A quest ão ecológica: ent re a ciência
e a ideologia/ ut opia de uma época
The e co lo g ical issue : scie nce and id e o lo g y,
o r the uto p ia o f a time
1 Un iversidade do Estado d o Rio d e Jan eiro.
Ru a São Fran cisco Xavier 524, 5oan d ar, bloco A,
Rio d e Jan eiro, RJ 20559-900 Brasil. 2 Departam en to de Ciên cias Sociais, Escola N acion al d e Saú d e Pú blica. Ru a Leop old o Bu lh ões 1480, Rio d e Jan eiro, RJ 21041-210 Brasil.
Elm o Rod rigu es d a Silva 1
Ferm in Rolan d Sch ram m 2
Abst ract Ou r m od ern con cern ov er t h e en v iron m en t b rin gs u s t o t h e h ist orica l d iscu ssion of Scien tific Ration alism , p rin cip ally in con tem p orary w estern society, w h ere th e con flict betw een M an an d th e Natu ral World is at its greatest. In an attem p t to solve th is con flict, Ecology, a field of scien ce, stan d s ou t rid d led w ith p roblem s, seek in g to d raw su bjects from oth er field s in to its ow n . Follow in g an “ecologized w orld view ”(Ecosystem ics), som e social cu rren ts d en ou n ce th e en -viron m en tal im p act of, tech n ological an d in d u strial m od els, h igh ly p ollu tan t an d d ep en d en t on n atu ral resou rces, gen eratin g th e con tem p orary d isord er in ou r biosp h ere. Th ese m ovem en ts, fol-low in g d ifferen t sch ools of t h ou gh t , d em a n d ch a n ges in societ y, t a k in g in t o con sid era t ion t h e p resen t an d fu tu re state of th e en viron m en t.
Key words Ecology; En viron m en t; En viron m en tal Eth ics
Resumo A p roblem ática atu al d a qu estão am bien tal rem ete-n os à d iscu ssão h istórica d a racio-n alid ad e cieracio-n tífica, sobretu d o racio-n as socied ad es ocid eracio-n tais coracio-n tem p orâracio-n eas, oracio-n d e o coracio-n flito eracio-n tre a relação h om em /m eio n atu ral fica evid en ciad o. Preten d en d o d ar con ta d este con flito, a ecolo-gia con stitu íd a com o d iscip lin a cien tífica d estaca-se com o u m cam p o p roblem ático d a ciên cia qu e bu sca in tegrar d iversas d iscip lin as em torn o d e si. Algu n s m ovim en tos sociais, orien tan d o-se p or u m a “visão ecologizad a”(ecossistêm ica) d e m u n d o, p artem p ara d en u n ciar os im p actos am -bien tais oriu n d os, d en tre ou tros, d o m od elo tecn o-in d u strial altam en te p olu id or, con su m id or d os recu rsos n atu rais e gerad or d a atu al d esord em global d a biosfera. Esses m ovim en tos, sen d o orien tad os p or éticas d iferen ciad as, reivin d icam m u d an ças d o qu ad ro social e am bien tal d a so-cied ad e atu al a fim d e garan tir as n ecessid ad es d as fu tu ras gerações.
Int rodução
O d eb ate em torn o d a q u estão am b ien tal d eve ser com p reen d id o através d as relações e in terp retações q u e se estab eleceram h istoricam en -te en tre o h o m em e a n a tu reza , o u seja , en tre os p rocessos artificial/ cu ltu ral e o n atu ral. Ros-set (1989) argu m en ta q u e as filosofias (ap esar d e u m certo arb ítrio) são classificáveis em ‘n a-tu ra lista s’ e ‘a rtificia lista s’. O a u to r co n sid era q u e, n a h istória d a filosofia ocid en tal, este é o caso d e d ois b reves p eríod os, n os q u ais o p en -sam en to artificialista rep resen tou oficialm en te a filosofia , n a a u sên cia m om en tâ n ea d e q u a l-q u er p a isa gem n a tu ra lista o ferecid a à cren ça d os h om en s p ela im agin ação filosófica. Deste m o d o, essa s la cu n a s d a p a isa gem n a tu ra lista seriam su ficien tem en te p ossan tes p ara en gen -d ra r filo so fia s a rtificia lista s, o u seja , h a veria u m m om en to d e ‘d ep ressão filosófica’ in tercala n d o se en tre a d erro ca d a d e u m a rep resen -tação n atu ralista e a reorgan ização d e u m a n o-va , a q u a l e st a ria e n ca rre ga d a d e a sse gu ra r a im p ortân cia d os tem as n atu ralistas in terrom p id o s te m p o ra ria m e n te. A h istó ria d a filo so -fia ocid en tal, segu n d o o au tor, con h eceu d u as gran des dep ressões: a p ré-socrática (ap ós a ru ín a d a rep reseín tação aín im ista e aín tes d o ín atu -ralism o an tigo d e Platão e Aristóteles) e a p récartesian a (ap ós a ru ín a d o aristotelism o e an tes d a reco n stitu içã o d e u m n a tu ra lism o m o -d ern o p or Descartes, Locke e Rosseau ) (Rosset, 1989).
A p a rtir d este esq u em a d e ra cio cín io, p o -d er-se-ia argu m en tar qu e o p erío-d o atu al esta-ria en tran d o em u m a n ova fase, tam b ém d e d e-p ressã o, en tre co n cee-p çõ es a rtificia lista s e n atu ra lista s. Isto é vá lid o p a ra o m u n d o o cid en tal, on d e a racion alid ad e cien tífica p assou a in term ed ia r a rela çã o so cied a d e/ n a tu reza . Ha b erm a s co n sid era q u e a ra cio n a liza çã o p ro gressiva d a socied a d e está liga d a à in stitu cio -n a liza çã o d o p ro gresso cie-n tífico e téc-n ico, através d o qu al as p róp rias in stitu ições m od ifi-cam -se e an tigas legitim ações d esm on tam -se. Portan to, ‘secu larização’ e ‘d esen feitiçam en to’ d as im agen s d o m u n d o são a con trap artid a d e u m a ra cio n a lid a d e crescen te d o a gir so cia l (Hab erm as, 1983).
Ao se referir à ciên cia con tem p orân ea, Hot-to is p refere em p rega r o term o tecn o ciên cia p ois este d estaca a estreita ligação en tre o téc-n ico e o ep istêm ico, a ação e a cogtéc-n ição, assim com o a ru p tu ra com o an tigo p rojeto logoteó-rico e filosófico d o sab er. A tecn ociên cia, p ara o au tor, p rodu ziu u m m ito evolu cion ista qu e vê a física, a b iologia e as tecn ologias d a in teligên -cia sob u m ân gu lo sistem ista e op eracion alista,
d esta ca n d o q u e o m ito tecn o cien tífico b u sca se d esen vo lver d e “fo rm a a b so lu tiza d a o u a u -ton om izad a”, fora d e tod a con sid eração an tro-p ológica e, bem en ten dida, ética (Hottois,1994).
Deste m od o, p ara ten tar m elh or com p reen -d er to-d as as ráp i-d as tran sform ações ocorri-d as n as relações h om em / n atu reza e su as im p lica-ções éticfilosóficas, sociais, am b ien tais e p olíticas, p od ese b u scar n a in stau ração d o m u n -d o m o-d ern o, ou seja, n a p assagem -d os sécu los XVI p a ra o XVII, a s b a ses d o p ro jeto a tu a l d e d om in ação d a n atu reza p elo sab er-fazer tecn o-cien tífico.
Lon ge d e p reten d erm os organ izar u m a cro-n ologia h istórica d este p rocesso, ap ocro-n tarem os a lgu n s m o m en to s im p o rta n tes n a fo rm a çã o d esta cu ltu ra tecn ocien tífica e d e seu s d esd o-b ra m en to s a té o s d ia s a tu a is, a o d esem o-b o ca r n o ca m p o d a Ciên cia Eco ló gica e n o s m ovi-m en tos sociais a ele relacion ad o.
A ciência moderna:
a nat ureza versus o art ifício
Com as d escob ertas d o sécu lo XVI, u m p eríod o d e tran sform ações p rofu n d as su rge n o Ocid en -te. Com o escreve Ch âtelet, “o recom eço da filo-sofia n os sécu los XVI e XVII está ligad o ao ap a-recim en to d e u m ou tro con texto, o d a ciên cia” (Ch â telet, 1994:53). Discu rso s in ova d o res sã o elab orad os en tão, n u m con texto cien tífico in -cip ien te, através d e d iversos p en sad ores, en tre eles, Fran cis Bacon (15611626). Precocem en -te, Ba co n registro u o q u e seria m a rca d o p elo sécu lo d o ‘artificialism o’ (d a m etad e d o sécu lo XVI à m eta d e d o XVII), a o a fir m a r q u e: “u m precon ceito (...) é olh ar a arte com o u m a espécie d e ap ên d ice d a n atu rez a, su p on d o qu e só lh e resta com pletá-la (...) ou corrigi-la (...), e de for-m a algu for-m a for-m u d á-la (...), tran sforfor-m á-la e aba-lá-la em seu s fu n d am en tos: isso torn ou , an tes d o tem p o, os n egócios h u m an os d esesp erad os (...). As coisas artificiais n ão d iferem d as n atu -rais n em pela form a n em pela essên cia, m as so-m en te pela cau sa eficien te (...). E qu an do as coi-sas são disp ostas p ara p rod u zir u m d eterm in a-do efeito, pou co im porta qu e isso se faça com ou sem o h om em” (Bacon , 1852 apu d Rosset, 1989: 6465). Desta fo rm a , esta va m la n ça d a s a s b a -ses cien tíficas p ara a in terven ção técn ica sob re os p rocessos n atu rais.
u tiliza rem o m éto d o exp erim en ta l e in d u tivo, estão en tre os p ion eiros n a ap licação d o n ovo m étod o cien tífico qu e irá revolu cion ar id éias e com p ortam en tos. Giord an o Bru n o (1562-1600) d em on strou o sign ificad o q u e este m étod o e a cosm ologia cop ern ican a rep resen taram p ara a n ova visã o d e m u n d o q u e se in sta u ra va : “os d eu ses d eram ao h om em o in telecto e as m ãos (...) ou torgan d o-lh e p od er sobre os d em ais an i-m ais. Eles su põei-m n ão só qu e o h oi-m ei-m seja ca-p az d e atu ar con form e a su a ca-p róca-p ria n atu rez a (...) m as qu e tam bém p ossa op erar à m argem d as leis n atu rais, p ara d este m od o (...) triu n far m an ten do-se com o deu s da terra” (Bru n o, 1852
apu d Ed m u n d s & Letey, 1975:37).
