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Construçőes com certificaçőes leed no Brasil: o caso do Eldorado Business Tower

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANA FERES DOS SANTOS

CONSTRUÇÕES COM CERTIFICAÇÕES LEED NO BRASIL: O CASO DO ELDORADO BUSINESS TOWER

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANA FERES DOS SANTOS

CONSTRUÇÕES COM CERTIFICAÇÕES LEED NO BRASIL: O CASO DO ELDORADO BUSINESS TOWER

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, Curso de Pós Graduação.

Área de concentração: Arquitetura Sustentável

Aprovada em 14/03/2012

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Eunice Helena S. Abascal – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª. Drª. Perola Felipette Brocaneli Universidade Presbiteriana Mackenzie

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S237c Santos, Mariana Feres dos

Construçőes com certificaçőes leed no brasil: o caso do eldorado business tower. / Mariana Feres dos Santos – 2012.

159 f. : il. ; 30cm.

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe Maria Cecília e ao meu pai Josenildo, pelo apoio, incentivo, paciência e compreensão, colocando sempre minhas necessidades acima das deles. Nunca serei capaz de retribuir tamanha dedicação.

A toda minha família e amigos que compreenderam minha ausência em diversos momentos e continuaram a me incentivar a desenvolver esse trabalho.

A minha orientadora, Professora Eunice Helena S. Abascal, pelo acompanhamento e conhecimento que me ajudaram na conclusão desse trabalho.

A professora Perola Felipette Brocaneli, pela atenção e pela disponibilidade em sempre ajudar.

Ao arquiteto Eduardo Martins, pela ajuda na obtenção de materiais e de informações sobre o Eldorado Business Tower.

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i

RESUMO

O trabalho consiste na análise da certificação LEED, uma das mais utilizadas e reconhecidas no Brasil, através de um estudo de caso do primeiro edifício a receber o mais alto nível da certificação LEED CS na América Latina. A certificação tem sido utilizada como meio de comprovação que um edifício é sustentável e esse trabalho analisa o edifício do ponto de vista arquitetônico, verificando se a certificação garante a este uma arquitetura sustentável.

O desenvolvimento do trabalho começa com um breve histórico sobre como o desenvolvimento sustentável entrou para o discurso mundial, explicando alguns dos principais conceitos relacionados ao tema. Em seguida, são mostrados exemplos de arquitetura classificada como sustentável e a definição desta.

Para a análise do LEED, é desenvolvido um breve cenário comparativo entre duas outras certificações: o BREEAM, a primeira certificação a ser utilizada e que serviu como base para muitas outras, e o AQUA, outra certificação que vem sendo utilizada no Brasil.

Para o estudo de caso do Eldorado Business Tower, é feito um breve histórico do projeto e uma análise do edifício a partir do projeto, do processo de certificação e de observações realizadas em visita feita ao local.

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ii

ABSTRACT

The job is to analyze the certification system LEED, one of the most used and recognized in Brazil, through a case study of the first building to receive the highest level of the LEED CS certification in Latin American. The certification has been used to prove that a building is sustainable and this job analyzes the building using an architectural point of view, verifying if the certification ensures that the building has a sustainable architecture.

The job will begin with a brief history about how sustainable development joined the world speech, explaining some of the key concepts related do the topic. After that, some examples of sustainable architecture and its definition will be shown.

For the analysis of LEED, two other certifications were chosen for a brief comparative scenario: BREEAM, the first certification to be used and which served as the basis for many others, and AQUA, another certification that has been used in Brazil.

For the case study of Eldorado Business Tower, it will be done a brief history of the project and an analysis of the building through the project, the certification process and observations made in the visit to the site.

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iii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 1

CAPÍTULO 1 Sociedade e Meio Ambiente... 12 1.1 A Pegada Ecológica da Humanidade... 1.2 O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente... 1.3 Sustentabilidade - Conceitos e Definições... 1.4 Agenda 21... 1.5 Agenda Verde x Agenda Marrom... 1.6 Uma síntese das principais questões abordadas...

CAPÍTULO 2 Arquitetura Sustentável... 2.1 Arquitetura internacional e sustentabilidade: alguns exemplos... 2.1.1 Norman Foster... 2.1.2 Ken Yeang... 2.2 Arquitetura brasileira...

2.2.1 Rino Levi... 2.2.2 Marcos Acayaba... 2.3 Considerações sobre o capítulo 2...

CAPÍTULO 3 Sistemas de Certificação Green Building... 3.1 BREEAM... 3.2 AQUA... 3.3 Certificação LEED... 3.3.1 LEED no Mundo... 3.3.2 Processo de Certificação... 3.3.3 Categorias... 3.3.3.1 LEED NC – LEED para Novas Construções... 3.3.3.2 LEED ND – LEED para Desenvolvimento de Bairros... 3.3.3.3 LEED CS – LEED para Fachadas e Áreas Comuns de Prédios Comerciais... 3.3.3.4 LEED retail NC e CI – LEED para Lojas de Varejo...

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iv

3.3.3.5 LEED Healthcare – LEED para Unidades de Saúde... 3.3.3.6 LEED EB OM – LEED para Operação e Manutenção de

Edifícios Existentes... 3.3.3.7 LEED Schools – LEED para Escolas... 3.3.3.8 LEED CI – LEED para Interiores Comerciais... 3.3.4 LEED no Brasil... 3.3.5 Construções Certificadas no Brasil... 3.3.5.1 Banco Real Agência Bancária Granja Viana... 3.3.5.2 Delboni Auriemo – Dumont Villares... 3.3.5.3 Banco de Investimentos Morgan Stanley – Edifício Faria

Lima Square... 3.3.5.4 Edifício Cidade Nova – Bracor... 3.4 Considerações e síntese...

CAPÍTULO 4 Eldorado Business Tower: uma perspectiva crítica... 4.1 Histórico do Projeto... 4.2 Características do Empreendimento... 4.3 LEED 2.0 x LEED 3.0... 4.4 Processo de Certificação do Eldorado Business Tower... 4.5 Considerações sobre o capítulo 4...

CONSIDERAÇÕES FINAIS...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...

ANEXOS... ANEXO 1 – Entrevista com Eduardo Martins em 18/11/10... ANEXO 2 – Manual do Locatário do Eldorado Business Tower...

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v

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Tripé da sustentabilidade 17

Figura 2 Commerzbank em Frankfurt 29

Figura 3 Commerzbank em Frankfurt 29

Figura 4 Sistema de ventilação natural do Commerzbank 30 Figura 5 Corte demonstrando jardins laterais 30 Figura 6 Corte demonstrando ventilação natural do Commerzbank 30

Figura 7 Tokyo Nara Tower – Ken Yeang 32

Figura 8 Menara Mesiniaga 33

Figura 9 Menara Mesiniaga 33

Figura 10 Edifício Concórdia – Rino Levi 37

Figura 11 Edifício Concórdia – Rino Levi 37

Figura 12 Banco sul-americano – Rino Levi 37

Figura 13 Banco sul-americano – Rino Levi 37

Figura 14 Residência Baeta – Marcos Acayaba 39 Figura 15 Residência Baeta – Marcos Acayaba 39 Figura 16 Corte Residência Baeta – Marcos Acayaba 39 Figura 17 Perfil mínimo de desempenho do Processo Aqua 49

