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Orçamento público e descentralização administrativa

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1199901136JIHGFEDCBA

111111111111111111111111111111111"11111MLKJIHGFEDCBA

O R Ç A M E N T O P Ú B L I C O E D E S C E N T R A L I Z A Ç Ã O A D M I N I S T R A T I V A

B a n c a e x a m in a d o r a

P r o f O r ie n t a d o r .

P r o f .

P r o f .

P r o f .

(2)
(3)

Pensar não é sair da caverna nem substituir a incerteza das som bras pelos contornos nítidos das próprias coisas, a claridade vacilante de um a cham a pela luz do verdadeiro Sol. É entrar no Labirinto, m ais exatam ente fazer ser e aparecer um Labirinto ao passo que se poderia ter ficado

'estendido entre as flores, voltado para o céu '. É perder-se em galerias que só existem porque as cavam os incansavelm ente, girar no fundo de um beco cujo acesso se fechou atrás de nossos passos -até que essa rotação, inexplicavelm ente, abra, na

parede, fendas por onde se pode passar.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(4)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

ÁLVARO MARTIM GUEDES

ORÇAMENTO PÚBLICO E DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Tese apresentada ao Curso de

Pós-Graduação da FGV/SP Área de

Concentração em Organização,

Recursos Humanos e Planejamento -ORH.

Orientador: Professor Haroldo

Clemente Giacometti

Fundação C..elulioVargas

Escola de AdminislraçâoZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

d e E m p r e s a s d e S ã o P '8 1 . 1 1 0 B ib lio r e c o lt

(5)

ts c b la d e A d m in is tr a ç ã o d e

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jj3b/99

Palavras-Chave: Orçamento Público - Controle Público Administração Pública

Reforma Administrativa Descentralização Pública Contratos de Gestão -Organizações Sociais.

GUEDES, Álvaro Martim. Orçamento Público e Descentralização Administrativa. São Paulo: EAESPIFGV, 1999. 111p. (Tese de Doutoramento apresentada ao Curso de Pós-Graduação da EAESPIFGV, Área de Concentração: Organização, Recursos Humanos e Planejamento - ORH)

(6)

- AGRADECIMENTOS 2

- APRESENTAÇÃO 3

- INTRODUÇÃO 5

CAPÍTULO -1- REFORMA ADMINISTRATIVA 10

- INTRODUÇÃO 10

- A ADMINISTRAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO 13

- O DECRETO-LEI 200 DE 1967 17

'- O MODELO GERENCIAL DA REFORMA ADMINISTRATIVA 22

- CONCLUSÃO 29

CAPÍTULO -2 - ORÇAMENTO ENQUANTO TÉCNICA DE INTEGRAÇÃO COM O

PLANEJAMENTO ....•..•••....•.•..•...••••••••.••••.••••.••••...•...•.•...31

- INTRODUÇÃO 31

- A INTEGRAÇÃO ADMINISTRATIVA DERIVADA DO PROCESSO ORÇAMENTÁRIO E A

IDÉIA DE "REVOLUÇÃO ORÇAMENTÁRIA" 33

- FLEXIBILIZAÇÃO E CICLO ORÇAMENTÁRIO 37

_ AS DIVERSAS ETAPAS PERTENCENTES AO CICLO .41

- A PRETENDIDA INTEGRAÇÃO ENTRE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO 44

- A REPERCUSSÃO NO BRASIL DA TÉCNICA DE ORÇAMENTO-PROGRAMA .47

- CONCLUSÃO 51

CAPÍTULO -3 - UMA REFLEXÃO TEÓRICA PARA O ORÇAMENTO PÚBLICO ....••••.•.•....53

- INTRODUÇÃO 53

- ORÇAMENTO E AS INTENÇÕES E DESEJOS HUMANOS 56

- ORÇAMENTO ENQUANTO REFLEXO DO PASSADO E PREDIÇÃO FUTURA 58

- ORÇAMENTO E PODER 62

- ORÇAMENTO E REDE DE INFORMAÇÕES 65

- CONCLUSÃO 67

CAPÍTULO -4 - ORÇAMENTO PÚBLICO, CONTROLE E DESCENTRALIZAÇÃO ...•... 69

- INTRODUÇÃO 69

- CONTROLE ENQUANTO AVALIAÇÃO DE RESUL T ADOS 75

- CONTROLE AUTOMÁTICO VIA MERCADO PARA O SETOR PÚBLICO 80

- AS QUESTÕES VINCULADAS AO INÍCIO DO USO DA AVALIAÇÃO DE RESULTADOS 86

- AS RECOMENDAÇÕES PRETENDIDAS PARA REINVENT AR O GOVERNO 90

- A POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS PELA

DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. 95

- SOLUÇÃO NECESSÁRIA: OS CONTRATOS DE GESTÃO 99

- CONCLUSÃO 103

POSSÍVEL CONCLUSÃO FINAL: FIM DOS VELHOS TEMPOS OU ABERTURA DOS NOVOS? ...•...•... 106

(7)

- A G R A D EC IM EN TO SZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ÀzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBACAPES pela bolsa concedida.

À Carmen Sylvia Guedes e à Benilde Justo Lacorte Caniato pela revisão do

texto.

Ao Professor Leonel Mazalli por suas opiniões acertadas. Ao Professor Haroldo Giacometti pela orientação dada.

(8)

- A PR ESEN TA Ç Ã OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A origem do Orçamento Público e dos seus princípios reside na intenção de

impor ao poder executivo ações previamente decididas no Legislativo resultantes de

negociações políticas. O desenvolvimento do papel do Orçamento deriva do fato de

que esse instrumento de gestão financeira passou com o tempo a ser reflexo de amplo

espectro social. A participação no processo decisório da formulação do Orçamento é

hoje um dos pontos cruciais para que algum grupo ou interesse político tenha

sobrevida.

As técnicas de Orçamento Público elaboradas no passado visaram

-coerentemente com essa ótica de Orçamento enquanto resultado do conflito de

múltiplos interesses - permitir que a ação estatal ocorresse para atender necessidades

interpretadas como coletivas.

A possibilidade de concatenação entre as diversas opções de ação pública,

consubstanciadas em políticas, e o processo orçamentário, enquanto programação de

gastos condicionados por receitas limitadas, é o desafio que o estudo e a formulação

de técnicas de orçamentação vêm procurando resolver.

A atual técnica de orçamentação pública aplicada no Brasil é a de

Orçamento-Programa. Algumas outras maneiras inovadoras de orçar surgiram, essas, porém, não

trouxeram significativos reflexos nas práticas orçamentárias brasileiras. O contexto

atual, de Reforma Administrativa, permite retomar a discussão das bases do processo

orçamentário vigente, expor as diversas contradições internas dos processos

administrativos e verificar a capacidade de planejamento do Estado.

O presente trabalho pretende induzir a discussão da hipótese de radicais efeitos

(9)

da Reforma Administrativa sobre o modelo conceitual de Orçamento em uso. Esse

debate inexiste na literatura nacional e é fundamental para que soluções possam ser

(10)

IN TR O D U Ç Ã OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Há inicialmente necessidade de reconhecimento e análise do contexto no qual

se insere o Orçamento que acaba por se refletir no modelo conceitual empregado. A

necessidade de assim iniciar e desenvolver o estudo sobre Orçamento Público deve-se

ao reconhecido fato de que fazemos do processo orçamentário uma oportunidade de

legitimação e, decorrente viabilização efetiva, das diferentes ações públicas. Nesse

processo ocorre, sobretudo, a publicidade das propostas de ação governamental para

que diferentes agentes se insiram de maneira organizada.

A necessária caracterização do gerenciamento desse ambiente de inserção

múltipla é fundamental para uma interpretação da tecnicidade, das bases conceituais

adotadas, do formato de Orçamento proposto, dos indicadores selecionados para

controle orçamentário e da forma de apropriar valor aos itens pertencentes ao

Orçamento.