É d este p eríod o ‘revolu cion ário’ q u e a im a-gem d o m u n d o, ta l co m o a co n h ecem o s h o je, fo i co n stru íd a e d eve-se, em gra n d e p a rte, à Galileu Galilei (1564-1642). Para ele, a realid a-d e sen sível era in teligível, con tan to qu e se rea-liza ssem a s a n á lises n ecessá ria s e se a p erfei-çoasse o in stru m en to m atem ático, com o ocor-reu em segu id a, p rin cip alm en te com os trab a-lh os d o físico Isaac Newton (1643-1727).
Ren é Desca rtes (1596-1650) d eu co n tin u i-d a i-d e a o p ro cesso i-d e m u i-d a n ça s in icia i-d o p o r Cop érn ico e Galileu , sen d o con sid erad o o filó-so fo fu n d a d o r d a m o d ern id a d e (Ch â telet, 1994). A resp eito d o p rojeto m od ern o d e d om i-n ação racioi-n al d a i-n atu reza p elo h om em , Des-cartes afirm a: “...con h ecen do a força e as ações do fogo, da águ a, do ar, dos astros, dos céu s e de tod os os ou tros corp os qu e n os cercam , tão d is-tin tam en te com o con h ecem os os diversos m iste-res de n ossos artifícios, poderíam os em pregá-los d a m esm a m an eira em tod os os u sos p ara os qu ais são próprios, e assim n os torn ar com o qu e sen h ores e possu idores da n atu reza” (Descartes, 1966:64). A p a rtir d o m éto d o ca rtesia n o, a ci-são en tre h om em / n atureza, corp o/ esp írito p as-sou a ser ‘d ou trin ária’, ou seja, a visão d e sep a-ra çã o e d o m in a çã o to rn o u -se p red o m in a n te n o m u n d o ocid en tal.
Ch a têlet d iz q u e “caso se aceite a verd ad e d a n ova física, n ão se p od e m ais trabalh ar com a m esm a on tologia, com a m esm a con cepção do ser, d o real (...). É p reciso reform ar (...) a rep re-sen tação do real, operar u m deslocam en to deci-sivo” (Ch atêlet, 1994:63). Isto sign ifica revolu -cion ar os con ceitos aceitos até en tão. Em b ora a p reten são d e torn ar o h om em “sen h or e p os-su id o r d a n a tu reza” tivesse se m o stra d o, n o s sécu lo s segu in tes, n em tã o p o ssível, n em tã o b oa, o p en sam en to cartesian o ficou p rofu n d a-m en te en raizad o n a cu ltu ra ocid en tal, d esd e a socied ad e ilu m in ista até os tem p os atu ais.
Dois asp ectos im p ortan tes d estacam -se n o p en sa m en to ca rtesia n o : a ra cio n a lid a d e e o
a n tro p o cen trism o. Co n seq ü en tem en te, a n a tu reza d essacralizad a p ela sep aração h om em -su jeito d e u m lad o e n atu reza-ob jeto d o ou tro, resu ltou em ‘n ovas’ p ossib ilid ad es cien tíficas e tecn o ló gica s, lib erta n d o d efin itiva m en te a ciên cia d as con cep ções teológicas h erd ad as d o m u n d o m ed ieva l. Ab rem -se d iferen tes p ers-p ectiva s n o ers-p en sa m en to filo só fico, ers-p o lítico, econ ôm ico e su rge a in d u strialização q u e d eu origem a p rofu n d as tran sform ações sociais n a Eu rop a.
A p a rtir d o sécu lo XVIII, elem en to s in ova d ores são in trod u zid os, d en tre estes, a con cen -tra çã o d e ca p ita is, a a p ro p ria çã o d a s fo rça s p rod u tivas, as n ovas técn icas, m áq u in as e m a-téria s-p rim a s. As in d ú stria s in sta la m -se, d estru in d o ou red efin in d o o m eio ru ral, p rod u zin -d o o u a m p lia n -d o a s a glo m era çõ es u rb a n a s, m od ifican d o as form as d e ap rop riação d os re-cu rsos n atu rais e os m od os d e relacion am en to com o am b ien te n atu ral origin al. Th om as afir-m a q u e “ao fin al d o sécu lo XVIII (...) n ão h avia preceden tes para (...) as qu eixas (...) sobre o efei-to d esfigu rad or d as n ovas ed ificações, estrad as, can ais; d o tu rism o e d a in d ú stria” ( Th o m a s, 1989:339). Deste m o d o, o s im p a cto s a m b ien -tais n ão d evem ser associad os exclu sivam en te com a gran d e in d ú stria, d om in an te a p artir d as p rim e ira s d é ca d a s d e ste sé cu lo. Já n o sé cu lo XVIII, o seu m od o d e op erar se fazia sen tir, al-teran d o a n atu reza, d evid o, p rin cip alm en te, a d o is elem en to s fu n d a m en ta is d o rela cio n a m en to en tre ativid ad es p rod u tivas e m eio am -b ien te: a esca la e a in ten sid a d e d o s im p a cto s (Costa, 1989). É a p artir deste p eríodo qu e ciên -cia e tecn ologia torn am -se in sep aráveis.
No d om ín io esp ecífico d a ciên cia, ob serva-se a con tin u id ad e d a fragm en tação d o con h e-cim en to cien tífico. Com a va loriza çã o d a filo-sofia p ositiva , n o sécu lo XIX, a esp ecia liza çã o d iscip lin ar vai se estab elecen d o com o p arad ig-m a. Moscovici afirig-m a q u e “a in d ivid u alização dos atos, dos in teresses e das relações h u m an as, deram vigoroso im p u lso à op osição sociedade e n atu reza (...). Em física, em biologia, em econ o-m ia, eo-m filosofia, eo-m toda parte o in divídu o é a u n idade de referên cia (...) [e] a sociedade só po-d eria ser u m estapo-d o an tagon ista (...). O p rin cí-p io d as in stitu ições e d as leis cí-p olíticas qu e h oje n os dirigem têm [aí], o seu firm e alicerce” (Mos-covici, 1977:75). Este co n stitu iu o m o d elo d o p rojeto racion al p ara o m u n d o, em q u e a ciên -cia e a técn ica são id en tificad as com o id eais d e p rogresso e felicid ad e.
ro-p eu , ro-p or exem ro-p lo, ro-p ossib ilitou o su rgim en to d e ‘n ova s se n sib ilid a d e s’ e m re la çã o a o m u n d o n a tu ra l: “o in ício d o p eríod o m od ern o d e fato en gen d rou essa sen sibilid ad e cin d id a, d a qu al sofrem os até h oje” (Th om as, 1989:339).
De certa m a n eira co n d icio n a d a a esta h e-ran ça, su rge, n o sécu lo XX, a crítica ao p rojeto m od ern o d e com p reen são e d om in ação d a n a-tu reza. As in certezas, os p arad oxos e a d ificu l-d a l-d e p a ra exp lica r o s n ovo s fen ô m en o s vã o con d u zin d o a ciên cia a b u scar n ovos ru m os. A ‘n ova física’, p o r exem p lo, p ro p o sta p o r I. Pri-gogin e, d em on stra-n os q u e os fen ôm en os são d ep en d en tes d a h istoricid ad e, qu e h á im p reci-são n os in stru m en tos e n as ob servações ob jeti-vas d a ciên cia, cau san d o p erp lexid ad es. Assim , Prigogin e & Sten gers con sid era m q u e “as d es-cobertas experim en tais in esperadas qu e m arca-ram a física n os an os 50 [tais com o]: in stabili-d astabili-d e stabili-d as p artícu las elem en tares, estru tu ras stabili-d e n ão-equ ilíbrio [e] evolu ção d o u n iverso (...) ap on tam p ara a n ecessid ad e d e u ltrap assar a n egação do tem po irreversível (...), h eran ça dei-xad a p ela física clássica p ara a relativid ad e e a m ecân ica qu ân tica” (Prigo gin e & Sten gers, 1992:13). Deste m od o, b u sca -se com p reen d er a em ergên cia d o s sistem a s evo lu tivo s e u m a n ova visão d e m u n d o vai se d elin ean d o.
Ecologia: ent re a ciência e a visão ambient alist a de mundo
An tes d e p ossu ir ca rá ter cien tífico stricto sen -su, a id éia d e eq u ilíb rio d a n a tu reza teve u m a b ase teológica. Assim , a cren ça n a p erfeição d o d esígn io d ivin o p reced eu e su sten tou o con ceito d e cad eia ecológica, o qu al teve, in icialm en -te, forte con otação con servacion ista. No sécu lo XVIII, a m a io r p a rte d o s cien tista s e teó lo go s d efen d ia q u e to d a s a s esp écies d a cria çã o ti-n h am u m p ap el ti-n ecessário a d esem p eti-n h ar ti-n a econ om ia d a n atu reza (Th om as, 1989). A visão m ítica d e n atu reza n ão ab an d on ou totalm en te as rep resen tações sociais e, ain d a h oje, é ad otad a p or algu n s gru p os d o m ovim en to am b ien -talista.
Po d e-se a d m itir q u e a o rigem d a ciên cia ecológica está associad a ao estu d o d e h istória n atu ral n a In glaterra d o sécu lo XVI e, con form e McCo rm ick, “o crescim en to d o in teresse p ela h istória n atu ral revelou (...) as con seqü ên cias d a relação d e exp loração d o h om em com a n atu reza. Isso levou in icialm en te a u m m ovim en -to p ela p roteção da vida selvagem (...) [e] a p ri-m eira in flu ên cia sobre o ri-m oviri-m en to ari-m bien tlista britân ico [su rgiu ] do estu do da h istória n a-tu ral” (McCorm ick, 1992:22). Os fu n d am en tos
d a b otân ica e d a zoologia m od ern as, além d os d e ou tras ciên cias b iológicas, foram estab eleci-d o s p elo s tra b a lh o s eleci-d e n a tu ra lista s a m a eleci-d o res n o s sécu lo s XVI, XVII e XVIII. McCo rm ick co -m en ta ain d a qu e as d escob ertas d o n atu ralista Jo h n Ra y e d o b o tâ n ico Ca rl vo n Lin n é (Lin -n aeu s) – cu jo trab alh o em taxo-n om ia b otâ-n ica foi a in fân cia d a ecologia – estim u laram as p es-q u isa s em ciên cia s n a tu ra is, cu lm in a n d o n a s teorias d e Darwin e Wallace.
Historicam en te, a ecologia com o d iscip lin a cien tífica tem seu s p rim eiros fu n d am en tos d e-fin id o s n o sécu lo XIX e Aco t d iz q u e o term o ecologia (Oek ologie)foi citad o em 1866, p or Er-n est Haeckel (1834-1919). Nu m a Er-n ota d e rod a-p é d e a-p ágin a d e seu livro Gen erelle Morp h olo-gie der Organ ism en, a p alavra b iologia é su b sti-tu íd a p o r eco lo gia , sen d o esta d efin id a p o r Haeckel com o a “ciên cia da econ om ia, do m odo d e vid a, d as relações extern as d o organ ism o ...” (Haeckel apu d Acot, 1990:27). Con tu do, som en te n a segu n d a m etad e d o sécu lo XX é qu e a sín tese com p leta d a ecologia foi con stitu íd a coe -ren tem en te. No p resen te, d efin e-se a ecologia com o “o estu do das relações dos organ ism os vi-vos ao seu am bien te, ou a ciên cia das in terrelações qu e ligam os organ ism os vivos ao seu am -bien te” (Od u m , 1986:4).
