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5.4 CATEGORIAS SEMÂNTICAS DE ANÁLISE

5.4.2 A predicação e os modificadores

A seguir, procederemos às escolhas dos verbos que operam junto ao locutor para formar os predicados verbais e nominais que vão contribuir para essa representação. Na tabela, listamos os verbos de 1ª pessoa do singular, o número de ocorrências e a indicação da linha do texto:

Verbos N° de ocorrências Linhas do texto

“pergunto” 02 83 “respondo” 02 08, 378 “desmascararei” 01 12 “permito citar” 01 30 “tenho” 09 12, 56, 64, 84, 213, 218, 466, 480, 481 “tivesse” 03 142, 208, 444 “tinha” 01 154 “teria” 01 164 “tive” 02 322, 484 “apresentar” 01 56 “ter honrado” 01 451 “ter permitido” 01 455 “lamento” 01 65 “deploro” 01 65 “quero” 04 84, 85, 544, 562

“(não) queria reviver” 01 401

“(não) quis deixar” 01 415

“deveria querer” 01 85 “acho” 01 86 “penso” 02 99, 414 “considero” 01 99 “precisava barganhar” 01 134 “deixei” 01 132 “deixo” 05 393, 394, 394, 395, 450 “deixaria” 01 404 “deixar” 03 162, 387, 413 “alertei” 01 133 “abro” 02 136, 345 “posso” 03 137, 296, 550 “poderia” 02 398, 419 “fazer” 01 164 “fiz” 04 138, 236, 294, 411 “faço” 04 280, 408, 415, 555 “procurei enriquecer” 01 138 “furtei” 01 139 “apontei” 01 139 “desafio” 01 141

“saio” 01 153 “entrei” 01 153 “agradeço” 05 145, 155, 161, 465, 455 “incomodei” 01 159 “acomodei” 01 159

“fui aliado, fui considerado, fui submetido, fui corajoso” 04 161, 179, 287, 472 “sou” 07 161, 217, 266, 387, 423, 437, 547 “serei silenciado” 01 424 “seria julgado” 01 445 “fosse” 02 18 “sinto” 01 165 “peço” 01 184 “confio” 02 197 “espero” 02 204, 318 “lutei” 02 213, 525 “aponto” 02 216, 217 “repito” 04 225, 279, 287, 417 “olho” 01 234

“vou permitir, vou voltar, vou ultrapassar” 03 239, 429, 449

“irei” 01 528 “fui” 02 400, 401 “recebo” 01 286 “lembro” 03 186, 255, 294 “(jamais) montei” 01 294 “participei” 01 295 “aceito, aceite” 01 296, 401 “volto” 02 298, 497 “denunciei, denuncio” 01, 02 302, 382 “defendi, defendo” 01, 01 311, 375 “contrariei” 01 314 “recordo” 03 322, 328, 332 “enfrentei” 03 322, 328, 332 “referi” 01 331 “falo” 02 351, 404 “estou” 08 351, 391, 424, 439, 442, 450, 497, 566 “estava” 01 536 “tento” 01 383 “promovo” 01 384 “nasci” 01 392 “afastarei” 01 394 “acreditei” 01 410 “acreditasse” 01 410 “acredito” 02 417, 552 “(não) ouvi” 01 413 “errei” 01 412 “ficaria” 01 411 “depender” 02 411 “continuar” 02 412, 567

“disse” 01 417 “diria” 01 426 “digo” 01 414 “destruí” 01 417 “conheci” 01 422 “abandonei” 01 435 “carrego” 01 437 “cometi” 04 131, 137, 226, 444 “piso” 01 444 “presidi” 01 451 “tornei” 01 451 “criei” 02 125, 452 “crio” 01 381 “dirigi” 01 467 “julguei” 01 470 “cheguei” 01 470 “convenci” 01 471 “confesso” 01 471 “vejo” 02 474, 498 “recebi” 01 547 “receber” 01 439 “recebo” 01 286 “trabalho” 01 556 “sei” 01 559 “esforçarei” 01 571 “informo” 01 575 “ocupei” 01 578 “equivoquei” 01 474 “supunha” 01 476 “mudei” 01 477 “centrei” 01 487 “guiei” 01 491 “duvido” 01 495 “renunciarei” 04 520, 521, 522, 523 “renunciar” 02 494, 524 “renuncio” 02 558, 580 “olhar” 01 280 “perguntar” 02 281, 470 “silenciar” 01 282 “paguei” 02 442, 497 “estou pagando” 02 442, 497 “eleger” 01 295 “ser lembrado” 01 526 “rejeito” 02 288 “orgulho-me de pagar” 01 460 “pedir” 01 400 “ser tratado” 01 296

