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A presente pesquisa está vinculada ao grupo de pesquisa em Análise Textual dos Discursos (ATD) e à linha de pesquisa “Análise linguística de textos: teoria e descrição”, do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que focaliza as suas pesquisas na descrição e interpretação de textos concretos e autênticos, com base no pressuposto teórico da Análise Textual dos Discursos de Adam (2011 [2008]).

Nossa pesquisa tem o enfoque qualitativo de natureza interpretativista. Segundo André (2008), esse tipo de pesquisa está em oposição a uma visão empírica da ciência que busca a mensuração dos fatos em detrimento da descoberta, da interpretação. “Os significados, a

interpretação, surgem da percepção do fenômeno visto num contexto” (TRIVIÑOS, 1987, p.

129). Nesse sentido, a análise qualitativa direciona a investigação para um contexto onde os fatos ocorrem, fazendo com que o pesquisador se transforme no principal instrumento de pesquisa. No nosso caso, o campo de investigação é o texto empírico e, por meio dele, analisamos as representações discursivas que são construídas no plano da textualidade.

Nessa direção, a pesquisa segue o método dialético-hermenêutico que, de acordo com Lakatos e Marconi (2002), Cervo e Bervian (2002), Minayo (1994), constitui-se pela formação de duas importantes etapas para a análise do corpus. A primeira é a etapa da dialética, a qual seleciona e descreve as partes do objeto em sua materialidade para que o pesquisador tenha, por meio das partes, a visão detalhada dos elementos que formam o objeto pesquisado. A segunda é a da hermenêtica, que consiste na etapa em que o pesquisador estabelece os critérios de análise, intrepreta, explica e explora o objeto de investigação.

Sendo assim, nossa pesquisa trata da descrição e interpretação do fenômeno por meio de diversas formas, entre elas, a análise de documento, enquanto material escrito que é investigado como fonte de informação.

Na descrição se aborda a materialidade linguístico-estrutural dos textos, na sua linearidade e não linearidade do encadeamento das proposições-enunciadas que formam o texto. Na interpretação, realiza-se a análise textual dos elementos linguístico-discursivos que constroem as representações discursivas.

Segundo Ludke e André (1986), podemos considerar como documento todo material escrito utilizado para informar sobre todo e qualquer comportamento humano. Para as autoras,

os materiais “incluem desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos,

diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e

de televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38).

Pretendemos compreender as significações de uso dos elementos linguísticos em um contexto de uso, em sua forma de composição e organização das proposições, das sequências e dos parágrafos que formam a materialidade textual para descrever e interpretar como as Representações discursivas são construídas no discurso de renúncia, no grupo do locutor e no do alocutário.

Em relação aos procedimentos teórico-metodológicos, seguimos Minayo (2004) com a técnica de análise de conteúdo, que pode ser aplicada em uma investigação de caráter qualitativo ou quantitativo. Essa técnica permite ao pesquisador encontrar respostas para as questões de pesquisa, confirmar a hipótese do trabalho e descobrir o que está por trás dos conteúdos materializados no texto.

Minayo (2004, p. 75) define três fases para a análise de conteúdos: “pré-análise,

exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação”. Na primeira fase,

organiza-se o material a ser analisado (leituras, registros, contexto, enxertos, categorias de análise). Na segunda, aplica-se o que foi planejado no primeiro momento. A terceira fase se encaminha para o tratamento dos dados (quantitativos e qualitativos).

De acordo com as fases propotas por Minayo (2004), construímos as etapas de construção e interpretação dos dados que seguem os seguintes momentos, sem obedecer, necessariamente, a uma ordem cronológica:

1º Momento: seleção do discurso de renúncia do site do Senado Federal. Contextualização histórica e descrição do plano organizacional do discurso de renúncia;

2º Momento: Levantamento e seleção do conjunto de enunciados que evidenciam as representações discursivas de si e do alocutário;

3º Momento: Levantamento das categorias semânticas de análise das representações discursivas de si e do alocutário;

4º Momento: Seleção das categorias semânticas e dos elementos gramaticais e semânticos nas Rds de si para a interpretação dos dados;

5º Momento: Seleção das categorias semânticas e dos elementos gramaticais e semânticos nas Rds do alocutário para a interpretação dos dados;

6º Momento: Classificação e caracterização do gênero discurso de renúncia; 6º Momento: Análise e interpretação dos dados.

Agrupamos os excertos extraídos do discurso de ACM que revelam as representações discursivas de si e dos alocutários, conforme cada categoria teórica em análise. Os quadros e tabelas revelam os operadores que constroem cada categoria. Nesses termos, construímos 16 tabelas e 10 quadros. Em cada um, o recurso linguístico-discursivo aparece em destaque por meio do negrito. Os exemplos que ilustram cada operador permitem construir e interpretar as categorias teóricas de análise que aparecem destacadas por meio do recurso das aspas.

Em seguida, por meio da categoria da referenciação, ACM designa ou nomeia a si mesmo no discurso de renúncia. Ela está tanto na 1ª pessoa do singular, por meio do pronome EU, quanto pela desinência pessoal e por substantivos.

A predicação se constitui pelos processos verbais, que são desenvolvidos pelos referentes.

A categoria da modificação revela o uso das qualidades e características atribuídas aos referentes e às predicações.

A categoria da localização expressa as circunstânciais de espaço e de tempo utilizadas para identificar as representações discursivas de si e do outro.

A categoria da comparação utiliza as comparações entre os elementos referenciais nos discursos, por meio de expressões comparativas e metafóricas.

A conexão estabelece as ligações semânticas entre os enunciados do texto, por meio de conjunções, advérbios, dentre outros conectores.

Diante da exposição, sintetizamos o quadro com as categorias e os respectivos fenômenos linguístico-discursivos: CATEGORIAS DE ANÁLISE SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE CLASSES, PALAVRAS E EXPRESSÕES EQUIVALENTES

Referenciação -objetos tematizados -participantes

-sujeitos do processo.

-substantivos e termos equivalentes.

Predicação -processos e ações verbais -subclasses dos processos (ação, estado, agente, meta, beneficiário etc.).

-verbos e expressões equivalentes.

Modificação -caracterização dos referentes e das predicações.

-classe ou expressões de qualificação e atributos.

-adjetivos e circunstâncias verbais.

Comparação -comparação entre objetos de

discurso. -comparação.

Conexão -conectores e mecanismos de textualização. -conjunções, advérbios, e conectores equivalentes. Localização (espacial e temporal) -dêixis; -organizadores espaciais e temporais. -advérbios ou expressões adverbiais de tempo e de lugar.

Quadro 7 – Categorias semânticas readaptadas para a análise das representações discursivas

De acordo com Gomes (1994, p. 70), “as categorias são empregadas para estabelecer

classificações. Neste sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou

expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso”.

O corpus da pesquisa é o discurso de renúncia de ACM que foi coletado diretamente do site do Senado Federal, pronunciado no dia 30 de maio de 2001, com o objetivo de renunciar o cargo de Senador da República, para livrar-se da cassação de seu mandato. Recorremos aos Diários do Senado e às Atas das sessões em que os discursos estão disponibilizados. As Atas proporcionam um contexto comunicativo maior em que os discursos são pronunciados na Tribuna do Senado e se fazem circular publicamente.

Com base nesses encaminhamentos teórico-metodológicos, intencionamos alcançar os objetivos da pesquisa e, consequentemente, responder às nossas inquietações sobre a construção das representações discursivas de si e do alocutário, no discurso político de renúncia.

A seguir, discutiremos a respeito do discurso político, adotando, principalmente, a terminologia e os pressupostos de Charaudeau (2008).