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Febre de origem indeterminada: preceitos, pistas clínicas e exames complementares.

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A R TIG O D E RE V ISÃ O

W evista d a S o c ie d a d e B ra sile ira d e M ed icin a T ro p ica l 2 7 ( l):3 1 -3 7 , ja n - m a r , 1994

F E B R E D E O R IG E M IN D E T E R M IN A D A : P R E C E IT O S, P IS T A S C L ÍN IC A S E E X A M E S C O M P L E M E N T A R E S

José R oberto L am bertucci e R ogério G erspacher-L ara

D ez p re ce ito s, vinte p ista s clín icas e o s exa m es com plem entares úteis n a a va lia çã o inicial d o s p a c ie n te s co m fe b r e d e orig em in determ inada (FOI) sã o a p resen ta d o s p e lo s auto res.

P ala vras-chaves: Febre. F ebre d e orig em in determ in ada. Febre obscura. F ebre p rolongada.

O conceito de febre de origem indeterminada (FOI), no indivíduo imunocompetente, fiindamenta- se em três condicionamentos formulados no estudo clássico de Petersdorf e Beeson em 196121: 1. doença com duração mínima de três semanas; 2. temperatura axilar igual ou superior a 38,3°C em várias ocasiões e, 3. indeterminação da causa após investigação clínica minuciosa por pelo menos uma semana. Esta definição procura excluir as causas agudas de febre, especialmente, as doenças viróticas e bacterianas autolimitadas, além da febre habitual.

O espectro das doenças que se apresentam como FOI tem variado através dos anos sob a influência de efeitos nutricionais, higiênicos e ambientais. Outros fatores, como a idade do paciente, a o rig e m , o esta d o im u n o ló g ic o p ré v io (imunocompetente ou imunodeprimido), efeitos iatrogênicos, e a instituição em que o indivíduo é avaliado interferem na distribuição de sua etiologia13

26

Classicamente, agrupam-se as principais causas de FO I em doenças infecciosas, neoplásicas, imunológicas, miscelânea e sem diagnóstico (Figura

13 16 19 20 26

A febre de origem indeterminada representa grande desafio ao conhecimento e à argúcia do m édico. N este artigo, os autores apresentam princípios gerais que objetivam nortear o raciocínio clínico no momento do encontro do médico com o seu paciente com febre prolongada.

Departamento de Clínica Médica da Faculdade de M edicina da U niversidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. E n d e r e ç o p a r a c o r r e s p o n d ê n c i a : P ro f. José R o berto Lam bertucci. Departamento de Clínica M édica. Av. Alfredo Balena 190, 30130-100 Belo Horizonte, MG.

Recebido para publicação em 26/08/93.

PRECEITOS

Alguns procedimentos ou condutas devem se incorporar à rotina do clínico que examina o paciente com FOI. Estes procedimentos, aqui chamados de preceitos, podem, a princípio, ser considerados óbvios (Tabela 1); eles o são. A desobediência a eles, entretanto, tem -se responsabilizado pelo fracasso no encaminhamento do diagnóstico correto na maioria dos casos que examinamos14.

I. C ertifique-se de que o paciente tem feb re O paciente tem febre, quando a temperatura axilar encontra-se acima de 37,3°C. Nos casos de FOI no paciente imunocompetente, o critério adotado inclui a necessidade de o indivíduo apresentar temperatura axilar superior a 38,3°C, em várias ocasiões. De maneira ideal, o paciente deve ser hospitalizado e permanecer sob observação por pelo menos uma semana. A temperatura axilar deverá ser anotada, no mínimo, quatro vezes durante o dia e excluídas as causas de erro na medição da temperatura corporal.

N este p o n to , três a sp e cto s dev em ser considerados:

1. Como conduzir o caso de indivíduo imunocompetente com temperatura axilar entre 37,3°C e38,3°C ?

Como regra geral, os pacientes com temperatura axilar nestes níveis apresentam doença autolimitada e de curta duração, não ultrapassando três semanas. Há, entretanto, exceções. Os imunodeprimidos (por doença associada ou por medicamentos), os idosos5 e aqueles com tuberculose peritoneal podem apresentar doença de longa duração com temperatura axilar pouco elevada.