Tabela 9 – Verbos utilizados na Rd de ACM como locutor

Dentre os verbos, vamos tecer comentários e interpretações daqueles mais recorrentes e mais significativos na Rd do locutor-protagonista do discurso. O verbo “ter” é usado 18

vezes. Aparece 09 vezes no presente do indicativo, 03 vezes no imperfeito do subjuntivo, 01 vez no imperfeito do indicativo, 02 vezes no pretérito perfeito do indicativo, 01 vez no futuro do pretérito do indicativo e 02 formas no infinito, conforme os excertos:

(L11-12) Nas ruas, em toda parte, onde desmascararei, como tenho feito, os ladrões do Erário, os inimigos da verdade, os criminosos de todos os crimes.

(L56-58) Tenho em mãos, para apresentar aos Srs. Deputados, aos Srs. Senadores e aos brasileiros de um modo geral, relatórios da área energética relativos a 1996 e 2000 [...].

(L64) Não tenho nada a lamentar pela queda de popularidade de nenhum homem público. (L84) Não quero que pensem que tenho ódio do Senhor Presidente da República.

(L213) E tenho documentos em mãos para provar que o alerta [...]. (L218) [...] comparado, com a vida honrada que tenho, aos ladrões. (L466) [...] Tenho aqui comigo, impressos em livro [...].

(L480) [...] Deles não tenho ressentimentos ou mágoa. (L481) [...] tenho pena.

(L141-142) Desafio Ministros de Estado de todas as pastas, presidentes de todos os bancos a apontarem um favor que eu tivesse pedido para particulares.

(L208) [...] se eu me tivesse calado às ignomínias [...].

(L444) Era meu dever ir até o fim, desde que tivesse a certeza de [...].

(L153) Mas saio desse processo como entrei, convencido que, eticamente, tinha razão. (L164) Eu não teria coragem de fazer com ninguém o que se fez comigo.

(L322) [...] quantas resistências enfrentei e tive que superar para criar a CPI do Judiciário! (L484) Tive sempre presente a preocupação de fazer cumprir a norma constitucional. (L451) [...] convencido de tê-la honrado [...].

(L455) não ter permitido que o Congresso Nacional se quedasse [...].

Conforme as predicações destacadas, observamos que o verbo no presente do indicativo faz com que o locutor participe/realize práticas discursivas diferentes. Na expressão verbal: “tenho feito”, o verbo auxiliar no sentido de “fazer/realizar”, organiza uma construção positiva do éthos político de ACM, uma vez que o coloca como agente atuante divulgador de ações parlamentares.

A outra ocorrência: “tenho em mãos”, “não tenho nada”, “tenho ódio”, “tenho documentos”, “a vida que tenho”, “tenho aqui”, “tenho ressentimentos”, “tenho pena”, são predicações, em que nelas, o verbo significa “(não) ter a posse” de determinados objetos e sentimentos. Por meio desses recursos, o locutor detém objetos materiais e psicológicos em seu poder, sendo capaz de denunciar, de se livrar de acusações, de deter provas e de agir contra o outro, trazendo efeitos de sentido diferentes, diante do cenário a que está exposto. Assim, o conjunto de proposições-enunciadas demonstram questões de ordem subjetiva, especialmente, convencer a população, a baiana, das suas mais firmes qualidades.

Ao usar o verbo “tivesse”, no subjuntivo, o locutor quer rever determinadas posturas

hipotético: “(não) teria”, o verbo tem o sentido de “fazer” e isso demonstra a impossibilidade

de o locutor acusar e denegrir o outro. Nesse caso, assegura que é incapaz de incrimir alguém da forma como foi incriminado.

Ao usar o perfeito “tive”, o locutor se declara capaz de criar estratégias políticas

positivas, em atividades parlamentares: “criar a CPI” e ao mesmo tempo se autodenominar

um político da lei constitucional: “Tive sempre presente a preocupação de fazer cumprir a

norma constitucional”.

As formas compostas “ter honrado, ter permitido” foram usadas com o sentido de “conservar”. Nesse sentido, enquanto agente do seu ato verbal, o senador assume os processos

verbais, publicamente, e demostra ser um participante denunciador, mas honesto e sério. Diante disso, consideramos que a predicação do verbo TER usada nos seus tempos e modos denotam as mais variadas intenções de ACM: reafirmar o seu pleito, livrar-se de acusações, provar inocência, incriminar os seus adversários, tornar os fatos reais, convencer o outro de suas intenções e reafirmar as suas relações de poder.