O p en sam en to sistêm ico ten tava exp licar a vid a n u m a p ersp ectiva h olística, n ão red u cio-n ista e fragm ecio-n tária, travacio-n d o-se u m a d isp u ta en tre a s co n cep çõ es vita lista s e o rga n icista s, n u m sin a l p recu rso r d o reco n h ecim en to d a co m p lexid a d e (Fern a n d ez, 1995). O b ió lo go Lu d wig von Bertalan ffy, n os an os 40, p rop ôs a con stru ção d e u m a esp écie d e ‘m etad iscip lin a’: a Teo ria Gera l d o s Sistem a s. Segu n d o o a u to r, “som os forçad os a tratar com com p lexos, com ‘totalidades’ou ‘sistem as’em todos os cam pos do con h ecim en to. Isto im p lica u m a fu n d am en tal reorien tação d o p en sam en to cien tífico” (Bertalan ffy, 1977:1920). Assim , a visão sistêm ica in -flu en cio u o su rgim en to d e n ova s á rea s d o co-n h ecim eco-n to, d eco-n tre ela s, a ciêco-n cia eco ló gica . Od u m (1986) assin ala qu e o term o ecossistem a teria sid o p rop osto p elo ecologista in glês A. G. Tan sley, em 1935. Posteriorm en te, o m ecan is-m o eco ssistêis-m ico p ô d e ser co is-m p reen d id o a tra vés d a a ssocia çã o en tre a s b a ses term od i-n âm icas d o ser vivo lai-n çad as em 1945 p elo físico Sch röd in ger e o m od elo cib ern étifísico d esen -volvid o p or Norb ert Wien er.
r-m a , o s a u to res a firr-m a r-m q u e ta n to o s o rga n is-m os vivos e os ecossisteis-m as, b eis-m cois-m o tod a a b iosfera teriam a característica term od in âm ica essen cia l d e serem ca p a zes d e cria r e m a n ter u m estad o d e ord em in tern a ou d e b aixa en tro-p ia. No fim d os an os 60, as tro-p esq u isas estatísti-cas d as d in âm iestatísti-cas d as p op u lações con d u ziram à elab oração d e m od elos m atem áticos d e evo-lu ção d os ecossistem as, estes vistos com o sis-tem a s co m p lexo s, o n d e o co n ju n to d e eq u ili-b ração (h om eostase) p ôd e ser d escrito p or m e-ca n ism o s d e retro a çã o (feed back ), co n ceito cen tra l d a cib ern ética p ro p o sto p o r No b ert Wien er, n a d écad a d e 40.
Assim estavam d ad as as b ases p ara m elh or exp licar a in ter-relação d os sistem as vivos com o am b ien te. A p artir d estes m od elos ecossistêm icos foi p ossível coecossistêm p reen d er ecossistêm elh or os iecossistêm -p a ctos d a -p olu içã o sob re os sistem a s ecológi-co s,o s q u a is, a o serem a sso cia d o s a o s gra ves acid en tes am b ien tais, tais com o: a con tam in a-ção d a Baía d e Min am ata e Nagata ( Jap ão, d é-cad a d e 50); o vazam en to d e gases tóxicos (Se-veso – Itália, 1976/ Bh op al – Ín d ia, 1984); os aci-d en tes aci-d e u sin as n u cleares (Th ree Miles Islan aci-d – USA, 1978; Tch ern obyl – URSS, 1986); as m u -d a n ça s clim á tica s; a -d estr u içã o -d e flo resta s com a p erd a d a b iod iversid ad e; a p olu ição ge-n era liza d a d o s rio s, m a res, so lo s e a tm o sfera , e, a in d a , a o serem a gra va d o s p elo s n íveis d e p ob reza e m iséria d a m aior p arte d a p op u lação m u n d ia l, p ro p o rcio n a ra m im p o rta n tes a rgu -m en tos p ara in terrogar o p od er e os ru -m os n o u so d a tecn ociên cia e im p u lsion ar os d iversos m ovim en tos con testatórios em tod o o m u n d o. Co m b a se n o s n ovo s m o d elo s cien tífico s, tem -se u m a visão in tegrad a d os d iversos ecos-sistem as terrestres, e a qu estão am b ien tal p as-sa a ser tra ta d a em n ível glo b a l. Po r q u estã o a m b ien ta l p o d e-se en ten d er a co n tra d içã o fu n d a m en ta l q u e se esta b eleceu en tre os m o d elo s d e d esen vo lvim en to a d o ta d o s p elo h o -m e-m , -m arcad a-m en te a p artir d o sécu lo XVIII, e a su sten ta çã o d este d esen vo lvim en to p ela n a tu reza . A p a rtir d a Revo lu çã o In d u stria l, a velocid ad e d e p rod u ção d e rejeitos d a socied a-d e, o a va n ço a-d o m u n a-d o u rb a n iza a-d o e a fo rça p o lu id o ra d a s a tivid a d es b élica s e in d u stria is su p eraram em m u ito a cap acid ad e regen erati-va d os ecossistem a s e a recicla gem d os recu r-so s n a tu ra is ren ová veis, co lo ca n d o em n íveis d e exa u stã o o s d em a is recu rso s n a tu ra is n ã o ren ováveis (Toyn b ee, 1982).
Essa p rob lem ática am b ien tal ap on taria p a-ra a ‘crise d a rela çã o’ (eco -ló gica ) – cr ise d a m orad ia n a qu al a vid a se faz, crise d a racion a-lid a d e d a s rela çõ es q u e o s seres esta b elecem en tre si, com ou tros seres vivos e com a p róp ria
m o ra d ia [oik os] e ‘crise d e va lo res’, u m a vez q u e, fren te à situ a çã o d e in tegra çã o m u n d ia l d e n o sso tem p o, a co o p era çã o é im p rescin d í-vel, m as seria n ecessário o estab elecim en to d e n ovos valores p ara o en fren tam en to d e tão rá-p id a tran sform ação. A q u estão ecológica refe-re-se, p ortan to, a u m a crise d e con ceito e u m a crise d e p rojeto (Sch ram m , 1992).
A con statação d a crise gen eralizad a, id en ti-ficad a n a ciên cia e refletid a n a socied ad e, p od e ser p erceb id a com o risco ou com o op ortu n id a-d e a-d e se lan çarem n ovas b ases p ara m u a-d an ças. Deste m od o, a p róp ria ciên cia h oje é colocad a em q u estã o, e segu n d o Aco t: “... n a su a essên -cia, [ela] é atravessad a p elas id eologias e m ar-cad a p elas m en talid ad es (...) [,] govern ad a p or in stitu ições e in tervém em su as criações e tran form ações (...) [sen do] tan to oriu n da, com o in s-p irad ora d as d em an d as sociais” (Aco t, 1990: 189), ou seja, ela d ep en d eria d e u m n ovo ‘q u a-d ro ep istêm ico’ (Piaget & Garcia, 1987).
A ciên cia e, sob retu d o, seu u so técn icoin -d u strial p o-d e tan to estar a serviço -d a m elh oria d as con d ições am b ien tais e con seq ü en tem en -te sociais, com o ser u tilizad a p ara fin s n ão tão n o b res. Assim sen d o, Ho tto is n o s d iz q u e “a id eologia d o p rogresso valoriz a o cien tista e o técn ico sem os resp on sabiliz ar, qu er d izer, sem con sid erar a qu estão ética a p rop ósito d e su as ativid ad es. A ativid ad e cien tífica (...) é ju lgad a sem p re boa (...) p ois ela é [o] p rogresso d o co-n h ecim eco-n to (...). O risco de u m m au u so da téc-n ica, de u m a m á aplicação da ciêtéc-n cia, está rela-cion ad o aos d ecisores p olíticos e sociais (...). Resp on sabilizar a ciên cia (...) é colocar em d ú -vida su a n eu tralidade (...) é exigir dos técn icos – os atores d a tecn ociên cia – m ais d o qu e a sim -ples com petên cia” (Hottois, 1994:72).
Segu in d o este m esm o p on to d e vista , Bo r-n h eim assir-n ala q u e a técr-n ica p od e salvar, m as rep resen ta tam b ém o p erigo, sen d o ela n ecessá ria p a ra a sa lva çã o d a Hu m a n id a d e, esco n -d en -d o, en treta n to, em seu b o jo o p erigo -d a d estru ição. De certo m od o, ela p assou a d om in a r e d ecid ir, revela in d o u m a m a rgem d e irra -cion alid ad e qu e a ap roxim a d o in con trolável. A am b igü id ad e p resen te n a tecn ologia e n a p olí-tica term in am p or en trecru zar-se, n ão sign ifi-ca n d o n ecessa ria m en te u m a so lu çã o, m a s a ab ertu ra p ara o p rocesso d e resp on sab ilid a d e d o em p en h o p olítico (Born h eim , 1989).
in tegra çã o d e d iversa s d iscip lin a s e p ro p õ e a p ro b lem á tica visã o h o lística (a q u i en ten d id a com o a im p ossib ilid ad e d e red u zir os fen ôm e-n o s em su a s p a rtes co e-n stitu ie-n tes). A este res-p eito Cou tin h o afirm a q u e “in evitavelm en te se im p õe d e n ovo a qu estão tão con troversa d e ser ou n ão, a Ecologia, u m a d iscip lin a qu e ten h a t ra n scen d id o a s fron t eira s d a ciên cia m od er-n a, sob o p oer-n to d e vista d a su a racioer-n alid ad e” (Cou tin h o, 1992:128).