Figura 18 Leroy Merlin de Niterói 52

Figura 19 Processo de Certificação LEED 57

Figura 20 Formulário de registro para Certificação LEED 58

Figura 21 Metodologia de aplicação do LEED 60

Figura 22 Banco Real – Agência Bancária Granja Viana 68

Figura 23 Delboni Auriemo Dumont Villares 69

Figura 24 Faria Lima Square 70

Figura 25 Morgan Stanley 70

Figura 26 Edifício Cidade Nova 71

Figura 27 1ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

74

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vi

Tower

Figura 29 3ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

76

Figura 30 4ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

76

Figura 31 5ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

77

Figura 32 6ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

77

Figura 33 7ª e 8ª proposta para a construção do Eldorado Business Tower

78

Figura 34 Eldorado Business Tower 79

Figura 35 Heliponto do Eldorado Business Tower 80

Figura 36 Ilustração artística da implantação do Eldorado Business Tower e do Shopping Eldorado

81

Figura 37 Passarela de acesso ao Shopping Eldorado 82

Figura 38 Escada rolante para acesso do térreo elevado a rua 82

Figura 39 Fachada do Eldorado Business Tower 83

Figura 40 Volumetria vista em diagonal e à distância, ressaltando a exploração de curvatura das fachadas voltadas para a Marginal do Rio Pinheiro e para o Shoppping Eldorado; recurso de amenização da massa frente à altura da torre

83

Figura 41 Centro de usinagem montado no segundo subsolo do Eldorado Business Tower

84

Figura 42 Montagem dos painéis do Eldorado Business Tower 85

Figura 43 Sistema para tratamento e reaproveitamento de água da chuva, da condensação do ar-condicionado e da drenagem dos subsolos

86

Figura 44 Tela do programa de computador que mostra o consumo de água e de energia de acordo com cada setor do edifício

87

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vii

Figura 46 Tela do programa de computador que exibe os aparelhos de ar-condicionado ligados em cada sala e permite monitorar o funcionamento de qualquer um deles.

89

Figura 47 Roda entálpica na cobertura do Eldorado Business Tower 90

Figura 48 Tela do programa de computador que mostra o funcionamento das rodas entálpicas

90

Figura 49 Hall do Eldorado Business Tower 91

Figura 50 Eldorado Business Tower 91

Figura 51 Tela do programa de computador que exibe se persianas estão fechadas ou abertas

92

Figura 52 90 vagas preferenciais para carros 100% álcool ou 100% GNV

93

Figura 53 Bicicletário localizado no térreo do Eldorado Business Tower

93

Figura 54 Depósito de material reciclado 94

Figura 55 Entrada do depósito de material reciclado 94

Figura 56 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Espaço Sustentável

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Figura 57 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Uso Racional da Água

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Figura 58 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Energia e Atmosfera

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Figura 59 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Materiais e Recursos

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Figura 60 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Qualidade Ambiental Interna

100

Figura 61 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 3.0: Categoria Inovação e Processo do Projeto

100

Figura 62 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business Tower: Categoria Espaço Sustentável

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Figura 63 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business Tower: Categoria Uso Racional da Àgua

102

Figura 64 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business Tower: Categoria Energia e Atmosfera

102

Figura 65 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business Tower: Categoria Materiais e Recursos

103

Figura 66 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business Tower: Categoria Qualidade Ambiental Interna

104

Figura 67 LEED – CS para Fachadas e Áreas comuns do edifício versão 2.2 com pontuação fornecida ao Eldorado Business Tower: Categoria Inovação e Processo do Projeto

105

Figura 68 Simulação de pontuação do Eldorado Business Tower no LEED 3.0

108

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Estágio de desenvolvimento da Agenda 21 nos municípios brasileiros

21

Tabela 2 Categorias de Pontuação do BREEAM 46

Tabela 3 Exemplo de cálculo de pontuação do BREEAM 46

Tabela 4 Categorias de pontuação do BREEAM 47

Tabela 5 Tabela comparativa sobre a pontuação necessária no LEED 2.0 e no LEED 3.0

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x

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Pegada ecológica da humanidade 14

Gráfico 2 Construções LEED no Mundo 56

Gráfico 3 Profissionais LEED AP no Brasil 59

Gráfico 4 Registros por categoria LEED 61

Gráfico 5 Registros do LEED por Estado 62

Gráfico 6 Registros do LEED por tipologia 62

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Aspectos compreendidos no desenvolvimento sustentável

3

Quadro 2 Diferenças entre agenda marrom e agenda verde 23

Quadro 3 Sistemas de certificação 44

Quadro 4 Categorias do Processo Aqua 49

Quadro 5 Certificação Aqua de edifícios comerciais 51

Quadro 6 Certificação Aqua de hotéis, eventos e spas 51

Quadro 7 Certificação Aqua de escolas e escritórios 51

Quadro 8 Certificação Aqua de edifícios habitacionais 52

Quadro 9 Certificação Aqua de edifícios em operação - uso 52

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACIESP Academia de Ciências do Estado de São Paulo AQUA Alta Qualidade Ambiental

ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating and Air-conditionning Engineers

ASTM American Society for Testing and Materials

BRE Building Research Establishment

BREEAM Building Research Establishment Environmental Assessment Method

CDS-ONU Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas

CIB International Council for Research and Innovation in Building

and Construction

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CPDS Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável

DOE U.S. Department of Energy

EPA U.S. Environmental Protection Agency

GBCI Green Buiilding Certification Institute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IETC International Environmental Technology Centre

LCA Life Cycle Analisys

LEED Leadership in Energy and Environmental Design, Estados Unido

ONU Organização das Nações Unidas

UNEP United Nations Environment Programme USGBC U. S. Green Building Council

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1

INTRODUÇÃO

No mundo contemporâneo, assuntos que envolvem a questão da sustentabilidade entraram em voga. Após longa história de sofrimento de toda sorte de impactos ambientais, o planeta começa a dar sinais de que seus recursos naturais, se usados indiscriminadamente, não são ilimitados. Por essa razão, a sociedade passou a estar alerta para o fato de que, junto com o progresso e os avanços tecnológicos, há também uma grande carga de agressão ao meio ambiente. Advém então a dúvida de como não impedir o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente.

Quando a crise do petróleo assustou o mundo, na década de 1970 do século XX, o meio ambiente emergiu como objeto de preocupação. Observou-se que “O crescimento da população mundial, as largas escalas entre poder econômico e político contribuem para a deterioração ambiental, que, por sua vez, altera tanto a vida das pessoas quanto a estabilidade política e econômica mundiais” (FRANCO, 2001, p.43). Ficava evidente também a dupla condição da humanidade, capaz de destruir essas formas de vida ou então aprender a viver em harmonia com elas, considerando sua interdependência (LOVELOCK, 2006).

Tais preocupações motivaram a discussão dessa temática entre líderes do mundo todo. A Conferência de Estocolmo, de 1972, e vinte anos depois a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, foram eventos seminais para esse debate, e o desenvolvimento sustentável se afirmou então como uma prioridade no discurso mundial, no que tange ao desenvolvimento das cidades. A criação de uma Agenda 21 Global que propunha ações de longo prazo para que esse desenvolvimento fosse possível consistiu em realização de expressiva importância nesse contexto.

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2

Apesar de todas essas ações, a dúvida permanecia: “Como o desenvolvimento sustentável pode ser definido e operacionalizado para que seja utilizado como ferramenta para ajustar os rumos que a sociedade vem tomando em relação à sua interação com o meio ambiente natural?” (BELLEN, 2006, p.13). A resposta do próprio Bellen a essa pergunta fora que a solução nasceria com “[...] o desenvolvimento e a aplicação de sistemas de indicadores ou ferramentas de avaliação que procuram mensurar a sustentabilidade” (2006, p.13).