Outros verbos que são recorrentes no texto e apresentam situações sobre o papel do locutor: “deixar” (14), “fazer” (07), “querer” (07), “renunciar” (06), “poder” (04), “repetir”

(04), “agradecer” (04), “ir” (04), “cometer” (04).

Inicialmente, vamos observar o verbo “deixar” e seus usos:

(L132-134) Com respeito, mas altivez, jamais deixei de fazer alertas ao Presidente.

O verbo deixar, antecedido do advérbio de negação (jamais), demonstra que o locutor- enunciador não se revela omisso do papel de agente público, diante do governo Fernando Henrique, expressa um quadro descritivo desse eu e visa convencer o público de boas ações para com a nação brasileira.

Observemos:

(L 404-405) Não deixaria também, Sr. Presidente, que esse assunto - e aí falo com franqueza a V. Exª - fosse resolvido pela Mesa desta Casa, para depender [...].

O verbo, no futuro do pretérito do indicativo, antecedido pela negação, é usado no

sentido de (não) “permitir”. Expressa um efeito de sentido especial, porque anuncia um fato

dois advérbios de negação (jamais, não), embora expressem o fato de forma negativa, trazem uma imagem positiva de ACM, no espaço reservado a prestar contas ao governo e ao povo.

Nos excertos que seguem, o verbo aparece com outras conotações:

(L136) [...] Deixando de ser Senador, abro caminho para que V. Exªs examinem, como quiserem, a minha vida.

(L387) [...] sou obrigado a deixar o Parlamento, sob a absurda acusação de quebra de decoro parlamentar.

(L393-397) Deixo-os antes da traiçoeira apunhalada final. E que fique bem claro: deixo-os, mas não

deixo esta Casa e dela só me afastarei temporariamente. Deixo-os aos que certamente já terão suas

máscaras caídas no chão perante o eleitorado dos seus Estados e aqui não pisarão mais, para gáudio daqueles que honraram e ainda honram a história do Parlamento.

(L450) Srªs e Srs. Senadores, estou deixando hoje esta Casa. Deixo-a convencido [...]. (L413-415) Muitos me aconselharam a deixar o Senado no dia da sua eleição. [...]. (L425) [...] no dia em que eu deixar de ser digno de sua confiança.

Inicialmente, o gerúndio é usado em processo contínuo e tem o sentido de “afastar/

sair”. Esse sentido assegura um efeito circunstancial: o afastamento do Senado, apenas por um

período, para que a sua vida parlamentar seja investigada. Assim, o locutor admite sair por pressão, mas não por ser culpado da acusação, o que ele ratifica a seguir: “sou obrigado a deixar o Parlamento”.

No presente do indicativo, o verbo significa afastar daqueles que o condenaram, que no discurso são representados pelo objeto “os” na função de complemento verbal: “deixo-os, deixo-os, deixo-os, mas não deixo esta Casa”. Nesse caso, o locutor torna claro que está se afastando de alguns, possivelmente, os colegas traidores, aqueles que o acusaram, mas não do povo que o elegeu. O verbo nos ajuda a compreender que ACM teme “perder” a confiança do povo. Quando afirma, na proposição: “mas não deixo esta Casa”, o complemento do verbo deixar muda e passa a ser a Casa Federal. Assim, o conector adverso (mas) e o advérbio de negação (não) impedem que ele desista ou abandone o Senado Federal e garantem um possível retorno, em outro momento, mas o retorno.

Nas linhas 413-415, observemos o verbo “fazer” (07):

(L138-140) [...] não fiz advocacia administrativa, não procurei enriquecer quem quer que fosse, não furtei. Ao contrário, apontei ladrões que ainda estão impunes.

(L294-295) Lembro-lhes que não me fiz sigla e legenda por acaso. Jamais montei esquemas duvidosos ou deles para eleger-me para qualquer cargo público.

(L236-237) Sr. Presidente, fiz muitas acusações a V. Exª que mereciam ser esclarecidas. Cabe-lhe respondê-las, para que não pairem dúvidas sobre sua atuação.

(L410-412) Não que eu acreditasse no seu espírito de vingança. Nunca acreditei. Mas não me ficaria bem, depois de tantas acusações que fiz contra V. Exª, depender da sua benesse para continuar Senador.

