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Transferência e psicoterapia de grupo.

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Academic year: 2017

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1 Psiquiatra, consultório particular, Ribeirão Preto ( SP) , Assistente Estrangeiro da Université Claude Bernard, Lyon, França, e-m ail: bechelli@net sit e.com .br; 2 Psicólogo, Professor Dout or da Faculdade de Filosofia, Ciências e Let ras de Ribeirão Pret o da Universidade de São Paulo, e- m ail: m asant os@ffclrp.usp.br

TRANSFERÊNCI A E PSI COTERAPI A DE GRUPO

Luiz Paulo de C. Bechelli1 Manoel Ant ônio dos Sant os2

Bechelli LPC, Sant os MA. Transfer ência e psicot erapia de gr upo. Rev Lat in am Enfer m agem 2006 j aneir o-fever eir o; 14( 1) : 110- 7.

No p r esen t e est u d o, ex am in am os o con ceit o d e t r an sf er ên cia, f ocalizan d o su as p ecu liar id ad es n o con t ex t o g r u p al. A n at u r eza d a sit u ação t er ap êu t ica e a am p la lib er d ad e p r op or cion ad a ao p acien t e p ar a abor dar o m at er ial in con scien t e, de acor do com seu pr ópr io r it m o e den t r o de u m am bien t e segu r o e sem cen su r a, est im u la o est ab elecim en t o g r ad u al d a t r an sf er ên cia. Dev id o ao m ecan ism o d e d eslocam en t o, o psicot erapeut a e os part icipant es do grupo são percebidos não com o são, com seus at ribut os reais, m as com o obj et os que suscit am em oções oriundas do m undo infant il, m ais precisam ent e do acervo de influências afet ivas p r of u n d as. Um a p ecu liar id ad e d a sit u ação d e g r u p o em com p ar ação com a p sicot er ap ia in d iv id u al é q u e, n aq u ela m od alid ad e, coex ist em m ú lt ip las t r an sf er ên cias q u e os m em b r os d o g r u p o est ab elecem en t r e si, pot encializando um a gam a de possibilidades de sent im ent os. Am bas as m odalidades guar dam em com um o pressupost o de que os conflit os psíquicos que im peliram o pacient e à busca de aj uda podem ser r eduzidos ou m esm o suprim idos m ediant e a int erpret ação e a elaboração da t ransferência, que funcionam com o procedim ent os par a a m udança no decor r er do pr ocesso t er apêut ico.

DESCRI TORES: psicot er apia de gr upo; t er apêut ica; saúde m ent al

TRANSFERENCE AND GROUP PSYCHOTHERAPY

This st udy exam ines t he concept of t ransference, focusing on it s peculiarit ies in t he group cont ext . The nat ure of t he t herapeut ic sit uat ion and t he broad freedom given t o pat ient s in order t o access t he unconscious m at er ial at t h eir ow n p ace, w it h in a saf e en v ir on m en t an d w it h as lit t le cen sor sh ip as can b e m an ag ed , t r an sf er en ce g r ad u ally t ak es p lace. Th r ou g h d isp lacem en t , t h e p sy ch ot h er ap ist an d g r ou p m em b er s ar e perceived not as t hey are, w it h t heir real at t ribut es, but as one or m ore obj ect s t hat arouse em ot ions com ing fr om t he infant w or ld, m or e pr ecisely fr om t he collect ion of deep affect iv e influences. One peculiar it y of t he g r ou p sit u at ion w h en com p ar ed t o in d iv id u al p sy ch ot h er ap y is t h at , in t h e f or m er , m u lt ip le t r an sf er en ces coex ist , w hich gr oup m em ber s est ablish am ong t hem selv es, enabling a w ide r ange of possible feelings. Bot h t reat m ent m odes share t he assum pt ion t hat unresolved conflict s which st im ulat ed pat ient s t o seek for help can be r educed or even abolished t hr ough t he int er pr et at ion and w or king t hr ough of t r ansfer ence, w hich funct ions as a pr ocess of change t hr oughout t he psy chot her apy .

DESCRI PTORS: Psy chot her apy , gr oup; t her apeut ics; m ent al healt h

TRANSFERENCI A Y PSI COTERAPI A DE GRUPO

En est e est u d io in v est ig am os el con cep t o d e la t r an sf er en cia, en f ocan d o su s p ecu liar id ad es en el cont ex t o gr upal. La nat ur aleza de la sit uación t er apéut ica y la am plia liber t ad pr opor cionada al pacient e par a abor dar el m at er ial inconcient e según su pr opio r it m o y dent r o de un am bient e segur o y sin censur a est im ula el est ablecim ient o gr adual de la t r ansfer encia. Debido al m ecanism o de desplazam ient o, el psicot er apeut a y los p ar t icip an t es d el gr u p o son p er cib id os n o com o son , con su s at r ib u t os r eales, p er o com o ob j et os q u e suscit an em ociones oriundas del m undo infant il, m ás precisam ent e del acervo de influencias afect ivas profundas. Un a pecu liar idad de la sit u ación de gr u po en com par ación con la psicot er apia in div idu al es qu e, en aqu ella m odalidad, coex ist en m últ iples t r ansfer encias que los m iem br os del gr upo est ablecen ent r e sí, pot encializando un gam a de posibilidades de sent im ient os. Am bas m odalidades m ant ienen en com ún el presupuest o de que los conflict os psíquicos que im pulsaron el pacient e a buscar ayuda se pueden reducir o inclusive suprim ir m ediant e la in t er pr et ación y la elabor ación de la t r an sf er en cia, qu e f u n cion an com o pr ocedim ien t os de cam bio en el decu r so del pr oceso t er apéu t ico.