A despeito dessa preocupação com as questões ambientais relativas ao desenvolvimento e à vida urbana, é também fato que “[...] a indústria da construção e suas atividades são responsáveis por uma substancial quantidade de uso de recursos globais e emissão de resíduos. Ela também desempenha importante papel no desenvolvimento sócio-econômico e na qualidade de vida”1 (CIB/UNEP-IETC, 2002, p.iii). O que sugere que se faz também urgente refletir não somente sobre uma cidade sustentável, mas sobre a arquitetura produzida no meio urbano.

A indústria da construção é uma das atividades que causa expressivo impacto ao meio ambiente, o que suscita interesse em discutir o que é uma arquitetura sustentável, suas características e limites, bem como refletir sobre o papel que a arquitetura representa na cidade, que se pretende sustentável. Segundo o U.S.

Green Building Council (2008), a construção civil é responsável por 40% do uso de

energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de gás carbônico e 13,6% do consumo de água potável nos Estados Unidos.

Nesse contexto, e visando a produção de edificações dotadas de recursos minimizadores de danos ambientais, surgiram as certificações verdes, instrumentos de avaliação que determinam parâmetros para classificação da arquitetura quanto à sustentabilidade. Conforme procedimentos e definição da certificação verde, a emissão de pareceres aos edifícios atestaria sua adequação aos critérios

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3

enunciados por esses instrumentos identificando tal arquitetura àquela capaz de causar o menor impacto possível ao meio ambiente.

Com o objetivo de avaliar desde o projeto, a obra e manutenção dos edifícios, foram criados diversos sistemas de certificação para uso em diferentes países, porém “(...) todos estes sistemas concentram-se exclusivamente na dimensão ambiental da sustentabilidade” (SILVA & AGOPYAN, 2004, p.1), o que sugere que a certificação que resulta de sua aplicação não avalia o desempenho total e real das construções, e sequer contempla o conceito de “arquitetura sustentável” de maneira mais ampla e completa. Para avaliar a sustentabilidade de um edifício, é necessário contemplar também aspectos tais como o uso e a dimensão social dos espaços, em busca de uma arquitetura que contemple as necessidades de seus usuários de maneira justa e que ofereça oportunidades e boa qualidade de vida (SILVA & AGOPYAN, 2004). Uma arquitetura que contemple também aspectos de eficiência e economia de meios e recursos.

A busca de equilíbrio entre ambiente físico, processos econômicos e organizações sociais, o chamado tripé da sustentabilidade (SILVA apud CSILLAG, 2007, P.30), é o que tornaria um empreendimento realmente sustentável, levando-se em consideração que uma construção dessa natureza pode ser instrumento de melhoria da qualidade de vida de um indivíduo ou comunidade.

Quadro 1: Aspectos compreendidos no desenvolvimento sustentável

(20)

4

A maioria das certificações se fundamenta na análise de ciclo de vida (LCA2) de um

edifício:

LCA é o procedimento de analisar formalmente a complexa interação de um sistema – que pode ser um material, um componente ou um conjunto de componentes – com o ambiente ao longo de todo o seu ciclo de vida, caracterizando o que tornou-se conhecido como enfoque do “berço ao túmulo” (cradle-to-grave). (SILVA, 2003, p.17).

Apesar de a definição de LCA se fundamentar no conceito de “berço ao túmulo”, ou seja, considerar o objeto de estudo em um ciclo do início ao fim da existência, as certificações consideram apenas o ciclo “berço ao sítio” (cradle-to-site) (BARROS, 2005), isto é, analisam apenas o ciclo que abrange do projeto à operação e manutenção do edifício, não considerando futura demolição ou reuso, visto que é praticamente impossível prever o que vai acontecer com tal edifício em dez, vinte ou cinqüenta anos. Apesar de esse tipo de prospecção não ser realizada, a certificação leva em consideração aspectos como reaproveitamento de materiais, ou quantidade de materiais desviada de aterros sanitários e enviada para reciclagem.

Uma vez certificado, o edifício não é mais analisado para verificação se tudo o que garantiu a certificação ainda se aplica. Existe possibilidade de buscar a certificação LEED EB OM3, destinada à operação e manutenção de edifícios existentes, mas essa certificação não afeta a certificação obtida anteriormente, como o LEED CS4 ou LEED NC5.

A CIB/UNEP-IETC (2002) defende que países em desenvolvimento precisariam ter um plano de Agenda 21 diferente dos países desenvolvidos, pois os problemas, prioridades e capacidades das indústrias, dos governos, das culturas e formas de ver o mundo são diferentes. Esta ponderação talvez também se aplique às certificações, pois além de todos os motivos mencionados, os métodos construtivos, materiais e acesso às tecnologias também diferem.

2 Life Cycle Analisys.

3 Para Operação e Manutenção de Edifícios Existentes

4

Para Fachadas e Áreas Comuns de Prédios Comerciais

5

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5

Diante da problemática que o processo de certificação sugere, indicando caminhos para que uma abordagem crítica seja elaborada, este trabalho aborda o sistema de certificação LEED6, que vem sendo utilizado no Brasil e que é ainda bastante

recente, ao se levar em consideração que a primeira edificação certificada no país foi a agência do Banco Real, na Granja Viana, em 2007. A certificação LEED vem se revelando cada vez mais uma meta e diversos edifícios que a utilizam, como as duas torres do Rochaverá, a agência do Banco Real na Granja Viana e o próprio Eldorado Business Tower, são hoje valorizados, do ponto de vista da divulgação de sua arquitetura e como símbolos de atendimento eficiente aos critérios de certificação, e também em termos de valorização imobiliária. Ganhando cada vez mais notoriedade e exercendo influência crescente nos meios empresariais e de incorporação imobiliária, os sistemas de certificação estão sendo também cada vez mais utilizados. Cabe então indagar das causas dessa crescente procura e valorização, perguntando também se um edifício certificado atende à premência de consistir de fato em uma arquitetura sustentável, e o que contribui para que seja assim identificado. Estas perguntas caracterizam os problemas que a pesquisa enuncia, e que a conduzem, sugerindo uma hipótese ou linha, a saber, de que a certificação não é condição suficiente para caracterizar a arquitetura sustentável na acepção plena desse termo: uma arquitetura capaz de atender às questões de economia de recursos e meios energéticos e materiais, mas que seja também apta a acolher usos e atividades, de forma a valorizar e qualificar a permanência e fluxos em seus espaços.

O método de aplicação da certificação LEED é, em certa medida, direcionado para suprir interesses de mercado imobiliário, contribuindo para qualificar os empreendimentos conforme os parâmetros relacionados. A avaliação é feita por meio da aplicação de instrumento que resulta em um checklist, o qual identifica um conjunto de parâmetros e categorias que atribuem pontuação ao empreendimento, a qual depende dos créditos que a edificação atender.

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6

Com uma estrutura simples a ponto de ser, por isso, criticada, o LEEDTM é baseado em especificação de desempenho em vez de

critérios prescritivos, e toma por referência princípios ambientais e de uso de energia consolidados em normas e recomendações de organismos de terceira parte com credibilidade reconhecida, como a ASHRAE7; a ASTM8; a EPA9; e o DOE10 (SILVA, 2003, p. 54).