(L280-281) Neste momento histórico, faço questão de olhar de frente, nos olhos de cada um dos senhores, sobretudo dos que compõem o Conselho de Ética, para lhes perguntar [...].

(L555-557) Faço questão de dirigir os agradecimentos especiais aos meus amigos e amigas do gabinete, com quem trabalho. Competentes, carinhosos, me deram força para suportar as injustiças. (L408-409) Não faço pactos, expressos ou tácitos, quando a minha honra está em jogo. Não existe acordão. Se existe acordão, é outro [...].

Usado em 07 ocorrências, o verbo foi utilizado no sentido de

“construir/realizar/executar”. Ao usar o pretérito perfeito, o locutor emite quatro

posicionamentos positivos sobre si, a positividade é complementada pelo advérbio “não”, porque esse operador o representa como coerente e ético.

No presente do indicativo, realça o papel do locutor como agente político comprometido e constrói uma descrição de homem sério, incapaz de praticar atos de

corrupção, e como homem precisa “olhar de frente” aqueles com os quais mantém relação

conflituosa.

Observaremos o uso do verbo “querer”:

(L84-87) Não quero que pensem que tenho ódio do Senhor Presidente da República. Não lhe quero mal. Deveria até querer, mas o ódio não se abriga no meu coração nem na minha consciência. Portanto, acho justo que lhe dê alguns conselhos.

(L402-403) Não fui porque não queria mais reviver momentos aqui vividos, que não me honraram e até desonram aqueles que os promoveram na condição de meus algozes.

(L526-527) Quero ser lembrado como o ACM, sim, mas como o ACM que jamais renunciou às causas justas, às causas certas.

(L544-549) A todos agradeço comovido, mas quero fazer um agradecimento particular ao meu Partido, o PFL, que esteve unido em todos os momentos [...].

(L562) [...] E quero lhe agradecer.

Esse verbo é utilizado cinco vezes no presente do indicativo, significando “desejar”. Ao expressar o seu ponto de vista sobre o governante do país, o locutor expõe o seu lado emotivo e se coloca em posição de vítima desse seu alocutário, instaurando a fronteira entre

“um querer e um não querer”: “Não lhe quero mal. Deveria até querer”. Em outras

ocorrências: “quero ser lembrado, quero fazer, quero lhe agradecer”, a predicação emite o tom de despedida e de agradecimento, no momento de anunciar a renúncia. E quando afirma:

“quero ser lembrado [...] não queria mais reviver momentos”, ele aponta o contraponto: ficar

na memória coletiva, mas sair da pressão política e popular. Esse querer revela que a marca ACM, é forte, é histórica, por isso, a intenção do locutor em reiterar: “o ACM que jamais renunciou às causas justas, às causas certas”, essa fala denota o papel de agente que ACM se representa nesse contexto de atos injustos ou de renúncia injusta.

O verbo “renunciar” segue esse pressuposto:

(L520) Jamais renunciarei à coerência! (L521) Jamais renunciarei à ética! (L522) Jamais renunciarei à moralidade! (L523) Jamais renunciarei ao povo!

(L558) Renuncio ao meu mandato também em respeito a você, Luís Eduardo. (L580) Srªs e Srs. Senadores, renuncio ao mandato de Senador.

Ao reiterar o uso do futuro do presente, o locutor traz à cena discursiva temas como a da coerência e ética na política, esse efeito de sentido contribui para ACM se assumir coerente, ético, moralista e político do povo. Ao usar o presente do indicativo em: “renuncio ao meu mandato”, “renuncio ao mandato de senador”, o locutor volta ao cenário da renúncia ao cargo, o cenário real.

Outro verbo bem significativo na construção da Rd do locutor é o verbo “poder”: (L137) Posso lhes assegurar antecipadamente, contudo, que não cometi qualquer crime contra o Erário [...].

(L208-210) O caminho da minha vida poderia ter sido mais suave se eu me tivesse calado às ignomínias praticadas por aqueles que, por dever, deveriam ser guardiães da vida pública.

(L296-297) Não posso nem aceito, por isso mesmo, em qualquer hipótese, ser tratado com menosprezo e muito menos com desrespeito.

(L398-399) Eu poderia ter ido ao Supremo Tribunal Federal defender o meu mandato, há muito cassado por alguns juízes justiceiros desta Casa.

(L550-551) Não posso deixar também de dar uma palavra total de agradecimento aos funcionários desta Casa [...].

A predicação: “posso lhes assegurar”, a assertiva por meio do verbo poder no presente, cria expectativa sobre a inocência do locutor. Já o uso da forma negativa, “não posso nem aceito ser tratado com menosprezo”, impõe respeito sobre si e sobre a situação política em vigor.

