos e discursivos que constroem as representações do locutor e dos alocutários no discurso político de renúncia.

Entendemos o locutor como o sujeito que se autoindica pela marca do pronome eu, (BENVENISTE, 2005, p. 286), para quem a subjetividade é “a capacidade do locutor para se

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em um discurso porque este é construído por um eu que fala para outro, que se configura como o alocutário, a respeito de um determinado objeto de referência. O discurso de renúncia, no contexto da esfera política em que ele se realiza, possui uma composição estrutural que lhe é específica e que coloca representações de si e de outrem peculiares a esse tipo de discurso.

O motivo que nos levou a escolha desse corpus foi a nossa participação no grupo de pesquisa Análise Textual dos Discursos (ATD) – liderado pela Profª. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues –, do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL) da UFRN. Esse grupo de pesquisa tem como uma de suas linhas de trabalho o estudo de textos do universo de discurso político (outras linhas analisam textos pertencentes aos universos de discurso jurídico, educacional, religioso e da mídia). No cenário da política brasileira, de 2001 até hoje, vários deputados federais, senadores e ministros renunciaram aos seus mandatos, por envolvimento em casos de corrupção. Entendemos, nessa direção, que o discurso de renúncia se caracteriza como um texto histórico da esfera política de nosso país, que tem sido pouco

explorado por pesquisas que analisam discursos políticos.

Entre os trabalhos que tratam mais diretamente das representações discursivas, Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010) examinam, em uma das seções do capítulo, a representação discursiva que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, faz de si próprio como sertanejo no discurso de renúncia ao cargo, em setembro de 2005. Fica evidente, nesse texto, que sua representação discursiva é construída segundo elementos linguísticos configurados semanticamente, abrangendo, principalmente, procedimentos da referenciação, da predicação e da localização espacial, contribuindo, decisivamente, para a orientação argumentativa do discurso.

Rodrigues et al. (2012) desenvolveram, também, uma análise linguístico-discursiva da Carta-Testamento de Getúlio Vargas, no quadro da Análise Textual dos Discursos, focalizando em um dos pontos do trabalho a representação discursiva do “povo”, destinatário da mensagem e componente essencial para a construção de sentido do texto. As categorias de análise, com algumas modificações, são as mesmas do trabalho acima citado.

Passeggi (2012), numa abordagem de semântica cognitiva, analisa a conceptualização do sertão – que entendemos como sendo sua representação discursiva– nas cartas de Câmara Cascudo a Mário de Andrade, no período de 1924 a 1944. O autor segue de perto a

(21)

Também, a tese de Ramos (2011) investiga as representações discursivas de “ficar” e

“namorar” em textos de vestibulandos e pré-vestibulandos. Por sua vez, Oliveira (2013) aborda as representações discursivas da figura feminina no jornal O PORVIR (Currais Novos/Rio Grande do Norte – 1926-1929). As duas pesquisas analisam a construção das representações discursivas, seguindo os procedimentos semânticos utilizados nos estudos citados anteriormente.

Os trabalhos mencionados se caracterizam pelo fato de trabalharem no âmbito da ATD, com foco na análise semântica de textos concretos e na noção de representação discursiva. Utilizam procedimentos de análise que supõem levantamentos bastante detalhados de ocorrências, analisadas conforme um conjunto de categorias semânticas que pode variar conforme as pesquisas e que vai sendo aperfeiçoado e ajustado de acordo com as particularidades de cada corpus, permitindo, ao mesmo tempo, um aprofundamento da reflexão sobre as categorias. Também são relevantes os aspectos quantitativos das pesquisas,

visando a depreender padrões de funcionamento textual, sem descuidar das ocorrências menos frequentes, mas extremamente importantes do ponto de vista qualitativo.

Assim, nosso trabalho se situa mais diretamente em relação às pesquisas mencionadas, procurando avançar no estudo da dimensão semântica da ATD. Isso significa contribuir para a descrição da construção e o funcionamento do discurso político de renúncia. De forma mais ampla, para os estudos linguísticos e discursivos do texto, especialmente os que focalizam os aspectos semânticos.

Em nossos procedimentos de análise consideraremos as seguintes categorias semânticas, detalhadas na sequência do trabalho:

 referenciação  predicação

 modificação (das referenciações e das predicações)  localização espaçotemporal

 conexão  comparação

(22)
(23)

CAPÍTULO II

PANORAMA TEÓRICO DA PESQUISA

2.1 A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS E AS REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS

Este capítulo situa o quadro teórico de nossa investigação no campo da Análise Textual dos Discursos, mais precisamente, configura a noção de representação discursiva no nível semântico como categoria textual proposta por Adam (2011 [2008]) para se analisar textos concretos.

2.1.1 A análise textual dos discursos: uma abordagem teórico-metodológica da linguística do texto

A Linguística do Texto (LT) possui uma trajetória científica nos estudos linguístico-discursivos, em particular no que diz respeito às abordagens do texto e do discurso. As

pesquisas que tratam do seu percurso teórico-metodológico já perfazem meio século de existência. Percorreram várias fases diferentes que não seguiram, necessariamente, uma ordem cronológica, mas contribuíram, satisfatoriamente, para o seu apogeu com o texto como objeto de estudo.

Marcuschi (2008, p. 73) considera que, mesmo provisória e genericamente, “a LT pode ser definida como o estudo das operações linguísticas, discursivas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção e processamento de textos escritos ou orais em contextos naturais de uso”.