O edifício Eldorado Business Tower, localizado à Avenida das Nações Unidas, junto ao Shopping-Center Eldorado, em São Paulo, projetado pelo escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini e executado pela Construtora Gafisa, foi o primeiro edifício na América Latina a receber o certificado na categoria LEED CS Platinum, o mais alto nível de classificação. Este edifício será abordado como objeto de estudo para compreensão de como a Certificação LEED funciona e, o mais importante, quais itens leva em consideração para avaliar edifícios e se esses itens avaliados suprem todas as condições para que um edifício seja realmente sustentável e apresente qualidade arquitetônica. Os objetos de estudo que fundamentam este trabalho são, portanto, a certificação LEED e o mencionado edifício-alvo desta.

Essa qualidade arquitetônica se define como um conjunto de determinações atendidas pela arquitetura, em que se destacam não apenas aspectos ambientais e energéticos, mas questões relativas ao espaço criado, circulações, distinção entre espaços de fluxo, transição e permanência, inserção do objeto arquitetônico no meio urbano, acessibilidade, materiais utilizados e efeitos no ambiente construído. Sugere-se que a sustentabilidade de uma edificação implique no atendimento dessa multiplicidade de aspectos.

O objetivo deste trabalho, portanto, é analisar qualitativamente a certificação LEED como meio e instrumento suficiente de avaliação de sustentabilidade de edifícios, mediante o estudo de um caso que recebeu o mais alto nível de certificação, questionando o processo do LEED enquanto definidor da sustentabilidade da

7 American Society of Heating, Refrigerating and Air -conditionning Engineers

8 American Society for Testing and Materials

9

U.S. Environmental Protection Agency

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7

arquitetura, e buscando compreender a relação entre esse procedimento e a sustentabilidade. O estudo de caso será objeto de análise mediante a compreensão do projeto arquitetônico que deu lugar à obra, verificando-se relações das características arquitetônicas com a produção de um edifício certificado, e como esta certificação representa ou não a produção de uma arquitetura sustentável. Trata-se de uma primeira abordagem, de natureza qualitativa quanto à relação entre certificação e sustentabilidade na arquitetura.

O objetivo específico consiste em questionar de maneira crítica se a obra atende aos quesitos de classificação, bem como o alcance e a adequação do instrumento de medida, ou seja, verificar se o edifício Eldorado Business Tower é sustentável e se a categoria alcançada no LEED garante a ele essa sustentabilidade. Estes objetivos somente podem ser alcançados estudando não só o processo de certificação, mas o próprio projeto arquitetônico. Esse estudo envolve conhecer desde a concepção e partido, até os desdobramentos projetuais quanto ao espaço produzido, circulações, dimensionamento, soluções construtivas e técnicas, recursos arquitetônicos utilizados para a geração de conforto ambiental; enfim, é da arquitetura que provém a inclusão de princípios que a tornam certificável, e não apenas a existência de um instrumento definido “a priori”. Estes objetivos e meios de análise consistem na metodologia adotada. A metodologia envolve ainda um breve estudo do LEED frente a outras modalidades de certificações, mencionando outros sistemas existentes, tais como primeira certificação utilizada no mercado, o BREEAM11, e outro sistema

utilizado no Brasil, o AQUA12. Cabe frisar que esta abordagem panorâmica não é o

foco da metodologia, mas tão somente suporte para articular uma discussão crítica do processo de certificação.

O LEED foi criado inicialmente nos Estados Unidos para certificar edifícios pretensamente sustentáveis e começou a ser utilizado e reconhecido no Brasil, tendo o primeiro edifício certificado em 2007, e outros países, concretizando a aspiração de funcionar como um instrumento universal.

11

Building Research Establishment Environmental Assessment Method

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A certificação BREEAM foi desenvolvida em 1988 no Reino Unido, sendo a primeira apresentada ao mercado, e muitas outras que vieram depois a utilizaram como base, inclusive o LEED. O BREEAM já teve versão adaptada para outros locais, como Canadá e Hong Kong. Assim como o LEED, o BREEAM certifica edifícios determinando categorias que resultam em um checklist tornando esse método de avaliação mais simples e acessível, devido a essa sistematização.

O Processo AQUA foi o primeiro sistema de certificação criado no Brasil. Lançado em abril de 2008, o sistema adaptou a certificação francesa HQE para a realidade brasileira. O método de avaliação também é realizado a partir de um checklist que enuncia catorze (14) categorias, tendo o mesmo objetivo do LEED e do BREEAM, a saber, facilitar o acesso e a compreensão pelo mercado imobiliário às formas de avaliação, tornando-as menos complexas e mais sintéticas.

O Processo Aqua (Alta Qualidade Ambiental) é uma certificação adaptada à realidade brasileira pela Fundação Vanzolini e por professores do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli/USP. O processo é fundamentado no sistema francês Haute Qualité Environnementale (HQE), mas adota critérios próprios e incorpora normas da ABNT. (CORBIOLI, 2009).

O sistema de certificação, se observado de uma perspectiva crítica, admite enunciar a dúvida de até onde se produz, a partir dele como parâmetro, uma arquitetura de fato sustentável. E até que ponto uma arquitetura na qual se ausentam soluções que a tornem sustentáveis é compensada pelo atestado de “sustentável”, atribuído pelo fato de o edifício atender a categorias que enfatizam algumas tecnologias e recursos, e que nem sempre esgotam todos os determinantes e conteúdos necessários a uma arquitetura mais complexa em suas soluções e problemas definidos. Esse atendimento às categorias mais valorizadas permitiria a obtenção de certificação; e as indagações que a certificação suscita consistem nos problemas identificados para conduzir a dissertação de mestrado.

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ser adequado às circunstâncias específicas de cada projeto e lugar, levando a que o mesmo autor também mencione o paradoxo entre a necessidade de utilizar da tecnologia quando não se revela possível aproveitar ao máximo a luz e a ventilação naturais:

Muitos edifícios modernos de vidro precisam de sistemas igualmente modernos de aquecimento e resfriamento bastante avançados e caros, com o objetivo de adaptar a construção ao clima. Neste caso, não se pretende que o projeto responda ao clima, mas que o equipamento adapte os edifícios a ele (HERTZ, 1998, p.19).

A busca pelas certificações que comprovem a sustentabilidade de empreendimentos tem crescido cada vez mais, o que leva a enunciar perguntas relativas às causas desse crescimento: talvez em função de potencializar o valor imobiliário, ou por existir real preocupação com o meio ambiente? Ou então, em obter reais vantagens de economia de meios e recursos, centrados em eficiência energética e reuso de água, o que sugere que na prática, a certificação seja um índice de edifícios com essas qualidades:

Internacionalmente, um número crescente de empresas do setor imobiliário e de construção vislumbra oportunidades de negócios relacionadas ao ambiente, seja para minimizar riscos, antecipar-se a mudanças na legislação, ou para sustentar uma imagem corporativa positiva. Os maiores desafios e oportunidades referem-se ao valor adicionado referente a valores ambientais, pois, apesar da importância atribuída aos valores verdes ter aumentado, argumentos ambientais não são suficientes para “vender” um empreendimento (SILVA, 2003, p. 5).

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moldes mais complexos, expressando-se essa complexidade no partido e nas decisões projetuais.

O LEED e o AQUA são compreendidos como instrumentos qualitativos para nortear a produção e possibilitar a avaliação de arquitetura sustentável; no entanto, sua aplicação prática bem como a visibilidade e o valor financeiro alcançados pelos empreendimentos que o utilizam sugere um questionamento da certificação, indagando se esta não se pauta apenas em suprir instrumentos de marketing e de agregação de valor imobiliário.