Os estudos. iniciais sobre a implementação da técnica de Orçamento-Programa

no Brasil demonstram claramente, ademais, que a técnica sempre deve ser introduzida

em um contexto maior de inovação. Contexto, por sua vez, que se dá via processos de

reforma e modernização administrativa. Para tal constatação, vale lembrar a constante

referência à Comissão Hoover na literatura nacional, criada com o fim de repensar a

administração pública dos Estados Unidos, e o anseio dos diversos autores em vir a

promover um amplo processo de racionalização da denominada máquina pública no

Brasil.

O que esses fatos históricos me fizeram perceber é que sempre há o apelo

prévio para reformas de amplo espectro. Tal convocação, para mudanças significativas

e de boa magnitude, é que gera a oportunidade e a conveniência para o emprego de

novas técnicas relativas ao Orçamento Público.

(11)

Ou seja, é mais significativo haver a atitude prévia de propor repensar a técnica

prevalecente do que a existência de uma nova proposta técnica que vise substituir a

antiga. Deve ser destacado dessa observação que o convívio e a aceitação da

necessidade de revisão e os objetivos propostos por essa são elementos mais cruciais,

pois sem esses não haverá, seguramente, alteração de fato na organização.

Mais do que uma afirmação taxativa, a observação quanto ao contexto de

aceitação vale pela análise decorrente dos diversos textos introdutórios do

Orçamento-Programa no Brasil. O que estava em curso era a aplicação de uma técnica com a

pretensão de introduzir indistintamente em todas as organizações públicas a

supremacia da racionalização no uso de recursos escassos. Belchior, por exemplo, é

levado

a

afirmar, logo na introdução de sua obra, que:ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

oqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAO rçam ento-Program a é a técnica indicada quando se pretende

conseguir m elhor aplicação de recursos escassos, não só no setor público,

com o no setor privado, pois perm ite o tratam ento m ais correto do

problem a, no estabelecim ento de prioridades, ria distribuição desses

recursos e, principalm ente, no controle de execução e na avaliação de

resultados.EDCBA1

A pretensão era de que a nova técnica apresentada seria uma resposta de efeito

profundo no gigantesco esforço de empreender a plena e efetiva atitude racional na

gestão pública.

O que se deve ter presente no início desse trabalho é a concepção de que a

proposta de modernização, decorrente da introdução de novas técnicas e

(12)

procedimentos, é acima de tudo um resultado do reconhecimento inicial da necessidade

de alteração em tudo o que vem sendo feito e não somente um fim limitado ao novo

processo. Ou, como Martner nos instruiu à época:ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAsistem a orçam entário por program as e atividades foi introduzido nos

países avançados com o um a form a de racionalizar o gasto público, de

orientá-lo a longo prazo, e d.e m elhorar a seleção das atividades

governam entais.2

Ou seja, é possível depreender de afirmações como essa que o que se tem em

pauta é a intenção de que haja um novo padrão superior de desempenho sobre os

resultados observados e que, para tal, lança-se mão de uma forma técnica disponível,

considerada como a mais adequada. Dessa forma, as mudanças orçamentárias a serem

introduzidas devem ser interpretadas como a intenção de se estabelecer um novo

patamar na administração corno um todo. Visto assim, é fácil deduzir que, igualmente

ao passado, o ambiente administrativo geral está apresentando a oportunidade de vir a

aceitar alterações técnicas no Orçamento que possam, por conseqüência, vir a alterar a

própria organização em sua totalidade. Daí decorre a pretensão de que as mudanças na

gestão orçamentária venham a auxiliar a transformar a máquina administrativa e

vice-versa.

O que se está reconhecendo é que não é possível, dentro de um ambiente

identificado como carente de melhor eficiência e eficácia, vir a propor uma nova gestão

para o aprimoramento do Orçamento que deixe de ser de caráter crucial e de impacto

amplo. As mudanças, quaisquer que elas sejam, sempre pretendem atender à vontade

2MAR1NER, Gonzalo. A técnica de Orçamento por programas e atividades, in Revista de Finanças

Públicas, jan! mar de 1971.

(13)

de transformação em todos os padrões de gerenciamento voltados para as mais

diversas rotinas existentes. Isto se confirma em particular no caso do Orçamento

devido a seu espectro que afeta diretamente todos os setores de uma administração

pública, pois esse trata da estratégica repartição de verbas entre diversos atores que as

disputam dentro de um limite de escassez. Deriva disso o reconhecimento aqui que a

discussão sobre Orçamento tende a tomar-se invariavelmente mais elevada e de

repercussão ilimitada na organização.

O ponto realçado é que se deve compreender que nos casos de reforma

administrativa o que antes ocorre é a formação de um contexto social de aceitação da

necessidade de alteração da organização pública que acaba por trazer, como uma

conseqüência natural, uma resposta a essa necessidade. Não podemos, portanto,

confundir a necessidade de modernização com a modernização propriamente dita. A

dissociação entre esses dois elementos, um endógeno e outro exógeno, irá permitir

fazer da interpretação de uma possível alteração orçamentária não um fim em si, mas a

verdadeira interpretação do que está sendo de fato proposto. Assim sendo, as

alterações orçamentárias a serem realizadas por força da Reforma Administrativa serão

tão-somente as possíveis conseqüências e não as causas das mudanças.

Ao aqui fazer este realce estou buscando, de início, o resgate da idéia

concebida como sendo a de modernização administrativa e o que se persegue pela

alteração no Orçamento Público. Sem essa necessária dissociação haverá uma

miscigenação indevida entre a Reforma e uma nova técnica qualquer. Isso nos levaria

para um debate restrito do sentido da Reforma Administrativa como o de simples ato

normativo.

É necessário também destacar que a caracterização inicial desse ambiente de

reforma e mudança pode pôr o risco de datar diferentes técnicas orçamentárias e de

simplesmente estudá-las enquanto registro histórico. Este problema de restrição

historiográfica está presente em qualquer dos estudos administrativos e sendo a

administração pública altamente suscetível, pela sua natureza, ao momento histórico,

(14)

distanciamento do risco de circunscrever a datas o presente trabalho será obtido

através da caracterização da Reforma Administrativa em seus pontos conceituais.

Sem fazer essa referência inicial com vista a contextualização, também,

corre-se igualmente o risco de analisar o Orçamento através da forma puramente normativa e

sem dar atenção e resposta às dificuldades práticas. A idéia de retomar a discussão do

Orçamento Público, porém, dentro de um reconhecido ambiente de Reforma

Administrativa, é a de perceber a correlação que está presente quando da discussão da

introdução de novas técnicas orçamentárias e do Orçamento enquanto processo de

legitimação. Dessa forma, poderemos nos resguardar do desvio de pretender

prescrever as ações da administração pública por decorrência de um novo e

esperançoso tipo de Orçamento.

Com o presente trabalho, há a intenção similar apontada por Galnoor e Gross

no passado:qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

D e qualquer form a, seja qual/or o resultado a curto ou longo prazo de talEDCBAe s fo rç o , ele será firm em ente apoiado no am biente especial d a nação em desenvolvim ento, contribuindo para um a atitude m ental avançada em relação ao O rçam ento governam ental. 3

O que aqui pretendo é exatamente o mesmo, ou seja, não perder de perspectiva

de que se trata de um estudo sobre Orçamento Público dentro de um contexto mais

amplo determinado pela percepção dos agentes envolvidos. Esse contexto definido

pelas dimensões administrativa, política e cultural permite a interpretação acurada do

padrão de gerenciamento adotado, dos limites e das formas de controle público

determinados pelo grau de descentralização e de influência do exercício de cidadania.