Od u m con sid era qu e o au m en to d a aten ção p ú b lica às qu estões am b ien tais afetou p rofu n -d am en te a ecologia aca-d êm ica. An tes -d os an os 70, a ecologia era vista, em gran d e p arte, com o u m a su b d ivisão d a b iologia e, em b ora p erm a-n eça ra d ica d a a-n a b io lo gia , ela teria ga a-n h o a m a io rid a d e co m o u m a d iscip lin a in tegra d o ra essen cialm en te n ova, q u e u n e os p rocessos fí-sico s e b io ló gico s e serve d e p o n te d e liga çã o com as ciên cias sociais (Od u m , 1986). Por ou -tro lad o, Cram er & Daele afirm am qu e a Ecolo-gia d e Ecossistem as con ceb e a Natu reza com o u m tip o d e m áqu in a, ain d a qu e m u ito m ais so -fisticad a d o q u e o u n iverso m ecân ico d a física clássica (Cram er & Daele, 1985). Deste m od o, a ecologia é vista com o u m a p ersp ectiva qu e su -gere u m a atitu d e tecn ológica sistêm ica e p or-tad ora d e valores em relação à n atu reza. Assim , a m oralização d o ecossistem a ou d e su as p ro-p ried ad es – su a valorização com o b en s éticos – seria a lgo a crescen ta d o e n ã o im p lica d o p elo co n h ecim en to eco ló gico. A ca u sa eco ló gica b u sca, en tão, u ltrap assar as in certezas e am b i-gü id a d es existen tes, sen d o en ten d id a co m o u m m ovim en to m ais p rofu n d o q u e coloca em q u estã o o con ju n to d e va lores d a m od ern id a -d e. Du p u y i-d en tifica q u e “as resp ostas qu e a ecologia n ão traz , é em ou tros lu gares qu e d e-vem ser procu radas, ou seja, n a ren ovação da losofia p olítica, n a em ergên cia d e u m a n ova fi-losofia d a n atu reza, n a eclosão d e u m n ovo p a-radigm a cien tífico” (Du p u y, 1980:89).
Dia n te d a p ro b lem á tica a m b ien ta l viven -ciad a p elas socied ad es p ós-in d u striais m od er-n as, su rge a p olitização d as q u estões ier-n corp o-ra d a s a p a rtir d o s co n ceito s e rep resen ta çõ es d a ecologia. Desta form a, o ‘ecologism o’, visto com o m ovim en to p olítico, su rgiu , com o su ge-rem La go & Pá d u a , “d a p ercep ção qu e a atu al crise ecológica n ão se deve a ‘defeitos’setoriais e ocasion ais n o sistem a d om in an te m as é con seqü ên cia d ireta d e u m m od elo d e civilização in -su sten tável do pon to de vista ecológico (...) e so-cialm en te in ju sto ...” (Lago & Pád u a, 1985:36). Pa ra o s a u to res, esta m o s d ia n te d e u m a cr ise ú n ica n a civilização e q u e exige a in ven ção d e u m n ovo ca m in h o. Da m esm a fo rm a , Mo ri con sid era a “n ossa ép oca [com o] d e gran d e
fer-m en to in telectu al – talvez u fer-m a d aqu elas ‘fases críticas’ d a h istória em qu e m u d a-se a p róp ria m an eira d e ‘con ceitu aliz ar’ os p roblem as ...” (Mori, 1994:2).
A ecologia em ‘moviment o’
Co u tin h o a rgu m en ta q u e o p en sa m en to a m -b ien ta lista d a d éca d a d e 60, a p esa r d e to d a a su a p lu ralid ad e, tom ou a Ecologia com o in telocu tora, ou seja, ad otou u m a u n id ad e d iscu rsiva on d e o m od elo d e rep resen tação d e n atu -reza fo sse co m p a tível co m su a co n sid era çã o com o algo sin gu lar e origin al, e su a valorização, com o b em ético. Por ou tro lad o, a im p ortân cia a trib u íd a à in tegra çã o, à s to ta lid a d es e a o h o -lism o p avim en tou o cam in h o p ara a ressacrali-za çã o d a n a tu reressacrali-za . Esta m a triz d iscip lin a r (ou p a ra d igm a ) – a Eco lo gia d o s Eco ssistem a s – p ro p icio u a in tera çã o en tre u m a d iscip lin a cien tífica e u m p en sa m en to, cu jo eixo seria u m a crítica ra cio n a l d a m o d ern id a d e (Co u ti-n h o, 1992).
Para isso, algu n s gru p os p acifistas/ ecologis-ta s eu rop eu s e n orte-a m erica n os p rop u sera m u m a p rofu n d a tran sform ação n os valores sed i-m en tad os p ela socied ad e ocid en tal através d e u m a n ova relação h om em / n atu reza orien tad a p or u m a ‘visã o ecologiza d a d e m u n d o’. Rosset critica esta id éia p or con sid erála u m a ren atu ra liza çã o, seja ela co n ser va d o ra o u revo lu cio -n á ria , q u e, d eseja -n d o -n ega r o p rese-n te (o u o artifício), recu sa o fab ricad o (o q u e existe). As-sim , o a u to r a p resen ta o a rtifício co m o ‘ver-d a‘ver-d e’ ‘ver-d a existên cia, e a i‘ver-d éia ‘ver-d e n atu reza, com o erro e fa n ta sm a id eo ló gico (Ro sset, 1989). Ao con trário, p en sam os q u e seria p ossível estab e-lecer u m a p o n te en tre p a ssa d o e fu tu ro, sem n egar n ecessariam en te o p resen te, n em o arti-fício. Com o escreve Morin , “...a ecologia geral su scita o problem a (...) h om em /n atu reza n o seu con ju n to, n a su a am plitu de, n a su a atu alidade” (Morin , 1977:45).
Neste p erío d o, a s p esq u isa s a m b ien ta is d eli-n eavam u m p erfil catastrófico sob re os ecossis-tem as terrestres e os estu d os ecológicos p assa-ra m a o rien ta r o s d iscu rso s, b a sea d o s, en tre ou tros, n os con ceitos p rescritivos d a Ecologia Ap licad a. Posteriorm en te, ob servou -se a assi-m ilação aassi-m p la n os d iscu rsos d os setores p olí-ticos con ven cion ais, em escala m u n d ial.
A Con ferên cia Cien tífica da On u sobre Con -serva çã o e Utiliza çã o d e Recu rso s Na tu ra is (UNSCCUR-USA, em 1949) foi “o prim eiro m arco im p ortan te n a ascen são d o m ovim en to am -bien talista in tern acion al” (McCo rm ick, 1992: 53). O relatório d o Clu b e d e Rom a, sob re os ‘lim ites d o cresci‘lim en to’ (Mea d ows, 1978), ca u -sou u m a gran d e con trovérsia ao d efen d er a p a-ralisação d o crescim en to p op u lacion al, econ ô-m ico e tecn o ló gico. Co ô-m b a se eô-m ô-m o d elo s com p u tacion ais q u e d eram origem ao Relató-rio Mead ows, p revia-se u m fu tu ro d e catástro-fes am b ien tais, caso o p rocesso d e crescim en to n ã o fo sse revertid o. Em b o ra o rela tó rio ten h a sid o m u ito critica d o p o r su a in co n sistên cia e excessos n as p revisões, isto é, p elo seu caráter m a lth u sia n o o u n eo -m a lth u sia n o, d iversa s q u estõ es fo ra m tra zid a s p a ra o d eb a te p o ste -rior, com o n a Con ferên cia d a s Na ções Un id a s sob re o Meio Am b ien te Hu m a n o, em Estocol-m o (1972), sen d o esta, seEstocol-m d ú vid a, u Estocol-m Estocol-m arco fu n d a m en ta l n o crescim en to d o a m b ien ta lis-m o in tern acion al q u e d eterlis-m in ou u lis-m a tran si-çã o d o n ovo a m b ien ta lism o em o cio n a l e o ca-sio n a lm en te in gên u o d o s a n o s 60, p a ra u m a p ersp ectiva m ais racion al, p olítica e glob al d os an os 70 (McCorm ick, 1992).
Na d éca d a d e 80, foi d a d a con tin u id a d e à s qu estões an teriores p or m eio d o relatório Nos
-so Fu tu ro Com u m (Bru n d tla n d , 1991), q u e resu lto u n a Co n ferên cia d a s Na çõ es Un id a s so -b re Meio Am -b ien te e Desen volvim en to – CNU-MAD – (Rio d e Ja n eiro, 1992). Co m u m a visã o crítica d este d ocu m en to, Cou tin h o afirm a q u e a ciên cia seria a gra n d e red en to ra , segu n d o o rela tó rio Bru n d tla n d , p o is d ep en d eria d ela a realização d o p oten cial tecn ológico n a solu ção d os p rob lem as am b ien tais. Na visão crítica d a au tora, o relatório ap on tava o p ap el q u e a co-m u n id ad e cien tífica e as organ izações n ão go-vern a m en ta is tivera m n u m p a ssa d o recen te, reco m en d a n d o m a n ter esta a lia n ça p a ra a tran sição d o d esen volvim en to in su sten tável ao su sten tável. Assim , a Ecologia Ap licad a torn arseia a b ase d o d iscu rso tecn ocrático q u e d ife -ren cia r-se-ia co n ceitu a lm en te d o d iscu rso d e d en ú n cia d a d écad a d e 70 (Cou tin h o, 1992).
Po r o u tro la d o, Vio la & Leis a rgu m en ta m q u e a co m p lexa d in â m ica d o a m b ien ta lism o em n ível glob al torn a este m ovim en to h
istórco / id eo ló giistórco n ã o a p en a s u m a to r m u ltid im en sion al, im as u im ator éticop rático coim ca p a cid a d es sin érgico sin crética s. O a m b ien ta lism o seria, p ara os au tores, o ú n ico m ovim en -to con tem p orân eo em con d ições d e d esen vol-ver valores e con h ecim en tos d o n ovo tip o. Mais d o qu e p rod u zir m eios p ara u m a m aior acom o-d ação e/ ou tolerân cia o-d as o-d iferen ças, ele sign i-fica gerir m eios sin créticos p ara u m a ativa coo-p eração sin érgica en tre atores com in teresses e p ersp ectivas d iferen tes, e até m esm o con trad i-tórias (Viola & Leis, 1995).
No ca m p o filo só fico, Mo ri co n sta ta q u e a n ovid ad e d o d eb ate ético con tem p orân eo seria a exp a n sã o d o h o rizo n te m o ra l d esen vo lvid o em três n íveis: d a b io ética (in icia d a n o fin a l d o s a n o s 60); d o m ovim en to p ela lib er ta çã o a n im a l e d a ética eco lo gista , o n d e a n a tu reza n a su a tota lid a d e, p a ssa a ter u m va lor in trín -seco, in d ep en d en te d a valoração h u m an a, rei-vin d ican d o u m a visão n ão an trop ocên trica d e m u n d o (Mori, 1994).