O desenvolvimento do trabalho implica em um breve cenário comparativo dos sistemas de certificação utilizados no Brasil, para a apresentação de suas categorias, cujo objetivo é identificar, com essa comparação, diferenças fundamentais, bem como o alcance e possibilidades distintas desses instrumentos. Será também realizada uma introdução ao BREEAM, o primeiro instrumento de avaliação de edifícios sustentáveis, base para todos os outros, inclusive para o LEED. Passar-se-á em seguida a conhecer o instrumento de certificação AQUA, um dos mais usados e reconhecidos no Brasil, fundamentos esses que conduzirão a um estudo mais aprofundado (incluindo um estudo de caso), da certificação LEED. A comparação visa caracterizar esses instrumentos e identificar o que e como medem.

Esse percurso comparativo será realizado com a apresentação e discussão dos instrumentos de certificação, fundamentando-se em fontes secundárias (trabalhos acadêmicos e bibliografias sobre sustentabilidade e certificação LEED no Brasil e informações fornecidas pelo U.S Green Building Council), visando compreender intenções, procedimentos e lógicas do processo de certificação.

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11

durante visita técnica realizada. O trabalho conta ainda com entrevista realizada com agentes diretamente envolvidos no projeto do edifício. O cruzamento de informações obtidas a partir de todos esses instrumentos e meios consiste no procedimento metodológico adotado, que procura articular uma análise crítica a partir da reflexão sobre as condições que levaram à certificação e sua relação com a arquitetura realizada e o espaço vivenciado.

A dissertação está estruturada da seguinte maneira: numa primeira parte, considerações gerais sobre as relações entre sociedade e meio ambiente, apresentando um histórico do termo desenvolvimento sustentável e explicando alguns dos principais conceitos a ele relacionados.

O segundo capítulo abordará exemplos de arquitetura classificada como sustentável em determinados momentos históricos, definindo-a e citando exemplos para, no terceiro capítulo, abordar as certificações verdes, iniciando com o BREEAM e o AQUA para em seguida aprofundar o LEED, objeto teórico de estudo do trabalho.

Por último, será apresentado o estudo de caso com base no primeiro edifício que recebeu o certificado LEED platina na América Latina: o Eldorado Business Tower. Nesse capítulo, será apresentado o percurso histórico do projeto do edifício, as características arquitetônicas, de inserção urbana, materiais e construtivas que são a base do processo de certificação. Em seguida, uma análise crítica que indaga se essas características são suficientes para denominar sua arquitetura como sustentável será então apresentada.

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12

CAPÍTULO 1. Sociedade e Meio Ambiente

A questão da sustentabilidade em Arquitetura vem progressivamente se afirmando como matéria de relevância indiscutível, pois é quase intuitiva a idéia de que vivemos um momento em que o desenvolvimento depende de cuidados para com o meio ambiente e economia dos escassos recursos naturais e materiais disponibilizados.

Segundo Ignacy Sachs (1993), duas posições antagônicas polemizam sobre a relação entre oferta e consumo de bens e recursos do planeta. Os “malthusianos” alertam que o mundo tem população excessiva, e que se consome hoje muito mais do que se produz. Esse desequilíbrio seria responsável por a natureza não conseguir acompanhar o ritmo do homem que, além do consumo, também é responsável pela contínua poluição do meio ambiente. Em oposição a essa corrente, os “cornucopianos” afirmam que a superpopulação mundial não é impedimento para que os impactos danosos ao meio ambiente não possam ser minimizados, pois tecnologia e conhecimento estão à disposição para ajudar a diminuir impactos e permitir que gerações futuras vivam sem a preocupação de esgotamento dos recursos naturais.

O Relatório de Founex identificou os principais tópicos dessa problemática, presentes até hoje na agenda internacional. Rejeitando as abordagens reducionistas do ecologismo intransigente e do economicismo estreito e rigoroso, o relatório traçou um caminho intermediário e eqüidistante entre as posições extremas de “malthusianos” e “cornucopianos”. (SACHS, 1993, p.11).

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fábrica de pesticidas. Foi então realizada a conferência das Nações Unidas, em Estocolmo, em 1972, com o tema o Homem e o Meio Ambiente, sendo esta a primeira reunião global, que reuniu cento e treze países com o principal objetivo de discutir o desenvolvimento humano e sua intensa relação com o meio ambiente.

Continuando os esforços de enfrentamento de problemas ambientais e desenvolvimento, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente realizou, em 1979 e 1980, vários seminários debatendo diversos estilos de desenvolvimento. O conjunto destas ações se refletiu no Relatório Brundtland, de 1987, um documento que identificou problemas ambientais, como o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio, apresentou soluções para seu enfrentamento e definiu desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993).

Vinte anos depois da reunião de Estocolmo, nova conferência da Organização das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento foi então realizada, desta vez no Rio de Janeiro. A denominada ECO 92 se tornou mundialmente conhecida e, segundo Hans Michael van Bellen (2006, p.22), “(...) finalmente a interligação entre desenvolvimento socioeconômico e as transformações do ambiente entrou no discurso oficial da maioria dos países do mundo”.

As diversas conferências, realizadas ao longo dos anos, que tiveram como tópicos assuntos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável atestam uma preocupação progressiva sobre esses dois temas, colocando em evidência o problema do impacto causado pelo ser humano no meio ambiente e como esse impacto pode ser mensurado para que possa ser diminuído de maneira fundamentada, atingindo, assim, o desenvolvimento sustentável.

1.1 A Pegada Ecológica da Humanidade

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mostra se seus impactos no ambiente global são sustentáveis a longo prazo” (CIDIN, SILVA, 2004, p. 46).

Segundo o Global Footprint Network, atualmente, o planeta leva um ano e cinco meses para se regenerar frente ao que a humanidade consome em um ano, ou seja, a sociedade ultrapassa o que se encontra disponível para ser consumido, definindo um conceito denominado overshoot13. O overshoot acontece quando a demanda é maior do que aquilo que a natureza pode fornecer ou maior do que a capacidade da natureza de se regenerar (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2010).

Gráfico 1: Pegada ecológica da humanidade

FONTE: World Wide Fund for Nature (WWF). Living planet report 2008, p.2. Disponível em

http://wwf.panda.org/about_our_earth/all_publications/living_planet_report/footprint/. Acesso em 19/09/2010.

De acordo com o Global Footprint Network (2010), calcular a pegada ecológica de uma pessoa, cidade, negócio ou nação é importante, porque assim é possível identificar e mensurar a pressão que a sociedade exerce sobre o planeta e, assim, cuidar melhor do meio ambiente, providenciando ações necessárias. O gráfico 1 mostra que o planeta está em overshoot desde o final da década de 1980 e o impacto que o ser humano causa ao meio ambiente está crescendo continuamente.

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Para cessar esse significativo aumento de impacto, uma mudança de comportamento e dos processos que afetam o meio ambiente se torna imperiosa.

Desfazer o mal já realizado requer um programa cuja escala supera grandemente, em custo e tamanho, os programas espaciais e militares. (...) Somos como os passageiros de uma grande aeronave em travessia do Atlântico, que, de repente, percebem quanto dióxido de carbono o avião está acrescentando a um ar já poluído (LOVELOCK, 2006, p.25).