Para evitar ir além do necessário em cada uma dessas dimensões, irei buscar

atender aoMLKJIHGFEDCBAo b j e t i v o d e s t a T e s e d e e s t u d a r e x c l u s i v a m e n t e a s p o s s í v e i s a l t e r a ç õ e s n o O r ç a m e n t o P ú b l i c o e n q u a n .t o i n s t r u m e n t o g e r e n c i a l .

3 GALNOOR, 1. e GROSS, B. M. "Os novos sistemas orçamentários e as nações em desenvolvimento", in Inovação na administração pública, coletânea de artigos do Intemartional Social Science Journal, v. 21,11. 1, 1969 - UNESCO, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1974, pág. 21-50.

(15)

C apítulo -1 - R E FO R M A A D M IN IS TR A TIV AJIHGFEDCBA

- IN TR O D U Ç Ã OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

termo Reforma Administrativa refere-se à reforma do padrão da

administração pública. O termo surgiu do reconhecimento da necessidade de

implementar mudanças no âmbito da gestão estatal pública e sua origem histórica está

associada no Brasil à criação do DASP, Departamento da Administração do Serviço

Público. Essas, por sua vez, passaram a existir com vistas a atender a um novo padrão

de prestação de serviços que estivesse em sintonia com as exigências que as novas

funções estatais viessem a ter.

Como Kliksberg nos leva a aceitar:qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

U m a via razoável de form ulação de políticas dessa ordem (de administração pública) seria extraí-las do quadro de referência geral,

constituído pelos planos de desenvolvim ento econôm ico e social, desagregar as m etas expressas pelos m esm os e tirar dali objetivos concretos a serem cum pridos no cam po da m áquina pública, instrum ento fundam ental para sua execução. Isso levaria a incluir no

Plano um capítulo dedicado à adequação do aparelho do Estado e ao desenvolvim ento de sua capacidade efetiva de ação organizacional. 4

Sendo assim, o que foi sendo colocado em pauta, ao longo dos anos e das

diversas experiências de Reforma, foi, em grande medida, uma dinâmica de

4KLIKSBERG, Bernardo, Como transformar o Estado. Para além de mitos e dogmas, Brasília, ENAP,

(16)

reorganização das rotinas e dos procedimentos diante de novos papéis do Estad05 e

com vistas a adaptar a máquina estatal às novas exigências de maior eficiência e

fi ' . 6 e lcaCla .

Este aspecto específico, de redefinição de rotinas, passível de denominação

genérica como Reforma Administrativa, não pode ser confundido com uma reforma

do Estado enquanto funções e papel na sociedade. Porém, indevidamente, é agregada

a implementação das Reformas Administrativas à complexidade das alterações

históricas do Estado.

Observo, a título de destaque, que as modificações relativas ao papel do

Estado na sociedade, de caráter mais amplo, por exigirem processos políticos em que

os atores são vários e potencialmente atuam com grau de autonomia com relação aos

funcionários públicos, permitem fazer dessas reformas aquelas que são empreendidas

na própria sociedade. Sendo assim, a Reforma Administrativa, de menor limite, é

restrita a um novo padrão de gerenciamento do cotidiano e as novas formas que esse

passa a solicitar.

Devo ainda acrescentar e perceber que o sentido da reforma do Estado é

amplo, de conseqüências profundas, articulado durante um período histórico longo,

determinado por fatores múltiplos. Não é, também, necessariamente planejada com

rigor (intencional) e, quando materializada, tem reflexos e conseqüências diretas, com

maior ou menor intensidade, para todos os membros da sociedade.

A Reforma Administrativa não assume, obrigatoriamente, características

simultâneas de espectro, temporalidade e impacto. Embora algumas delas em certo

5 MOTI A, Paulo Roberto "Administração para o desenvolvimento a disciplina em busca da relevância", in Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, 6(3): 39-53, jul/set 1972.

6Entendo o termo eficiência como a potencialização dos resultados frente aos recursos disponíveis e eficácia o atendimento de metas propostas.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(17)

sentido e isoladamente possam estar presentes, não é possível, no entanto, interpretar

e aceitar que a promoção da Reforma Administrativa tenha o sentido e a pretensão de

estabelecer um novo modelo de sociedade. Além do que, para este, não basta e nem é

possível ocorrer ato normativo ou gerencial para que seja estabelecido. As Reformas

Administrativas visaram, sobretudo, adaptações organizacionais, o que permitiu

inclusive que passassem a ser denominadas enquanto termo específico, ganhando,

assim,qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAstatus técnico. Acrescento, por último, que existem posições ideológicas

presentes nas defesas das Reformas promovidas. Tais posições, no entanto, não

atribuíram às técnicas específicas alguma identidade.

O presente Capítulo visa apresentar o contexto histórico da atual Reforma

Administrativa ao traçar um paralelo entre o Plano Diretor da Reforma do Aparelho

de Estado? e o Decreto-Lei 200 de 1967. Ambos os documentos, um sobre as linhas

estratégicas da reforma atual e o outro o ato legal, estão, naturalmente, inseridos em

uma sociedade com momentos distintos. Porém, ambos são registros marcantes que

traduzem as intenções dos mandatários governamentais de imprimir, no caso, uma

descentralização administrativa e, portanto, permitem a análise enquanto comparação

entre documentos relevantes. Naturalmente, é importante realçar, a história da

Reforma Administrativa no Brasil está muito além desses dois registros, mesmo

assim, esses são suficientes para tentar caracterizar o atual momento em sua

peculiaridade marcante que é a relativa à descentralização.

(18)

- A A D M IN ISTR A Ç Ã O PA R AMLKJIHGFEDCBAO D ESEN VO LVIM EN TOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Foi durante os anos sessenta, marcado por concepções desenvolvimentistas,

que se consagrou o termo "Administração para o Desenvolvimento", muito revelador

dos intuitos da idéia de Reforma Administrativa presente no Decreto-Lei 200/67. Em

vários textos em que essa Reforma foi analisada, o termo surgiu imbuído de um

sentido próprio no qual a proposta básica8 era a de possibilitar uma estratégia centrada

na implementação de programas com vistas a maior racionalização, programas que

resultariam em aumento da eficiência e eficácia da ação pública.

o

objetivo estratégico da Reforma Administrativa em 1967 foi o de promoção

deqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA"m udança dos padrões de racionalidade adm inistrativa envolvendo reform as de

estruturas, processo ou com portam ento gerencial.,,9. Esse objetivo partiu do

reconhecimento da necessidade de que a Reforma viesse com o sentido predominante

de impor, para um quadro funcional "competente e neutro, cujo comportamento era

definido somente em termos das normas burocráticas'l'", uma nova regulamentação

para a coordenação das ações diárias e, simultaneamente, propor a existência de novas

estruturas organizacionais que permitissem ocorrer estas novas ações. Sendo assim,

Motta diz que:

C onseqüentem ente, a atenção m aior da reform a volta-se para as

atividades-m eio que definem os valores norm ativos gerencialistas da organização e não para os valores funcionais que refletem os objetivos

8MOITA, Paulo Roberto "Doutrinas de inovação em administração pública: a questão dos valores", in

Inovação na Administração Pública, coletânea de artigos do Intemational Social Science Joumal, v. 21,ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

n . 1,1969 - UNESCO.

9Idem, pág. XXI.

(19)

sociais da instituição.EDCBAllzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Ou como mostra KLlKSBERG:

Esquem aticam ente, a política 'im plícita' predom inante visualiza a

adm inistração pública com o um a grande m áquina, construída para

cum prir fins especificos e pré-estabelecidos, que apresenta problem as

m ecânicos de funcionam ento e, por isso, gera rendim ento deficiente. A

via indicada para solucionar os problem as seria a superação do atraso

técnico da m aquinaria, isto é, sua m odernização.12

A questão é perceber que no passado recente a estratégia básica das Reformas

Administrativas, e em muitos casos acionadas em diferentes países durante os anos

sessenta, aparentemente buscou centrar -se em atos normativos julgados como

passíveis de serem plenamente implementados sem grandes dificuldades. O objetivo

era não o de alterar qualitativamente os resultados das ações, mas, sem

questionamentos prévios, deveriam simplesmente ser propostos novos meios para o

desenvolvimento organizacional.