Ferry (1994) classifica as d iversas corren tes am b ien talistas com o: a) m ovim en to d e lib erta-ção an im al, on d e h á u m a exp an são d o u n iver-so m o ra l p a ra o s seres sen cien tes, sen d o esta u m a ética b a sea d a em in teresses u tilita rista s, com o a d efen d id a p or Sin ger (1994); b ) a ecologia su p erficial, d e cu n h o in stru m en tal, segu n -d o o qu al a n atu reza p ossu i caráter h u m an ista, n ão é con sid erad a su jeito d e d ireito e su a p re-servação con stitu i-se u m m eio p ara con segu ir o bem -estar do h om em ; c) a ecologia p rofu n da, d efen d id a p or Naess (1973), a q u al ad ota u m a n ova ética b asead a em p rin cíp ios p recon izad ores d e q u e: a va loriza çã o ética d a n a tu reza in -d ep en -d e -d a su a u tili-d a-d e qu an to às -d em an -d as p rá tica s d a so cied a d e; o s lim ites o b jetivo s d e qu alqu er ser vivo d evem ser resp eitad os; os va-lores h u m an os d evem ser equ ivalen tes aos d os d em ais seres d a n atu reza; os h om en s n ão têm n en h u m d ireito q u e lh es assegu re d om in ação sob re as ou tras esp écies (a relação d eve ser b asea d a n o resp eito e so lid a ried a d e co m o s d e -m ais); a riq u eza e a d iversid ad e d a vid a d eve-m ser garan tid as às gerações fu tu ras.
su b stitu ições n os cód igos cu ltu rais (Sch warz & Sch wa rz, 1990). Na p rá tica , verifica -se (co m o m o stra Co u tin h o ) ser m u ito d ifícil a n a lisa r a s d iferen ças d os d iscu rsos n o in terior d os m ovi-m en tos aovi-m b ien talistas.
Neste con texto, o setor em p resarial estaria a ssu m in d o u m p a p el d e d esta q u e n esta n ova fase d o d eb ate am b ien talista. Sch m id h ein y – o p rin cip a l co n se lh e iro p a ra Ne gó cio s e In d ú s-tria d o secretário-geral d a Con ferên cia d as Na-ções Un id as p ara Meio Am b ien te e Desen volvi-m en to – d efen d e q u e “p arte d a ‘san id ad e am -bien tal’ só será alcan çad a através d a m od ern i-zação d os m eios d e p rod u ção, sob u m a ótica d e cu sto/ben efício” (Sch m idh ein y, 1992:35). Ao cri-ticar tal argu m en to, Tau k-Torn isielo afirm a qu e ele é “m otivad o (...) m ais p ela n ecessid ad e d e racion aliz ar cu stos d o qu e d esen volver cu id a-dos com o am bien te, [refletin do ...] o n ovo p osi-cion am en to d as in d ú strias d ian te d a (...) n ova ord em econ ôm ica m u n d ial, on d e o au m en to sen sível d a com p etitivid ad e p assa (...) p ela re-d u ção re-d e cu stos, sem a qu al as em p resas esta-rão à m argem dos m ercados” (Tau k-Torn isielo,
1995:11).
Assim , a a u to ra co n sid era q u e a p rim eira fa se eco ló gica fo i ca ra cteriza d a p o r u m certo ‘rom an tism o n atu ralista’ q u e lu tava p ela in to-cab ilid ad e d a n atu reza. A segu n d a refletia u m p erío d o d e in fo rm a çã o, o n d e a ju n çã o d a m íd ia com a ecologia, p or u m laíd o, e a em ergên cia d e m ovim en tos d e d efesa d o m eio am b ien -te, p o r o u tro, p erm itira m o su rgim en to d o ‘m arketin g ecológico’, q u e cau sou tran sform a-çõ es n a s fo rm a s d e p ercep çã o d a s q u estõ es am b ien tais p ela p op u lação. Na terceira fase d a eco lo gia (a d a d éca d a d e 90), a p ro teçã o a m -b ien tal p assa a ser vista com o ‘su -b -p rod u to d a racion alização d e cu stos’, garan tin d o, p ortan -t o, a ‘o xige n a ç ã o’ d o s p ro c e sso s p ro d u -t ivo s ( Tau k-Torn isielo, 1995).
Neste em b ate ressu rgiu , a p artir d os trab a-lh os em ecod esen volvim en to n a d écad a d e 60, o co n ceito d e ‘d esen vo lvim en to su sten tá vel’, visto com o “u m p rocesso d e tran sform ação n o qu al a exploração dos recu rsos, a direção dos in -vestim en tos, a orien tação d o d esen volvim en to tecn ológico e a m u d an ça in stitu cion al se h arm on iz aarm e reforçaarm o p oten cial p resen te e fu -tu ro, a fim d e aten d er às n ecessid ad es e asp ira-ções h u m an as” (Ca r va lh o, 1991 ap u d Rib eiro, 1992:21). Assim , a id éia d e su sten tab ilid ad e d o a m b ien te e d o d esen vo lvim en to p a sso u a ser fu n d a m en ta l n o in terio r d a s d iscu ssõ es d a CNUMAD/ 92.
Na visã o eco n o m icista , d iz Co m u n e, “o pon to cen tral da teoria econ ôm ica do m eio am -bien te [d iz qu e] a m an eira d e [se] tratar as in
e-ficiên cias d o m ercad o p ara atin gir o p on to óti-m o d e eficiên cia alocativa d a econ oóti-m ia, [d efi-n e] as bases d as p olíticas d o m eio am bieefi-n te” (Co m u n e, 1994:51). Na s a n á lises eco n ô m ica s con ven cion ais, as extern alid ad es e os b en s p ú -b licos n em sem p re são levad os em con sid era-ção e, p ara a eficiên cia d e u m m ercad o p erfei-tam en te com p etitivo, n ão se con tab ilizam es-tes fen ôm en os p or con stitu írem fon es-tes d e in e-ficiên cias.
Ain d a so b o p o n to d e vista d a eco n o m ia , An d erson & Leal (1992) afirm am qu e a ecologia d e livre m erca d o en fa tiza a im p o rtâ n cia d o s p ro cesso s d e m erca d o n a d eterm in a çã o d e q u an tid ad es ótim as d a u tilização d e recu rsos. Som en te qu an d o os d ireitos forem b em d efin i-d os, garan tii-d os e tran sferíveis, é q u e os in i-d iví-d u o s co m in teresses p ró p rio s irã o co n fro n ta r a s co n cessõ es m ú tu a s in eren tes a u m m u n d o d e esca ssez. Ta is a u to res critica m o s a d ep to s d o d esen volvim en to su sten tável e con sid eram q u e este seria d em a sia d a m en te cen tra d o n a ad m in istração cien tífica d o am b ien te e b asea-d o em p olíticas coercitivo-asea-d iscip lin aasea-d oras, sob o con trole d o Estad o. Dizem , fazen d o ap ologia ao m ercad o, qu e “ao con trário das solu ções por regu lam en tações p ara os p roblem as d o m eio am bien te, [as qu ais ex igem d os] esp ecialistas u m a p ostu ra on iscien te e ben évola, (...) o am -bien talism o d e livre m ercad o d escen traliz a o p od er e atrela os in teresses p róp rios através d e in cen tivos de m ercado” (An d erson & Leal, 1992: 167).
Com o p od em os ob servar, existem p osicio-n am eosicio-n tos b astaosicio-n te coosicio-n trovertid os em relação à q u estã o d o d esen vo lvim en to su sten tá vel e Viola d iferen cia três p osições d ivergen tes n este d eb ate: a) a estatista, q u e, através d e m ecan is-m os n oris-m ativos, regu lad ores e p rois-m otores, vê n o Esta d o o locu sp rivilegia d o d o d esen vo lvi-m en to social e alvi-m b ien tallvi-m en te su sten tável; b ) a com u n itária, q u e, p or m eio d os m ovim en tos sociais e d as organ izações n ão govern am en tais – vistos com o p rom otores d e u m n ovo sistem a d e valores, fu n d ad o n a solid aried ad e – id en tifi-ca n a com u n id ad e esse lócu s p rivilegiad o; c) a d o m ercad o, qu e, m ed ian te taxas/ tarifas, tan to d a p olu ição, com o d o u so d e recu rsos n atu rais e d e co n cessõ es co m ercia lizá veis d e ta xa s d e p olu ição, p rioriza o critério d a eficiên cia sob re o d a eqü id ad e (Viola, 1992).
p u ra exp ressão d as form as d e ser em ergen tes, n ã o co d ificá veis e, a o fin a l, o b serva -se a a ssi-m ilação p elas estru tu ras vigen tes, cossi-m o arre-fecim en to e esfo rço d e en q u a d ra m en to in stitu cion al (e cogn itivo) d e asp ectos d o fen ôm e -n o (Fu cks,1992). Co-n tu d o, co-n sid eram os q u e, a d esp eito d a ap aren te acom od ação d os p osicion am en tos d ivergen tes, os p rob lem as e con flito s co n tin u a m em a b erto, p rovo ca n d o m u -d a n ça s n a s co n figu ra çõ es e a çõ es -d o s m ovi-m en tos sociais.
De acord o com Viola & Leis, ao fin al d a d é-cada de 80, o m ovim en to am bien talista p ossu ía d u a s p o siçõ es d istin ta s: a ) u m a m in o ritá ria , q u e n ã o a ssu m ia n em a s ca ra cterística s, n em as regras d a d im en são p olítica, en fatizan d o atitu d es éticas e esp iriatitu ais d e ten d ên cia b iocên trica ; b ) u m a m a jo ritá ria , q u e a ssu m ia p len a -m en te a d m en sã o p olítica , sen d o esta su b d i-vid id a em u m a su b cla sse m in o r itá ria , a q u a l ach ava n ecessária u m a ráp id a e in ten sa d isse-m in ação de valores ecológicos, coisse-m redistribu i-ção d o p od er p olítico-econ ôm ico em n íveis lo-cal e glob al e em u m a su b classe m ajoritária, d e caráter reform ista, qu e ap on tava p ara a n eces-sid ad e d a ad oção grad u al d e u m n ovo m od elo d e d esen volvim en to o q u al, b asead o n a racio-n alid ad e cieracio-n tífica, iracio-n teriorizasse a su steracio-n tab i-lid ad e social e am b ien tal (Viola & Leis (1992).
Considerações finais
A ciên cia se m ove d o con h ecid o p ara o d esco-n h ecid o, teesco-n taesco-n d o revelar as regu larid ad es, as leis, os p rocessos qu e se ach am escon d id os n as ap arên cias, em qu e o m étod o sign ifica o cam i-n h o a ser segu id o. Atu a lm ei-n te, p o r m eio d a s Ciên cias d a Com p lexid ad e, b u scam -se teorias q u e p ossib ilitem d ecifrar a lin gu agem u n iver-sal d os p ad rões evolu tivos p ara os q u ais tod os o s sist e m a s se d ir ige m . Pa r t in d o d a s d e sco -b e r ta s d a term o d in â m ica , d a física q u â n tica , tran sp ortan d o-as p ara a b iologia evolu cion ária d os sistem as vivos, as ciên cias en con tram seu s lim ites o n d e a rela çã o en tre o p a rticu la r e o u n iversal con tin u a u m d esafio e, p ortan to, em ab erto.