1.2 O Impacto da Construção Civil no Meio Ambiente

A construção civil é uma das atividades humanas que mais causa impacto ao meio ambiente (CIB/UNEP-IETC, 2002), sendo, portanto, bastante responsável pelo estado de overshoot que o planeta se encontra atualmente. O rápido crescimento populacional, principalmente em países em desenvolvimento, aumenta a demanda por espaços construídos e, conseqüentemente, o impacto destes no meio ambiente (HERNANDES, 2007). Assim, a legislação define impacto ambiental e o que estes acarretam ao ser humano e biosfera:

(...) considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, resolução 001 de 23/01/1986, artigo 1º)

De acordo com a Aciesp/1987 (apud FRANCO, 2001, p. 30), impacto ambiental é “(...) toda e qualquer atividade, natural ou antrópica, que produz alterações bruscas em todo o meio ambiente ou apenas em alguns de seus componentes. De acordo com o tipo de alteração, pode ser ecológico, social ou econômico.”

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energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de gás carbônico e 13,6% do consumo de água potável.

Segundo o CIB/UNEP-IETC (2002), os principais vilões da construção civil, quando se fala de mudança de clima, são o aço e o concreto. A produção de cimento é, depois da queima de combustíveis fósseis, o maior agente antropogênico na contribuição para a emissão de gases do efeito estufa. A produção do aço e do ferro é responsável pela utilização de 4,1% da energia do mundo. A construção civil também é responsável por diversos outros problemas, como poluição sonora, poeira e contaminações através de resíduos tóxicos.

Além dos impactos ambientais, há que apontar também impactos sócio-econômicos. A construção civil é uma das atividades que mais oferece empregos no mundo, apesar de ter, também, a reputação de envolver ganância, corrupção, trabalho ilegal e destruição ambiental (CIB/UNEP-IETC, 2002).

Como pilar da economia nacional, sabe-se que apesar das sucessivas quedas nos últimos anos o setor da construção civil no Brasil foi responsável por 6,5% de todo o PIB do país. (...) Quanto à carga tributária, a construção civil é o segundo maior contribuinte do país, ficando atrás somente do comércio (HERNANDES, 2007, p. 25).

1.3 Sustentabilidade - Conceitos e Definições

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17

A CIB/UNEP-IETC (2002), ao tratar do tema deixa claro que o objetivo não é simplesmente sobreviver, mas garantir qualidade de vida e, para isso, é necessário encontrar o meio termo que permita o desenvolvimento social e econômico, sem prejudicar a natureza.

(...) esta busca de equilíbrio entre o que é socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável é usualmente descrita em função da chamada “triple bottom line”, que congrega as dimensões ambiental, social, e econômica do desenvolvimento sustentável. (SILVA, 2003, p.1).

Figura 1: Tripé da sustentabilidade

FONTE: ARAUJO, 2006: p. 83.

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qualidade de vida aceitável para todos. A dimensão ambiental requer o equilíbrio entre proteger o ambiente físico e seus recursos e usar esses recursos de maneira que o planeta possa continuar proporcionando qualidade de vida aceitável para os seres humanos. (CIB/UNEP-IETC, 2002, p. 6). A arquitetura reúne em sua especificidade condições e anseios voltados a todas essas dimensões de sustentabilidade, definindo-se por essa razão em uma resposta social de expressiva amplitude e complexidade.

Apesar de reconhecer que, desde Estocolmo, a preocupação com a “(...) harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos” (SACHS, 2009, p.54) se tornou evidente, este autor definiu sustentabilidade de acordo com oito conceitos: social, cultural, ecológico, ambiental, territorial, econômico, política nacional e política internacional, ampliando assim seu espectro de relações definidoras.

Segundo Sachs (2009):

Sustentabilidade Social é dar a mesma qualidade de vida para todos os seres

humanos, todos devem ter direito a educação e a um bom emprego, ou seja, é necessário existir igualdade social.

Sustentabilidade Cultural é respeitar as tradições, mas estar aberto a

inovações.

Sustentabilidade Ecológica significa usar os recursos da natureza com

sabedoria, aproveitando os recursos renováveis e limitando o uso de recursos não renováveis.

Sustentabilidade Ambiental é respeitar o meio ambiente e saber utilizar seus recursos sem esgotá-los.

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Sustentabilidade Política Nacional é respeitar a democracia e a habilidade do

Estado em fazer projetos nacionais com diversos empreendedores como parceiros.

Sustentabilidade Política Internacional é a manutenção da paz, sem guerras, a

manutenção de um sistema internacional financeiro, o mínimo possível de disparidades sociais e econômicas e o máximo de cooperação entre países.

Desde a conferência sobre o meio ambiente no Rio de Janeiro em 1992, diversos autores definiram o que seria desenvolvimento sustentável, mas o conceito mais aceito atualmente é o da World Comission on Environment and Development (WCED):

Desenvolvimento econômico e social que atenda as necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades. (BRUNDTLAND apud HERNANDES, 2006, p. 27).

Esta definição é de grande interesse ao campo da Arquitetura e Urbanismo, pois implica em dizer que um edifício sustentável não é aquele que atende aqui e agora a algumas condições definidas como sustentáveis, mas aquele que é capaz de resistir no tempo a essa conceituação. A arquitetura e as cidades são também artefatos realizados para as gerações futuras, e objeto para um desenvolvimento sustentável. Esta questão é de grande relevância para a elaboração de um argumento que seja capaz de auxiliar a definir arquitetura sustentável, e assim, cotejá-la com as condições de sustentabilidade de edifícios submetidos às diversas certificações verdes, objeto deste estudo.

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A resposta de Bellen (2006, p.13) a essa pergunta é atingir esse estado de equilíbrio com “(...) o desenvolvimento e a aplicação de sistemas de indicadores ou ferramentas de avaliação que procuram mensurar a sustentabilidade”, o que lança luz à importância da certificação como esse possível sistema de indicadores que poderia estar a serviço de uma arquitetura sustentável. No entanto, resta a inquietação de saber se apesar desses indicadores, a arquitetura pode ser definida como apta ao meio ambiente exclusivamente pela aplicação desses instrumentos de certificação.

1.4 Agenda 21

Durante a ECO´92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), foi desenvolvida a Agenda 21 Global com o objetivo de estabelecer “(...) um plano ambicioso de ação global para o século seguinte, que estabelecia uma visão de longo prazo para equilibrar necessidades econômicas e sociais com os recursos naturais do planeta” (SILVA, 2003, p.2). Na CNUMAD14, 178 governos adotaram a Agenda 21 e envidaram esforços para criar as Agendas 21 locais, adaptando a Agenda 21 Global às características de cada país e, posteriormente, a cada estado e município.

Uma estratégia nacional de desenvolvimento sustentável é “(...) um processo ou sistema que torna possível a implementação de estrutura e atividades estratégicas para responder aos princípios e desafios do desenvolvimento sustentável” (DALAL-CLAYTON E BASS apud COUTINHO; JUNIOR; MALHEIROS, 2008, p.10).

No Brasil, esse processo foi implementado e teve natureza participativa, conforme revela a passagem:

A construção da Agenda 21 brasileira partiu do desencadeamento de um processo de planejamento participativo com a finalidade de analisar a situação atual do país para identificar potencialidades e fragilidades e, dessa forma, visualizar o desenvolvimento futuro de forma sustentável. Para isso, procurou abordar a realidade brasileira de forma multissetorial, a partir de diagnósticos setoriais elaborados

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21

por especialistas, apoiados por ampla participação de representantes de diferentes setores da sociedade de todas as regiões do país, inclusive com participação da área acadêmica. (CPDS apud COUTINHO; JUNIOR; MALHEIROS, 2008, p. 9).