Foi esse objetivo limitado que fez com que a literatura da época diante de

fracassos, ou de objetivos e metas parcialmente alcançadas, sempre fosse levada a

reduzir a interpretação de suas causas à inépcia do quadro de pessoal indevidamente

treinado. Esse tipo de explicação para as falhas ocorridas, pela sua limitação analítica,

revela e reforça o sentido meramente normativo das Reformas e a restrição de seus

propósitos ao impacto centrado no instrumental básico de racionalização de processos

e treinamento de pessoal.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1 0 Idem, pág. XII.

I IIdem, ibidem, pág. XIll.

12KLIKSBERG, Bernardo Como transformar o Estado. Para além de mitos e dogmas. Brasília ENAP,

(20)

Nesse mesmo sentido, é possível interpretar que as novas tendências

gerenciais decorrentes da Administração para o Desenvolvimento surgiram tendo em

vista aqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA"prem ência de preencher a grande defasagem que havia entre a elaboração

de planos de desenvolvim ento econôm ico e a capacidade adm inistrativa das nações

em desenvolvim ento para im plem entar estes planos ,,13. O que se depreende dessa

observação é que a nova concepção doutrinária da Administração para o

Desenvolvimento pretendia promover um grande processo de adaptação da "máquina"

estatal dentro de um cenário reconhecido como propício à indução de um grande

processo de desenvolvimento econômico. Sendo assim, o pensamento administrativo

da época procurou fazer um diagnóstico organizacional em que se evidenciassem as

mazelas administrativas causadas pela falta de capacidade de planejamento e

implementação e que essa carência, por sua vez, fosse passível de superação pela

busca de maior eficiência e eficáciaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAI 4

A restrição a apenas esses dois parâmetros de desempenho (eficiência e

eficácia) além das conseqüências apontadas por MOTTAIs (de limitação de objetivos

quanto à ação do Estado) traduziu o verdadeiro sentido da modernização como aquele

que visava apenas introduzir novos processos de racionalização já obtidos em outros

países em que o desenvolvimento econômico também já havia sido conquistado para

igualmente propiciar o mesmo desenvolvimento econômico. Portanto, a administração

para o desenvolvimento buscava exatamente administrar o Estado para desenvolver

economicamente o país bem ao espírito da Aliança para o Progresso.

Esse desenvolvimentismo resultante, obtido através de uma racionalidade

13 MOITA, Paulo Roberto "Administração para o desenvolvimento a disciplina em busca da relevância", in Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, 6(3): 39-53, jul/set 1972, pág. 39.

14MOITA, Paulo Roberto Administração... pág. 41. 15MOITA, P. R. Administração... pág. 41

(21)

importada'", revelou-se na prática de efeitos limitados, mas garantiu dois elementos

para uma reflexão mais elaborada. Primeiro, é que na época houve a consolidação da

opinião de que o setor público poderia adquirir novas práticas administrativas cujo

cerne exclusivo fosse a competência técnica. Essa crença na capacidade técnica como

única útil à administração pública norteou o Decreto-Lei 200/67 e, sob certa medida,

permaneceu influente até a Constituição Federal de 1988 quando da instituição do

Regime Jurídico Único.

Segundo, é que essa doutrina da administração para o desenvolvimento por

centrar-se na opinião de queqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA"um a boa prática adm inistrativa, baseada em princípios

organizacionais destilados da atuação eficaz dos países desenvolvidos (adaptada

onde necessária) é a solução para a criação e m anutenção dos serviços de queZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo s países em desenvolvim ento tanto precisam ,,17 acabou por fornecer novo referendo ao

componente de submissão científica presente até hoje.

Conseqüentemente, o espírito da Administração para o Desenvolvimento era o

de promover uma racionalidade técnica auto aplicável, ou seja, todo o problema da

disfunção administrativa pública restringia-se à falta de observação de sistemas de

racionalidade já adotadas em outros países, cuja prova de sucesso era o próprio

desenvolvimento econômico verificado. O Decreto-Lei 200/67 foi elaborado dentro

desse espírito e foi seu produto mais marcante na Administração Pública brasileira e

seus reflexos podem ser até hoje percebidos na legislação relativa à gestão financeira

e orçamentária.

1 6 KL1KSBERG, Bernardo. Como transformar o Estado. Para além de mitos e dogmas. Brasília, ENAP, 1992,pág.44

(22)

- o

JIHGFEDCBAD EC R ETO -LEI 200 D E 1967zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

pensamento administrativo público no Brasil tem como marco de pesquisa a

criação do DASP, Departamento Administrativo do Serviço Público, em 1938. Essa

data revelou o movimento da intenção deliberada de fazer da prática administrativa

pública a resultante de uma proposta mais abrangente e organizada'", inspirada

principalmente pelo sentido de racionalidade técnica.

Éusual, por conseqüência, determinar nos estudos sobre administração pública

brasileira uma primeira etapa. Essa se inicia em 1938 e alcança o término no ano de

1967, com a edição do Decreto-Lei 200/67.

A referência para esta limitação entre datas é a distinção qualitativa que

interpreta o DASP como uma reação realizada no período de Getúlio Vargas com o

sentido de quebrar as influências cartoriais, ou seja, a posse e a manutenção de cargos

administrativos públicos por grupos definidos. O momento posterior, por sua vez

reativo à proposta de centralização no DASP, ocorreu sob forte influência dos apelos

desenvolvimentistas decorrentes da industrialização.

Porém, para MARCELIN019

, a etapa de 1938 até 1945 é considerada como

um primeiro período, ou período Clássico da administração pública. Os anos entre

1945 até 1967 configuram uma fase de transição, influenciada pela Administração

para o Desenvolvimento.

O propósito deste estudo não é o de aprofundar a distinção entre os anos de

18Conferir em KEINERT, Tania M. Mezzomo, "Os paradigmas da administração pública no Brasil", in

Revista de Administração de Empresas, RAE São Paulo, v. 34, n. 3, p. 41-48, mai/jun 1994.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1 9 MARCELINO, Gileno Fernandes Governo, imagem e sociedade Brasília, Fundação Centro de Formação do Servidor Público - FUNCEP, 1988, pág. 39.

(23)

1945 a 1967. Aqui me basta entender o significado do período da etapa posterior ao

Decreto-Lei 200 - no qual a Administração para o Desenvolvimento tem o seu auge

-como sendo aquele em que a forma descentralizada estatal, ou seja, a forma para

tentar uma aproximação de mecanismos de mercado ", ganhou força. Sem dúvida a

demarcação entre datas não é determinante para entender com exatidão a formação do

pensamento administrativo público. O emprego de datas tem somente o sentido de

auxiliar a localizar no tempo uma dinâmica histórica.

Esta nova configuração da maneira de administrar o Estado ocorreu porque o

impacto da descentralização, proposto noKJIHGFEDCBAD L 200, introduziu significativas mudanças

qualitativas nas práticas administrativas. Como exemplo, citamos o advento do

planejamento " que impôs uma substancial modificação pela obrigatoriedade de

formulação de planos para o condicionamento da programação financeira ..

Desta forma, o período após a edição do Decreto-Lei 200 merece o destaque

por distinguir-se na tentativa de introdução de uma ênfase na administração pública

menos centralizada e, portanto, como se percebe hoje, mais próxima da lógica do

mercado. Tal aproximação se deu através da criação de novos meIOS

organizacionais'", para dar suporte à flexibilização das relações contratuais de compra

e de contratação da mão de obra, e através da delegação a terceiros de

responsabilidades federais. O Decreto-Lei 200 é o que demarca uma tendência na

administração pública brasileira para além-muros do Estado.