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A r t i g o d e R e v i s ã o . L a m b e r t u c c i J R , G e r s p a c h e r - L a r a R . F e b r e d e o r i g e m m d e t e r m m a d a z p r e c e i t o s , p i s t a s c l í n i c a s e e x a m e s c o m p l e m e n t a r e s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 7 : 3 1 - 3 7 , j e m - m a r , 1 9 9 4 .

T a b e l a 1 - O s p r e c e i t o s .

1. Certifique-se de que o paciente tem febre 2. O exame clínico deve ser sistematizado, minucioso

e repetido

3. Exclua doenças potencialmente graves e tratáveis 4. Exclua febre provocada por medicamentos 5. Procure trabalhar com exames complementares de

qualidade

6. Pense sempre em associação de doenças

7. Defina critérios para a indicação de terapêutica de prova e para laparotomia exploradora

8. Esteja presente quando outros colegas forem chamados a opinar

9. Mantenha boa relação médico-paciente

10. Há um tempo para agir e um tempo para esperar

psicogênica, a hipertemia habitual e o aumento da temperatura após a ovulação. As duas primeiras se confundem: os indivíduos são joven s, a maioria do sexo fem inino, apresentam-se com febre contínua ou interm itente no decorrer de vários anos. Associam -se sintomas tais com o cansaço fácil, insônia, cefaléia e dores no corpo incaracterísticas, sem qualquer achado ao exam e clínico ou alterações nos exames de laboratório13.

O ciclo menstrual evoca também flutuações periódicas na temperatura corporal. N a mulher jovem , a temperatura retal pré-ovulatória é de

0,5°C mais baixa do que a temperatura na fase pós-ovulatória. E stas flutuações fisio ló g ic a s são comandadas pelo termostato hipotaíâmico.

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A r tig o d e R e v isã o . L a m b e r tu c c iJ R , G ersp a ch er-L a ra R . F eb re d e o rig em in d e te r m in a d a :p r e c e ito s , p is ta s clín ic a s e ex a m es co m p le m en ta res. R e v ista d a S o c ied a d e B ra sileira d e M ed ic in a T ro p ica l 2 7 :3 1 -3 7 , ja n -m a r , 1994.

O termo febre factícia (FF) ou fraudulenta

refere-se à síndrome que inclui duas situações: 1. simulação de febre através de manipulação do termômetro e de outras manobras para alterar a leitura ou anotação da temperatura; e 2. indução de doenças através da autoinjeção de toxinas ou de material contaminado com bactérias1.

A febre factícia representa cerca de um a três por cento dos casos de FOI nas séries de diferentes autores. A FF predomina em mulheres jovens, geralmente indivíduos que trabalham na área da saúde (m édicos, enferm eiros, psicólogos) e apresentam antecedentes psiquiátricos. O próprio médico deve anotar a temperatura do paciente, algumas vezes, para certificar-se de que não há manipulação do termômetro.

3. Hipertemia ou febre?

A febre se define pela elevação primária da temperatura do termostato hipotalâmico e, a seguir, de todo o corpo. Na hipertemia, a temperatura do corpo se eleva enquanto a temperatura do termostato se mostra inalterada. As causas de hipertemia incluem: aumento da temperatura ambiente (locais muito quentes como o deserto, os altos-fomos), bloqueio na eliminação de calor (agasalhamento excessivo em crianças, medicamentos do tipo atropina que bloqueiam a função das glândulas sudoríparas) e por aumento da produção interna de calor (exercício físico, aumento do metabolismo basal no hipertireoidismo e no feocromocitoma, efeito colateral dos inibidores da MAO e de alguns anestésicos).

II. O exam e clínico deve ser sistem atizado, m in u cioso e repetido

Seo exame clínico for sistematizado e minucioso a probabilidade de se definir o diagnóstico é muito boa.

A lguns exam es são negligenciados, com freqüência, pelos clínicos, na primeira consulta. Eles são: o exame da região perianal, o toque retal e a palpação dos testículos, o exame da tireóide, o exame ginecológico, o exame neurológico e a oftalmoscopia. A ausculta cardíaca em ambiente com isolamento acústico e com manobras que aumentem a intensidade dos sopros pode ajudar em alguns casos.

A oftalmoscopia deve ser repetida a cada três dias. Além da retinoscopia, o exame deve incluir a avaliação dos vasos da conjuntiva, com lente de

aum ento, em busca de sinais de trom bose (encontrados, por exemplo, nas endocardites).