Sensibilização/ mobilização

Definição de diagnó stico e

meto dologia

Elabo ração do Plano de Desenvolvimento

Sustentável

Implementação de ações da Agenda 21 em políticas públicas

B ras il 5 5 65 1 10 5 5 10 128 217 2 50 4 0 09 4 51

A té 5 000 1 257 115 58 10 28 19 990 152

De 5 001 a 10 000 1 294 201 98 14 46 43 945 148

De 10 001 a 20 000 1 370 240 105 35 52 48 1 034 96

De 20 001 a 50 000 1 055 293 136 39 58 60 716 46

De 50 001 a 100 000 316 117 59 10 15 33 192 7

De 100 001 a 500 000 233 115 46 15 15 39 116 2

M ais de 500 000 40 24 8 5 3 8 16 0

N o rte 4 49 12 3 6 2 9 22 30 2 96 3 0

N o rde ste 1 7 94 46 2 2 12 5 1 104 95 1 2 00 13 2

Sudes te 1 6 68 30 9 13 2 40 60 77 1 2 29 13 0

Sul 1 188 14 7 7 2 2 1 18 36 9 45 9 6

C e ntro -Oes te 4 66 6 4 3 2 7 13 12 3 39 6 3

Não inicio u o pro cesso

de elaboração da Agenda 21

Desconhece o que seja Agenda 21 Co m pro cesso de elabo ração da A genda 21 iniciada

M unicípio s

Grandes Regiões e

classes de tamanho da po pulação dos

municípios

To tal To tal

Estágio da Agenda

Tabela 1: Estágio de desenvolvimento da Agenda 21 nos municípios brasileiros

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de

Informações Básicas Municipais 2009. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2009/defaulttabzip.shtm - Acesso em 09/09/10.

O Brasil aprovou sua Agenda 21 em 2002 e, desde então, diversos municípios têm se empenhado em construir Agendas 21 locais. Dos 5.565 municípios brasileiros, praticamente 20% já estão com o processo de elaboração da Agenda 21 iniciado, conforme mostra a tabela acima.

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integrando em sua forma de avaliação questões sociais e econômicas específicas de cada país, sendo que estas também integram o conceito de sustentabilidade. “ (...) o LEED se mostra inadequado para abordar situações típicas de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento bem como a questão social e cultural que não é absorvida pela certificação (...)” (STUERMER; BEDENDO; BROCANELI, 2010, p.04). A Agenda Marrom trata das questões sócio-culturais de cada país, sendo mais específica, enquanto que o LEED foca questões ambientais, mas de universal, tanto que os critérios de certificação usados hoje, no Brasil, são os mesmos usados nos Estados Unidos.

1.6 Uma síntese das principais questões abordadas

Não há dúvidas de que preocupações com o meio ambiente afetam decisões e agendas mundiais desde a década de 1970. O impacto das ações humanas ao meio ambiente passou a ser então avaliado e mensurado, a partir do reconhecimento de sua importância crítica, e cidades, estados e países se esforçam desde então para agir em suas respectivas realidades, o que permitiu uma redução desse impacto.

Nesse contexto, surgiram as Agendas 21 globais e locais e as definições de Agenda Verde e Marrom, sendo que a primeira prioriza a natureza e a segunda, o ser humano. A principal questão crítica a frisar é que talvez nenhuma das duas agendas deva ter prioridade, ou seja, ambos os fatores por elas identificados como relevantes para alcançar a sustentabilidade devam ser levados em consideração.

Desde então, diversos conceitos surgiram, sendo o principal o de sustentabilidade, e tal conceito não leva em consideração apenas o meio ambiente ou o ser humano nele impactante, mas aspectos relacionados tanto ao meio ambiente como à qualidade de vida. Ou seja, o conceito aborda mais do que o impacto causado ao meio ambiente, enunciando implicitamente o problema de como reduzir esse impacto sem comprometer a qualidade de vida da sociedade.

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CAPÍTULO 2. Arquitetura Sustentável

A arquitetura sustentável pode ser definida como um meiopara se alcançar soluções espaciais, relativas às relações das edificações com o meio urbano sustentável, ou ainda, “(...) soluções que geram desenvolvimento sem comprometer a disponibilidade de recursos das futuras gerações” (HERNANDES, 2006, p.32).

A fim de precisar esse conceito, tem-se que arquitetura sustentável pode se definir da maneira seguinte:

(...) uma forma de promover uma busca de maior igualdade social, valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e um menor impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem da edificação, visando a distribuição equitativa da matéria-prima, garantindo a competitividade do homem e das cidades. (MÜLFARTH apud HERNANDES, 2006, p. 31).

Soluções sustentáveis nasceriam no projeto de arquitetura e projeto urbano, ao considerar os materiais utilizados, a construção em si e a maneira de realizar a manutenção da casa, ou do edifício. A arquitetura sustentável também deve contemplar todos os itens do tripé da sustentabilidade, tornando o projeto, além de ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente responsável.

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Para Fujioka (2008), a arquitetura ecologicamente correta deve buscar a redução do consumo de água e de energia, prever reutilização de águas pluviais, manter o máximo possível de área permeável, prever o tratamento da água que será lançada na rede pública, seguir as normas de acessibilidade, respeitar os padrões ergonômicos, evitar desperdícios e superdimensionamento, prever espaço para reciclagem de lixo, utilizar materiais de baixa emissão de componentes voláteis orgânicos e controlar a ventilação nos ambientes internos.

Para Corbella e Yannas (2003), a arquitetura bioclimática, conceituada como aquela que atua no sentido de dominar as condições climáticas, utilizando os recursos disponíveis na natureza (sol, vegetação, chuva, vento) para minimizar os impactos ambientais e reduzir o consumo energético, deve buscar o conforto ambiental considerando:

• O conforto térmico do usuário, analisando todas as variáveis relativas a esse item e propondo soluções que amenizem qualquer desconforto gerado pelo ambiente;

• O conforto visual, proporcionando um bom nível de iluminação de acordo com a tarefa a ser realizada no ambiente e promovendo uma boa distribuição de luz para não causar ofuscamento ou grandes contrastes. As cores das superfícies também são importantes e também se deve procurar obter o máximo possível de iluminação natural, controlando-se a intensidade de entrada de luz e procurando integrar os projetos de iluminação natural e artificial, com o objetivo de economizar energia;

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O projeto de um edifício deve sempre incluir estudo sobre orientação solar e eólica; bem como de dimensionamento e disposição de panos envidraçados, considerando sempre a posição do edifício em relação ao sol. É preciso ainda estudar quais áreas envidraçadas precisam ser protegidas, incluindo o detalhamento de como essas proteções serão realizadas; sendo também relevantes a definição de fachada e cobertura de acordo com a necessidade de proteção solar; materiais de vedação; materiais de estrutura; desempenho térmico dos materiais; condicionantes ambientais, como poluição sonora e vegetação; e divisão interna do espaço (GONÇALVES; DUARTE, 2006). Mas cabe lembrar que o projeto de arquitetura deve ser avaliado a partir do relacionamento e interdependência desses fatores, e que estes não devem ser atendidos de forma isolada.

Portanto, a arquitetura sustentável não deve levar em conta apenas fatores relativos ao meio ambiente. Conforme mencionado, alcançar a sustentabilidade depende de cuidados em relação aos demais aspectos que a constituem, e da abordagem de fatores sócio-econômicos no projeto. Como exemplo do exposto, deve-se lembrar que o material não deve ser escolhido apenas por ser ecologicamente correto, devendo atender a outras necessidades projetuais, como proporcionar conforto, contribuir para a qualidade de vida do usuário e atender à legislação e normas urbanísticas. E, com base nesse conjunto de preocupações e soluções articuladas, a concepção arquitetônica poderia atender à sustentabilidade.