Deste m o d o, a co m p lexid a d e p o d eria ser ú til p ara u m a m elh or com p reen são d a realid a-d e so cia l e a m b ien ta l q u e viven cia m o s, in a-d i-can d o a n ecessária in tegração, m ed ian te u m a Eco lo gia Co m p lexa , d o s p o n to s d e vista q u e p erm an eceram d u ran te tan to tem p o fracion a-d o s e in tern a liza a-d o s, ta n to n o s in a-d ivía-d u o s, q u an to n as in stitu ições, sen d o p reciso b u scar a ltern a tiva s m eto d o ló gica s, técn ico -cien tíficas, p olíticoin stitu cion ais, in d u striais e com
-p o rta m en ta is, in co r-p o ra n d o to d o s o s seto res en volvid os com as q u estões sociais e am b ien -ta is em ergen tes. Pa ra en fren -ta r -ta is d esa fio s, con cord am os com Jon as (1973) ao afirm ar qu e n ão h á u m a receita ú n ica, m as som en te m u itos cam in h os com o com p rom issos q u e, caso a ca-so, d e ve rã o h o je e se m p re se r p ro cu ra d o s e m u m a vigilân cia a cad a in stan te.
Qu an to à viab ilização d e u m a n ova p rática p a ra o d esen volvim en to, Brü seke in d ica a n ecessid ad e d e ap rim oram en to d as teorias, con sid era n d o se a p lu rid im en sio n a lid a d e d a so -cied ad e glob al n o seu con texto n atu ral. As p ro-p ostas ro-p ara u m d esen volvim en to su sten tável, em b ora n ão con sen su al en tre d iversos au tores, ap on tam n esta d ireção. Na visão d o au tor, a in -tro d u çã o d e e le m e n to s d a s d iscu ssõ e s so b re sistem as d in âm icos n ão lin eares p arece op or-tu n a , p o is, a n tes d e a n tecip a r a co n trib u içã o d esta n ova teoria (agora su sten tável), h á qu e se ela b o ra r m elh o r a ca p a cid a d e d e in terp reta -çã o, n a ten ta tiva d e se p reverem o s risco s d e fra ca sso d e n ova s p ro p o sta s d e d esen vo lvi-m en to, lvi-m eslvi-m o qu e estas levelvi-m elvi-m con ta as lim itações ecológicas e sociais elim seu b ojo (Brü -seke, 1993). Dito d e ou tra form a , terem os q u e rea liza r p revisõ es e to m a r d ecisõ es n u m co n texto d e in certezas, d e riscos tecn ológicos, am -b ien tais estru tu rais e d e p rop orções glo-b ais.
Qu an to aos d esd ob ram en tos fu tu ros p ara a h u m a n id a d e d e q u estõ es co m o a d eso rd em glo b a l d a b io sfera , p o d em -se vislu m b ra r a l-gu n s cen ários p ossíveis, tais com o, con tin u id a-d e a-d eseq u ilib ran te; eco-au toritarism o; cen tra-lism o eco ló gico glo b a l co m a u to -o rga n iza çã o d em ocrática local e au to-eco-organ ização glo-b a l ( Vio la & Leis, 1991). Co n tu d o, p a ra evita r q u e o s em b a tes p ro d u za m d ecisõ es a u to ritá -ria s, fa z-se m ister a co n stru çã o d e u m a ética qu e p ossib ilite orien tar os ru m os d a tecn ociên -cia e d a p olítica em n ível m u n d ial.
Neste sen tid o, Hottois p rop õe u m a ética d e solid aried ad e p ara a era d a tecn ociên cia, sen -d o b a sea -d a , en tre o u tro s, n o -d iá lo go a b erto, qu e im p lica o con fron to p lu ralista e in terd isci-p lin a r; n a ética regu la d o ra ; n o isci-p ra gm a tism o ; n a n ã o -exclu sã o d o sen tim en to – a exp ressã o a fetiva d o ju lga m en to – d o co n ju n to d e ele -m en to s q u e co o p era -m n a to -m a d a d e d ecisã o ética ; n a ética d a a m b iva lên cia , n o sen tid o d e ser esta u m a escolh a, e n ão u m a con clu são ló -gica, ou u m resu ltad o m ecân ico; n a ética evo-lu tiva e d a reversib ilid a d e d o s p rin cíp io s; n a ética d a co-resp on sab ilid ad e (Hottois, 1994).
or-tan te realizar u m a fen om en ologia d os sin ais d o h u m an o n a n atu reza p ara se ter acesso à con s-ciên cia clara d o q u e p od e e d eve ser n ela valo-riza d o. A p a rtir d e ta l b a se e im p o n d o lim ites a o in terven cio n ism o d a tecn o ciên cia , é q u e a ecologia d em ocrática p od eria resp on d er ao d e-safio lan çad o, tan to n a ord em p olítica, q u an to n a esfera m eta física , à su a co n co rren te in te -grista/ fu n d am en talista (Ferry, 1994).
Acre d ita m o s q u e, n o co n te xto tra n sitó rio a tu a l, h á u m a e n o rm e ta re fa p a ra id e n tifica r co rre ta m e n te o s p ro b le m a s (se m re d u zir a
co m p le xid a d e ), a sa b e r: in te gra r o s e sfo rço s, su p erar os con flitos, tom ar con sciên cia d e n os-sa s resp o n os-sa b ilid a d es p a ra q u e se p o sos-sa a gir con seq ü en tem en te. A tecn ociên cia op era sa l-to s ca d a vez m a is rá p id o s e, a n tes m esm o d e ser a b so rvid a , ela n o s esca p a . Vislu m b ra m -se a s segu in tes q u estões: será p ossível in d en tifi-car e evitar os im p actos d ela resu ltan tes? Será fa ctível lim itá la , evitá la , o u n ã o ? Este, co n -cord am os com Lad rière, con stitu i u m “ap elo à in ven tividade ética, ao exercício da razão práti-ca” (Lad rière, s/ d :152).
CRAMER, J. & VAN DEN DAELE, W., 1985. Ecology an “a lte rn a tive” n a tu ra l scie n ce ?Syn th ese, 65:347-400.
DESCARTES, R., 1966. Discou rs d e la M éth od e.Paris: Garn ier-Flam m arion .
DUPUY, J. P., 1980. In trod u ção à Crítica d a Ecologia Política.Rio d e Jan eiro: Civilização Brasileira. EDMUNDS, S. & LETEY, J., 1975. Ord en ación y
Ges-tion del Medio Am bien te.Mad rid : In stitu to d e Es-tu d ios d e Ad m in istración Local.
FERNANDEZ, M. I. T., 1995. Acerca del Ver, Pen sar, Ac-tu ar y Salu d .Tese d e Dou tora d o, Rio d e Ja n eiro: Escola Nacion al d e Saú d e Pú b lica, Fu n d ação Os-wald o Cru z.
FERRY, L., 1994. A Nova Ord em Ecológica: A Árvore, o An im al e o Hom em. São Pau lo: En saio.
FU CKS, M., 1992. Na t u re za e m e io a m b ie n t e : a ca -m in h o d a con stru ção d e u -m con sen so social. In: Ecologia, Ciên cia e Política (M. Go ld en b erg, co -ord .), p p. 121-134, Rio d e Jan eiro: Revan . H ABERMAS, J., 1983. Tex tos Escolh id os. Co le çã o Os
Pen sad ores. São Pau lo: Ab ril Cu ltu ral.
HOTTOIS, G., 1994. Vérité ob jective, p u issan ce et systèm e, so lid a rité. (D’ u n e étiq u e p o u r l’a ge tech -n oscie-n tifiqu e).Revu e Tran sdisciplin aires en San -té, 1:69-84.
JONAS, H., 1973. Ph ilosop h ical Essays: From An cien t Creed to Tech n ological M an .Ch ica go / Lo n d re s: Th e Un iversity of Ch icago Press
LADRIÈRE, J., (s/ d ata). Ética e Pen sam en to Cien tífico: Abord agem Filosófica d a Problem ática Ética.São Pau lo: Letras & Letras.
LAGO, A. & PÁDUA, J. A., 1985. O qu e é Ecologia? São Pau lo: Brasilien se.
LEOPOLD, A., 1949. A San d Cou n try Alm an ac an d Sk etch es Here an d Th ere.New Yo rk: Oxfo rd Un i-versity Press.
McCORMICK, J., 1992. Ru m o ao Paraíso: A História do Movim en to Am bien talista. Rio d e Ja n eiro : Relu -m e-Du -m ará.
Referências
ACOT, P., 1990. História d a Ecologia.Rio d e Ja n eiro : Cam p os.
ANDERSON, T. L. & LEAL, D., 1992. Ecologia d e Livre Mercad o.Rio d e Jan eiro/ Porto Alegre: Exp ressão e Cu ltu ra/ In stitu to Lib eral.
BERTALANFFY, L. V., 1977. Teoria Geral d os Sistem as.
Petróp olis: Vozes.
BORNHEIM, G., 1989. Tecn ologia e p olítica. In : An ais do Sem in ário Un iversidade e Meio Am bien te: Do-cu m en tos Básicos, p p. 165-167, Brasília: In stitu to Brasileiro d o Meio Am b ien te e d os Recu rsos Na-tu rais Ren ováveis – IBAMA.
BRUNDTLAND, G.H ., 1991. N osso Fu tu ro Com u m .
Rio d e Jan eiro: Fu n d ação Getú lio Vargas. BRÜSEKE, F. J., 1993. Pa ra u m a te o ria n ã o -lin e a r e
p lu ri-d im e n sio n a l d o d e se n vo lvim e n to. In : As Ciên cias Sociais e a Qu estão Am bien tal Ru m o à In terd iscip lin arid ad e (P. F. Vie ira & D. Ma im o n , o rgs.), p p. 189-216, Rio d e Ja n eiro / Belém : Associa çã o d e Pe sq u isa e En sin o e m Eco lo gia e De -sen volvim en to – APED/ Un iversid ad e Fed eral d o Pará – UFPA.
CH ÂTELET, F., 1994. Um a História d a Raz ão: En tre-vistas com Em ile Noël.Rio d e Jan eiro: Zah ar. COMUNE, A. E., 1994. Me io a m b ie n te, e co n o m ia e
econ om istas. Um a b reve d iscu ssão. In : Valoran do a Natu reza (P. H. May & R. S. d a Motta, orgs.), p p. 45-58, Rio d e Jan eiro: Cam p u s.
COSTA, W. M., 1989. Bases ep istem ológicas d a q u estão am b ien tal: d eterm in ações, m ed iações e con -trad ições. In : An ais d o Sem in ário Un iversid ad e e Meio Am bien te: Docu m en tos Básicos, p p. 99-105, Brasília: In stitu to Brasileiro d o Meio Am b ien te e d os Recu rsos Natu rais Ren ováveis/ IBAMA. COUTINHO, M., 1992. Ecologia e Pen sam en to Am
MEADOWS, D. H., 1978.Lim ites d o Crescim en to.Um Relatório para o Projeto do Clu be de Rom a sobre o Dilem a d a Hu m an id ad e.Co le çã o De b a te s. Sã o Pau lo: Persp ectiva.