20 Estes mecanismos passaram a ganhar hoje um significado diferente do daquela época.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAÀ época a intenção era a de propiciar ao Estado uma forma mais ágil para a contratações de fatores (mão de obra,

serviços, materiais etc.). As questões da competitividade do mercado e de financiamento alternativo à

tributação não estavam ainda delineadas. O D.L. 200, por exemplo, não faz menção a alternativas de financiamento e mantém implícita a tributária.

2\ Artigo 7°, Capítulo I, Decreto-Lei 200/67.

22O texto do Artigo 10, do DL 200/67, que reserva um Capítulo inteiro àdescentralização (Capítulo

(24)

Naturalmente, os mecanismos presentes no Decreto-Lei 200 visaram, como as

propostas de reforma anteriores, a racionalização administrativa por alterações legais,

ou seja, por mecanismos formais e dentro do âmbito do Estado. A premissa da

neutralidade técnica e da impessoalidade da lei, inerentes à normatização, permaneceu

como via alternativa de per si para a reforma administrativa de 1967.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o sentido lógico da norma legal como prescrição, presente no Decreto-Lei

200, também perseguiu, como nos instrumentos similares de reforma anteriores, o

disciplinamento das rotinas e dos procedimentos e o treinamento de pessoal, porém

inovou ao propor a indução da descentralização estatal via autarquias ou empresas e

ao estabelecer a relação entre entes administrativos, via processos orçamentários, que

refletissem a necessidade de planejamento.

É importante destacar o novo papel qualitativamente supenor atribuído ao

Orçamento no DL 200. Este papel revela que, embora a descentralização tenha sido a

opção principal da reforma do DL 200, a relação de mando hierárquico entre

administração central e descentralizada ficou resguardada com limites muito bem

definidos via planos, tutela, supervisão e participação acionária, todos esses refletidos

no Orçamento-Programa.

Neste sentido é a intenção de descentralização junto com o novo papel do

Orçamento (portanto do planejamento) crucial à caracterização do Decreto-Lei 200.

As novas organizações descentralizadas passam a ser criadas a partir de mecanismos

de controle sobre os seus propósitos e com permanentes condicionantes para as suas

ações através de liberações orçamentárias='.

23O parágrafo 6° do Art. 10 diz que se condiciona "a liberação dos recursos ao fiel cumprimento dos programas e convênios" e o Art. 18 diz que "Toda atividade deverá ajustar-se à programação

governamental e ao Orçamento-programa, e os compromissos financeiros só poderão ser assumidos em (cont.)

(25)

Estes condicionantes dos repasses orçamentários, já previstos antes pela Lei

4320/64, em nada foram acrescidos, no Decreto-Lei 200, de substantivo, somente

reforçados. É fato que oKJIHGFEDCBAD L 200 buscou inovar, quando apontou para a possibilidade

de contratações de entes privados como executores de ações públicas'". Todavia, ao

não identificá-los claramente" e ao pautar a descentralização através daquelas

entidades ainda sob controle direto do poder público (maioria acionária e autarquias) e

sob as determinações de planos pré-concebidos, o D L 200 não mostrou outra via

efetiva para a descentralização que não aquela ainda sob a égide do poder público

estatal. Sendo assim, esta substância descentralizadora era intencionalmente limitada.

o

elemento claro de limitação reside na supervisão ministerial " proposta.

Através das responsabilidades e das competências, visou-se garantir a supremacia da

Administração Direta em detrimento da crescente Indireta. A descentralização

proposta não se caracterizou por parceria entre iguais. Foi uma descentralização

submissa sem grandes possibilidades de exercício de autonomia senão aquelas

limitadas a contratações de pessoas e serviços e mesmo assim constrangida por planos

e supervisões.

É ainda possível afirmar, contudo, que o que foi feito no Brasil na década de

60 não diferiu em essência das intenções da reforma administrativa que hoje é

consonância com a programação financeira de desembolso". Dessa forma, o D.L. 200 reforçava a submissão e o controle através do vital e imprescindível repasse de recursos financeiros.

24 Na alínea C, parágrafo lOdo Art. lO, é dito que a descentralização será posta em prática em três

planos principais, sendo um deles "da Administração Federal para a órbita privada, mediante contratos ou concessões." No parágrafo 70 do mesmo Art. 10, há o acréscimo, com vistas a "impedir o

desmesurado crescimento da máquina administrativa", de que "a Administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas", para isso poderá firmar contrato à execução indireta "desde que exista na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos da execução". Pela redação, a possibilidade de contratação de empresas privadas existe, porém rn..inimizada por condicionantes não muito definidos.

25 Quando se trata de identificar no âmbito da Administração Pública a forma indireta, o D.L. 200 é

(26)

proposta".

o

que ocorre com o DL 200 é, na verdade, o início de um processo de

descentralização que hoje ainda repercute.

Pode-se assim facilmente perceber que há uma similaridade entre os principais

instrumentos da materialização da atual reforma administrativa, que são os Contratos

de Gestão e as Organizações Sociais, como os dignos herdeiros da modernização

anterior. Estes instrumentos atuais pertencem a uma clara linha evolutiva a partir do

Orçamento-Programa, planos e autarquias.

Há, portanto, uma seqüência de desenvolvimento entre os dois processos, o da

década de 60 e o atual pós ano 90. Isso empresta uma peculiaridade à Reforma

Administrativa no Brasil em relação às realizadas em outros países, que

aparentemente têm uma demarcação histórica mais recente que a brasileira28.

Dessa forma, é pertinente concluir que a atual Reforma Administrativa segue

uma linha evolutiva do Estado brasileiro, que tem o sentido histórico de promover e

estimular o desenvolvimento econômico. A etapa anterior, porém, prevista no DL

200, detinha a intenção de fazer esse desenvolvimento através de organizações com

maior autonomia mas ainda com um certo grau de subordinação e vínculo ao Estado.

A atual difere ao prever uma maior autonomia, como será visto adiante. O que não é

permitido deixar de reconhecer é que o papel do Orçamento Público nessa etapa era

crucial para garantir a descentralização prescrita no DL 200. Para a atual Reforma

esse papel do Orçamento terá que ser revisto.

26 Os Artigos 19 e 20 dão a competência de supervisionar que o Artigo 26 detalha à exaustão.

Supervisionar oferece plenas possibilidades de interferência e mando por parte do órgão que tutela o ente descentralizado.

27 Conferir em SOUZA, Nelson Mello e. "Reforma Administrativa no Brasil: um debate interminável",

in Revista de Administração Pública, RAP, Rio de Janeiro, 28(1): 5470, jan/mar. 1994.

28 HOOD, C. Refletions on variations in 1980s public management reform, Workshop on accouting,

accoutability and the 'New European Public Sector', Helsinki, 27-9 Sept., 1992

(27)

- o

JIHGFEDCBAM O D ELO G ER EN C IA L D A R EFO R M A A D M IN ISTR A TlVAzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A Proposta de Emenda Constitucional, PEC, n." 173, resultante do Plano

Diretor da Reforma do Aparelho do Estad029, apresenta correlação com o movimento

de descentralização do Estado contido noKJIHGFEDCBAD L 200 e, também, revela as bases

diferenciadas dos dois momentos históricos. A primeira parte do ato normativo

(contidos nos planos de governo) para propor a descentralização das múltiplas

atividades do Estado. A diretriz do D L 200 é a da racionalização condicionada pelo

processo de planejamento.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o atual Plano da Reforma propõe novos princípios descentralizadores. Não

será mais uma descentralização concedida e limitada, como foi a do D L 200. A

proposta do Plano Diretor visa a flexibilização descentralizadora através de

movimentos de efeitos mais intensos, que são a privatização e a publicização'". Esse

último (publicização) representa o potencial de introdução definitiva - e a sua

supremacia - das normas de direito privado para entidades de caráter público.