Nessa perspectiva, o presente do indicativo usado por ACM vem, cada vez mais, determinar um estilo próprio de linguagem do locutor. Por meio desse estilo, assegura ser inocente e vítima, propõe a adesão do outro, denuncia mal feito político, por meio do modo de dizer, corroborando com Discini (2003), para quem o estilo é modo de dizer. Essa forma de dizer faz com que ACM justifique, mascare e convença para conseguir o seu objetivo.

Em outro momento do texto, ele usa o verbo no futuro hipotético: “poderia ter ido defender o meu mandato”. Com o emprego desse verbo, o locutor tenta explicar a perseguição política dos parlamentares contra si mesmo e a sua impossibilidade de modificar a realidade.

Destaca a sua relação conflituosa com o parlamento: “[...] defender o meu mandato, há muito

cassado pelos juízes justiceiros desta Casa”.

Em seguida, vejamos a ocorrência do verbo “cometer” usado no sentido de “praticar”:

(L130-131) É porque eu também não precisava barganhar para ocultar crimes que jamais cometi. (L138) Posso lhes assegurar antecipadamente, contudo, que não cometi qualquer crime contra o Erário [...].

(L225-227) Há três meses, repito, não se fala em outra coisa, senão no crime que não cometi. (L442-444) [...] quando, na verdade, crime algum cometi.

Ao visualizarmos os enunciados, notamos que todas as ocorrências vieram antecedidas de palavras que indicam a negação dos fatos: “não, jamais, algum”. O locutor utiliza essa recorrência para se manifestar de forma positiva sobre os seus feitos, pois o conjunto de proposições anuncia uma perspectiva de mudança. Vai de uma representação negativa para uma representação positiva si, que é revelada pelos processos verbais.

Outras predicações importantes com o destaque para o verbo “agradecer”:

(L155) Agradeço também ao Conselho de Ética [...]. (L161-162) Agradeço ao Governo Fernando Henrique [...]. (L465) [...] A esses, agradeço penhoradamente.

(L544) A todos agradeço comovido [...].

O verbo “agradecer” imprime a marca de gratidão assumida por ACM no desfecho de seu discurso. O ato de agradecer se divide em duas partes: a primeira é de ressentimento, por se considerar vítima, a segunda é de cordialidade à população baiana e ao seu partido político:

“quero fazer um agradecimento particular ao meu Partido, o PFL”.

O uso do verbo nos ajuda a interpretar o agradecimento como uma ação própria do discurso de renúncia e da situação comunicativa como um todo, pois nessa condição política específica é comum acontecer esse tipo de prática.

Analisemos a ação de “repetir”:

(L225-227) Há três meses, repito, não se fala em outra coisa [...]. (L279) Repito: não traçarão o meu destino!

(L287-293) Fui submetido, repito, a um tratamento injusto [...].

(L416-417) E a lista? A lista! A lista dos votantes da cassação do Senador Luiz Estevão, que me chegou às mãos, já disse e repito, eu a destruí.

O verbo, no presente do indicativo, tem efeito durativo no discurso e revela o processo de continuidade. O verbo contribui para um continuum: “tornar a dizer, reproduzir, repercutir” em uma prática habitual, que faz ecoar a voz de ACM para vários contextos discursivos, principalmente para aqueles considerados de injustiça contra ele.

O verbo “ir” no texto:

(L239) Não vou permitir que se jogue fora um sólido patrimônio [...]. (L429) Vou voltar para o convívio mais próximo dos meus amigos. (L442-449) Piso em espinhos, mas vou ultrapassá-los.

(L528-530) Mandatos se recuperam nas urnas - e irei fazê-lo.

(L398) Eu poderia ter ido ao Supremo Tribunal Federal defender o meu mandato [...]. Mas não fui. Não aceitei sequer a opinião dos advogados. Não fui porque não queria mais reviver momentos aqui vividos, que não me honraram e até desonram aqueles que os promoveram na condição de meus algozes.

Das oito ocorrências no texto, destacamos três locuções verbais “vou permitir, vou voltar, vou ultrapassá-los” que expressam, em uma perspectiva de futuro, a superação de dificuldades e asseguram que a vida pública e privada do locutor permaneça satisfatória.

Nesse sentido, a forma de infinitivo dos auxiliares “permitir, voltar, ultrapassar” apresenta

esse resultado.