Para inserir a ATD nesse contexto de discussão, Adam (2011 [2008], p. 43) define a

“linguística textual como um subdomínio do campo mais vasto da análise das práticas discursivas”, relacionando, dessa maneira, discurso/análise de discurso ao texto/análise textual, deixando claras a associação e a união entre os dois campos.

(24)

que a ATD tem a sua origem na LT, mas que a sua perspectiva teórico-metodológica se enquadra na área da Análise do Discurso.

Nesse sentido, ocorre a interface entre a Linguística do Texto e a Análise do Discurso, que constituem a ATD como articuladora do campo textual e do campo discursivo, intermediada pelos gêneros textuais.

Com base nessa vinculação, Adam (2010, p. 97) discute que todo texto passa a ser entendido em dois campos: o primeiro é o de forças centrífugas, que está relacionado aos

fatores externos “que vão da intertextualidade às condições materiais e sócio-históricas de produção, passando pela identidade do orador encenada na enunciação e nas escolhas relativas

do gênero”.

O outro campo é o de forças centrípetas, o qual permite ao texto ganhar unidade de sentido, a partir da composição de suas partes internas e lineares, que constroem a sua macroestrutura constituída pelos elementos linguístico-gramaticais que sinalizam a produção

de sentido do texto.

Os elementos textuais se encarregam de estabelecer e organizar a composição sequencial do texto, no eixo horizontal, orientando-o argumentativamente. Já as categorias do discurso objetivam compreender como acontece essa composição e organização textual, tendo em vista as práticas discursivas em que o gênero é produzido, fazendo-se compreender e circular na sociedade.

A aproximação que a ATD faz da LT e da Análise do Discurso se destina a encontrar e construir um pressuposto que dê conta, ao mesmo tempo, da análise linguística e discursiva dos textos, analisando e refletindo a materialidade textual em conjunto com as condições socioculturais e políticas em que o texto é construído e adquire sentidos. Adam faz essa articulação situando a ATD em um campo que se responsabiliza de integrar o texto no quadro das práticas discursivas.

Finalmente, podemos destacar o entrelaçamento entre os fatores linguísticos e extralinguísticos que influenciam e influenciaram as teorias adaminianas, subjacentes à atual reorientação desses estudos.

(25)

Os elementos que constituem o plano do texto e o plano do discurso são propostos por Adam (2011 [2008]) no esquema 3. Para Herrero Cecília (2006, p. 151), esse esquema revela que, de um lado:

El <<análisis del discurso>> observa el funcionamiento comunicativo del texto desde la perspectiva que imponen las regulaciones <<descendentes>> procedentes de la lengua, del tipo de discurso al que pertenece el texto (la <<interacción>> comunicativa propia de una <<formación socio-discursiva>> concreta) y del <<genero>> específico que impone al texto unas convenciones o prescripciones temáticas, composicionales, enunciativas o estilísticas determinadas.

E, de outro lado:

La linguística textual se ocupa de las regulaciones ascendentes que dirigen las operaciones de encadenamiento y de segmentación de las proposiciones, los periodos y las secuencias que, desde abajo (nivel microtextual) van constituyendo el entramado del texto (progresión temática) y se integran en un esquema composicional global (nivel macrotextual) que confiere unidad al conjunto haciendo que el texto adquiera coherencia porque responde a una finalidad comunicativa determinada (dimensión ilocutoria).

Observemos a Figura 1, na qual Adam (2011 [2008], p. 43) referenda a discussão acima sobre o texto articulado ao plano do discurso:

Figura 1 – Esquema 3: Determinações textuais “ascendentes” e regulações “descendentes” Fonte: Adam (2011 [2008], p. 43).

Interpretamos, portanto, que Adam (2011 [2008]) distribuiu os fenômenos

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De fato, segundo Herrero Cecília (2006, p. 151), para que o texto seja analisado na perspectiva da ATD, precisa-se ter o seguinte entendimento sobre ele:

El texto es al mismo tiempo resultado de la actividad discursiva (enunciación) de un sujeito que se dirige a un interlocutor en una situación de comunicación determinada, y una unidad semántica de comunicación organizada en torno a un tema (encadenamiento de proposiciones integradas en secuencias dentro de un esquema composicional que confiere unidad al conjunto).

A figura em análise se encontra assim distribuída: no lado direito, está localizada a Linguística do Texto, em que estão dispostos os elementos ascendentes que pertencem à categoria da língua, começando da menor unidade, que é a palavra, e indo à unidade de maior complexidade, que é o plano de texto. Essas são as operações que estão à disposição do falante para a construção e a compreensão de textos, uma vez que “regem os encadeamentos de proposições no sistema que constitui a unidade TEXTO” (ADAM, 2011 [2008], p. 44).

No lado esquerdo do esquema, estão os elementos que se encarregam de situar o texto no contexto das formações discursivas, ou seja, o que é dito pelo enunciador no seu texto aparece sob a forma de um gênero, em uma dada situação de interlocução, a qual presume um sujeito envolvido em uma atividade humana, em que o seu discurso dialoga com outros enunciados pertencentes a outros lugares sociais.

A união dos dois lados (esquerdo e direito) dá origem à Análise Textual dos Discursos, a qual passa a entender os elementos linguísticos do texto integrados aos fenômenos do campo discursivo.