O paciente deve ser reexaminado diariamente. C o n firm ar-se-ã o in fo rm a ç õ e s j á an o ta d a s, utilizando-se a mesma pergunta ou de preferência buscando a mesma informação sob novo ângulo. O raciocínio clínico deve ser elaborado sobre informações seguras e dados objetivos do exame clínico. Cümpre pesquisar, com detalhes, a origem étnica e o com portam ento, os h áb ito s e o funcionamento do organismo antes de o paciente adoecer.

Anotar-se-ão as opiniões dos familiares sobre a doença e sobre o doente.

O peso corporal deve ser medido e anotado semanalmènte. Febre prolongada associada à perda de peso rápida e progressiva sugere câncer.

m . ExclUa doenças poten cialm en te graves e tratáveis

A endocardite bacteriana, os abscessos intra- abdominais, a tuberculose miliar, as doenças das vias biliares (principalmente em idosos e diabéticos), o tromboembolismo pulmonar e as infecções em indivíduos imunodeprimidos representam as maiores causas de morte evitáveis nos pacientes com FOI. A propedêutica inicial deve ser orientada no sentido de excluí-las.

IV . E xclua febre provocada por m edicam entos A febre por medicamentos corresponde a 3 a 5 % das reações a essas substâncias. Peterdorf e Beeson21 referem apenas um caso de febre, atribuída à fenil-hidantoína, em seus 100 pacientes com FOI. Lambertucci e Pompeu14 anotaram um caso de “ síndrome semelhante ao lupo” , com febre induzida por propiltiouracil, em 55 pacientes com FOI.

Teoricamente, qualquer medicamento pode causar febre. A p ro b ab ilid ad e de reação a medicamento aumenta com a duração e com o número de cursos terapêuticos. Como grupo, os antimicrobianos são os que produzem febre com maior freqüência e, entre eles, as penicilinas ocupam o primeiro plano. Individualmente, no entanto, alfametildopa e quinidina encontram-se entre os principais agentes pirogênicos.

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A r tig o d e R ev isã o . L a m b e r tu c c iJ R , G e rsp a ch er-L a ra R . F eb re d e o rigem in d e te r m in a d a :p re c e ito s, p is ta s clín ic a s e ex a m e s c o m p le m en ta re s. R e v ista d a S o cie d a d e B ra sileira d e M e d ic in a T ro p ica l 2 7 :3 1 -3 7 , ja n - m a r , 1994.

medicamentos, na fase inicial de avaliação, por tempo adequado (variável para cada agente), pode poupar tempo e sofrimento aos envolvidos.

V . P r o c u r e t r a b a lh a r c o m e x a m e s com plem entares de qualidade

O indivíduo que realiza o exame deve conhecer a história da doença do paciente e possuir experiência com o teste requisitado. O médico deve saber qual o laboratório e qual o serviço que melhor executam determinado exame e deve manter contato pessoal com o examinador. Essa conduta mostra-se decisiva na maioria dos casos. A guisa de exemplo, pode-se citar o caso da malária: o examinador experiente consegue ver várias hemácias parasitadas em um esfregaço, enquanto o principiante pode considerar o exame negativo.

V I. P ense sem pre em associação de doenças A tuberculose deve ser sempre considerada como segunda doença no paciente com FOI. O diabético com infecção urinária ou com colecistite pode ter tuberculose associada. A tuberculose miliar foi a causa da morte em paciente com salmonelose septicêmica prolongada relatada por Lambertucci e co lab o rad o re s11 12, A am ebíase hepática, a esquistossomose aguda15 e a ascaridíase podem se associar ao abscesso piogênico do fígado.

As doenças ou tratam entos que causam im unossupressão e a senilidade favorecem o aparecimento de doenças múltiplas.

V II. D e fin a c r ité r io s p a ra a in d ica ç ã o de te r a p ê u tic a de p r o v a e la p a r o to m ia exploradora

Constituem indicações para terapêutica de prova: a. doenças graves, rapidamente progressivas e b. doenças crónicas progressivas cuja causa permanece obscura, apesar da realização dos exames indicados, restando uma ou duas doenças tratáveis. Deve-se atribuir significação diagnóstica à terapêutica de prova: uma doença - um medicamento específico. Cumpre ainda rever a dose eficaz e o tempo adequado de uso para o início de ação do medicamento escolhido. Os testes terapêuticos para algumas doenças, às vezes, são diagnósticos, como o uso de colchicina na febre familiar do Mediterrâneo e a aspirina na doença de Still.