A diferença é verificada na existência e predominância das empresas públicas,

que passaram a representar, por conseqüência do D L 200, uma situação

intermediária" entre poder público e organização sob normas de direito privado. As

propostas do Plano Diretor, de privatizações e de publicização, significam: primeiro, o

abandono da atividade de caráter empresarial no âmbito do Estado e, segundo, que o

29Presidência da República, Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, Brasília, 1996.

30 O texto do Plano Diretor, na sua pág.73, diz que a publicização dos serviços públicos significa a "sua transferência do setor estatal para o público não-estatal, onde assumirão a forma de 'organizações sociais'".

3 \ Essa situação intermediária é observada pela orientação, seguida nas políticas das empresas,

(28)

propósito público pode ser atingido por organizações que não aquelas representativas

por direito legal do poder de Estado.

o

que se constata, da leitura do Plano Diretor, é que enquanto o DLZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA2 0 0 era

um indicador para o uso de contratações de empresas privadas e o fomentador e

regulador das atividades das empresas públicas, o atual processo de Reforma, iniciado

após 1996, é seguido para distanciar-se da atividade empresarial como recurso de uso

própri032 na execução de políticas públicas. O Plano Diretor é mais definitivo no

repasse de certas atividades estatais para outros entes que não aqueles pertencentes ao

Estado. Há, portanto, no Plano, o claro abandono de uma via de ação de grande

significado econômico e gerencial.

É claramente percebível que o Plano Diretor da Reforma Administrativa,

devido ao incentivo simultâneo à privatização e à publicização é, sobretudo, um

movimento de maior intensidade (visto que acrescido de caráter definitivo na

descentralização) em relação àquele iniciado pelo DL 2 0 0 .

Esta maior intensidade, ou aumento do significado, da descentralização tem

um objetivo definido, qual seja, o de estabelecimento de um novo padrão de

administração pública que permita a tendência à ruptura com as regras administrativas

puramente burocráticas (formais). A intenção é de agora assumir a direção a um novo

padrão de administração pública, identificado como sendo gerencial 33

o

Plano Diretor, portanto, rompe com o entendimento de que somente o ato

empresas atuavam. Posteriormente esta situação lubrida intensificou-se pelas contratações de pessoal para posterior transferência aos órgãos públicos.

32 Procede a caracterização de recurso próprio já que a entidade. descentralizada (empresa pública ou

mista) é de propriedade acionária majoritariamente pública. No caso das autarquias ou das fundações essa supremacia estatal é ainda mais evidente.

33BRESSER PEREIRA, Luis Carlos, Da administração burocrática à gerencial, abril de 1996, mimeo.

e FERREIRA, Caio Mareio Marini, "A modernização da gestão burocrática pública na transição pós-burocrática", in I Congresso Interanlericano deI CLAD sobre la reforma dei Estado y de la administración públicª, Rio de Janeiro, Brasil, 7,8 y 9 de noviembre de 1996.

(29)

centralizador normativo (plano de governo aprovado) seja o suficiente na promoção

de uma reforma efetiva. Para realizar a mudança administrativa, o Plano supera o DL

200 ao indicar um novo meio organizacional (Organizações Sociais) e um novo

instrumento (Contrato de Gestão)34 pelos quais essa alteração será implementada.

O DL 200, como foi dito, concentrou sua ação transformadora somente na

introdução do uso de Planos, ou seja, na prática de Planejamento Centralizado. O

Plano Diretor aponta para meios novos, partindo do reconhecimento de que há um

gradiente da capacidade de intervenção do Estado nas atividades prestação e

regulação de serviços em geral. O quadro a seguir· (próxima página), extraído do

Plano Diretor, reproduz a síntese desta nova estratégia de intervenção do Estado na

execução de serviços de caráter público.

34A relação decorrente do contrato de gestão equipara poder público e ente contratado, ou seja, o plano

(30)

FORMA DE PROPRIEDADE FORMA DE

CLEO ESTRATÉGICO Legislativo, Judiciário, Presidência, Cúpula dos Ministérios ATIVIDADES EXCLUSIVAS Polícia, Regulamentação, Fiscalização, Fomento,

e social Básica

Privada Estatal Pública Não -Estatal SERVIÇOS EXCLUSIVOS Publicização Universidade, Hospitais,

Centros de Pesquisa, Museus

PR PARA0

MERCADO Empresas Estatais

Privatização

Fonte: Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, página 59.

O Quadro acima deixa claro que passarão a existir novas áreas de

intermediação entre a disponibilização de recursos e os agentes executores. Isto

colocará o controle e uso dos indicadores em um patamar diferenciado de análise. O

objetivo claro é para passar a existir uma alocação dos recursos a ser intermediada por

parâmetros de resultados".

Interpreto, também, que a existência das novas organizações de intermediação

e do instrumento para tal (Organizações Sociais e Contrato de Gestão) determinam

que a premissa lógica presente no Plano é a do Estado enquanto um agente regulador

e não mais como um agente executor direto. Este novo papel, crucial na qualificação

(31)

da Reforma do Administrativa em curso, exige que as novas funções sejam

executadas com grau de complexidade maior, rigor técnico semelhante ao da alta

direção das empresas e, sobretudo, transferindo as decisões estratégicas para o meio

em que as políticas públicas serão executadas ".

Conforme se depreende do texto do Plano Diretor, há a expressa constatação

da limitação da ação estatal enquanto executora. O texto do Plano diz que:qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

É im portante destacar que o com prom isso fundam ental do Estado não é o de realizar dentro de seu aparelho todas as funções dem andadas pela

sociedade. Ao invés, é o de assegurar ou facilitar a sua realizaçãoEDCBA , I 37

sem pre que pO SSlve ...

Mais adiante - nesta intenção de coordenar o Estado para desenvolver ações

efetivas - ao formular a proposta de Avaliação Estrutural - o mesmo Plano Diretor

define que a linha da reordenação dos órgãos e agências públicas (para evitar as

sempre presentes duplicidades e disfunções) parte das seguintes perguntas básicas:

(1) Q ual a m issão desta entidade? (2) O Estado deve se encarregar dessa m issão e das respectivas atividades envolvidas? (3) Q uais podem

ser elim inadas? (4) Q uais devem ser transferidas da U nião para os Estados e os m unicípios? (5) E quais podem ser transferidas para o setor público não-estatal? (6) O u então para o setor privador'"

Estas questões todas visam concluir que:

dadas as novas funções, antes reguladoras que executoras: (1) D eve o

35 Esta questão, crucial para a interpretação do novo papel do Orçamento Público, será no Capítulo 4

mais bem analisada.

36 Esta caracterização, através desses elementos descritos, é a do novo padrão pretendido para a

administração pública denominado como New Public Management, ou NPM. Através da bibliografia publicada pela OECD, Organization for Economic Co-Operation and Development, este novo modelo poderá ser mais bem entendido no seu significado conceitual.

(32)

Estado criar novas instituições?zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(2) Q uais?39 Em síntese, a reordenação interna do Estado, e o posterior reflexo externo são,

sobretudo, para modificar o sentido da ação estatal de elemento participante direto

para árbitro, regulador e animador.

No entanto, o PEC n." 173 e o debate em torno deste destinaram a maior parte

para as questões relativas ao funcionalismo público. A maioria das mudanças

apresentadas é com relação às regras de estabilidade, gastos com pessoal, política

salarial, regime de trabalho, avaliação de desempenho e a capacitação dos

funcionários'". Apesar do Plano Diretor ser mais modificador quanto ao aspecto da

descentralização, é por existir no pessoal o maior constrangimento de ordem legal que

a maior atenção regulatória do Projeto está presente.