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I NTRODUÇÃO

E

m t r a b a l h o s a n t e r i o r e s d e d i ca d o s à p si co t er a p i a d e g r u p o , f o ca l i za m o s a o r i g em , o d e se n v o l v i m e n t o e a e v o l u çã o h i st ó r i ca d e st a

m odalidade de psicoterapia( 1), bem com o a integração

e n t r e a s a b o r d a g e n s p si co d i n â m i ca e co m p o r t a m e n t a l( 2 ), o p a p e l d o p a ci e n t e( 3 ) e d o

t erapeut a na grupot erapia( 4), o processo do pacient e

com o agente de sua própria m udança( 5) e o em prego

da t erapia de grupo em consult ório part icular( 2,6). No

present e art igo propom os o est udo do fenôm eno da t ransferência no cont ext o grupal.

Nos t r abalhos de sist em at ização da t écnica psicoterápica, observou- se que o participante de um a psicot er apia de gr u po t en de a v er o t er apeu t a de acor do com o v iés de sua pr ópr ia hist ór ia de v ida, qu e in clu em o con j u n t o de r ef er ên cias e r elações i n t er p esso ai s i n t er n al i zad as n o p er cu r so d e seu d e se n v o l v i m e n t o , a ssi m co m o o r e p e r t ó r i o d e r ecur sos de que cada um dispõe par a assegur ar o seu aj ust am ent o psicossocial. Assim , aos seus olhos, o t erapeut a pode parecer um a pessoa gent il, cordial e con fiáv el ou , in v er sam en t e, algu ém descor t ês e p o u co d i g n o d e co n f i a n ça , p o ssi v e l m e n t e b e m d if er en t e d o q u e ele r ealm en t e p ossa ser( 7 ). I sso

acont ece, com freqüência, porque a lent e m ediant e a qual os pacientes percebem o terapeuta é propensa a e n o r m e s d i st o r çõ e s, d e a co r d o co m su a s e x p e ct a t i v a s e p e r ce p çõ e s d e co r r e n t e s d o d e se n v o l v i m e n t o d e ca d a u m , co l o r i d a s p e l a s experiências relacionais m odeladas no t ranscorrer de t oda a vida.

En t r et an t o, os par t icipan t es do gr u po n ão p e r ce b e m a p e n a s o t e r a p e u t a d e u m a f o r m a d esco l a d a d a r ea l i d a d e, m a s t a m b ém t en d em a perceberem - se uns aos out ros de m aneira dist orcida. Fr e q ü e n t e m e n t e i n t e r p r e t a m e r r o n e a m e n t e sent im ent os, desej os, at os e palavr as, par a m elhor ou par a pior, de acor do com o qu e apr en der am a esperar das pessoas – um tipo de aprendizagem que geralm ente ocorre m uito cedo na vida e que tem um a f u n çã o e st r u t u r a n t e n o d e se n v o l v i m e n t o d a per son alidade.

Esse t ipo de percepção dist orcida do cam po r elacional, r esult ant e das ex pect at iv as do passado que são pr oj et adas inadv er t idam ent e no pr esent e, de m odo t ot alm ent e indiscrim inado e inconscient e, é

o que se conv encionou denom inar t r an sf er ên cia. A

pessoa im põe at it udes, sent im ent os e ex pect at iv as

adot ados no passado a um a pessoa do pr esent e( 7).

En t r e t a n t o , e st a p e r ce p çã o é co m p l e t a m e n t e d esp r ov id a d e su st en t ação n a r ealid ad e, p ois se enraíza em um solo predom inant em ent e inconscient e e, com o t al, é r eg id a p elo p r ocesso p r im ár io d e p en sam en t o e em b eb i d a n a v i d a d e f an t asi a d o suj eit o.

Pa r a m el h o r co m p r een d er o co n cei t o d e t ransferência, pode- se inicialm ent e rever a definição

da palavra t ransferir. De acordo com o dicionário Novo

Aur élio Século XXI( 8), cor r esponde a “ fazer passar

( de um lugar para out ro) ; m udar de um lugar para out ro; deslocar ”. Conseqüent em ent e, designa- se por t ransferência o “ at o ou efeit o de deslocar, t ransferir o u ce d e r a o u t r e m a p r o p r i e d a d e d e a l g o ”. Aproxim ando- se do conceit o psicanalít ico, equivaleria a t r an sf er ir sen t im en t os e d esej os in con scien t es v iv en ciados n o passado com pessoas im por t an t es ( por exem plo, pai, m ãe, irm ãos e outros personagens si g n i f i ca t i v o s, q u e f i ze r a m p a r t e d a s p r i m e i r a s relações est abelecidas no am bient e fam iliar) a out ras do present e. Deve- se ressalt ar que t al m anifest ação se p r o ce ssa se m l e m b r a n ça a l g u m a d a s circunst âncias vividas naquela ocasião, um a vez que o s t r aço s m n em ô n i co s d as ex p er i ên ci as i n f an t i s recalcadas ficam preservados no registro inconsciente, o n d e se m a n t é m so b o p e so d o e sq u e ci m e n t o . Aco n t e ce q u e e ssa co n e x ã o m a l e st a b e l e ci d a despert a, em algum grau, o m esm o efeit o que havia se m anifest ado naquela conj unt ura original. Ocorre, assim , o deslocam en t o do af et o v in cu lado a u m a d e t e r m i n a d a r e p r e se n t a çã o m e n t a l à o u t r a , concom itantem ente com a substituição de um a pessoa por out r a. Um indiv íduo pode se t or nar obj et o de t ransferência devido ao t ipo de relacionam ent o que foi est abelecido, associando- o com out ra pessoa do passado, em função de det erm inadas caract eríst icas ou sem elh an ças qu e apr esen t a com aqu ela f igu r a originária. Port ant o, nas reações de t ransferência a pessoa, de m odo involunt ário, responde à out ra da m esm a m aneir a que se r elacionava com figur as do passado.