A laparotomia exploradora na FOI deve ser

procedimento cuidadosamenteplanej ado e realizado por equipe motivada e consciente do problema clínico. A cirurgia representa etapa final na propedêutica, quando foram esgotados os recursos laboratoriais e de imagem. Restringiram -se as indicações da laparotomia exploradora com o advento dos novos métodos de imagem e da laparoscopia. Na ausência de qualquer sinal ou sintoma de doença abdominal tom a-se pouco provável que o paciente se beneficie da cirurgia. Constituem sinais clínicos de doença intra-abdominal: dor abdominal, anemia e perda de peso progressivo, icterícia, ascite, hepatom egalia e/ou esplenom egalia, m assas abdominais e alterações da função hepática.

Em cerca de 40% das laparotomias, indicadas para esclarecimento de FO I, seião diagnosticadas neoplasias. O utros 35% revelarão infecções (tuberculose, abscessos ocultos ou doenças das vias biliares), enquanto o restante fica por conta de uma v arie d ad e de d o e n ç a s, p re d o m in a n d o granulom atoses não-caseosas e arterites. Os pacientes com laparotomia negativa constituem enigma diagnóstico.

VIII. E steja presente, quan do outros colegas forem cham ados a op in ar

Mantenha sempre contato pessoal com todos os médicos e agentes de saúde envolvidos no cuidado do paciente.

IX . M antenha boa relação m éd ico-paciente Só o médico com interesse genuíno pelo paciente é capaz de ajudá-lo. O sucesso na relação médico- paciente encontra-se na dependência de uma série de fatores, tais como: afeto, conhecim ento, disponibilidade, experiência e empatia. A dose adequada de cada um desses fatores é variável e constitui talento individual saber combiná-los em cada situação.

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A r tig o d e R ev isã o . L a m b e r tu c c iJ R , G e rsp a c h er-L a ra R . F eb re d e o rig e m in d e term in a d a : p r e c e ito s , p is ta s clín ic a s e ex a m e s c o m p le m en ta res. R e v ista d a S o c ie d a d e B ra sileira d e M ed icin a T ro p ic a l 2 7 :3 1 -3 7 , ja n - m a r , 1994.

X. H á um tem po p a ra ag ir e um tem po p ara esp erar

No paciente com anemia progressiva, perda de peso rápida, icterícia progressiva, leucocitose com desvio para a esquerda e instabilidade hemodinâmica, a ação deve ser pronta. Excluídas as urgências, o tempo deve ser controlado com sabedoria. A espera v ig ila n te m o s tra -s e fre q ü e n te m e n te recompensadora. As doenças se identificam com o correr dos dias.

Como regra geral, as doenças infecciosas são diagnosticadas nos primeiros três meses de febre. De três meses a um ano predominam as doenças neoplásicas. A partir de um ano, as imunológicas.

PISTAS CLÍNICAS

Algumas combinações de sintomas e sinais e achados laboratoriais sugestivos de determinadas doenças mostram-se tão repetitivos que devem ser memorizadas e as causas mais prováveis investigadas em todos os pacientes com febre obscura:7 8161718

23 25

1. A concentração sérica da fosfatase alcalina eleva-se na arterite temporal, no hipemefroma e nas tireoidites. Com maior freqüência indica en v o lv im e n to h ep á tic o (c o le stá tic o ou infiltrativo) e doença óssea;

2. trom bocitose (com núm ero de plaquetas superiora600.000/mm3) sugere câncer, infecção bacteriana ou füngica, além de deficiência de ferro;

3. o encontro de hemácias nucleadas no sangue periférico, na ausência de hemólise, sugere invasão neoplásica da m edula óssea ou tuberculose miliar;

4. dor estemal sugere invasão da medula óssea ou osteomielite;

5. dor testicular sugere poliarterite;

6. febre e dor lombar no paciente idoso sugere endocardite;

7. sensação de dor no músculo trapézio sugere abscesso subdiafragmático;

8. febre, leucopenia e baço palpável em homem de meia idade faz pensar em tuberculose ou linfoma; 9. fe b re asso c ia d a com h em atú ria sugere

poliarterite, endocardite e lupo eritematoso

sistêmico;