É de se observar que embora haja proporção maior para com o pessoal, esta

não significa impacto qualitativo de igual magnitude se comparada com o redesenho

decorrente da descentralização. Isto porque o item pessoal está circunscrito na

administração direta, portanto, afeta somente os recursos disponibilizados diretamente

ao Estado. A descentralização, ao contrário, é de espectro ainda não totalmente

percebido, visto que exigirá prazo histórico para se fazer sentir.

A administração de pessoal, por último, reflete somente a grande

regulamentação que o setor há décadas vem recebendo; daí seu significado legal

numérico maior, mas, não necessariamente qualitativo também maior. Em que pesem

essas considerações, o impacto imediato do Plano Diretor recai sobre o item de

38Presidência da República, Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, Brasília, 1996, pág. 72. 39Presidência da República, Plano Diretor da Refoillla do Aparelho do Estado, Brasília, 1996, pág. 72. 40Na consulta dahom e-page do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, MARE, em novembro de 1997, no item que resume as principais mudanças propostas pela PEC n.? 173 aprovadas

no l° turno na Câmara dos Deputados, em l° de outubro de 1997, constam estes itens elencados.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAÉ interessante notar que foi apresentado um total de 43 itens; destes, 31 versam sobre questões de

pessoal, perfazendo um total de 72 %.

(33)

pessoal, nos salários, na forma de contratação, nas aposentadorias etc. Os outros itens,

despercebidos pela opinião pública, tais como os Contratos de Gestão e as

Organizações Sociais, detêm um significado de mudança muito mais intenso. Essa,

porém, somente se fará sentir no longo prazo. O que é importante notar é a

significativa intensificação do processo de descentralização do Estado brasileiro cujas

(34)

-C O N C LU SÃ OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A linha condutora existente nos dois momentos históricos marcados, um, peloKJIHGFEDCBA

D L 200/67 e o outro, pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado é,

notoriamente, a de um processo de descentralização do Estado. No primeiro

momento, como foi visto, a linha pautou-se por uma descentralização mitigada, não

distante do âmbito e controle do Estado e impositiva hierarquicamente. No segundo

momento, ou atual, a linha busca estabelecer uma relação de mútua dependência

-como a existente entre parceiros - entre administração pública estatal e agentes agindo

dentro do interesse coletivo ou até público.

A nova forma de desenho organizacional, proposta pelo Plano Diretor da

Reforma do Aparelho do Estado, traz consigo a exigência de novos padrões de

gerenciamento dos recursos orçamentários.MLKJIHGFEDCBAO u seja, além de um inovador processo de hierarquização dos recursos a serem disponibilizados os elementos de

contingenciamento financeiro e o fator de barganha política também terão que ser

revistos.

A gestão financeira e orçamentária em uso deverá vir a obedecer a novos

instrumentos que não mais aqueles em que existe o rol dos gastos associados a

elementos. A busca de superação deste tipo de controle por objeto de gasto, ou

controle por aprovisionamento de recursos, como veremos, é a mesma que mobilizou

as reflexões sobre reformas orçamentárias no passado, principalmente a que

introduziu o Orçamento-Programa. O fato novo nesta é que agora há uma busca de

execução do Orçamento por via indireta, ou melhor caracterizando, de forma

descentralizada.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(35)

o

que é relevante notar é que esse direcionamento para fora do denominado

Núcleo Estratégico do Estado, expresso no quadro extraído do Plano, indica,

seguramente, que também o Orçamento Público deverá ser revisto na sua essência

(36)

C apítulo -2 - O R Ç A M E N TO E N Q U A N TO TÉ C N IC A O E

IN TE G R A Ç Ã O C O M O P LA N E JA M E N TOJIHGFEDCBA

- IN TR O D U Ç Ã OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Por muitos anos, durante a década de cinqüenta e a de sessenta, o Orçamento

foi apresentado como sendo uma possibilidade única da sociedade poder de fato

equacionar o desenvolvimento econômico. A idéia central perseguida era a de

prescrever uma política fiscal de equilíbrio dinâmico da atividade econômica com

base na técnica orçamentária. Tal pretensão, decorrente da influência da doutrinaqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

keynesiana, visava, sobretudo, fazer do gasto público o mecanismo eficaz de controle, que impedisse efeitos negativos no nível de emprego, advindos dos momentos de

contração da atividade, e, no caso da expansão, de garantia de equilíbrio entre oferta e

demanda frente a necessidade de atendimento do aumento do consumo. Também, era

pretendido, nesta doutrina, um instrumental regulatório de longo prazo da taxa de

investimento, onde o controle dos agregados econômicos estivessem harmonizados.

Passados anos de impossibilidade de que tal viesse a ocorrer plenamente, ou

seja, confirmado o fato de que a atividade econômica depende de outras variáveis que

não simplesmente o gasto público, confirmou-se, também, a limitação de depositar

exclusivamente no processo orçamentário público a oportunidade de vir a promover o

desenvolvimento econômico. Conseqüentemente, deixou de ser entendida a política

fiscal como a única responsável pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda agregada e,

também, o planejamento econômico passou a ser questionado até como possibilidade

efetiva.

(37)

Superada esta fase de desencanto com as potencialidades decorrentes da

projeção de receitas e da fixação dos gastos públicos com o fim de promover a

regulação da atividade econômica, ressurgiu aquela em que o debate sobre as ações

financeiras governamentais serviriam como o principal elo de ligação entre os

governos e a sociedade. Reassumiu, portanto, o Orçamento o seu papel contratual

básico, com período determinado, para condicionar as ações futuras de governo com

os anseios da sociedade.

Há, porém, necessidade de verificar antes qual foi o fulcro das propostas

técnicas, qual a sua propositura quando da integração com o planejamento e a sua

repercussão no pensamento brasileiro acerca do papel do Orçamento Público. Por isso

interpretar o que as novas propostas estavam naquela época promulgando depende da

prévia percepção do que essas pretendiam nas suas recomendações de caráter

administrativo.

É necessário, de início, perceber que a integração pretendida entre o

planejamento e o Orçamento, ou Planning, Program Budget System, PPBS (item

central da temática orçamentária na época das inovações), transformou-se na

promoção de uma ação racional do Estado no processo de desenvolvimento

econômico, com base em uma também racional alocação de recursos para consecução

dos seus programas. Ou seja, quando da introdução da idéia de promover a integração

entre o planejamento e o Orçamento existiam, também, outras intenções mais amplas,

que não apenas as de somente disciplinar o processo interno de orçamentação pública.

Vou a seguir examinar esta proposta dentro de uma revisão teórica e, com isso,

(38)

_ A IN TEG R A Ç Ã O A D M IN ISTR A TIVA D ER IVA D A D O PR O C ESSO

O R Ç A M EN TÁ R IO E A ID ÉIA D E "R EVO LU Ç Ã O O R Ç A M EN TÁ R IA "zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Jesse Burk:head, na sua obra "Orçamento Público,,41, editada pela FGV em

1971, foi quem introduziu na reflexão acadêmica brasileira as novas promessas

advindas com as técnicas orçamentárias praticadas em outros países. A idéia

subjacente era a de fazer do Orçamento Público uma oportunidade para promover a

integração administrativa governamental e, por conseqüência, vir a fomentar o

desenvolvimento econômico'f.

Nesta direção, as recomendações reunidas por Burk:head, baseadas em

experiências internacionais, demonstraram como as discussões do Orçamento, até

então praticadas, passaram a ser oportunidades privilegiadas para a alocação de

recursos governamentais. O que ficou demonstrado por Burk:head foi que o processo

orçamentário tinha gradativamente evoluído de uma discussão restrita ao controle

político do parlamento sobre o executivo para a condição de oportunidade de

racionalização ampla das ações de governo 43.