Na psicanálise, designa- se por t r ansfer ência

o pr ocesso pelo qu al os desej os in con scien t es se a t u a l i za m so b r e cer t o s o b j et o s d o p r esen t e, n o co n t e x t o d e u m d e t e r m i n a d o t i p o d e r e l a çã o est abelecido com eles, e est r it am ent e no am bient e

da relação analít ica( 9). Trat a- se de um a repet ição de

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Cor r espon de, por t an t o, à pr oj eção n o an alist a de se n t i m e n t o s e d e se j o s i n co n sci e n t e s d i r i g i d o s originalm ent e a pessoas que de algum m odo foram

im port ant es no decorrer da infância( 10). Est e conceit o

t e m i m p l i ca çõ e s i n t e r p e sso a i s e v i d e n t e s n a psicot er apia de gr upo, e as condições t er apêut icas proporcionadas oferecem oport unidade ím par para o

seu exam e( 11).

TRAN SFERÊN CI A, CATARSE E PROCESSO

TERAPÊUTI CO

D e v e - se a i n d a co n si d e r a r q u e u m a d a s f u n ções d a t r an sf er ên cia é f acilit ar a cat ar se. A e x p r e ssã o d e e x p e r i ê n ci a s d e i n t e n sa ca r g a em ocional est abelece o est ágio para nova sínt ese e

r efer ência de per cepção afet iv a( 12). A t r ansfer ência

f or a da an álise n ão pode ser descr it a em t er m os idênt icos àquela que apar ece dur ant e e dev ido ao processo analít ico. Por out ro lado, as caract eríst icas d e st e f e n ô m e n o q u e se d e sd o b r a n a si t u a çã o terapêutica variam de acordo com alguns parâm etros b á si co s: f r e q ü ê n ci a d a s se ssõ e s, d u r a çã o d o t rat am ent o ( t em po lim it ado ou indet erm inado) , nível d e at i v i d ad e d o t er ap eu t a e d e est r u t u r ação d a psicot er apia.

Ainda que vinculada aos eventos do passado, transferência é um fenôm eno, por excelência, do aqui-e- ag o r a. Na ab o r d ag em p si can al ít i ca p r o cu r a- se i d e n t i f i ca r n o p a ssa d o a s e x p l i ca çõ e s p a r a a s dist or ções incôm odas dos pr oblem as que afligem o p a ci e n t e n a a t u a l i d a d e . Acr e d i t a - se q u e e sse s pr oblem as at u ais possam ser r esolv idos à m edida que se solucionam os conflitos inconscientes e arcaicos e n r a i za d o s n o p a ssa d o . Assi m , su g e r e - se q u e t ransferência sej a o principal est ím ulo e veículo para um t ipo par t icular de lem br ança, que se desdobr a seqüencialm ent e no decorrer do t em po no processo p sicot er áp ico( 1 3 ). O p acien t e p od er á ex p r essá- la,

explorá- la e com preendê- la pela com unicação verbal, que se r ealiza de for m a r eit er ada, e pela at ividade q u e e n v o l v e a i n t e r p r e t a çã o e e l a b o r a çã o d a t r ansfer ência.

O processo terapêutico, tal com o é entendido e p r at i cad o p o r aq u el es q u e ad er em ao m o d el o

p sican alít ico, seg u e os seg u in t es p assos (m o d u s

operandi) : o paciente apresenta- se ao tratam ento por sua própria vontade ou por recom endação de outros. É requisit ado a explicar, em suas próprias palavras e

de acordo com o seu ponto de vista, o que o incom oda e o que espera que o psicoterapeuta possa fazer para aj udá- lo a solucionar esse pr oblem a. Se após um a avaliação prelim inar chega- se, de com um acordo, à conveniência de se iniciar um tratam ento, as sessões pr osseguem com fr eqüência r egular. A nat ur eza da si t u a çã o t e r a p ê u t i ca e a a m p l a l i b e r d a d e pr opor cionada ao pacient e par a abor dar o m at er ial inconscient e, de acor do com o seu pr ópr io r it m o e com o m enor grau de censura possível, est im ulam o est abelecim ent o gradual da t ransferência. Devido ao m ecanism o de deslocam ento, o psicoterapeuta é cada v ez m ai s v i v en ci ad o n ão co m o el e é, co m seu s atributos reais, m as com o um ou m ais obj etos infantis que fazem part e do acervo const ruído e acum ulado ao longo da história de desenvolvim ento do paciente, e que correspondem a influências afet ivas profundas ou a con f lit os in con scien t es( 1 1 - 1 2 ). Acr edit a- se qu e

a q u e l e s co n f l i t o s p síq u i co s n ã o r e so l v i d o s q u e induziram o pacient e à busca de aj uda podem ser, assim , r eduzidos ou m esm o supr im idos m ediant e a

int er pr et ação e a elabor ação (w or k in g t h r ou g h) da

t ransferência e da resist ência.