O autor nos possibilita, mais uma vez, na figura a seguir, que a Análise Textual, em sua relação com a Análise do Discurso, forma o campo teórico da Análise Textual dos

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Figura 2: A Linguística Textual: ciência integrada? Fonte: Adam (2010).

Percebemos, assim, que a LT revela um grande interesse em dialogar com outras ciências, tornando-se “[...] multi e transdisciplinar, em que se busca compreender e explicar essa entidade multifacetada que é o texto – fruto de um processo extremamente complexo de interação e construção de conhecimento e de linguagem” (KOCH, 2011, p. 157).

Podemos, então, abstrair que a ATD transcende os limites da frase e ultrapassa o texto enquanto produto, para priorizar o seu funcionamento textual/discursivo, não se caracterizando apenas como um campo que busca integrar o textual ao discursivo.

A Linguística do Texto e a Análise do Discurso, para Adam, embora tenham as suas origens nos anos 1950, “se desenvolveram de modo autônomo” (ADAM, 2011 [2008], p. 43),

ou seja, não possuem a mesma trajetória histórica e epistemológica, uma vez que o nascimento da LT se deu em meio à eleição da frase, como objeto de estudo, priorizando os

elementos gramaticais que se conectavam para construir as orações. Dessa forma, excluía-se a relação do texto, em sua materialidade, das práticas de atualização das ações dos sujeitos sociais em suas atividades do cotidiano, que é o percurso feito pela teoria do discurso.

Na abordagem proposta por Adam (2011 [2008]), texto e discurso são pensados em um vínculo de proximidade que articula as novas categorias que elevam a LTao quadro mais amplo da Análise do Discurso (AD).

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discursivas como categorias próprias que (re)definem os elementos para se estudar e refletir a materialidade textual.

Esse é o grande avanço teórico-metodológico dado por Michel-Adam para essa

perspectiva de análise. Com base nessa proposta, a LT vai se encarregar de “detalhar as ‘relações de interdependência’ que fazem de um texto uma ‘rede de determinações” (ADAM,

2011 [2008], p. 63).

Com base nessa questão, o autor define a textualidade como um conjunto de operações capaz de levar o sujeito a considerar, na sua produção e/ou na compreensão de texto, que uma sucessão de enunciados forma um todo significativo, porque se realiza em função da formação discursiva em que o texto se estabelece e ganha sentido.

Herrero Cecília (2006, p. 85) interpreta da seguinte forma a compreensão de Adam sobre a textualidade:

La visión de la textualidad propuesta por Adam, se detiene en poner de relieve la organización que regula la cohesión y la coherencia de los enunciados estructurados como una totalidad semántica, construida según los esquemas composicionales que imponen los géneros y subgéneros que regulan la comunicación dentro de los diversos discursos existentes en la realidad sociocultural.

Com base nessa interpretação, o texto passa ser definido como uma unidade semântica formada de várias unidades linguísticas que integram as sequências para formar o todo semântico-composicional dos discursos, que passam a ser corporificados em um gênero

textual.

Em conformidade com essa discussão, Adam (2011 [2008], p. 25) complementa:

O texto é certamente um objeto empírico tão complexo que sua descrição poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral que temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das diferentes ciências da linguagem, um novo quadro e uma indispensável coerência.

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campos de estudo, fica a LT com a incumbência de dar conta do aporte teórico-metodológico das categorias propostas por essa nova área.

Adam (2011 [2008], p. 63) reafirma que a Linguística Textual “concerne tanto à descrição e à definição das diferentes unidades como às operações, em todos os níveis de complexidade, que são realizadas sobre os enunciados”.

Podemos confirmar, com base na discussão exposta, que esse campo de investigação amplia os estudos da LT ao lado dos estudos do discurso, propondo níveis de análise e de interpretação de textos, para além dos aspectos linguísticos.

Adam (1999, p. 40) recorre a Maingueneau para reforçar que os dois planos se complementam e se diluem entre si, por meio dos seguintes dizeres:

Como Já disse Dominique Maingueneau: ‘ao falarmos de discurso articulamos o enunciado sobre uma situação de enunciação singular; ao falar de texto, colocamos o acento sobre aquilo que lhe confere uma unidade, que o torna uma totalidade e não um simples conjunto de frases. Em outros termos, os dois pontos de vista são complementares [...]’.

Assim, Adam (2011 [2008]) realça que o texto é objeto concreto, material e empírico, fruto das ações de linguagem que realizamos em nossas atividades sociais, o qual se manifesta a partir das formações sociodiscursivas.

Considerando os estudos no Brasil, de acordo Passeggi et al. (2010, p. 263), Adam tornou-se conhecido “pelas suas pesquisas sobre as sequências textuais”. Os postulados desse objeto de estudo para Adam (1992) tratam da regularidade sequencial prototípica de textos de base narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal.

Fazer a análise descritiva de um texto, tendo em vista o estudo das sequências, é considerar que os textos são analisados em função da forma como os conteúdos estão organizados, visando a uma compreensão de como o texto funciona no seu plano global, através de uma definição das operações utilizadas pelo locutor ou receptor para a produção e recepção dos textos (BRANDÃO, 2001).

Passeggi et al. (2010, p. 63) reafirmam que “as sequências constituem, hoje, uma categoria de análise consolidada e, regularmente, utilizada nas descrições de textos, de grande

interesse pelas suas aplicações ao ensino de língua portuguesa e de língua estrangeira”.