MORI, M., 1994. L’a m b ien te n el d ib a ttito etico co n -tem p oran eo. In :Costitu zion i, Razion alità, Am bi-en te,(S. Scam u zzi, org.), p p. 91-127, Torin o: Bol-lati-Borin gh ieri.
MORIN, E., 1977. O M étod o I: A N atu rez a d a N atu -reza.Portu gal: Eu rop a-Am érica.
MOSCOVICI, S., 1977. A Socied ad e con tra Natu rez a.
Lisb oa: Bertran d .
NAESS, A., 1973. Th e sh a llow a n d th e d e e p, lo n g-ran ge ecology m ovem en t. In qu iry, 16:95-100. ODUM, E. P., 1971. Fu n d am en tals of Ecology. 3aed .,
Filad élfia: W. B. Sau n d ers Com p an y.
ODUM, E. P., 1986. Ecologia.Rio d e Jan eiro: Ed .Gu a-n ab ara.
PIAGET, J. & GARCIA, R., 1987. Psicogên ese e História das Ciên cias.Lisb oa: Dom Qu ixote.
PRIGOGINE, I. & STENGERS, I., 1992. En tre o Tem po e a Etern idade.São Pau lo: Com p an h ia d as Letras. RIBEIRO, G. L., 1992. Am b ie n ta lism o e d e se n vo
lvi-m en to su sten tad o: n ova id eologia/ u top ia d o d e-se n vo lvim e n to. In: Meio Am bien te, Desen volvi-m en to e Reprodu ção – Versões da ECO 92p p. 5-36, Rio d e Jan eiro: In stitu to d e Estu d os d a Religião. ROSSET, C., 1989. A An ti-N atu rez a: Elem en tos p ara
u m a Filosofia Trágica. Rio d e Ja n e iro : Esp a ço e Tem p o.
SCH MIDH EINY, S., 1992. Mu d an d o d e Ru m o: Um a Persp ectiva Em p resarial Global sobre o Desen -volvim en to e o Meio Am bien te.Rio d e Ja n e iro : Fu n d ação Getú lio Vargas.
SCHRAMM, F. R., 1992. Ética e ecologia: algu m as re-fle xõ e s co m u n s. In :Saú d e, Am bien te e Desen -volvim en to: Um a An álise In terd iscip lin ar (M. C. Lea l; P. C. Sa b roza ; R. H. Rod rigu ez & P. M. Bu ss, o rgs.), p p. 207-216, Sã o Pa u lo : Hu cite c/ Rio d e Jan eiro: Ab rasco.
SCHWARZ, W. & SCHWARZ, D., 1990. Ecologia: Alter-n ativa para o Fu tu ro.São Pau lo: Paz e Terra. SINGER, P., 1994. Ética Prática.Sã o Pa u lo : Ma rtin s
Fon tes.
TAUK-TORNISIELO, S. M.,1995. An á lise a m b ien ta l: os p rin cíp ios d a in terd iscip lin arid ad e. In :An álise Am bien tal. Estratégias e Ações(S. M. Ta u k-To r-n isiello; N. Gob b i; C. Foresti & S. T. Lim a , orgs.), p p. 9-17, São Pau lo: T. A. Qu eiroz/ Ed itora d a Un i-versid ad e Estad u al Pau lista.
TH OMAS, K., 1989. O Hom em e o Mu n d o N atu ral. Mu dan ças de Atitu des em Relação às Plan tas e aos An im ais (1500-1800).São Pau lo: Com p an h ia d as Letras.
TOYNBEE, A., 1982. A Hu m an idade e a Mãe-Terra.Rio d e Jan eiro: Zah ar.
VIOLA, E., 1992. O m ovim en to am b ien talista n o Bra-sil (1971-1991): d a d e n ú n cia e co n scie n tiza çã o p ú b lica p ara a in stitu cion alização e o d esen volvi-m en to su sten tável. In :Ecologia, Ciên cia e Política
(M. Gold en b erg, coord .), p p. 49-75, Rio d e Jan ei-ro: Revan .
VIOLA, E. J. & LEIS, H. R., 1991. Desord em glob a l d a Bio sfe ra e a n ova o rd e m in te rn a cio n a l: o p a p e l organ izad or d o ecologism o. In : Ecologia e Política Mu n d ial (H . R. Le is, o rg.), p p. 2350. Rio d e Ja -n eiro: Vozes.
O artigo acim a reflete p olêm icas sob re a q u es-tã o a m b ien ta l, o riu n d a s p a rticu la rm en te d a s áreas d e ciên cias sociais. O assu n to é sem d ú -vid a relevan te, n ão só p ela im p ortân cia d a área a m b ien ta l, co m o ta m b ém p ela in clu sã o d a s ciên cias sociais n o d eb ate.
En treta n to, go sta ria d e ch a m a r a a ten çã o p ara cin co assu n tos qu e p od eriam ser m ais d e-fin id os ou ain d a elab orad os: a relação en tre as ciên cias sociais e a n atu reza; a n oção d e equ ilí-b rio em ecologia; a ecologia d e sistem as, com o p arte d a d iscip lin a Ecologia; a relação ecologia e ciên cias am b ien tais; o con ceito d e su sten ta-b ilid ad e.
A re lação e n tre as ciê n cias so ciais e a n atu re za
De acord o com os au tores, a cisão h om em / n a-tu reza torn ou -se p red om in an te n o m u n d o oci-d en ta l. Essa p a rece ser m a is u m a visã o oci-d iscip lin a r q u e gera l: a rea lid a d e d a s ciên cia s so -ciais n ão d eve ser tran sp lan tad a p ara as ou tras ciên cias. Ou seja, a visão an trop ocên trica, q u e exclu i a h u m an id ad e d a n atu reza, foi (é) essen -cialm en te p red om in an te n as ciên cias sociais e n ão é ob servad a n as ciên cias n atu rais. Tom an -d o com o exem p lo a an trop ologia, h ou ve h isto-ricam en te a d ivisão en tre an trop ologia b iológica (físiiológica) e cu ltu ral/ social (d en tre ou tras). Ain -d a em 1952, A. Kroeb er (Th e Natu re of Cu ltu re) revelou e su sten tou a d icotom ia h om em / n atu -reza n a an álise sob re o su p erorgân ico/ orgân i-co. Na b io lo gia , e eco lo gia , a h u m a n id a d e fa z p a rte d a n a tu reza , em to d a s a s esca la s: d o s gen s aos in d ivíd u os e às com u n id ad es. Em ou -tras p alavras, a etologia clássica, a sócio-b iologia , a p a rtir d o s a n o s 70, e a á rea d e m o d ela -gem d e tran sm issão cu ltu ral, a p artir d a d éca-d a éca-d e 80, sem p re in co rp o ra ra m , ca éca-d a u m a a seu m o d o, a rela çã o gen scu ltu ra (n a tu reza cu ltu ra) n a an álise d o com p ortam en to h u m a -n o. Em ou tra escala, i-n d ivíd u os e com u -n id ad es h u m an as são an alisad os em relação às in tera-ções com os recu rsos n atu rais: seja através d e m o d elo s evo lu tivo s, o s m o d elo s p a ra a va lia r estra tégia s d e su b sistên cia (co m o fo rra gea m en to ótim o), seja m ed ian te an álises d etalh a
-Debat e sobre o art igo de Elmo Rodrigues da Silva
& Fermin Roland Schramm
De b ate o n the p ap e r b y Elmo Ro d rig ue s d a Silva
& Fe rmin Ro land Schramm
N ú cleo d e Estu d os e Pesqu isas Am bien tais, Un iversid ad e Estad u al d e Cam p in as, Cam p in as, Brasil.
Alp in a Begossi
d as sob re p ercep ção, con h ecim en to e u so d os recu rsos n atu rais, qu e in clu em a etn ossistem á -tica e etn ob iologia.
A n o ção de e qu ilíbrio e m e co lo gia
No artigo, cita-se em ecologia a n oção d e equ i-líb rio d a n atu reza e d e p rocessos d e h om eosta-se. A id éia d e eq u ilíb rio em eco lo gia evo lu iu b astan te d esd e os an os 60. Com o in terp retam esse con ceito os au tores? Com o falar em equ ilí-brio sem m en cion ar ciclos, flu tu ações, estabili-d aestabili-d e? Um in flu en te ecólogo, com o C. Hollin g, an alisou em 1992 esse con ceito, d en tre ou tros a sso cia d o s, em a rtigo n a Ecological Mon o-grap h s. En tão, eq u ilíb rio em ecologia d eve ser u sado associado a algu m a defin ição atu alizada.
A e co lo gia de siste m as co m o parte da disciplin a Eco lo gia
Os au tores ap en as citam a ecologia d e sistem as d e Od u m , co m o se a eco lo gia co m o u m to d o fosse sistêm ica. Essa é u m a visão red u cion ista d a d iscip lin a. Ou seja, a ecologia an alítica, evo-lu tiva, d e p op u lações e com u n id ad es, qu e an a-lisa a s in tera çõ es en tre o s o rga n ism o s (co m o com p etição e m u tu alism o, p or exem p lo) foi ig-n orad a. A ecologia d os clássicos R. MacArth u r, E. Pia n ka , J. Ro u gh ga rd en , D. Sim b erlo ff e T. Sch oen er, só p ara citar algu n s, sequ er foi m en -cion ad a n o artigo.
A re lação e co lo gia e ciê n cias am bie n tais
-terd iscip lin ares). Nos Estad os Un id os, existem cu rsos/ gru p os d e p esq u isa em ecologia , m u i-to s d esses fa zen d o p a rte d e in stitu i-to s/ d ivi-sõ es/ cen tro s d e ciên cia s a m b ien ta is. Esses cen tros em geral aglu tin am equ ip es in terd isci-p lin ares (veja os d iversos cam pid a Un iversid a-d e a-d a Califórn ia, p or exem p lo). A ia-d éia a-d e q u e a s ciên cia s a m b ien ta is sã o o u d evem ser u m n ovo p arad igm a, h olístico e tran sd iscip lin ar foi assu n to d e m u itos d eb ates n os an os 60/ 70, in clu sive n o Brasil. Vale a p en a an alisar a evolu -ção d esse p en sam en to ou p rop osta.
O co n ce ito de su ste n tabilidade
Dia n te d a s in ú m era s d efin içõ es (o u in d efin i-ções?) d o qu e é ou d eve ser ‘su sten tável’, su giro q u e o s a u to res co m en tem so b re co n ceito s d e su sten tab ilid ad e. Mu itas d efin ições são citad as em a rtigo s rela tiva m en te recen tes, co m o em Ga tto, 1995 (Su sta in a b ility: it is a well d efin id con cep t? Ecological Application s, 5:1181-1183); Gold m an , 1995 (Th reats to su stain b ility in afri-can agricu ltu re – search in g for ap p rop riate p a-ra d igm s. Hu m an Ecology, 23:291334) e Go o -d la n -d , 1995 ( Th e co n cp et o f en viro n m en ta l su sta in b ility. An n u al Review of Ecology an d System atics, 26:1-24).