TRANSFERÊNCI A NO PROCESSO GRUPAL

A t r an sf er ên ci a r ef er e- se, co m o d escr i t o ant eriorm ent e, ao fenôm eno do deslocam ent o sobre a pessoa do terapeuta de com plexos inteiros de idéias

e fant asias inconscient es( 11). Esse processo t am bém

se est abelece pront am ent e na sit uação da t erapia de gr upo, desde que conduzido de for m a apr opr iada. Caso cont rário, pode ser inibido ou dissipado, aliás, d o m esm o m o d o q u e p o d e o co r r er n o p r o cesso individual, por erros t écnicos que desviam ou diluem a t r ansfer ência.

Observa- se na prát ica clínica que a sit uação d e g r u p o às v ezes m o d i f i ca n ão o f en ô m en o d o

deslocam ent o da t ransferência, m as a m aneir a pela

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m em br os do gr u po, e obv iam en t e, algu m as t er ão car act er íst i cas q u e se t or n ar ão m ais sali en t es à per cepção de det er m inada pessoa. Tais int egrant es com por t am - se de t al m aneir a que se t or nam m ais f a ci l m e n t e o b j e t o s d e p a r t e s e sp e cíf i ca s d a

t ransferência do pacient e do que out ros( 11). Port ant o,

a t ransferência no grupo é m ult ilat eral, pois engloba não som ent e o relacionam ent o dos pacient es com o terapeuta, m as, tam bém , dos próprios m em bros entre si. Além disso, a t ransferência na sit uação de grupo é cruzada, pois envolve um entrelaçam ento constante de experiências de significado.

Alguns t erapeut as t endem a considerar que, n o g r u p o , p o d e su r g i r a l g u m a d i f i cu l d a d e n a elaboração de int erpret ações claras da t ransferência, pelo fat o de que exist e um a m aior sem elhança real ent re o obj et o original e o da t ransferência. Mesm o assim , pode- se considerar, com base na prática clínica, que os obst áculos criados por essa sem elhança não são t ão int ensos. A que t ipo de sem elhança est am os nos referindo? Os pacient es não guardam ent re si a m e sm a p o st u r a r e se r v a d a , d e e st u d a d o

d ist an ciam en t o em ocional que o t er apeut a pr ocur a pr eser v ar na r elação. É ev ident e que esse r elat iv o

dist an ciam en t o não deve ser confundido com frieza e f a l t a d e so l i d a r i ed a d e p a r a co m o so f r i m en t o h u m an o; é ap en as u m cu id ad o e u m a d iscip lin a perm anente que o terapeuta cultiva para não se deixar env olv er pela sit uação em ocional apr esent ada pelo p a ci e n t e , d e m o d o a m a n t e r so b se u co n t r o l e conscient e as pr ópr ias em oções que são suscit adas pelo contato com o m undo interior do outro. Um dos recursos de que o t er apeut a lança m ão par a evit ar os riscos de cont am inação em ocional é preservar os a sp e ct o s r e a i s d e su a p e r so n a l i d a d e l o n g e d o conhecim ent o do client e. Or a, não se pode esper ar essa m esm a n eu t r alid ad e d os in t eg r an t es d e u m g r u p o , q u e se i n t e r - r e l a ci o n a m i n t e n sa m e n t e e chegam a ex er cit ar sua sociabilidade em am bient e ex t r a- t er apêut ico.

Quando a t ransferência é dividida ent re um cer t o núm er o de par t icipant es dent r o do am bient e d o g r u p o , p od e ser m u i t o m ai s f áci l en t en d er a nat ur eza do m at er ial da t r ansfer ência. I st o por que su a i d e n t i d a d e p o d e se r a v e r i g u a d a p a r a ca d a m em br o, o qual t em alt a pr obabilidade de pr oj et ar ou d eslocar con sist en t em en t e sob r e u m a p essoa específica aquela porção de transferência pertencente a u m obj et o in f an t il par t icu lar. Além disso, esses obj etos transferenciais, que são proj etados em outros

part icipant es, est ão present es no cont ext o do grupo e int eragem ent re si. O pacient e, ao observar essas int er ações, pode t er acesso ao m at er ial r elat iv o à nat ur eza dos r elacionam ent os que delinear am seus obj et os infant is, os quais são despert ados e t ornam -se dispon ív eis à m edida qu e são est im u lados. Em co n se q ü ê n ci a , d i st o r ce m o s r e l a ci o n a m e n t o s e in t er ações en t r e seu s obj et os de t r an sf er ên cia n o grupo. Deve- se considerar, ainda, que um a font e de m at erial que nem sem pre é pront am ent e disponível na psicoterapia individual pode se apresentar de form a

alt am ent e operacional para o t erapeut a de grupo( 11).

D e v i d o à se m e l h a n ça d o s co n f l i t o s, fr ust r ações e desilusões v iv idos pelos pacient es, é possív el qu e ex per iên cias em ocion ais in t en sas de n at u r eza t r an sf er en cial d e u m ou m ais m em b r os desper t em det er m inados conflit os de t r ansfer ência em out ros part icipant es assim que são vivenciadas.