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unidade de sentido, realizando-se em um contexto. Essa unidade de sentido, para Adam (2011 [2008]), é uma unidade semântica e pragmática denominada “configuracional”, porque nela estão inclusas as partes do enunciado que forma o todo organizado do texto.

O texto deixa de ser entendido como um objeto abstrato e passa a ser visto como uma unidade concreta de produção textual, ou seja, um produto verbal e social, que pertence e se atualiza em um determinado gênero, formado por várias sequências discursivas, com elementos que trazem a marca e a representação de quem o produziu em uma instância comunicativa real.

2.1.1.1 Os níveis de discurso e os níveis de texto no campo da análise textual discursiva

Para adentrar na discussão sobre os níveis do texto e do discurso, retomaremos o debate de que o texto, para formar o seu todo semântico organizado, precisa ser encadeado

por períodos, formando a sequenciação de um plano textual.

A concepção de texto apresentada por Adam é reiterada por Ricouer (1980, p. 22 apud ADAM, 2011 [2008], p. 280) quando o define como uma “estrutura dialética [que combina]

figura e sequência em ato configuracional”.

Partilhando desse mesmo entendimento, Adam (2011 [2008], p. 283) afirma que

“compreender um texto é ser capaz de passar da sequência (ler-compreender os enunciados como vindo um após os outros) à figura (configuração inteligível de relações)” (grifo do autor).

Adam (2011 [2008], p. 283) assume o posicionamento de que “a operação configuracional pode ser definida como o fato de instituir na produção e de depreender na interpretação uma configuração a partir de uma sucessão” (grifo do autor). Essa

sucessividade compreende a articulação entre as “proposições-enunciados, os períodos, as partes de um plano de texto e as sequências que o constituem como os elementos de um complexo concreto de relações”.

A seguir, refletiremos a Figura 3, intitulada “Estrutura sequencial-composicional do texto” de Passeggi et al. (2010, p. 298), que faz a releitura de Adam (2011 [2008]), na qual

podemos observar “a dialética das relações do todo e das partes, que faz a complexidade da

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Figura 3 – Esquema 10: Estrutura sequencial-composicional do texto Fonte: Passeggi et al. (2010, p. 298).

A figura, em evidência, vem confirmar como o texto se organiza em seu complexo composicional para formar o plano de texto. Seguindo a abordagem de Adam sobre o plano

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Os planos de texto são estudados em sua materialidade e estão relacionados à textura, à configuração, à segmentação de proposições e dos enunciados que formam os períodos, construindo assim o campo composicional, formado pelas sequências de base que encadeiam a unidade semântica do texto.

Esses planos assumem um importante papel na construção da macroestrutura do significado do texto. Adam (2011 [2008], p. 278) insiste que “a estrutura composicional global dos textos é inicialmente ordenada por um plano de texto, base de composição, e é geralmente categorizável em termos de dominante sequencial”. Por isso, um texto pode comportar somente encadeamentos de enunciados organizados em partes de um plano de texto fixo ou ocasional, conforme classificação do próprio autor.

Na mesma direção, postula-se que o plano de texto pode ser convencional (fixo), determinado pela história do gênero e/ou pela sua estruturação. Pode ser ocasional, quando é considerado deslocado em relação à história dos gêneros, ou seja, são aqueles mais flexíveis e

propensos a mudarem de acordo com a formação discursiva e o contexto no qual é usado. Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Passeggi et al. (2010, p. 297) apresentam as definições dos dois planos:

Quanto aos planos de texto fixos, pense-se, por exemplo, na estrutura de um verbete de dicionário, de um artigo científico, das estruturas literárias cristalizadas (estruturas formais da poesia, da dramaturgia) ou, na escritura jurídica, as estruturas da série: petição>contestação>sentença. Os gêneros acadêmicos também pertencem, de forma geral, aos planos de textos fixos.

Quanto aos planos de texto ocasionais, os autores discutem:

Os planos de texto ocasionais são mais abertos e flexíveis. [...] abrangem o editorial, a canção, as peças publicitárias, o discurso político, o romance. Esses planos, com frequência, fogem à estruturação clara de um gênero ou subgênero de discurso. As partes ou segmentos do texto são marcados por uma variedade de recursos, textuais e peritextuais. (PASSEGGI et al., 2010, p. 297)

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Assim, compreendemos o quanto o texto é flexível, instável e passível de mudar de acordo com os objetivos de sua produção e circulação. Nessa perspectiva, Passeggi et al. (2010, p. 256) compreendem que “os textos são, de fato, estruturados de maneira muito flexível, e a importância dos planos de texto fixos ou ocasionais se torna preponderante”. Para tanto, “[...] os agrupamentos de proposições não correspondem sempre a sequências completas, podemos dizer que o principal fator unificador da estrutura composicional é o plano de texto”.

No que se referem às sequências, elas se dividem em homogêneas, heterogêneas e dominantes. As homogêneas são aquelas combinadas por um mesmo tipo, por exemplo, em um mesmo período aparece apenas a descrição, dependendo do gênero que se está construindo. Atentemos1:

(L79-83) [...] um empresário paulista do PNBE, com dezesseis processos na Justiça pelos mais variados crimes, dá-se ao deboche de promover a entrega de pizza no Parlamento! Ele deveria ser colocado não como um pizzaiolo, mas como um ladrão que efetivamente é.