Com isso, vislumbrou-se a oportunidade real de promoção, pela autoridade

estatal, do progresso econômico de um país, pois, Burk:head demonstrou que o

processo orçamentário tomou-se um momento estratégico, que permitiu a

possibilidade efetiva de integração dos poderes públicos com a administração

41 Esta obra foi originalmente publicada em língua inglesa em 1956. Ela representou um marco da

influência teórica de domínio na ONU, quando da recomendação para as nações de adoção de novas técnicas orçamentárias e de novas classificações das despesas e receitas.

42Logo ao início da obra de Burkhead, no prefácio da edição americana, ele afirma que "O Orçamento

Público constitui um dos principais instrumentos para o planejamento e controle da utilização dos recursos públicos. Na medida em que seja bem utilizado, os programas governamentais atenderão cada vez melhor ao interesse da população, elevando seu status material e cultural."

(39)

propriamente dita44.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o resultado de uma ação coordenada entre a intenção política mais geral e a

estrutura administrativa que implementa as diversas políticas públicas passou a ser

uma oportunidade real.

Dessa forma, o impacto promovido pela discussão do Orçamento na

organização (inerente ao processo orçamentário) tornou-se, pela prática, um momento

benéfico de grande potencialidade para a busca de ações públicas coordenadas, que

significam, em última instância, a alocação precisa de recursos escassos. Esse

momento de alocação, segundo o autor, passou a ter gradativamente grande

significado, devido ao papel econômico do público, a ponto de permitir alterações

estruturais no Estado. Decorreu disso a idéia de uma grande representatividade na

modernização orçamentária, pois, para Burkhead:qponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

N ão há dúvida que um sistem a orçam entário representa um a reform a

adm inistrativa das m ais im portantes, especialm ente em unidades

governam entais nos Estados U nidos. A im plantação de um sistem a

orçam entário im plica no reconhecim ento de que o G overno tem

responsabilidade e deseja cum pri-las.4 5

E, assim sendo, o autor entende que:

Por este m otivo, o desenvolvim ento da técnica orçam entária nos Estados

U nidos colidiu frontalm ente com a doutrina da separação dos poderes. As

distinções entre autoridades executiva e legislativa nas C onstituições e

nas praxes governam entais am ericanas tiveram que ser profundam ente

43 BURKHEAD, Jesse Orçamento Público, Rio de Janeiro, FGV, 1971,p á g . 12 a 38.

44 BURKHEAD, 1. O. P.,p á g . 38-9.

(40)

alteradas para queZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo s sistem as orçam entários pudessem ser

estabelecidos.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA46

o

que o levou a concluir que:

Sob este aspecto, a criação de sistem as orçam entários nos Estados

U nidos foi revolucionária, constituindo, ao m esm o tem po, um produto e

um a contribuição em prol de um a m udança fundam ental na estrutura do

G overno.47

É por ter entendido que havia um papel revolucionário para o Orçamento

Público, decorrente da sua introdução como elemento para alterações administrativas,

que Burkhead nos indicou que durante o processo orçamentário é possível fazer uma

ampla integração da organização. Sendo assim, o autor afirma que:

Visto em term os de organização, o O rçam ento expressa decisões que

foram tom adas hierarquicam ente, com interação entre o s órgãos de

escalão superior e o s subordinados e entre aqueles que devem

proporcionar liderança executiva e o s que devem proporcionar

liderança legislativa.48

Ficou assim demonstrado que o Orçamento é uma resultante lógica da

articulação interna do Estado e que, também, baliza o equilíbrio, pretendido entre

poder legislativo e executivo, na busca permanente de propiciar ações públicas em

resposta às necessidades de uma sociedade. Abriram-se com esse pensamento as

potencialidades intrínsecas do Orçamento como instrumento de coordenação. Estava

sendo percebida uma nova etapa de aprimoramento técnico público dita como

revolucionária na qual o Orçamento tinha um papel dos mais relevantes.

46BURKHEAD, J . O. P., pág. 38.

47BURKHEAD, J .O. P., pág. 38.

(41)

A divulgação deste esteio técnico, empreendida pela Organização das Nações

Unidas, ONU, tendo Burkhead como um dos autores participantes, foi no sentido de

incentivar em todos os países (principalmente naqueles subdesenvolvidos) a

implementação deste novo potencializador administrativo 49.

Para que tal ocorresse, Burkhead indicou que a configuração do processo

orçamentário, na definição de cada uma de suas etapas, é que seria a garantia deste

resultado. Daí a importância de sua obra ao resumir em termos práticos as

recomendações das ações e de cada uma de suas etapas para que o Orçamento

trouxesse resultados positivos de integração entre as políticas pretendidas e as ações

decorrentes.

Verificar-se-ão, a seguir, as implicações dessas etapas dentro do seu contexto

de maior significado e como a difusão da idéia de "revolução" facilitou a aceitação de

novas técnicas orçamentárias.

48BURKHEAD,ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAJ .O. P., pág. 112.

(42)

37JIHGFEDCBA - FLEXIB ILIZA Ç Ã O E C IC LO O R Ç A M EN TÁ R IO

o

Orçamento exige, de acordo com seus princípios 50, o estabelecimento de

prazo de validade. Isto significa perceber que a tradição orçamentária encarregou-se

de estabelecer a premissa necessária à existência da demarcação de um ciclo

processual.

Havendo a intenção de acondicionar a ação em um prazo limitado, a existência

do ciclo processual, ou ciclo orçamentário, exige a sincronização da execução das

diversas atividades com base no crítico parâmetro financeiro. Esse parâmetro, é bom

notar, apresenta a vantagem de ser de espectro de controle amplo, pois é passível de

ser utilizado indistintamente para toda e qualquer ação, passível de representação em

unidades comparáveis e de uso e compreensão acessível aos diversos escalões

hierárquicos.

A descrição e a recomendação de como se deve desenvolver este ciclo de

composição e uso do Orçamento (entendido como o processo orçamentário) é, dessa

forma, reconhecidamente o ponto relevante que possibilita vir a sintonizar as etapas

que antecedem com as que ocorrem durante e, ainda, com aquelas que são posteriores.

Isto significa, sobretudo, impor ao ciclo orçamentário uma seqüência lógica de

realização.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

É necessário, então, constatar o fato de que o ciclo orçamentário tem um

significado mais amplo do que o de mero demonstrativo contábil ou deqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA"conjunto de

(43)

partidas dobradas que relacionam gastos com receitaszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA,,51. Isto porque para se chegar

a este conjunto de contas foram anteriormente equacionados programas de trabalho de

acordo com as necessidades das diversas políticas públicas exigidas.

É por essa razão que Burkhead alerta para o problema fundamental da

temporalidade entre a programação presente (entendida como a elaboração dos

planos) e a execução orçamentária futura (realização dos planos programados). Este

problema indica a dificuldade prática - e sempre presente nos processos de

planejamento - entre o tempo presente da elaboração de propostas e o tempo futuro

nos quais essas propostas ocorrerão.

Isto porque:

Em m atéria de sistem ática, o O rçam ento é o produto de um a sucessão de decisões encadeadas no tem po e tom adas no contexto organizacional. 52

Sendo este produto necessariamente condicionado por decisões

administrativas anteriores e seqüenciais, há a necessidade da devida coerência com

cada uma das decisões precedentes, naquilo que são as suas características específicas.

As exigências de ordem hierárquica, técnica e prática do processo orçamentário

significam propiciar ao resultado final (Orçamento) um significado efetivo e

consistente.

O alerta de Burkhead é que nada será obtido caso o ciclo orçamentário

represente somente o cumprimento formal de datas com o objetivo de que o

Orçamento seja somente mais uma lei a ser aprovada. O objetivo maior do Orçamento

é que esse seja um instrumento efetivo de trabalho para a execução de políticas

públicas.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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