Vale salien tar a relevân cia atu al d o assu n to, esp ecia lm en te p a ra a s ciên cia s so cia is e a m -b ien tais, d e u m a m an eira geral. É en tão fu n d m en tal q u e con ceitos e d iscip lin as m en cion a-d os n o texto estejam b em a-d escritos, exp licita-d os e fu n licita-d am en talicita-d os.
Os au tores ab ord am p rim eiram en te u m a p ersp ectiva h istó rica d a s vá ria s eta ersp a s d o ersp en sa -m en to acad ê-m ico, esp ecial-m en te o filosófico, sob re as relações socied ad en atu reza. A ab ran gên cia d o tem a p er m iten o s a crescen ta r in ú -m ero s d esd o b ra -m en to s e d iscu ssõ es. Po r exem p lo, vale lem b rar qu e o arcab ou ço in stitu -cion al con textu aliza a ra-cion alid ad e cien tífica, qu e varia d e acord o com os cen ários. Pod em os co n sid era r o cen á rio a ca d êm ico (a tra vés d a eco lo gia en q u a n to ciên cia ), o a m b ien ta lista (através d os m ovim en tos con testatórios, asso-ciações com u n itárias) e o d e p olíticas p ú b licas (via ações govern am en tais). Den tro d e cad a ce-n ário existem várias form as d e agru p ar as d ife-ren tes ten d ên cias e m u itas ligações. Os au tores Dep artam en to d e Ciên cias
Biom éd icas, Un iversid ad e Fed eral d e Ron d ôn ia, Porto Velh o, Brasil.
An a Am élia Boisch io
cita m esses a gru p a m en to s ta n to p a ra a s co r-ren tes a m b ien ta lista s, co m o ta m b ém p a ra o s tóp icos relacion ad os ao d esen volvim en to su s-ten tável.
No cen ário am b ien talista, con vém lem b rar o im p a cto d o livro Prim avera Silen ciosa, n o qu al Rach el Carson (1987), n a d écad a d e 60, fez u m lon go en saio em lin gu agem acessível p ara a m p lo p ú b lico so b re o s p o ssíveis p ercu rso s e d an os d e algu n s d os m ilh ares d e p rod u tos qu í-m icos p rod u zid os, u tiliza d os e d esp eja d os n o am b ien te. Um gran d e p ú b lico foi atin gid o com esse livro, ap esar d e algu n s erros e exageros n e-le con tid os. A toxicologia am b ien tal, u m a ree-le- rele-van te d iscip lin a d a ciên cia am b ien tal, p od e ser con sid era d a a versã o a ca d êm ica d o con teú d o d esse livro d e cu n h o am b ien talista.
No cen ário acad êm ico, os au tores citam os m odelos ecológicos p rop ostos p or Odum (1985) n a d éca d a d e 70, co m o fo r m a d e en ten d er a n o ssa ca sa . Nesse ca so, a en tro p ia (ten d ên cia a o ca o s, d isp ersã o ) d eve ser co n sid era d a n o s m od elos p rop ostos. Utilizar m od elos p ara en -ten d er e p red izer -ten d ên cia s fo i u m a va n ço sign ifica tivo em ciên cia . Em m o m en to p o ste -rior, Lovelock (1989) p rop õe u m m od elo glob a-liza d o n a fo rm a d e Terra viva . A h ip ó tese d e Ga ia tra ta o p la n eta Terra co m o u m ú n ico o r-gan ism o, p ossu in d o, d esta form a, vários m eca-n ism os d e h om eostase, resiliêeca-n cia, ou tam b ém o caos, q u e regu lam as m u itas taxas m etab óli-ca s, im p o rta n tes a sp ecto s d a vid a , ta m b ém m érito d e d iscu ssão. A id éia d e Gaia é con tro-versa q u an to à q u estão cap acid ad e d e su p orte d e p o lu içã o n o p la n eta . Algu n s gru p o s a m -b ien talistas con sid eraram “qu e a idéia de Gaia dá à in dú stria o direito de p olu ir o qu an to qu i-ser ...” (Lovelo ck, 1989), o q u e o b via m en te o a u tor d efen d e com o sem fu n d a m en to, en fa ti-zan d o ju stam en te a p ersp ectiva con trária.
i-Dep artam en to d e An trop ologia, Un iversid ad e Fed eral d e San ta Catarin a, Florian óp olis, Brasil.
Den n is Wern er O en saio d e Silva e Sch ram m ap resen ta m u itos tem as in teressan tes e im p ortan tes p ara d eb a -te: h istória d a ciên cia, critérios p ara d efin ir éti-ca, características d e m ovim en tos sociais, rela-ções d o ser h u m an o com o seu m eio am b ien te. Po d eria q u estio n a r a lgu n s d eta lh es n a a rgu -m en tação, co-m o, p or exe-m p lo, a afir-m ação ci-ta d a p elo s a u to res d e q u e “estam os d ian te d e u m a crise ú n ica n a civilização”, q u e se d eve ao m o d elo d e civiliza çã o in su sten tá vel d o p o n to d e vista ecológico (em ou tro trab alh o – Wern er, 1987 – argu m en tei qu e a qu ed a d e m u itas civi-lizações an tigas n a Mesop otâm ia, Egito, Méxi-co e Estad os Un id os d eviam -se a crises eMéxi-coló- ecoló-gicas d ecorren tes d os m od elos in su sten táveis d estas socied ad es). Mas gostaria d e d ed icar es-tes co m en tá rio s a a lgu m a s q u estõ es q u e p er-m eiaer-m a d iscu ssão e qu e, ao er-m eu ver, er-m ereceer-m u m a recon sid eração.
É q u ase au tom ático h oje em d ia reclam ar-se d e três características d os trab alh os cien tífi-co s d o s n o sso s a n tep a ssa d o s, q u e a go ra sã o con sid erad as u ltrap assad as – o d eterm in ism o, o red u cio n ism o e o sim p lism o. Go sta ria d e ad otar o p ap el d o ad vogad o d o d iab o aqu i e ar-gu m en ta r q u e a in d a p recisa m o s d esta s três m an eiras d e p en sar.
Os a u to res d este en sa io n ã o recla m a m d o d eterm in ism o, m as os seu s qu estion am en tos a resp eito d o m ecan icism o talvez n ão sejam tão d istan tes. Por d eterm in ism o p od em os ad otar a d efin içã o m a is a m p la d e Bu n ge (Bu n ge, 1979: 13) – a m an u ten ção d a “h ipótese de qu e even tos ocorrem em u m a ou m ais m an eiras d efin id as, qu e as m an eiras de vir a ser n ão são arbitrárias, m as obed ecem a leis, e qu e os p rocessos p elos qu ais o objeto adqu ire as su as características se d esen volvem a p artir d e con d ições p réexisten -tes”. Desd e q u e ob ed ecesse a algu m as leis, até o acaso p od eria ser con sid erad o d eterm in ad o. Neste sen tid o, n ão im p orta m u ito se God plays d ice(ou talvez, m elh or, se Dice p lay God) p ara as n ossas n oções d e d eterm in ism o. Mesm o se aceitam os u m ‘in d eterm in ism o’ (ou casu alid a-d e) n o n ível q u â n tico, p o a-d em o s co n tin u a r a trab alh ar com d eterm in ism os p rob ab ilísticos. De tod a m an eira, o com p ortam en to d os qu an -ta n ã o im p lica u m in d eterm in ism o em ou tros n íveis d e a n á lise (ta l con clu sã o seria red u cio-n ista). Hoje, com as revelações d a m atem ática d o caos, m u itos d u vid am até d o in d eterm in is-m o q u â n tico (Da vies &ais-mp; Brown , 1993). É p ossí-vel, p or exem p lo, qu e o qu e vem os com o in d e-term in ism o seja sim p lesm en te a n ossa im p os-sib ilid a d e em co n h ecer su ficien tem en te b em as con d ições in iciais d e u m p rocesso (Stewart, to s d o s ca m in h o s p erco rrid o s p ela q u estã o
am b ien tal, via qu aisqu er d os cen ários con sid e-rad os, d eve ser associad o ao p ap el d a m íd ia n a p rojeção d essas q u estões sob re o p ú b lico.
Em tod os esses cen ários ap on tad os, p reva-lece o p rivilégio d a n o ssa gera çã o : p o d em o s geren ciar u m a en orm e qu an tid ad e d e in form a-çõ es, q u e p erm item d esen vo lver u m a ciên cia co m p lexa d e a sp ecto in terd iscip lin a r, sem co m p ro m eter a p ro fu n d id a d e n ecessá ria d a m esm a. A q u an tid ad e d e arq u ivos q u e p od em ser ativad os p ara red esen h ar m od elos e u tilizar o s m esm o s co m o b a se p a ra a n á lises, d iscu ssões e d ecissões torn a a q u estão am b ien tal, co -m o ta-m b é-m -m u itas ou tras, ob jeto d e u -m a ép o-ca in form atizad a, qu e p ossib ilita o d esen volvim en to d e u volvim a Ecologia Covolvim p lexa, covolvim o a su -gerid a p elos au tores.
É tam b ém im p ortan te in clu ir a qu estão ética co m o p a rte d a p ro p o sta d e Eco lo gia Co m -p lexa. A ética d a solid aried ad e, d iferen te d a éti-ca com p etitiva, d eve p erm an ecer. A q u alid ad e d e vid a eqü itativa atu al e fu tu ra em tod as as al-d eias al-d eve ser a p riorial-d aal-d e al-d o p ercu rso h u m a-n o a-n a Terra . Algu a-n s a u to res (Ka tz & Oech sli, 1993) d iscu tem tam b ém a p ersp ectiva d a ética a n tro p o cên trica . Esses a u to res su gerem q u e existe u m a o b riga çã o m o ra l à n a tu reza e a o s eco ssistem a s, p ro p o n d o p o rta n to u m a visã o n ã o a n tro p o cên trica n a s a çõ es a m b ien ta is, o q u e n ão com b in a m u ito com a q u estão d e d e-sen volvim en to su sten tável p or p arte d as p olíti-cas p ú b liolíti-cas.
O texto m an ifesta a u top ia m en cion ad a n o títu lo ao in d icar algu n s asp ectos d a im p ratica-b ilid ad e d o p araíso!
CARSON, R., 1987. Silen t Sp rin g. Bo sto n : Ho u gh to n Mifflin Com p an y.
LOVELOCK, J., 1989. Th e Ages of Gaia. Oxford : Oxford Un iversity Press.