As heterogêneas são as diferenciadas que se combinam entre si, sendo o tipo mais

frequente de organização textual, de forma mesclada, nas quais teremos sequências descritivas e narrativas em uma mesma ordem, conforme o excerto:

(L98-104) Discordo dos que dizem que o Senhor Presidente da República não tem gosto para governar. Não penso assim. Eu o considero um homem inteligente, capaz, vaidoso, mas nem por isso perde a qualidade de um possível bom governante. Entretanto, o governo é indelegável. O Presidente, num regime presidencialista, tem que comandar todos os setores da administração. Se não os comanda, acaba por fazer delegações a quem não merece recebê-las. Os resultados são sempre funestos para o País. São muitos os exemplos que se veem no atual Ministério.

As dominantes são as que predominam em um dado texto, ou seja, o texto é predominantemente argumentativo, narrativo, entre outras caracterizações, podendo também aparecer outros tipos de sequências alternadas. Como exemplo, podemos adiantar que, nos discursos de renúncia, predominam as sequências argumentativas.

(L119-124) É preciso que o Senhor Presidente da República compreenda que não se resolvem problemas do povo com o uso de verbas públicas em votações de projetos, mesmo que eles sejam importantes para o Governo. Além de deseducar, cria-se o hábito de só se obterem vitórias com a barganha, nunca transparente. Como toda barganha, aliás. Esses métodos, além de ultrapassados, estão maculando vida honrada do Senhor Presidente.

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Adam ressalta (2011 [2008], p. 258) que “os planos de texto estão, juntamente com os gêneros, disponíveis no sistema de conhecimentos dos grupos sociais. Eles permitem construir (na produção) e reconstruir (na leitura ou na escuta) a organização global de um

texto, prescrita por um gênero”.

Defendendo esse mesmo posicionamento sobre a temática, Passeggi et al. (2010, p.

297) complementam que “os planos de texto são responsáveis pela estrutura composicional do texto, sobretudo nos casos em que os encadeamentos de proposições ou períodos não chegam a formar claramente sequências”.

Do ponto de vista da composição e organização textual, são as sequências textuais que irão ajudar na formação desses planos, no momento em que estamos construindo nossos textos, pois um texto só é reconhecido como tal na união das suas partes para formar o seu todo significativo em um desses planos.

Adam (2011 [2008], p. 255-256) acrescenta que “um texto pode ser constituído de

trechos sucessivos formando subconjuntos em seu interior” e que “o reconhecimento do texto como um todo passa pela percepção de um plano de texto, com suas partes constituídas, ou

não, por sequências identificáveis”.

Entender esse encadeamento sequencial implica compreender que essas partes vão construir o todo do texto. A organização desse todo é classificada em formas homogêneas e heterogêneas, com base na Figura 3, pois, de acordo com Adam (2011 [2008], p. 205):

As sequências são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de poposições-enunciados: as macroposições. A macroposição é uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroposições, ocupando posições precisas dentro do todo ordenado da sequência.

Diante da conceituação apresentada sobre uma sequência e o seu conjunto para formar as macroposições, esse autor vem afirmar que as sequências formam uma estrutura autônoma,

em rede de enunciados interligados em “uma organização interna que lhe é própria, e,

portanto, numa relação de dependência-independência com o conjunto mais amplo do qual faz parte (o texto)” (ADAM, 2011 [2008], p. 205).

Os estudiosos da ATD no Brasil, entre eles Passeggi et al. (2010, p. 296), no que diz respeito à estruturação das sequências, discutem:

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que pode acontecer de duas formas: entre sequências do mesmo tipo (homogêneas) ou, mais comumente, de tipos diferentes (heterogêneas).

A heterogeneidade das sequências narrativas, argumentativas, explicativas, descritivas em um mesmo texto é o caso típico de construção de nossos textos. Em decorrência disso, para Adam, elas são modelos macro de organização textual, sendo determinadas em um texto de acordo com o gênero produzido.

Adam (2011 [2008], p. 271-272) resume em três agrupamentos o encadeamento das sequências:

1. Tipos de sequências na base dos agrupamentos

. agrupamento unissequencial (o mais simples e o mais raro); . agrupamento plurissequencial:

-homogêneo (um único tipo de sequências combinadas); -heterogêneo (mescla de sequências diferentes).

2.Combinações de sequências:

. sequências coordenadas (sucessão);

. sequências alternadas (montagem em paralelo); . Sequências inseridas (encaixamento).

3.Dominante (efeito de tipo de texto):

. pela sequência matriz (abrindo e fechando o texto); . pelo maior número de sequências de um mesmo tipo; . pela sequência pela qual o texto pode ser resumido.

A organização de um texto em sequências, de acordo com a teoria apresentada, faz-nos crer que todo e qualquer plano de texto precisa ser construído tendo em vista a forma de estruturação complexa de sequências que um texto exige. Nesse sentido, dificilmente um texto pode ser monossequencial, pois ele é organizado, na maioria das vezes, por sequências diferentes. Nesse caso, obteremos a sucessividade dessas sequências combinadas em um nível

hierárquico ou dominante.

Podemos afirmar, portanto, que as combinações que elas proporcionam

“correspondem a relações macrossemânticas transmitidas culturalmente e utilizadas para fins de reconhecimento e de estruturação da informação textual” (PASSEGGI et al., 2010, p. 273). A construção de sentidos que os blocos semânticos das sequências proporcionam faz com que o leitor/produtor de textos construa as representações semânticas que o texto veicula sobre o seu conteúdo temático, no processo interativo entre quem produz e o seu alocutário.