Toda nova r elação cont ém e pr opor ciona a oport unidade de reviver e reconhecer a sem elhança de algum aspect o com out r o v iv ido ant er ior m ent e, o u se j a , d e e x t e r i o r i za r o o b j e t o i n t e r n a l i za d o , m ediant e a falsa conex ão que se est abelece ent r e presente e um passado que luta incessantem ente para in scr ev er - se. O am b ien t e t er ap êu t ico f av or ece o desdobram ent o de aspect os inconscient es de obj et os i n t e r i o r i za d o s q u e se r e p e t e m , p e r m i t i n d o o desenvolvim ent o, a int ensificação e a expressão da t ransferência. E o relacionam ent o ent re os pacient es e dest es com o t er apeu t a é in f lu en ciado por est e pr ocesso. O f oco n as in t er ações dos par t icipan t es t orna possível a invest igação de t ais m anifest ações. Est as progridem de sessão a sessão quase com o se não houvesse intervalo entre elas. Ao m esm o tem po, f at os n ov os est ão acon t ecen d o n o cot id ian o d os par t icipan t es do gr u po e est im u lam elem en t os da p sicod in âm ica d e cad a u m , r esu lt an d o em v ár ios sent im ent os que são desper t ados em si pr ópr ios e nos dem ais.

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pr im eir os psican alist as acr edit av am , ain da, qu e a t r ansfer ência só se desenv olv er ia gr adualm ent e, à m edida qu e o t r at am en t o fosse se est abelecen do. Essa com preensão foi bast ant e am pliada, a t al pont o que, at ualm ent e, sabem os que, desde seu prim eiro m ovim ent o, um m em bro qualquer de um grupo est á pr ocessan do u m a dist or ção em su a per cepção do terapeuta e dos dem ais com ponentes. Esse fenôm eno não é dit ado por m ot ivos aleat órios, m as ocorre de form a consistente de acordo com sua própria história de vida. Na verdade, ant es m esm o de ingressar no gr upo cada m em br o j á t r az consigo um a dist or ção perceptiva em suas expectativas iniciais de com o serão os out ros ou de com o irão t rat á- lo. A t ransferência pode ocasionar, em determ inado participante, reações de rej eição a det erm inados colegas que apresent em car act er íst icas sem elh an t es às q u e or ig in alm en t e prej udicaram um relacionam ent o m ais profundo com m em bros da própria fam ília.

Logo nos est ágios iniciais do grupo, pode- se observar que há alguns indivíduos que est abelecem um a t ransferência com o t erapeut a, enquant o out ros

o farão com det erm inados part icipant es( 14). Not a- se,

assim , que pr ogr essiv am ent e v ai se est abelecendo um a rede de relações entre os m em bros do grupo e, p ar al el am en t e, co n f i g u r a- se a t r an sf er ên ci a d o s pacient es em relação ao t erapeut a e deles próprios ent re si. Essa configuração m ult ifacet ada de vínculos leva ao desenvolvim ent o de um senso de int im idade dentro do grupo, que contribui para fom entar um clim a de con f ian ça e de m aior liber dade em r elação às inibições individuais.

Outra m odalidade de transferência im portante é a que se estende, de form a irradiada, para o grupo com o um todo. Os pacientes nutrem expectativas em r elação ao g r u p o e cad a u m t en d e a p er ceb ê- lo segundo det erm inados padrões que revelam t am bém sua hist ória singular de est abelecim ent o de vínculos. Pode- se ilust r ar esse fenôm eno com o ex em plo de u m p a r t i ci p a n t e q u e co n si d e r a se u s p a i s com placentes. Ele tenderá a esperar a m esm a atitude in d u lg en t e d a p ar t e d o g r u p o. Em con t r ap ar t id a, aquele que os tem por excessivam ente críticos, tende

a t ransferir para o grupo esse t ipo de expect at iva( 7).

Ne st e ú l t i m o e x e m p l o , e ssa p e sso a t e n d e r á a com preender erroneam ent e qualquer esforço honest o do grupo para auxiliá- la, percebendo esse m ovim ento co m o u m a ap r o x i m ação h o st i l . Po r co n seg u i n t e, poder á adot ar post u r a ex cessiv am en t e cau t elosa, com p r ed isp osição a p er ceb er q u alq u er t en t at iv a

si n ce r a d e a j u d a co m o a l g o p o t e n ci a l m e n t e am eaçador.

O MANEJO DA TRANSFERÊNCI A NO GRUPO

A t r a n sf e r ê n ci a é u m a m a n i f e st a çã o essen cialm en t e em ocion al qu e acom pan h a t odo o pr ocesso t er apêut ico e que, v ia de r egr a, dev e- se p er m it ir q u e se d esd ob r e n at u r alm en t e( 7 ). Mas é

p r e ci so d i st i n g u i r a t r a n sf e r ê n ci a p o si t i v a , q u e fav or ece a par t icipação do indiv íduo no gr upo e o andam ent o do t rat am ent o, da t ransferência negat iva, isto é, do tipo destrutivo, que pode levar à ruptura do v ín cu l o t er ap êu t i co e i m p ed i r a co n t i n u i d ad e d o t r a b a l h o . Po r e x e m p l o , u m a p e sso a co m caract eríst icas fort em ent e paranóides pode se sent ir de t al for m a at acada por out r o m em br o que sint a desconforto em perm anecer no grupo. É possível que a a t i t u d e h o st i l p o ssa d e sp e r t a r su a p r ó p r i a descon f ian ça com r elação às possibilidades de se beneficiar do grupo, aum ent ando sua resist ência em part icipar at ivam ent e por um longo período.