10. as provas de função hepática podem ser normais em pacientes com granulomatoses hepáticas (a biópsia hepática é diagnostica);

11. dor m uscular intensa, eosinofilia e asma brônquica, sugerem vasculite granulomatosa eosinofílica (Síndrome de Churg-Strauss4); 12. abscessos do fígado podem estar presentes com

provas de função hepática normais (a ultra- sonografia e a tomografía computadorizada podem fornecer resultados falso-negativos); 13. nódulos no epidídimo sugerem tuberculose ou

tumor;

14. doença granulomatosa do intestino ocorre em qualquer idade;

15. a desidrogenase lática (LDH) encontra-se elevada na maioria dos pacientes infectados por

P n e u m o c y s t i s c a r in ir ,

16. as doenças intra-abdom inais nos idosos mostram-se pouco sintomáticas. Quando, nesses pacientes, houver queixas indefinidas referidas ao abdome, pensar em apendicite, diverticulite e colecistite;

17. proteinemia C reativa acima de 1 Omg/dl sugere infecção bacteriana10;

18. o exame da medula óssea é valioso para o diagnóstico da febre tifóide, histoplasmose, tuberculose, brucelose, linfomas e leucemias. Em vários casos em que o mielograma é pouco informativo a biópsia de medula óssea pode definir o diagnóstico;

19. a polimialgia reumática e/ou a arterite de células gigantes são responsáveis por cerca de 25 % dos casos de FOI em pacientes com mais de 65 anos de idade e podem se manifestar inicialmente com dor na língua ou claudicação da mandíbula; 20. hepatite alcoólica e cirrose hepática podem

induzir elevação da temperatura axilar acima de 39°C, na ausência de bacteriemia.

EXAMES COMPLEMENTARES

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A r tig o d e R ev isã o . L a m b e r tu c c iJ R , G ersp a ch er-L a ra R . F ebre d e o rig em in d e te r m in a d a :p re c e ito s, p is ta s clín ica s e ex a m e s co m p le m e n ta res. R e v ista d a S o c ied a d e B ra sileira d e M ed ic in a T ro p ica l 2 7 :3 1 -3 7 , ja n - m a r , 1994.

eminentemente clínico, como na febre factícia ou na doença de Still, este só será aceito após propedêutica laboratorial mínima.

Qualquer algorítimo proposto para a elucidação da FOI sofrerá limitações, pois em cada centro haverá equipes com experiências diversas e graus diferentes de acesso aos métodos diagnósticos. A nosologia prevalente em cada série influi na importância atribuída aos exames complementares e, portanto, na ordem com que são requisitados. O estado geral do paciente e o ritmo com que a doença evolui determinam também o tipo e a velocidade com que são realizados os exames complementares.

As vasculites representam, com freqüência, desafio diagnóstico, mesmo após a realização dos exames complementares adequados. Recentemente, os anticorpos contra proteínas do citoplasma dos neutro filos (c-ANCA - cytoplasmic antineutrophil cytoplasmic antibodies) pesquisados pela técnica de imunofiuorescência ganharam importância clínica; o teste tem-se mostrado sensível e específico para o diagnóstico da granulomatose de Wegener. Outros padrões de fluorescência (p-AN CA) poderão auxiliar no d ia g n ó s tic o de o u tra s v a sc u lite s e glomerulonefrites9.

Sugeriu-se, recentemente, o uso do naproxeno ou da indometacina na diferenciação das febres de origem infecciosa das febres de provável origem neoplásica3 24. O seu valor no diagnóstico da febre de origem indeterminada, entretanto, ainda não foi estabelecido. A pouca experiência acumulada depõe contra a segurança do seu uso no diagnóstico da FOI.

A lguns exam es com plem entares, como o hemograma, a radiografia do tórax, a velocidade de eritrossedimentação, os testes sorológicos negativos que podem vir a tom ar-se positivos, devem ser repetidos periodicamente.

N as T a b e la s 2 e 3 a p re se n ta m -se , re s p e c tiv a m e n te , a re la ç ã o de exam es complementares e de imagem úteis para o diagnóstico de FOI, indicando quais serão provavelmente mais informativos na avaliação inicial. Os demais deverão ser realizados de acordo com a orientação fornecida pela clínica e pelos exames iniciais.