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Os postulados de Adam confirmam esse pressuposto por meio dos dois níveis de análise textual discursiva que estão disponíveis ao analista do texto e do discurso e que devem ser levados em conta na análise, na compreensão, na produção e na recepção de textos.

Os níveis de análise textual são aqueles que estão na base da Figura 4 proposta por Adam (2011 [2008]), isto é, são os elementos cotextuais que constroem a materialidade textual. Os níveis da análise de discurso são as categorias que situam o texto em um plano macro das práticas discursivas, ou seja, o texto é produzido de acordo com o contexto situacional no qual os gêneros circulam e se fazem agir socialmente.

Nesse sentido, há uma relação de interdependência entre os dois níveis porque pressupomos a articulação entre os fenômenos da língua e do discurso. Reitera-se que o sentido seja produzido, incluindo o texto no contexto das práticas discursivas, priorizando o sujeito, a sua história e as condições de produção daquilo que ele enuncia. Em conformidade com Adam (2011 [2008], p. 52), “o contexto entra na construção do sentido dos enunciados.

Com efeito, todo enunciado, por mais breve ou complexo que ele seja, tem sempre

necessidade de um co(n)texto”.

A junção que o referido autor faz do cotexto e do contexto é apresentada da seguinte maneira:

Escrevemos “co(n)texto” para dizer que a interpretação de enunciados isolados apoia-se tanto na (re)construção de enunciados [...] (cotexto) como na operação de contextualização, que consiste em imaginar uma situação de enunciação que torne possível o enunciado considerado. Essa (re)construção de um co(n)texto pertinente parte, economicamente, do mais diretamente acessível: o cotexto verbal e/ou o contexto situacional de interação. (ADAM, 2011 [2008], p. 53).

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Figura 4: Esquema 4 – Níveis ou planos de discurso Fonte: Adam (2011 [2008], p. 61).

Podemos observar que Adam resume na Figura 4 o que ele considera as novas categorias de análise textual-discursiva. Na parte superior, temos os níveis de análise do discurso. Da esquerda para a direita, inicia-se a ação linguageira (N1) do sujeito da ação verbal, ou seja, quais são os objetivos que o falante possui em produzir o seu discurso, para ser orientado, argumentativamente, por uma intenção comunicativa.

Significa, portanto, que o discurso é construído por um sujeito que está em interação (N2) com outro para que o diálogo aconteça em uma situação real de uso da linguagem. São as formações interdiscursivas (N3) que vão especificar o que vai ser dito por esse sujeito na sua ação de linguagem e de que maneira o texto deve ser construído e corporificado em um gênero textual. Podemos analisar que, nesse grupo, o gênero é a última categoria do diagrama, na (inter)mediação da análise textual e discursiva, já que o gênero não existe sozinho, ele existe para ser analisado, tendo em vista um conjunto de textos.

Na parte inferior da Figura 4, da direita para a esquerda, estão situados os elementos linguísticos que encadeiam os enunciados para construir o texto. São eles: as proposições enunciadas e os períodos, encarregados de constituir a estrutura composicional, relacionando

as sequências e os planos de textos que constroem os níveis semântico, enunciativo e pragmático.

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sequências dos períodos. As sequências ficam juntas do plano texto, na estrutura composicional, e os períodos se agrupam às proposições em uma mesma categoria, a da textura.

A Linguística do Texto vai se encarregar de organizar e detalhar cada nível proposto pela ATD para a análise dos gêneros. Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010) detalham os principais níveis ou planos de texto que são propostos por Adam (2011 [2008]). Observemos a seguir:

1) Um nível sequencial-composicional: em que as proposições enunciadas se organizam em períodos, depois em sequências, desempenhando papel fundamental para formar o plano de texto.

2) Um nível enunciativo: baseado na responsabilidade enunciativa, que são as vozes do texto, a polifonia textual.

3) Um nível semântico: baseado na noção de representação discursiva, teoria-foco de

nossa pesquisa, e, também, em noções semânticas conexas, que são: as anáforas, as correferências, as isotopias e as colocações. Todas elas remetem-se ao nível semântico do texto e fazem parte do conjunto de categorias da ATD que estão vinculadas “ao conteúdo referencial do texto” (RODRIGUES; PASSEGGI; SILVA NETO, 2010, p. 152).

4) Um nível argumentativo: nesse nível estão embasados os atos de discurso que são realizados pela linguagem, sendo eles que contribuem “para a orientação

argumentativa do texto” (RODRIGUES; PASSEGGI; SILVA NETO, 2010, p. 152). Os quatro níveis formam a competência textual-discursiva por meio da qual são estabelecidos vínculos sociais entre os parceiros do processo comunicativo, nos atos de ação e nos eventos que a linguagem permite atuar, via os elementos linguístico-discursivos que estão à disposição na língua.

O que Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010) denominam de nível sequencial-composicional, Adam (2011 [2008]) nomeia de textura. É nesse nível que estão inseridos os elementos linguístico-gramaticais que formam a estrutura do texto. Esses elementos se organizam para formar o plano composicional-configuracional em períodos e sequências.

Os níveis enunciativo, semântico e argumentativo, além de aparecerem organizados no texto de maneira linear, podem também se configurar no texto de maneira não linear.