Desse m odo, há exceções à r egr a ger al de deixar a t ransferência desdobrar- se e se desenvolver de acor do com seu pr ópr io r it m o. É o caso de um part icipant e que pode causar sérios danos ao grupo. O m ais ad eq u ad o é p ost er g ar a ad m issão d essa pessoa até que adquira controle sobre seus im pulsos, o q u e p od e ser f eit o em m elh or es con d ições n o cont ext o de um t rat am ent o individual. Mas t am bém há ocasiões em que é necessário solicit ar que essa pessoa deixe o grupo em virtude de sua transferência host il m anifest ada em r elação às out r as, sobr et udo qu an do essa at it u de par alisa o gr u po a pon t o de i m p ed i r seu d esen v o l v i m en t o , t o r n an d o - se f at o r obst rut ivo da com unicação.

Co m o se p o d e d e d u zi r d o s co n ce i t o s expost os, a t ransferência inicia- se desde o inst ant e em que um paciente tom a conhecim ento do nom e do t er apeut a, est abelece o pr im eir o cont at o na sessão in d iv id u al ou assim q u e en t r a em u m g r u p o. Na v er d ad e, d esd e as su as p r im eir as im p r essões, o m o m e n t o e m q u e v i sl u m b r a i m a g i n a r i a m e n t e o t e r a p e u t a e o g r u p o , j á i m p l i ca e m e st a r so b t r ansfer ência.

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d e p a r a é , f r e q ü e n t e m e n t e , e x p r e ssã o d e t r ansfer ência. Por ex em plo: det er m inado indiv íduo aprendeu com sua m ãe, um a pessoa que não parecia sincera nem digna de confiança que, quant o m enos ela soubesse sobr e o que ele r ealm ent e sent ia ou desej av a, m ais segur o est ar ia. Esse indiv íduo t em um a pr opensão a r epr oduzir esse est ilo defensiv o,

desconfiado, reservado e arredio no grupo( 7).

Norm alm ent e, quando se analisa um a form a de resist ência, há grande possibilidade de revelar- se u m t i p o d e t r a n sf e r ê n ci a . Po r e x e m p l o , u m part icipant e ut ilizava const ant em ent e o hum or para m ascar ar seu s sen t im en t os pr of u n dos. Qu an do se pr ocur ou esclar ecer o significado em ocional de sua reação, t ornou- se subit am ent e agit ado. Na verdade, pr ocu r av a m an t er o t er apeu t a o m áx im o possív el alegre e sorrident e, na t ent at iva de im pedir que se t o r n a sse d e p r e ssi v o e o a b a n d o n a sse o u o d esam p ar asse, assim com o f izer am seu s p ais n o passado. Em sua infância ele pr ocur ava ent r et ê- los co m m u i t a f r e q ü ê n ci a p o r q u e e l e s e r a m m u i t o

propensos à depressão( 7).

Pa r a q u e o se n t i d o d e ca d a f o r m a d e r e si st ê n ci a se j a co m p r e e n d i d o co r r e t a m e n t e , é fundam ent al conhecer previam ent e os ant ecedent es d e cad a m em b r o d o g r u p o , i st o é, co m o el e se const it uiu com o um ser de relações, que dificuldades enfr ent ou em seu cr escim ent o pessoal. Só assim o t er apeu t a est ar á h abilit ado a oper ar u m a cor r et a ident ificação e resolução dos processos resist enciais.

TRANSFERÊNCI A E CONTRATRANSFERÊNCI A

A prim eira t arefa do t erapeut a é oferecer ao paciente um a base segura, a partir da qual ele possa e x p l o r a r e e x p r e ssa r se u s p e n sa m e n t o s e sent im ent os. Nesse sent ido, o papel do t erapeut a é análogo à função m aterna, que proporciona à criança apego seguro, um a base afet iva est ável, confiável e acolhedora a partir da qual o pequeno pode exercitar g r ad u alm en t e seu im p u lso d e ex p lor ar o m u n d o, expandindo sua curiosidade e sem se sentir am eaçado

em sua integridade( 15). Som ente ao se sentir trilhando

e ssa p l a t a f o r m a se g u r a o p a ci e n t e p o d e r á desenv olv er a confiança suficient e par a abor dar os asp ect o s m ai s d o l o r o so s d e su a v i d a p assad a e present e, m uit os dos quais ele considera difíceis ou a t é m e sm o i m p o ssív e i s d e se r e m p e n sa d o s, com p ar t ilh ad os e r econ sid er ad os. A p sicot er ap ia,

i n d e p e n d e n t e m e n t e d a m o d a l i d a d e e m q u e é prat icada – individual ou em grupo – busca oferecer u m con t in en t e acolh ed or e con f iáv el p ar a q u e o paciente possa penetrar na intim idade de seu m undo psíquico em um clim a de relativa segurança, de m odo a em pr eender suas ex plor ações no int er ior de um território ainda desconhecido e, portanto, ansiogênico. Essa incursão no próprio inconsciente só será possível na m edida em que o t erapeut a se m ost rar confiável e at en t o , o f er ecer u m a at i t u d e d e co m p r een são em pática e, tanto quanto possível, poder ver e sentir o m undo pelos olhos do pacient e.