Tabela 2 - E xam es co m plem entares la b o ratoriais na FOI.

Hematologia e bioquímica sanguínea ■ hemograma e hematoscopia*

■velocidadcdc eritrossedimentação (30 c60 minutos)* • pesquisa de hematozoários em gota espessa* •transaminases, fosfatase alcalina*, bilirrubinas, • eletroforese de proteínas*

• uréia, creatinina e glicose no soro* ■ ácido úrico e calcemia

■ hormônios tireoidianos (T3 e T4)* • desidrogenase lática (LDH) • eletroforese de hemoglobina

• ferritiria sérica e capacidade de ligação do ferro Culturas

• hemocülturas* • urina e fezes

•escarro, lavado gástrico, d erram epleural, líquido ascítico, líquor

• medula óssea Urina e fezes

' rotina de urina (elementos anorm ais e sedimentoscopia)*

• exame parasitológico de fezes* • pesquisa de sangue oculto nas fezes • retossigmóidoscopia com biópsia Sorologia**

• antiestreptolisina O (ASLO)* • fator antinúcleo (FAN)* ■ fator reumatóide • VDRL e FTA-ABS*

•imunofiuorescência para tripanosomíase americana • pesquisa de anti-VEB (mononucleose infecciosa) • anticorpos antitoxoplasma (IgM e IgG)* • anticorpos anticitomegalovírus*

• reações de aglutinação sm ú -B riicella e anti- S a lm o n ella

reação de aglutinação para o calazar

■anti-VIH*

■ anti-VHB (HbsAg, IgG e IgM anti-HBc) ■ proteína C reativa (PCR) quantitativa* • c-ANCA (granulomatose de W egener) • imunoglobulinas (IgG, IgA, IgM, IgE)* •complemento sérico (C3)

Testes cutâneos

• PPD - se negativo, realizar outros testes cutâneos (tricofitina, candidina, A sp erg illu s) para excluir anergia*

Biópsias

• medula óssea

■ fígado (de preferência sob visão laparoscópica)* • linfonodos

• musculares (vasculites) • vasculares (arterite temporal)

* exames úteis no rastreamento inicial

** colha amostra de soro na I a consulta e mantenha-o congelado

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A r tig o de R evisã o . L a m b e rtu c c i J R , G e rsp a ch er-L a ra R . F eb re d e o rigem in d e te r m in a d a :p re c e ito s, p is ta s clín ic a s e e x a m e s co m p le m en ta res. R e v ista d a S o cied a d e B ra sileira d e M ed ic in a T ro p ica l 2 7 :3 1 -3 7 , ja n - m a r , 1994.

T abela 3 - E xam es com plem entares d e im agem na FOI.

R a d io lo g ia c o n v e n c io n a l: a b d o m e , c o lu n a verteb ra l, o s s o s lo n g o s , c r â n io , tó r a x * , d e n te s * e s e io s p a r a n a sa is*

U ltr a -so n o g r a fia (U S G )*

E c o c a r d io g r a fia tr a n sto rá cic a e tr a n se so fá g ic a * T o m o g r a fia co m p u ta d o riz a d a (T C )*

R e sso n â n c ia n u cle a r m a g n étic a

M e d ic in a n u clea r: I n d i o l l l - lig a d o a le u c ó c ito s; G a 67 para a b c e s s o s e tu m o r e s (g e r a lm e n te e m p reg a d o . a p ó s U S e T C n e g a tiv o s)

M a p e a m e n t o d e p u lm ã o * , m a p e a m e n t o ó s s e o ; m a p ea m en to d e tir e ó id e *

T râ n sito in te stin a l* , e n e m a o p a co A n g io g r a fia s, c o la n g io g r a fia s, linfografxas

* E x a m e s ú te is no r a str e a m e n to in ic ia l. A ultra-so n o g r a fia e a to m o g ra fia co m p u ta d o riza d a p od em or ie n ta r a s p u n ç õ e s c o m ag u lh a.

SUMMARY

Ten guidelines, tw enty clin ica l clues a n d a list o f laboratory tests, em phasizin g those m o st valuable in the in itia l in vestig ation o f p a tie n ts with fe v e r o f undeterm in ed orig in (FUO), are p r e se n te d by the authors.

K ey-w ords: Fever. F ever o f undeterm ined origin (FUO).

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Referências

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