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meio, no final ou em todas essas partes ao mesmo tempo. Seguimos essa orientação para procedermos à análise das Rds nos excertos que constituem o corpus de nossa pesquisa. Segundo Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010, p. 152), “a explicitação da responsabilidade enunciativa e a construção de uma representação discursiva apresentam diversas características não lineares”.

Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010, p. 266) definem socioleto como o dialeto social, as variações de linguagem utilizadas pelo falante diante de uma dada comunidade de

fala, “no seio de um interdiscurso”. Isto é, agimos através da linguagem e a forma como conduzimos essa nossa ação vai depender do tipo de atividade que realizamos.

Assim sendo, o discurso é concebido como “[...] uma atividade mais universal e o texto enquanto a peça empírica particularizada e configurada numa determinada composição

observável” (MARCUSCHI, 2008, p. 84). Essa é a concepção teórica com a qual compartilhamos no decorrer desta nossa pesquisa.

Dessa forma, os autores reforçam que incluir a Linguística do Texto no foco da análise do discurso significa inscrever as atividades de textualização no quadro de um gênero específico determinado, que é atualizado nas atividades humanas institucionalizadas.

Assim, usar a linguagem em qualquer atividade significa que estamos realizando essa atividade por meio de um texto, no qual os seus enunciados estão organizados em uma sequência composicional de base para formar o todo significativo. Nesse direcionamento, Adam (1992) discute e teoriza o processo de configuração e organização da materialidade textual, compreendendo a textualidade a partir do entrelaçamento da composição das partes que formam o todo semântico dos enunciados. Assim sendo, o texto focaliza a macroestrutura que envolve a união entre a enunciação, a semântica, a argumentação e a pragmática.

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2.1.2 As representações discursivas: o nível semântico do texto

Esta seção tem o objetivo de situar a noção de representação discursiva a partir da proposição-enunciado como unidade semântica mínima que nos permite construir um ato de enunciação.

2.1.2.1 A proposição como unidade textual-discursiva mínima: construção de atos de referência

A unidade mínima de base textual nomeada por Adam (2011 [2008]) de “proposição

-enunciado” ou “proposição-enunciada” é uma unidade semântica que apresenta uma estabilidade sintática ligada por um sujeito ou por um tema ao seu predicado. Ou seja, há um ser ou um objeto de discurso e aquilo que é dito sobre ele é representado por um enunciado verbal ou nominal.

A proposição é definida como unidade textual elementar em detrimento da frase. Adam reconhece que a frase não apresenta uma estrutura sintática estável o suficiente para se

tornar uma unidade de análise de texto, “reservando-a para a frase tipográfica da escrita” (PASSEGGI et al., 2010, p. 270). Para esses autores, a proposição-enunciado “trata-se, ao mesmo tempo, de uma microunidade sintática e uma microunidade de sentido em um

co(n)texto” que é determinado pela situação discursiva.

Nesses termos, Adam (2011 [2008], p. 106) reconhece a proposição como “uma

unidade textual de base, realizada e produzida, efetivamente, por um ato de enunciação, portanto, o considera um enunciado mínimo”. Inclui essa unidade no eixo da análise textual-discursiva, por entendê-la como um elemento que se encadeia a outros segmentos da língua para construir a maior unidade semântica que é o texto.

Com o objetivo de explicitar a maneira como os sujeitos organizam as sequências de seus enunciados para estruturar a figura do texto, Adam (2011 [2008]) faz uso de uma pertinente citação de Bakhtin para explicar que, ao escolhermos determinados enunciados simples, não fazemos essa escolha por acaso, mas que ela se dá mediante as representações que nós temos sobre o assunto a ser tratado, os nossos conhecimentos socioculturais que compartilhamos no contexto social e o gênero a ser produzido em sua totalidade.

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macroestrutura do texto, envolvendo e considerando os aspectos semânticos, cognitivos, enunciativos e pragmáticos.

Então, a forma como representamos semanticamente esse enunciado envolve como o produzimos e o interpretamos, de acordo com os nossos pré-construídos, a forma como concebemos as coisas do mundo em nossa volta e o modo como as defendemos.

No processo de análise proposto pela Linguística do Texto, a proposição, enquanto enunciado, vai se ligando a outros enunciados que marcam a continuidade e a descontinuidade para formar o plano de texto, que vai se complexificando, conforme nos apresenta a Figura 5:

Figura 5 – Esquema 5: Operações de segmentação e de ligação Fonte: Adam (2011 [2008], p. 64).

Adam considera o esquema 5 o centro da sua obra (2011 [2008], p. 64) porque nele está reunido “o conjunto das operações de textualização” que são as categorias da língua que servem para análise textual. Podemos observar que a figura apresenta as duas operações “que regem os encadeamentos de proposições no sistema que constitui a unidade TEXTO – objeto da linguística textual” (ADAM, 2011 [2008], p. 44, grifo do autor).

As operações de segmentação dividem o conjunto que forma o todo textual em partes descontínuas, as quais se organizam em uma ordem linear. As operações de continuidade vão se complexificando, à medida que o texto vai sendo construído, e transformando-se em unidades maiores para formar o seu plano global.

Para Adam (2011 [2008]), as proposições-enunciadas se reúnem às frases e constroem os períodos e as sequências, que, por sua vez, formam os parágrafos e as estrofes, construindo as partes de um plano global, indo até os limites iniciais e finais da textualidade, que é o peritexto, o qual está no entorno do texto e contribui para o seu significado.