Ocorre que, devido a experiências adversas do passado, o pacien t e pode n ão acr edit ar qu e o t er ap eu t a sej a r ealm en t e con f iáv el. Assim , p od e descon f iar de su as r eais in t en ções, m esm o qu e o t er apeut a se com por t e de for m a am áv el e que se esforce por com preender os seus conflitos em ocionais e dilem as ex ist enciais, t ent ando supr i- lo com t odo cuidado e afet o que ele sem pre desej ou receber do

outro e que talvez não tenha tido nunca( 15). O m esm o

se pode dizer dos r elacionam ent os que o pacient e est abelece com os dem ais int egrant es do grupo, que passam a ser alvo das proj eções de seu im aginário, com o se cada part icipant e ( ou m esm o um , que por alg u m m ot iv o ad q u ir e u m a im p or t ân cia esp ecial) personificasse diferent es aspect os de seu psiquism o. Em determ inado m om ento, o terapeuta – ou um outro elem ento qualquer do grupo – pode ser visto sob um prism a excessivam ent e crít ico e host il. Em um out ro m om en t o, o t er apeu t a – ou ou t r o com pon en t e do grupo – pode ser idealizado com o alguém que estaria p r o n t o a o f e r e ce r m a i s d o q u e se r i a r e a l m e n t e possív el. Em am bas as sit uações ex ist em um m al-ent endido subj acal-ent e ao relacionam al-ent o est abelecido com o outro – sej a ele o colega do grupo ou a figura do t erapeut a propriam ent e.

Esse “ m a l - en t en d i d o ” é u m co m p o n en t e e sse n ci a l d a s r e l a çõ e s h u m a n a s, f u n d a d o n a const rução equivocada do obj et o em que o pacient e realizará um a parcela significativa de seu investim ento af et iv o. Dessa con st r u ção p ecu liar d o ob j et o v ão d e co r r e r ce r t a s e m o çõ e s e co m p o r t a m e n t o s específicos, que vão configurar ou reedit ar aspect os centrais da problem ática vivenciada pelo paciente que desencadeia o sofr im ent o psíquico que acabou por precipit ar a busca da psicot erapia.

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r elacion am en t o h u m an o. Sem esse con h ecim en t o, que em ana essencialm ent e da experiência clínica, o t erapeut a est ará pouco preparado para ver e sent ir o m u n d o d a m an ei r a co m o o p aci en t e o f az. É, port ant o, a base da at it ude em pát ica. Mas é preciso sublinhar que a form a com o o pacient e const rói sua relação com o t erapeut a não é som ent e det erm inada p e l a su a h i st ó r i a d e v i d a e p e l o a ce r v o d e r epr esent ações m ent ais que ele int er nalizou acer ca das figuras significat ivas de sua infância. O vínculo é determ inado tam bém pela form a com o o terapeuta o t rat a, ou sej a, pelo m odo com o o profissional ( e, no caso do grupo, os dem ais com ponent es) se relaciona com o pacient e.

O t er ap eu t a p r eci sa est ar ci en t e d e su a co n t r i b u i çã o p esso a l p a r a o p a d r ã o d e r el a çõ es específico que v ai se est abelecer com seu client e. Sent im ent os e reações inconscient es despert ados no p r o f i ssi o n a l p el a i n t er a çã o co m o s i n g r ed i en t es p síq u i co s d o p a ci e n t e co n f i g u r a m a cont r a t r a nsfe r ê ncia do t erapeut a. Por se t rat ar de u m f en ô m en o em b eb i d o em su a m ai o r p ar t e n o m undo inconscient e, acaba por se r ev est ir de um a r elev ân cia especial n a det er m in ação do t ipo e da i n t e n si d a d e d a r e l a çã o t r a n sf e r e n ci a l a se r e st a b e l e ci d a p e l o cl i e n t e . Os f e n ô m e n o s cont rat ransferenciais, quando não são reconhecidos, não se subm et em ao cont role racional do t erapeut a. E a cont rat ransferência não cont rolada pode levar o t erapeut a a at uações delet érias, sej a no sent ido de su per pr ot eger seu pacien t e ou , pelo con t r ár io, de r ej eit á- lo in con scien t em en t e, o q u e o in d isp õe a com part ilhar um a relação de int im idade psíquica com o m esm o . Ger al m en t e o q u e se p r eco n i za, p ar a m inim izar esses riscos e evit ar event uais arm adilhas da cont rat ransferência é o engaj am ent o cont ínuo do t er apeut a em super v isão e na pr ópr ia psicot er apia pessoal, um a vez que estão em j ogo seus fatores de p e r so n a l i d a d e , a t i v a d o s p e l a i n t e r a çã o co m d e t e r m i n a d o s a sp e ct o s d o m u n d o p síq u i co d o s pacient es.

O foco da psicot er apia dev e ser sem pr e a

int er ação do pacient e com o t er apeut a no aq u i-

e-agor a da r elação t er apêut ica. Mas não se t r at a de um a inesgot ável “ busca do t em po perdido”. A única r a zã o p a r a en co r a j a r o p a ci en t e a ex p l o r a r seu passado é extrair dessa experiência um conhecim ento que será ut ilizado com o um recurso, um a luz a ser lançada em sua form a at ual de sent ir, pensar e agir,

possibilit ando com pr eender em pr ofundidade o seu m odo de ser e de estar no m undo e de lidar com as v i ci ssi t u d es d a v i d a. Os v ín cu l o s co n st r u íd o s n o passado com seus obj etos prim ários vão m odelar suas represent ações m ent ais – do out ro e de si próprio – que o acom panhar ão nas et apas ult er ior es de seu p r o ce sso d e d e se n v o l v i m e n t o p si co - a f e t i v o . Os “ m odelos funcionais” de pais e de si det er m inam a r elação q u e o p acien t e v ai est ab elecer com su as percepções, const ruções e expect at ivas, sent im ent os e ações acerca de com o a figura de apego t ende a