O uso do particípio “ido”, em relação ao verbo “poderia”, imprime um processo acabado, que é livrar o locutor da ação de renunciar. Já o perfeito “fui” expressa o porquê de ACM não ter procurado o Supremo Tribunal Federal para defender o seu mandato, em outro momento, permite a ele um cenário discursivo, possivelmente, diferente do que vivido no momeno presente.

Destacamos as predicações dos verbos de estado e mudança de estado:

(L17-18) Há mais de três meses as atenções do País estão voltadas para mim, como se eu fosse o principal problema do Brasil. Aliás, como se eu fosse algum problema [...].

Por meio do verbo “ser”, o locutor problematiza de forma condicional sobre si mesmo “como se fosse problema”. Nesse enunciado, “ACM não é problema para o Brasil”, e assume

No quadro a seguir, sujeito o paciente é reforçado:

(L161-162) Agradeço ao Governo Fernando Henrique, de quem fui aliado e agora sou vítima [...]. (L179-180) Eu fui considerado prefeito do século em Salvador. Compreendo agora, embora não as aceite, sobretudo quando voltadas contra homens de bem [...].

(L287) Fui submetido, repito, a um tratamento injusto, mas sobretudo covarde [...]. (L473) [...] Porque fui corajoso, íntegro e honesto.

A predicação do verbo “ser” aparece com os verbos principais “aliar, considerar, submeter”, nas três primeiras ocorrências. Na quarta, com o verbo simples, ligando o locutor

aos seus atributos: “corajoso, íntegro e honesto”, em uma disposição sintática sujeito + predicativo.

A sequência verbal “fui aliado, fui considerado, fui submetido” apresenta o estado do

sujeito advindo de um processo anterior: ser aliado de FHC, ser o prefeito do século de Salvador e ter sido tratado de forma justa, em outro contexto político.

O uso do particípio demonstra circunstâncias vividas pelo locutor, antes de se submeter à renúncia de mandato, criando uma cadeia aspectual que requereu uma mudança temporal.

Analisemos a predicação do verbo “ser”:

(L162) [...] e agora sou vítima [...]. (L266) [...] Não sou eu quem diz.

(L217) [...] e sou comparado, com a vida honrada que tenho, aos ladrões.

(L381) [...] sou obrigado a deixar o Parlamento, sob a absurda acusação de quebra de decoro. (L437) [...] sou carregado no coração e nos braços [...].

(L547) Sou muito grato ao PFL, a todos os meus companheiros de tempos [...]. (L423) [...] Jamais, porém, serei silenciado.

(L444) Era meu dever ir até o fim, desde que tivesse a certeza de que seria julgado com imparcialidade e isenção [...].

O verbo “ser” é usado como verbo simples, no presente do indicativo, estabelece a relação predicativa entre sujeito e predicativo. Essa construção permite a representação semântica de ACM como vítima de injustiça, na cadeia referencial.

Esse papel de vítima é reforçado pelos particípios: “comparado, obrigado, carregado, grato”, nas linhas 217, 381, 437, 547. Essa série aspectual permite o seguinte resultado: o

locutor é comparado a ladrão; é coagido e ao mesmo tempo é aclamado pela sua história política e se torna grato pelas práticas utilizadas. Obedecendo o percurso semântico anterior, o

verbo “ser” aparece como auxiliar, acompanhado do particípio “silenciado e julgado”. As

A segunda indica a possibilidade de o locutor ser julgado, mesmo com a

impossibilidade de realização do fato anterior: “não ter a certeza de ser julgado com

imparcialidade”.

É importante observar que o estado revelado pelo uso do verbo “ser” mais o particípio

dos verbos principais revelam um conjunto de enunciado que explicita a defesa que ACM se propõe a fazer, levando em conta: o mandato, a vida pública e particular. Por isso insiste em ser beneficiário de seus próprios atos “jamais serei silenciado”.

No quadro a seguir, o verbo “estar”:

(L351) [...] Falo certo de que estou colaborando com V. Exª - acredite!

(L390-392) Meus senhores e minhas senhoras, embora esta Casa tenha sido até hoje a minha segunda Casa, por mais paradoxal que pareça, estou me sentindo num ambiente de Brutus [...].

(L429) Estou voltando para a Bahia. Vou voltar para o convívio mais próximo dos meus amigos. (L439-440) Estou voltando para receber de volta o carinho da minha gente ofendida e magoada pela maneira com que me ofenderam e me magoaram aqui.

(L442) Paguei e estou pagando pelos meus pecados. Pelos pecados de quem? Meus?