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tipificadas, os períodos, e unidades mais complexas, tipificadas, as sequências (ADAM, 2011 [2008], p. 204, grifo do autor).

As redes de relações de continuidade e de descontinuidade formadas pelas operações de segmentação e as de ligação, segundo Adam (2011 [2008], p. 64), “consistem na construção de unidades semânticas e de processos de continuidade pelos quais se reconhece

um segmento textual”.

O texto é composto por um conjunto de proposições-enunciadas que se conectam entre

si “através de diversos processos, entre os quais: correferência e anáforas; isotopias; colocações; elipses e implícitos; conectores, incluindo os organizadores textuais e os conectores argumentativos; cadeias de atos de discurso” (PASSEGGI et al., 2010, p. 271).

São esses processos que fazem a conexão das partes do texto, ligando-as umas as outras, marcando a progressão, a continuidade da construção e da organização textual. É a junção dessas partes, indissociáveis e complementares, que fazem com que o texto seja

organizado em enunciados mínimos, depois em unidades maiores para formar os parágrafos, as sequências e as partes do plano global do texto para ganhar sentido.

Adam (2011 [2008], p. 109) ratifica esse pensamento:

Toda proposição-enunciado compreende três dimensões complementares às quais se acrescenta o fato de que não existe enunciado isolado: mesmo aparecendo isolado, um enunciado elementar liga-se a um ou vários outros e/ou convoca um ou vários outros em resposta ou como simples continuação.

Essa condição de ligação é, em grande parte, determinada pelo que

chamaremos de orientação argumentativa (ORarg) do enunciado. (ADAM, 2008, p. 109, grifo do autor).

A responsabilidade enunciativa, a representação discursiva e a orientação argumentativa são as três dimensões que todo enunciado mínimo possui. Discutir o enunciado-mínimo a partir dessas três dimensões significa compreendê-lo, conforme Adam (2008, p. 108), “como microunidade enunciativa e textual”.

(43)

Figura 6 – Esquema 11: As três dimensões da proposição-enunciado Fonte: Passeggi et al. (2010, p. 299).

Descrevendo de forma minuciosa a figura retratada, podemos apresentá-la partindo do seu núcleo, no qual se configura a proposição-enunciada, ligada por um cotexto anterior e posterior.

Nas pontas do triângulo, temos as maiúsculas [A], [B] e [C] representando as três unidades que compõem um enunciado mínimo. Na parte esquerda, representada por [A], localiza-se o nível semântico do texto, destacando o fenômeno da “Referência como a Representação discursiva (Rd) construída por um conteúdo referencial ou proposicional [p]” (ADAM, 2011 [2008], p. 111). Para o autor, “a atividade de referência constrói semanticamente uma representação, um objeto de discurso comunicável” (ADAM, 2011 [2008], p. 113).

Adam (2011 [2008], p. 110) admite que nesse nível da proposição está localizada “a questão do valor de verdade dos enunciados, segundo dois regimes pragmáticos: o da condição de verdade e o da ficcionalidade”. (Grifo do autor)

(44)

Passeggi et al. (2010, p. 298) definem que “a responsabilidade enunciativa ou ponto de vista consiste na assunção por determinadas entidades ou instâncias do conteúdo do que é

enunciado, ou na atribuição de alguns enunciados ou PdV a certas instâncias”.

Na ponta do lado direito, aparece localizada a letra [C], denominada de valor ilocucionário, que resulta na orientação argumentativa dos enunciados. Para Adam (2011 [2008], p. 122), “todo enunciado possui um valor argumentativo, mesmo uma simples descrição desprovida de conectores argumentativos [...]”. Os valores argumentativos dos enunciados de que fala o estudioso dizem respeito à forma como são ditas as coisas, ou como representamos os objetos.

Ratificando a discussão proposta por Adam (2011 [2008]), Herrero Ceciíia (2006, p. 87) afirma:

Cada proposición responde a otras proposiciones o las implica. A través de ella se produce un acto de referencia (representación discursiva de un mundo), un acto de enunciación (actividad enunciativa) y un acto de discurso (dimensión ilocutiva y orientación argumentativa del tema tratado).

Vale ressaltar que não há uma hierarquização entre as três dimensões, pelo contrário, elas se relacionam e contribuem para construir o complexo concreto de relações que é o texto, sem que haja uma posição maior ou menor, superior ou inferior entre elas, mas sim a

complementaridade para contribuir com a estruturação configuracional da textualidade.

Para o discurso de renúncia, foco de nossa pesquisa, a análise se centra na letra [A] da pirâmide da Figura 6, que é a representação discursiva, o nível semântico referencial.

2.1.2.2 A proposição-enunciado e as ligações semânticas para formar o plano composicional do texto

O conjunto de proposições para formar o plano composicional dos textos enfatiza que os enunciados ou o seu conjunto se agrupam e se combinam entre si para construírem as relações semânticas do texto.

Imagem

Figura 1  – Esquema 3: Determinações textuais “ascendentes” e regulações “descendentes”
Figura 3  – Esquema 10: Estrutura sequencial-composicional do texto  Fonte: Passeggi et al
Figura 4: Esquema 4  – Níveis ou planos de discurso  Fonte: Adam (2011 [2008], p. 61)
Figura 5  – Esquema 5: Operações de segmentação e de ligação
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Referências

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