senti- lo e a se com portar em relação a ele( 15). Assim ,

a t a r e f a d o t e r a p e u t a é ca p a ci t a r o p a ci e n t e a r econhecer que cer t as im agens ( m odelos) que ele con st r u iu d e si e d os ou t r os, q u e são p r ot ót ip os der iv ados de ex per iências dolor osas do passado ou de m ensagens enganadoras em it idas por seus pais, podem ou não ser apropriadas para seu present e e seu fut ur o; a bem da v er dade, podem at é m esm o nunca t er sido j ust ificadas e fundadas int eir am ent e

na realidade( 15).

Um a vez que o paciente tenha com preendido a nat ureza dessas im agens/ m odelos que o governam e que t enha descobert o suas origens, pode com eçar a com preender o que o levou a ver o m undo e a si

m esm o da for m a com o o faz( 15). Sua aut o- im agem

pode en t ão ser r em odelada, possibilit an do oper ar t r an sf or m ações n o seu padr ão de r elacion am en t o con sig o m esm o, com o ou t r o e com o m u n d o. A psicot erapia alm ej a prom over m udança em nível de f u n ci o n am en t o p síq u i co . Pr o p o r ci o n a u m esp aço confiáv el e segur o para o pacient e poder r eflet ir, a part ir da experiência at ual com o t erapeut a e com o r est an t e d o g r u p o , so b r e a ad eq u ação d aq u el es m odelos ar r aigados de r elacionam ent o que ele at é ent ão desconhecia, m as que ele passa a reconhecer e a p er ceb er o q u an t o con f ig u r am su a r ealid ad e psíqu ica e delin eiam a per cepção qu e ele t em da realidade. Finalm ent e, o pacient e pode conscient izar-se d as id éias, cog n ições, p r essu p ost os, cr en ças, at it u d es, d isp osições e ações q u e esses m od elos r elacionais engendr am .

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

Ao conduzir um a terapia de grupo é preferível que os próprios part icipant es façam as observações

decisiv as( 3). Com o r egr a ger al, é fundam ent al que

(8)

t rabalho t erapêut ico( 3). Afinal, eles são os principais

a g e n t e s n a r e so l u çã o d e su a s p r ó p r i a s

t r ansfer ências( 5). O t er apeut a pr ocur a desem penhar

um papel o m ais discreto possível; enquanto facilitador d o p r o ce sso d e a u t o co n h e ci m e n t o d o p a ci e n t e p r o m o v e u m co n t e x t o f a v o r á v e l p a r a o desenvolvim ent o de recursos e com pet ências que o p e r m i t e m a d m i n i st r a r o s p r ó p r i o s co n f l i t o s, e n co r a j a n d o se u s m o v i m e n t o s r u m o a o

am adur ecim ent o( 4).

Ter a habilidade de envolver os m em bros do grupo em seu processo t erapêut ico requer t ant o um co n h e ci m e n t o g e r a l d e co m o a s t r a n sf e r ê n ci a s em ergem e se ent recruzam no espaço grupal, com o um a apreciação específica e obj et iva do que est á se passando diant e de seus olhos. Sobret udo, é preciso consider ar que u m a t r ansfer ência t em o poder de evocar out ras. Por exem plo, um part icipant e cham a o coleg a d e m esq u in h o. Est e r eag e ch am an d o o prim eiro de m edroso e incapaz de viver sem receber at enção const ant e das pessoas. Há algum a verdade naquilo que cada um percebe e diz a respeito do outro, assim com o exist e, em algum nível, um a percepção e q u i v o ca d a p r o d u zi d a p e l a l e n t e d i st o r ci d a e

f a n t a si o sa d a t r a n sf er ên ci a . As i n t er v en çõ es d o t erapeut a serão, port ant o, m ais eficient es na m edida em que um m aior núm er o de par t icipant es est iv er ef et iv am en t e en g aj ad o n esse p r ocesso. Por essa razão, quando t rabalha com a t ransferência de um a pessoa que ocupa em um dado m om ento um a posição cent ral dent ro do grupo, o t erapeut a est ará t am bém con t r ibu in do, in dir et am en t e, par a a r esolu ção das t ransferências desencadeadas nos dem ais m em bros. Não existe um esquem a pronto a ser aplicado para resolver ou dissolver as t ransferências evocadas em um grupo terapêutico, m as alguns princípios gerais podem ser esboçados. Pr im eir o, m ant er o foco de a t e n çã o d o g r u p o so b r e a t r a n sf e r ê n ci a d e u m d e t e r m i n a d o m e m b r o . Se g u n d o , r e v e l a r a s e x p e ct a t i v a s n ã o r e a l i st a s e n v o l v i d a s n a transferência. Finalm ente, auxiliar o grupo a descobrir com o e com quem determ inado m em bro desenvolveu essas r eações n os est ágios in iciais de su a v ida – r eações q u e se con v er t er am em t r an sf er ên cia n a experiência do grupo. Aj udar cada um a reconhecer os p r im ór d ios d e u m a t r an sf er ên cia em su a v id a precoce de relações é um passo im portante para sua r esolução e elabor ação.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

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Referências

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