Outro exemplo de natureza crítica poderia imaginar o projeto de um edifício corporativo implantado em uma das regiões mais movimentadas de São Paulo. Aproveitar o máximo de insolação e de ventilação natural talvez inviabilizasse a condição ecologicamente correta desse edifício, pois seria também necessário pensar em uma barreira contra ruídos. Neste último caso, há diversas tecnologias disponíveis que ajudam a diminuir o consumo e melhorar a eficiência energética de um edifício, mas o projeto exemplificado requer enfrentar especificamente a questão do ruído urbano, para atingir qualidade e sustentabilidade.

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concepção atingido o máximo da condição sustentável, com a utilização de cobogós (elementos vazados cerâmicos) e outros tipos de brises-soleil, que propiciavam o aproveitamento de iluminação e ventilação naturais (FUJIOKA, 2008). Também é possível considerar que a aplicação dos métodos utilizados mais recentemente pelo arquiteto malaio Ken Yeang, fazendo o edifício interagir o máximo possível com a natureza, também resultam em arquitetura sustentável, mas o fato é que a arquitetura que almeje essa definição deveria integrar um conjunto de fatores arquitetônicos.

Entre esses múltiplos fatores agregadores de qualidade, pode-se mencionar um extenso rol: as relações entre o edifício e seu entorno; acessibilidade, espaços previstos para permanência e circulações; conforto do usuário em relação ao dimensionamento dos espaços, e soluções e propostas de meios adequados e eficientes para racionalizar o consumo energético. Como, por exemplo, aproveitar ao máximo a iluminação e ventilação naturais, ou ainda, prever sistemas de reuso de água e geração energéticas, capazes de contribuir para uma gestão mais eficaz desses recursos escassos. No entanto, é importante considerar ainda na construção materiais que acarretem baixo impacto ao meio ambiente, obedecer às normas de acessibilidade universal, gerar economia em manutenções futuras e ser avaliado por essa economia também, gerando o máximo possível de economia durante a construção e, mediante avaliação, obter um ótimo desempenho ambiental.

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Com cinqüenta e três andares, o Commerzbank tem uma planta triangular com um grande átrio no centro. Toda a parte de elevadores, escadas e serviços são localizados nos três cantos do edifício. Os jardins laterais de quatro pavimentos de altura, que alternam com oito pavimentos de escritórios, associados à utilização de fachadas duplas, criam um sistema de ventilação natural. A camada externa da fachada é feita de vidros fixos e permanece sempre fechada, enquanto que a camada interna tem janelas que podem ser abertas para permitir a ventilação. (PAWLEY, 1999)

2.1.2 Ken Yeang

No meio internacional, diversos outros edifícios foram projetados buscando atingir o qualificativo de arquitetura ecologicamente correta, mas o arquiteto malaio Ken Yeang foi um dos que mais se destacou, desde fins do século vinte, projetando sob a motivação do tema “edifícios altos verdes”.

A seguir, são relacionados os principais conceitos desenvolvidos por Ken Yeang para o projeto de um “edifício ecológico”, consideráveis na etapa de concepção:

– Orientação das fachadas e janelas;

– Posição do núcleo de elevadores e sua influência na configuração do edifício e na distribuição do espaço interno;

– Projeto das proteções solares; – Cor da envoltória;

– Efeito da vegetação e seu cultivo ao longo do edifício;

– Modo de climatização (ar-condicionado, ventilação natural ou modo misto);

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Os projetos de Ken Yeang são caracterizados pela grande preocupação com o conforto ambiental e uso intenso da vegetação. “A arquitetura de suas torres exibe uma forte presença orgânica através dos freqüentes jardins verticais que escalam por entre as estruturas e fachadas, além das soluções bioclimáticas típicas de uma imagem natural” (ZAMBRANO, 2008, p.93). Yeang também explora novas tecnologias tendo em vista futuras aplicações em suas obras, testando suas teorias mediante simulações digitais e por meio de protótipos. Apesar de adotar a experimentação como base do trabalho, nem todas as idéias testadas como protótipos são aplicadas à construção de edifícios projetados por esse arquiteto. Yeang justifica que a dificuldade de aplicar tudo o que testa em protótipos nas construções reside no fato de que, cronologicamente, é impossível executar um projeto e uma construção com a mesma velocidade com que suas pesquisas são realizadas. O Tokio Nara Tower, de 1995, é um

dos edifícios de Ken Yeang que, ao utilizar vegetação que percorre toda a fachada, pode então conferir a todo o edifício, do solo ao topo, uma mesma linguagem e solução bioclimática (UMAKOSHI;GONÇALVES, 2009).

No Menara Mesiniaga (1989-1992), na Malásia, Ken Yeang utilizou alguns dos conceitos que considera importantes para o projeto de arquitetura bioclimática. Todos os banheiros têm ventilação natural e tanto essa área funcional como serviços e elevadores estão direcionados para o leste, o lado mais quente. Escadas e halls de elevadores também são naturalmente ventilados. A área de trabalho é quase toda envidraçada, com vista para a área externa, com algumas salas fechadas bem no centro, mas todas com divisórias de vidro possibilitando também que os usuários vejam o exterior (YEANG, 1996).

Figura 7: Tokyo Nara Tower – Ken Yeang

Fonte: GOOGLE. Disponível em

www.google.com.br. Acesso em

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33

Figura 8: Menara Mesiniaga

Fonte: GOOGLE, 2011. Disponível em www.google.com.br. Acesso em 14/08/2011

Figura 9: Menara Mesiniaga

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Ken Yeang defende que edifícios altos deveriam funcionar como cidades verticais, ou seja, concentrar serviços, lazer, trabalho e habitação em um único edifício (UMAKOSHI; GONÇALVES, 2009).

Defende ainda que todos os escritórios do futuro devam contar com:

- Relação com o ambiente externo

- Espaços de transição entre os ambientes internos e externos

- Áreas abertas que sirvam como oportunidade para encontros, como pátios e halls de elevadores

- Copa e áreas para alimentação - Iluminação natural

- Ventilação natural - Maior acessibilidade - Áreas para vestiários

- Condições de iluminação mais parecidas possível com a área externa - Utilização de vidro

(YEANG, 1996, p. 244)

2.2 Arquitetura brasileira

Apesar de tantos exemplos de arquitetura ecologicamente correta terem surgido no exterior na década de 1990, Gonçalves e Duarte (2006) defendem que a arquitetura moderna brasileira demonstrara características bioclimáticas já no período entre 1930 e 1960, com o uso de quebra-sóis e cobogós, presentes com intensidade nas obras de arquitetos como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Rino Levi. O conforto ambiental e o consumo de energia teriam sido preocupação recorrente em projetos de boa qualidade e, por esse motivo, a arquitetura bioclimática se tornou importante para legitimar uma arquitetura sustentável.

Imagem

Tabela 1: Estágio de desenvolvimento da Agenda 21 nos municípios brasileiros
Figura 7: Tokyo Nara Tower – Ken Yeang  Fonte:  GOOGLE.  Disponível  em  www.google.com.br
Figura 10: Edifício Concórida – Rino Levi  Fonte: RAHAL, p.65, 2006
Figura 20: Formulário de Registro para Certificação LEED  Fonte: Green Building Council Institute – disponível em
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Referências

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